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Esta pesquisa abrangeu todas as concessionárias de energia do setor elétrico brasileiro listadas no site da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) no período de 2010 a 2013. Essas empresas são divididas em diferentes tipos de atividades, que são a geração, a transmissão e a distribuição de energia. A maior concentração de empresas na amostra está no ramo de distribuição, contando com 32, de um total de 79 entidades. Após o cálculo do Índice de Comparabilidade de Gray, foram retirados os outliers. Os outliers totalizaram em 23 índices, sendo 11 de transmissão, 5 de geração e 7 de distribuição. Desses 23 índices, 22 são calculados sobre os lucros líquidos das empresas, o que aponta que a maioria dos valores que destoam muito da média dos Índices de Comparabilidade estão nos resultados das empresas. Depois da retirada dos ouliers, foram calculados a média, mediana e desvio padrão desses índices e, posteriormente, o teste de normalidade de Shapiro-Francia e o teste de normalidade de Shapiro-Wilk, e ainda o teste não-paramétrico de diferença de média de Wilcoxon.

Os testes de normalidade de Shapiro-Francia e o de Shapiro-Wilk rejeitaram a hipótese nula de que as variáveis possuem distribuição normal. Assim, foi utilizado o teste não-paramétrico de diferença de média de Wilcoxon para verificar se as diferenças entre as médias amostrais são significativas para análise da população das empresas do setor de energia. Os resultados dos testes Shapiro-Francia e Shapiro-Wilk estão no Apêndice C – Resultados Shapiro-Francia e Shapiro-Wilk.

A Tabela 1 apresenta o maior valor, a mediana, a média, o desvio padrão, o menor valor e o teste de Wilcoxon para os Índices de Comparabilidade de Gray obtidos mediante a união dos patrimônios líquidos societários e regulatórios de todas as empresas, sendo classificadas de acordo com o ano a que cada valor pertence.A média do Índice de Comparabilidade de Gray do patrimônio líquido das empresas do setor elétrico da amostra tem uma tendência de distanciamento entre os valores, sendo que, ao passar dos anos, os valores societários tendem a serem maiores do que os regulatórios, apesar de uma diminuição deste distanciamento no ano de 2012. As medianas são superiores a 1 nos anos de 2010, 2011 e 2013, e inferiores a 1 em 2012. Suzart et al. (2012) e Tancini (2013) encontraram em seus resultados que os patrimônios líquidos das empresas de energia são estatisticamente iguais, quando comparados os valores regulatórios e societários. Todos os testes de diferença de média de Wilcoxon relativos ao patrimônio líquido não foram significativos também para essa amostra, indicando

30 que apesar de terem sido encontradas diferenças entre os patrimônios líquidos dos anos da amostra na média, na população a diferença não foi significativa. Esse grupo de contas sofre os efeitos da conciliação entre as contabilidades regulatória e societária, através dos ativos e passivos regulatórios, mas que as diferenças não são significativas.

Tabela 1 – Índices de Gray das empresas de Geração, Transmissão e Distribuição – Patrimônio Líquido 2010 2011 2012 2013 Maior Valor 2,21277 3,35413 2,88906 3,61293 Mediana 1,00000 1,00468 0,99602 1,04672 Média 1,08250 1,09589 1,01945 1,14790 Desvio Padrão 0,29182 0,48711 0,61270 0,57839 Menor Valor 0,31039 -0,51413 -1,97597 -1,94365 P > |z| - H0 PLSoc=PLReg 0.3787 0.9124 0.6164 0.9523

Fonte: Autoria Própria

Similar a Tabela 1, na Tabela 2, os valores do lucro líquido foram reunidos de acordo com os anos. Em todos os anos, as médias dos Índices de Comparabilidade são superiores a 1, ou seja, os lucros líquidos societários são maiores de que os regulatórios em todos os anos de análise. Em 2011, os lucros líquidos societários se mostraram cerca de 21,58% maiores do que os valores regulatórios. Apesar dessa diferença significativa no ano de 2011, os anos de 2012 e 2013, mostraram uma aproximação de 1, chegando essa média a 2,16% em 2013. A média dos índices aponta, nos últimos anos, que ouve uma aproximação no montante dos lucros líquidos regulatórios e societários para as empresas do setor elétrico no geral. Todos os anos apresentam a mediana com um valor superior a 1. Nos anos de 2010, 2011 e 2013, a hipótese nula foi rejeitada, ou seja, há uma diferença significativa entre os valores regulatórios e societários nesses anos de análise. Apenas o ano de 2012 não se mostrou significativo, obtendo um p-value = 0.1467. É importante observar que o desvio padrão dobrou em 2013, com relação aos números encontrados em 2010.

