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Análise da prática de alfabetização e letramento da professora 2 do “Se

4. RESULTADOS

4.3 Análise das práticas de alfabetização e letramento das professoras do “Se

4.3.2 Análise da prática de alfabetização e letramento da professora 2 do “Se

O quadro nº 4 apresenta a rotina da professora 2, desenvolvida durante os 14 dias observados.

Quadro 4- Atividades de Rotina da professora 2

Categorias 1º 2 º 3 º 4 º 5 º 6 º 7 º 8 º 9 º 10 ° 11º 12º 13º 14º Total 1. Oração 0 2. *Acolhida X X X X X X X X X X X X X X 14 3. * Curtindo as leituras X X X X X X X X X X X X X X 14 4. Interpretação da leitura X X X X X X X X X X X X 12 5. Dar o visto nos

cadernos X X X X X X X X X X X X X 13 6. * Correção do Para casa X X X X X X X X X X X X 12 7. Chamada no cartaz X X X X X X X X X X X X 12 8. Calendário X X X X 04 9. Cópia do cabeçalho X X 02 10. * Desenvolvimento das atividades X X X X X X X X X X X X X X 14 11. Correção da tarefa de classe X X X X X X X X X X X 11 12. Correção coletiva do Para Casa ou da Tarefa de Classe x x x 03 13. * Apresentação da palavra-chave X X X 03 14. * Desenho da figura usada na apresentação da palavra-chave X X X 03 15. * Utilização do Módulo de Alfabetização X X X X X X X 07 16. * Utilização do Caderno de atividades X X X X X X X X X X X 11 17. Merenda X X X X X X X X X X X X X X 14 18. Recreio X X X X X X X X X X X X X X 14

19. Tarefa de matemática X X X X 04 20. Tarefa adicional de matemática X X X X X X 06 21. Orientação individual da tarefa de classe X X X X X X X X X X X X 12 22. Leitura adicional em voz alta pela professora

X X X X X X X 07 23. Atividades diversificadas para um grupo determinado de alunos X X 02 24. Reforço de leitura 0 25. Marcação no cartaz de livros lidos X X X 03 26. * Para casa X X X X X X X X X X X X X X 14 27. * Revisão do dia X X X X X X X X X X X X 12

O quadro acima revela que a professora 2 desenvolvia suas aulas com base na rotina do programa “Se Liga”. A docente iniciava as aulas com a “acolhida”, utilizando esse tempo apenas para brincar com os alunos, como recomendava o programa. Vale salientar que não raramente, durante as observações, essa acolhida perdurava por mais de 20 minutos, diminuindo o tempo pedagógico para o ensino do SEA.

Em seguida a professora fazia o momento do “curtindo as leituras”. Para isso ela utilizou, em 4 dias observados, os livros da caixa de literatura disponibilizados pelo programa e nos demais dias levou textos extraídos de outros livros; esses textos eram de gêneros variados como poemas , receita, texto informativo, etc. Algumas vezes a professora explorou as antecipações de leitura e trabalhou com interpretação oral do texto lido, através das questões do caderno de atividades.

Após o “curtindo as leituras”, seguia a rotina com a “correção do Para casa”, em apenas 3 dias a professora corrigiu coletivamente as tarefas, nos demais dias

ela deu o visto nos cadernos e pediu para os alunos marcarem a presença no cartaz de chamada.

No “desenvolvimento das atividades”, a docente não apenas utilizava o material do programa, mas trazia atividades extras, embora em pouca quantidade. Após o desenvolvimento e a correção das atividades, a professora fazia a revisão do dia e orientava o Para casa, geralmente encontrado no caderno de atividades dos alunos.

O quadro acima revelou ainda que a professora 2 investiu muito pouco em atividades diversificadas, apenas em dois dias dos 14 observados. Isso significa que para essa professora os alunos possuíam um mesmo ritmo de aprendizagem. Vejamos através das respostas obtidas na entrevista o que ela pensa a esse respeito:

P. Os alunos do “Se Liga” são provenientes de diferentes séries. Isso

influencia o trabalho de alfabetização?

R: Não. Da alfabetização não, por causa do projeto. Assim, ele é muito ligado uma coisa com a outra. Só é ruim o comportamento porque eles são muito diferentes.

P. Você tem alguma dificuldade em lidar com essas diferenças?

R: Não porque aí o objetivo é que eles aprendam a ler, se é pra eles aprender a ler então o objetivo de qualquer série que ele venha é o mesmo.