Esses resultados para os lucros líquidos e também no geral, revelando que os valores societários são maiores de que os regulatórios, também foram alcançados nos trabalhos de Suzart et al. (2012) e de Tancini (2013). Essas diferenças são justificadas pela contabilização dos itens regulatórios, e também pela reavaliação do ativo elétrico pelo Valor Novo de Reposição e sua despesa de depreciação. Para o exercício de 2010, as concessionárias não consideravam o valor novo de reposição na mensuração da infraestrutura, justificando assim o aumento da diferença entre lucro líquido regulatório e societário no ano de 2011.

Tabela 2 – Índices de Gay das empresas de Geração, Transmissão e Distribuição – Lucro Líquido 2010 2011 2012 2013 Maior Valor 2,47102 2,76625 3,76015 3,39259 Mediana 1,01154 1,13818 1,07179 1,14799 Média 1,09980 1,21583 1,03085 1,02159 Desvio Padrão 0,45879 0,48058 0,87300 0,89198 Menor Valor -1,26476 -1,00558 -1,20051 -1,94365 P > |z| H0 LLSoc= LLReg 0.0033 0.0000 0.1467 0.0078

Fonte: Autoria Própria

Para melhor compreensão desse resultado, foram realizadas análises considerando cada ramo de atividade em particular. Assim, foram realizados testes de diferenças de médias anual dos patrimônios líquidos e lucros líquidos, separadamente para as empresas de energia dos ramos de geração, transmissão e distribuição e calculados os Índices de Gay de cada uma das atividades. O Quadro 2 evidencia o número de entidades analisadas por cada tipo de atividade.

Quadro 2: QUANTIDADE DE EMPRESAS DA AMOSTRA

EMPRESAS DA AMOSTRA POR TIPO DE ATIVIDADE

Geração 22

Transmissão 22

Distribuição 32

*Geração e Transmissão 3

TOTAL 79

Fonte: Autoria Própria

* Faz parte da amostra, mas não apresentou um número de observações necessárias para que fosse analisado separadamente.

Partindo do geral para o específico, na Tabela 3 estão demonstrados o maior valor, a mediana, a média, o desvio padrão, o menor valor e o teste de Wilcoxon para os Índices de Comparabilidade de Gray do patrimônio líquido das empresas de geração de energia do setor elétrico brasileiro. Nos anos de 2010 e 2012, os índices de comparabilidade se mostraram inferiores a 1, então infere-se que os patrimônios líquidos regulatórios foram maiores do que os societários em média durante esses períodos. Já nos anos de 2011 e 2013, os índices de comparabilidade obtiveram um resultado maior do que 1, o que mostra que nesses anos os patrimônios líquidos societários se mostraram maiores de que os regulatórios. Observa-se na tabela uma variação da média, não tendo a amostra uma tendência de crescimento ou decréscimo da média dos índices, mas sim uma alternância: um ano o regulatório é maior, no outro o societário é maior. As medianas de todos os anos foram abaixo de 1. Seguindo a linha de resultados dos testes de diferença de média feitos para os patrimônios líquidos no

32 geral, os testes de Wilcoxon calculados para o patrimônio líquido das empresas de geração também não se mostraram significativos. Assim, não podemos afirmar que as médias entre os patrimônios líquidos societários e os regulatórios das empresas de geração são significativamente diferentes entre elas na população.

Tabela 3 – Índices de Gray das empresas de Geração – Patrimônio Líquido 2010 2011 2012 2013 Maior Valor 1,02972 3,35413 1,18017 3,61293 Mediana 0,98389 0,99824 0,95319 0,99881 Média 0,95089 1,06838 0,76090 1,10444 Desvio Padrão 0,08617 0,56389 0,67942 0,61125 Menor Valor 0,70025 0,36857 -1,97597 0,49807 P > |z| H0 PLSoc= PLReg 0.1997 0.8076 0.4651 0.9308

Fonte: Autoria Própria

Os Índices de Comparabilidade dos lucros líquidos das empresas de geração se mostraram, em média, superiores a 1, como explicitado na Tabela 4. Esses números inferem que, em todos os anos, os valores societários foram maiores de que os regulatórios. A média apresentou uma tendência de crescimento com o passar dos anos analisados, revelando um distanciamento entre os valores regulatórios e societários. As medianas também foram superiores a 1, e quando se observa os maiores valores de cada ano, pode-se perceber que todos são maiores de que 2, o que indica grande diferença quando comparados os valores societários e regulatórios das empresas. Nos anos de 2010 e 2012, os testes de diferença de média não se mostraram significativos. Já os anos de 2011 e 2013 a hipótese nula foi rejeitada, ou seja, há uma diferença significativa entre os lucros líquidos regulatórios e societários das empresas de geração. O ano de 2013, apesar do p-value ser superior a 0,05, apresentando um resultado p-value = 0,0559, a diferença entre os lucros foi significativa, o que pode ser verificado pelo Índice de Comparabilidade de Gray de 1,1545, ou seja, valor societário 15,46% superior ao regulatório.

Tabela 4 – Índices de Gray das empresas de Geração – Lucro Líquido 2010 2011 2012 2013 Maior Valor 2,22579 2,76625 2,50094 2,10528 Mediana 1,00146 1,04637 1,02773 1,16131 Média 1,03021 1,22254 1,13508 1,15459 Desvio Padrão 0,34998 0,73133 0,63551 0,50057 Menor Valor 0,36290 -1,00558 -0,48228 -0,29971 P > |z| H0 LLSoc= LLReg 0.5159 0.0476 0.4093 0.0559

A Tabela 5 segue o mesmo modelo das outras tabelas que trabalham com as partes específicas da amostra, e foca no patrimônio líquido das empresas de transmissão de energia. Os resultados para essa parte da amostra apontam que os valores societários de todos os anos são superiores aos regulatórios, tendo um Índice de Comparabilidade de Gray superior a 1. As médias dos 4 anos dos patrimônios líquidos das empresas de transmissão se mostram muito distantes de 1, sendo as maiores médias do Índice de Comparabilidade de Gray quando comparados com toda a análise dessa pesquisa. No ano de 2013, os patrimônios líquidos societários chegam a ser, em média, 49,09% superiores aos regulatórios. A média dos índices apresenta uma tendência de crescimento ao longo dos anos. A mediana também acompanha a média, se mostrando maiores de que 1. Todos os maiores valores são superiores a 2, e todos os menores, inferiores a 1. Em todos os anos de análise a hipótese nula foi rejeitada, ou seja, há uma diferença significativa entre os patrimônios líquidos regulatórios e societários das empresas que prestam serviços de transmissão no setor elétrico brasileiro.

Tabela 5 – Índices de Gray das empresas de Transmissão – Patrimônio Líquido 2010 2011 2012 2013 Maior Valor 2,21277 2,14538 2,12699 3,20242 Mediana 1,28492 1,39411 1,25122 1,33957 Média 1,33690 1,37574 1,36796 1,49099 Desvio Padrão 0,34423 0,41090 0,37133 0,57626 Menor Valor 0,96672 0,68618 0,91702 0,57088 P > |z| H0 PLSoc= PLReg 0.0012 0.0007 0.0019 0.0027

Fonte: Autoria Própria

A média dos Índices de Comparabilidade de Gray para os lucros líquidos das empresas de transmissão do setor elétrico, apresentados na tabela 6, se mostraram todos superiores a 1, com uma tendência de crescimento com o passar dos anos. As medianas também são superiores a 1, estando próximas das médias. Os testes do Wilcoxon apontaram que, como observado nos patrimônios líquidos das empresas de transmissão, em todos os anos de análise a hipótese nula foi rejeitada para os lucros líquidos.

Tabela 6 – Índices de Gray das empresas de Transmissão – Lucro Líquido 2010 2011 2012 2013 Maior Valor 2,31509 2,20932 1,96434 3,07628 Mediana 1,16398 1,21692 1,22233 1,24541 Média 1,13606 1,29029 1,06258 1,14756 Desvio Padrão 0,66478 0,30986 0,72445 0,89393 Menor Valor -1,26476 0,87510 -1,07120 -1,78018

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P > |z|

H0 LLSoc= LLReg

0.0024 0.0050 0.0298 0.0002

Fonte: Autoria Própria

As diferenças significativas nos números contábeis das empresas transmissoras podem ser explicadas pelo fato de a contabilidade regulatória não registrar as receitas e custos com construção, que são contabilizados apenas para fins societários de acordo com os Pronunciamentos técnicos CPC 27 – Contratos de Construção e CPC 30 – Receitas, como apontadas em algumas notas explicativas consultadas.