P. Se um ou mais alunos apresentarem dificuldades de acompanhar o ritmo de aprendizagem da turma, o que acontece?

R: É, tem reforço e tem tarefas dirigidas, mas são atividades direcionadas pra necessidade deles.

Como podemos constatar, a docente parecia considerar de forma homogênea o ritmo de aprendizagem dos alunos, quando afirmou que o objetivo era que todos os alunos aprendessem a ler como se todos ingressassem no programa desprovidos de tal habilidade. No entanto, como comprovamos no diagnóstico da pesquisa, essa turma iniciou o ano com 64% dos alunos no nível alfabético de escrita, 78% de acerto em leitura de palavras, 54% em leitura de frases e 18% em leitura de texto.

A professora se contradizia quanto à heterogeneidade dos alunos, afirmando que detectadas as necessidades específicas seriam feitos reforço e atividades dirigidas, porém isso não ocorreu durante os dias observados. O quadro 5 apresenta as atividades voltadas ao ensino do SEA durante nossas visitas à turma.

Quadro 05- Atividades de apropriação do Sistema de Escrita Alfabética realizadas nos 14 dias observados- professora 2

Obs.: As categorias assinaladas em vermelho correspondem àquelas atividades que a professora acrescentava, não se limitando apenas às atividades dispostas no material do programa.

Categorias 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 Total

1. Leitura de letras / alfabeto com auxílio

X 1

2. Leitura de letras / alfabeto sem auxílio X 1 3. Leitura de sílabas X X X X X X X X X X X X 7/5 4. Leitura de palavras X X X X X X X X X X X 7/4

5. Leitura de palavras com auxílio

X X X 3

6. Leitura / descoberta de palavras

7. Leitura de frases X X 1/1

8.. Leitura de frases com auxílio

9. Escrita de letra X 1

10. Escrita de sílaba (inicial, medial, final) de palavra

X 1

11. Escrita de palavra X X 2

12. Escrita de palavras a partir de letra/ sílaba dada 13. Escrita de palavra como souber (espontânea)

X 1

14. Escrita de palavras com uso do alfabeto móvel

X 1

15. Escrita de palavra com aliteração

16. Escrita de palavra com rima

18 Escrita de frase como souber (espontânea) 19. Cópia de letra X X 2 20. Cópia de sílaba X X X X X X X X 7/1 21. Cópia de palavra X X X X X X X X 4/4 22. Cópia de frase X X 2 23. Cópia de texto X X X 1/2 24. Contagem de letras de sílabas 25. Contagem de letras de palavras X 1 26. Contagem de sílabas de palavras X 1 27. Contagem de palavras 28. Partição oral de palavras em sílabas

X 1

29. Partição oral de palavra em letras

X X X 3

30. Partição oral de frase em letras

31. Partição oral de sílabas em letras

X X 2

32. Partição escrita de palavra em letras

33. Partição escrita de palavra em sílabas

X 1

34. Partição escrita de frase em palavras

35. Diferenciação de letras/ palavras/ números/ outros 36. Nomeação de letras em posição X (inicial, medial, final)

37. Identificação de letras em posição X (inicial, medial, final)

38. Identificação de letra X (inicial, medial, final ) 39. Identificação de letras (iguais) em palavras X 1 40. Identificação de letras (iguais) em sílabas 41. Identificação de letras X 1 42. Identificação de sílabas (em posição X - inicial, medial, final) com correspondência escrita

X 1

43. Identificação de sílabas em (posição X - -inicial, medial, final) sem correspondência escrita X X 1/1 44. Identificação de palavras “outros” X X X X 2/2 45. Identificação de palavras que possuam a sílaba X (em posição x – inicial, medial e final)

X 1

46. Identificação de palavras que possuam a letra X (em posição x – inicial, medial e final)

X X X 3

47. Identificação de rima com correspondência escrita 48. Identificação de rima sem

correspondência escrita 49. Produção de rima com correspondência escrita 50. Produção de rima sem correspondência escrita 51.Identificação de aliteração com correspondência escrita 52.Identificação de aliteração sem correspondência escrita 53.Produção de aliteração com correspondência escrita 54. Produção de aliteração sem correspondência escrita 55. Produção de palavras iniciadas com a letra X

X X X X 4

56. Produção de palavras iniciadas com a sílaba X

X X 2

57. Formação de palavras com uso de alfabeto móvel

X X 2

58. Formação de palavras a partir de sílabas dadas

X 1 59. Formação de palavras “outros” X X 2 60. Comparação de letras X 1 61. Comparação de sílabas quanto ao número de letras 62. Comparação de palavras quanto ao número de letras 63. Comparação de palavras quanto à presença de letras iguais / diferentes

X 1

64. Comparação de palavras quanto à presença de silabas iguais / diferentes

X 1

65. Exploração dos diferentes tipos de letras X X X X X X 6 66. Exploração da ordem alfabética 67. Exploração da segmentação X 1 68.Exploração de vogais, consoantes e dígrafos 69. Exploração da relação som/ grafia X X X 3 70.Exploração da ortografia X X 2 71. Exploração de gramática X 1 72. Exploração da pontuação X X X 3 73. Exploração da direção da escrita 74. Exploração do formato das letras 75. Ordenação de Palavras para formar frases ou ordenar frases para formar texto

X X X 1/2

Total 53/6

A análise do quadro 4, acima, revelou que durante as 14 observações da prática da professora 2 do programa “Se Liga” não houve grande diferença quanto ao número de atividades realizadas com base no material do “Se Liga”(módulo de alfabetização e cadernos de atividades), contando 53 atividades, e as atividades advindas da experiência da professora, com um total de 66 atividades.

Das atividades dispostas no material do programa, as predominantes foram leitura de sílabas e de palavras trabalhadas e atividades de cópia de sílabas e de palavras trabalhadas. Essas atividades revelam a concepção associacionista de língua adotada pelo programa, que se empenha na memorização de sílabas e de palavras, sem se preocupar com a capacidade gerativa que o sistema de escrita alfabética pode proporcionar aos aprendizes.

Já as atividades desenvolvidas extra material do programa apresentaram grande diversidade, embora com pouca recorrência, como podemos constatar no quadro acima. Entre elas destacamos produção de palavras, exploração da ortografia, exploração da relação som/grafia, formação de palavras com uso do alfabeto móvel, partição escrita de palavras em sílabas, comparação de palavras quanto à presença de letras e sílabas iguais/diferentes, contagem de sílabas de palavras, etc,. Essas atividades possibilitam uma maior reflexão sobre a correspondência som/grafia das palavras, facilitando a aquisição do sistema de escrita pela criança. Contudo, destacamos que não foram trabalhadas atividades importantes para o aprendizado do SEA, como identificação de rimas e de aliteração as quais ajudam os aprendizes a compreender como funciona o sistema de escrita mais rapidamente, como fora demonstrado por várias pesquisas.

O quadro 6, apresentado em seguida, traz as atividades voltadas à leitura, compreensão de leitura e produção de textos que a professora 2 realizou nos 14 dias observados.

Quadro 06 - Atividades de leitura, compreensão e produção textuais

desenvolvidas pela professora 2

Categorias 1 º 2 º 3 º 4 º 5 º 6 º 7 º 8 º 9 º 10 ° 11 º 12 º 13 º 14º Total

1.Leitura de texto pela mestra(apontando ou não as palavras do texto)

X X X X X X X X X X X X X 13

2. Leitura de texto pela

mestra com

acompanhamento dos alunos (repetição)

X X 02

3.Leitura coletiva dos alunos sem condução da mestra 4. Leitura de texto realizada pelo aluno a mando do professor

5. Leitura de texto realizada pelo aluno com ajuda da professora, leitura para a mestra (“tomar a leitura”)

X 01

6.Leitura “alternada” de texto pelo aluno

X 01

7. Leitura silenciosa (palavra e/ou texto) com e/ou sem objetivo de responder as questões (interpretação escrita)

X X X X X X 06

8. Leitura do que escreveu sobre desenho

9.Leitura coletiva de enunciados das tarefas, leituras das respostas às questões postas

X X X

10.Leitura livre

11.Conto de “história”, “fábula” pela mestra

X 01

12. (re)contagem de texto, “história” pelo aluno e/ou coletiva

X

13. Compreensão oral do texto e/ou da “história” lida pela mestra coletivamente (antes, durante e após leitura)

X X X X X X X X X X X X 12

14.