As tabelas 7 e 8 tratam dos patrimônios líquidos e dos lucros líquidos das empresas de distribuição de energia do setor elétrico brasileiro. A tabela 7 traz os resultados obtidos mediante o cálculo do Índice de Comparabilidade de Gray do patrimônio líquido das empresas de distribuição. Em todos os anos de análise, a média do Índice de Comparabilidade se mostrou menor do que 1, indicando que os valores regulatórios são superiores aos societários. A média e mediana se mostraram muito próximas de 1. Quanto ao teste de Wilcoxon, apenas o ano de 2010 não se mostrou significativo. Os resultados encontrados para as empresas de distribuição utilizando essa amostra foram similares aos resultados encontrados por Medeiros et al. (2013) em sua pesquisa, que mostrou que os patrimônios líquidos das distribuidoras tiveram seus valores regulatórios maiores de que os societários com até 5% de diferença. Na análise da presente pesquisa, para as empresas de distribuição, os patrimônios líquidos regulatórios se mostraram até 8,25% superiores aos societários.

Essas diferenças nos patrimônios líquidos das distribuidoras de energia são causadas pelo não reconhecimento dos ativos e passivos regulatórios pela contabilidade societária, pelas reavaliações de ativos imobilizados a Valor Novo de Reposição na contabilidade regulatória e pelos efeitos da adoção do ICPC 01 - Contratos de Concessão na contabilidade societária.

Tabela 7– Índices de Gray das empresas de Distribuição – Patrimônio Líquido 2010 2011 2012 2013 Maior Valor 1,79557 1,98933 2,88906 1,95866 Mediana 1,00000 0,97892 0,91623 0,95317 Média 0,98991 0,91752 0,94934 0,94501 Desvio Padrão 0,23481 0,41413 0,62984 0,48521 Menor Valor 0,31039 -0,51413 -1,38989 -0,92293 P > |z| H0 PLSoc= PLReg 0.5669 0.0529 0.0132 0.0493

Já a tabela 8 traz os resultados obtidos mediante o cálculo do Índice de Comparabilidade de Gray do lucro líquido das empresas de distribuição. Nos anos de 2010 e 2011, os Índices de Comparabilidade apontaram que os valores societários eram em média superiores aos regulatórios em 13,63% e 19,16%, respectivamente. Já os anos de 2012 e 2013, os Índices de Comparabilidade foram menores de que 1, indicando que os valores regulatórios era maiores de que os societários em 5,37% e 13,2%, respectivamente. A tendência é de distanciamento do índice de 1, se aproximando de 0. A mediana segue a mesma linha da média. No teste de média a hipótese nula foi rejeitada apenas para o ano de 2011, indicando um p-value = 0.0000.

Tabela 8 – Índices de Gray das empresas de Distribuição – Lucro Líquido 2010 2011 2012 2013 Maior Valor 2,47102 1,91921 3,76015 3,39259 Mediana 1,00000 1,15271 0,98400 0,93400 Média 1,13632 1,19162 0,94632 0,86804 Desvio Padrão 0,40286 0,34450 1,11058 1,12189 Menor Valor 0,61863 0,26006 -1,20051 -1,94365 P > |z| H0 LLSoc= LLReg 0.1229 0.0000 0.3933 0.6114

Fonte: Autoria Própria

Os resultados do trabalho de Medeiros et al. (2013) apontaram que, em média, para os lucros líquidos, os valores societários se mostraram superiores aos regulatórios, no ano de 2010 e 2011, tendência essa também encontrada nesses resultados. Mas, para essa amostra dessa pesquisa, há um diferencial: a partir do ano de 2012, os valores regulatórios passaram a se apresentar maiores de que os societários. Essa mudança pode ser explicada pelo 3º Ciclo de Revisão Tarifária feita em 2011, que, conforme Tancini (2013), com regras que forçam a eficiência do setor, acabam por afetar diretamente a contabilização dos itens regulatórios.

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