Compreensão/interpretação escrita

15. Leitura de “enunciados” pela mestra/sentenças 16. Leitura de enunciados pelo aluno/sentenças 17.Produção de texto livre 18. Produção individual de texto, produção escrita ( final de história)

X 01

19.Produção de texto com auxílio do professor 20. Produção de texto coletivo 21.Exploração de características do gênero textual trabalhado X 01

22. Leitura em voz alta (palavra e/ou texto) com e/ou sem objetivo de responder as questões (interpretação escrita) X X X X X X X 07 23. Produção de texto a partir de sequência de quadrinhos

Como podemos verificar no quadro 6, acima, poucas vezes os alunos foram expostos às práticas de leitura. Quando isso ocorria a leitura servia para a professora avaliar quem já dominava o “código”. Na maioria das vezes era a professora quem lia para eles no momento do “Curtindo as leituras”. A interpretação escrita dos textos não apresentava uma diversidade de atividades cognitivas que deveriam ser ativadas por meio das estratégias de leitura como compreender os propósitos implícitos e explícitos da leitura e elaborar inferências (SOLÉ, 1998). Havia um número muito maior de atividades de localização de informações e o texto era usado para explorar palavras e sílabas trabalhadas, como já exemplificamos na análise da prática da professora 1.

Nessa turma a produção de texto só aconteceu uma única vez, durante as 14 observações. No entanto, essa produção não foi solicitada pela professora, mas pelo programa. A produção implicava ler uma história em quadrinhos, cujos primeiros quadrinhos eram constituídos só de imagens e só no final havia texto verbal, e

transformá-la num texto narrativo. Observamos que o próprio comando da atividade já era confuso e redundante, pois como transformar um texto que já é narrativo como uma HQ num texto narrativo? Diante dessa proposta mal formulada os alunos apresentaram dificuldade em compreender o que realmente era pra fazer. Observemos o encaminhamento da atividade pela professora:

P.- Vocês vão fazer uma pequena produção de texto que a supervisora do programa vai levar pra GRE.

- Você vai ler o texto. Vejam o título “O mundo pro meu bem”. (HQ de Chico Bento).

- Então, preste atenção. Então, agora vocês vão narrar a história. - Deixa eu ler os quadrinhos aqui de baixo.

- Aqui vocês vão ler a historinha, aí vocês vão escrever essa mesma história.

- Vocês vão escrever esse texto aqui na forma narrativa. Só que tem que ter ponto final, parágrafo.

- Tente, gente. Isso já vai ser uma nota de vocês. A supervisora vai levar pra GRE. - Aí tá na forma de quadrinhos, mas vocês vão fazer na forma narrativa. Lembrem- se que começa a narrativa com parágrafo, letra maiúscula.

- Vocês sabem o que é parágrafo? É quando a gente dá um espaço para começar a história.

A.- Tomás: Ô tia, eu não tô entendendo não. P.- Venha que eu explico.

A.- Luan: eu não tô entendendo não.

P.- Luan: só é ler e copiar com parágrafo, ponto final... A.- Luan: Ô tia, e quem não sabe ler?

Dos 9 alunos presentes nessa aula, apenas 1 tentou interpretar a sequência de quadrinhos e narrar a história como havia entendido, enquanto os demais apenas copiaram o texto, como a professora havia orientado.

P.- Quem já terminou pode me entregar. A.- Aline: terminei, tia.

P.- Aline, agora que eu vi tem que dar um título novo pra história, gente. A supervisora disse que era o mesmo título, mas agora eu estou vendo que é um novo título.

A.- Tânia: olha a minha, tia.

P.- Veja, você tá vendo aqui: Ô, Rosinha... é só colocar outro título.

P.- Tânia, até Rinaldo tá fazendo, Tânia. Eu não tô acreditando não. Vá terminar o seu texto!

( A ajuda prestada a aluna pela professora foi dizer as letras que a aluna não conseguia enxergar na HQ.)

Esse encaminhamento para a produção revelou o quanto o programa e também a professora têm dificuldade em entender como se constitui um texto e acabam confundindo as características dos gêneros e tipos textuais. No entanto, os tipos textuais são definidos por seus traços linguísticos predominantes, que formam uma sequência e não um texto, como nos explica Marcuschi (2002). Em nenhum momento a professora mostrou ter compreendido que a HQ já se tratava de um texto narrativo e insistia para que os alunos escrevessem na forma narrativa. Essa atitude parece demonstrar o quanto ela confiava e acreditava no programa, confirmando o que ela disse na entrevista.

P. O que você considera como fundamental para desenvolver um bom trabalho no programa “Se Liga”?

R: É acreditar no programa e ter determinação.

Essa resposta é coerente com a passividade da professora, ao aplicar uma atividade de produção de texto, sem refletir sobre o que estava fazendo, pois o mínimo de atenção àquela proposta de produção implicaria em compreender sua redundância, em querer transformar um texto do tipo narrativo em outro também narrativo, sem explicitar os aspectos inerentes à produção textual, já comentados anteriormente, na análise da prática de produção textual da professora 1.