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Parte II – Estudo Empírico

Capítulo 5 Análise de Dados

5.1 – Consistência Interna das Escalas

Foi testada a consistência interna, de cada uma, das escalas de medida aplicadas, através do Alfa de Cronbach. Os resultados são apresentados na tabela 3, e são também incluídos os dados da consistência interna obtidos pelos autores originais das escalas.

Tabela 3. Consistência interna das escalas

Escala Nº de itens α Cronbach α Cronbach original

Escalas de Atitudes Masculinas em relação à Violência Sexual

12 0,660 0,88

(Price et al, 1999) Escalas de Atitudes Femininas em relação à

Violência Sexual

12 0,620* 0,78

(Price et al, 1999) Escala de Crenças sobre Violência Sexual -

Representação Estereotipada da Violação

12 0,856

- Escala de Crenças sobre Violência Sexual –

Provocação da Vítima

5 0,733 -

Escala de Crenças sobre Violência Sexual - Consentimento da Vítima

4 0,788 -

Escala de Crenças sobre Violência Sexual – Falsa Noção de Invulnerabilidade Pessoal

5 0,594 -

Escala de Crenças sobre Violência Sexual - Falsas Alegações

4 0,817 -

Escala de Crenças sobre Violência Sexual – Total

30 0,915 0,91

(Martins et al. 2012) Escala de Coerção Sexual do Perpetuador –

Verbal

6 0,905 -

Escala de Coerção Sexual do Perpetuador – Tocar/Expor

3 0,805 -

Escala de Coerção Sexual do Perpetuador – Coerção Ilegal

4 0,937 -

Escala de Coerção Sexual do Perpetuador – Total

13 0,951 0,88

(Mathes & McCoy, 2011) Escala de Coerção Sexual da Vítima – Verbal 6 0,760 -

Escala de Coerção Sexual da Vítima – Tocar/Expor

3 0,826 -

Escala de Coerção Sexual da Vítima – Coerção Ilegal

4 0,831 -

Escala de Coerção Sexual da Vítima – Total 13 0,895 0,89

(Mathes & McCoy, 2011) Escala de Tática de Conflitos 2 – Coerção

Sexual Agressor Ligeiro

3 0,800 0,56

(Alexandra & Figueiredo, 2006) Escala de Tática de Conflitos 2 – Coerção

Sexual Agressor Severo

4 0,931 0,56

(Alexandra & Figueiredo, 2006) Escala de Tática de Conflitos 2 – Coerção

Sexual Vitimização Ligeiro

3 0,720 0,51

(Alexandra & Figueiredo, 2006) Escala de Tática de Conflitos 2 – Coerção

Sexual Vitimização Severo

4 0,964 0,51

(Alexandra & Figueiredo, 2006)

43 Os resultados demonstram que a fiabilidade das escalas varia entre moderada e elevada, com exceção para a ‘Escala de Atitudes Femininas em Relação à Violência Sexual’, tendo sido necessário retirar um item para que esta apresentasse valores aceitáveis – mais baixos – de fiabilidade.

5.2 – Resultados

5.2.1 – Caracterização das Atitudes e Crenças Legitimadoras da Violência Sexual

Considerando que as respostas de cada uma das Escalas de Atitudes em relação à Violência Sexual, podem variar entre 1 e 5, como os dados foram invertidos em toda a escala, o 1 passou a significar valores baixos para atitudes de violência sexual e o 5, valores altos para atitudes em relação à violência sexual. Os valores das médias obtidas revelam um nível de aceitação bastante baixo da prática de violência sexual para ambos os sexos, mas com valores a penderem ligeiramente mais para o sexo feminino.

Recorrendo à tabela 4, relativa à média e desvio-padrão, observa-se que as atitudes violentas do género masculino apresentam valores menores (M= 1,51; DP = 0,48) comparativamente com as atitudes do género feminino. Isto significa que as atitudes de violência sexual masculina são aquelas que são menos aceites.

Tabela 4. Média e desvio-padrão das Escalas de Atitudes em relação à Violência Sexual Média (DP)

Escala de Atitudes Masculinas 1,51 (0,48)

Escalas de Atitudes Femininas 1,87 (0,43)

Em relação às crenças legitimadoras da violência sexual, através da análise das estatísticas descritivas da Escala (Tabela 5), podemos constatar que todos os valores médios dos diferentes fatores utilizados são baixos, demonstrando que os participantes apresentam um muito baixo nível de crenças que legitimam a violência sexual.

De referir que o tipo de crença mais aceites pelos participantes do estudo são as que se referem às ‘falsas alegações’ (M = 2,11; DP = 0,73) seguindo-se as crenças relacionadas com o ‘consentimento da vítima’ (M = 2,06; DP = 0,81) e as crenças menos aceitáveis são as referentes à ‘falsa noção de invulnerabilidade

44 pessoal’ (M = 1,35; DP = 0,36) e à ‘representação estereotipada da violação’ (M = 1,42; DP = 0,45).

Tabela 5. Média e desvio-padrão da Escala de Crenças

Fator Nº de itens Média (DP)

Representação estereotipada da violação 12 1,42(0,45) Falsa noção de invulnerabilidade pessoal 5 1,35(0,36)

Consentimento da vítima 4 2,06(0,81)

Provocação da vítima 5 1,85(0,78)

Falsas Alegações 5 2,11(0,73)

5.2.2 – Prevalência dos Tipos de Coerção Sexual e das Estratégias Coercivas

Com o objetivo de observar a prevalência da coerção sexual nas relações de namoro dos estudantes universitários analisou-se os dados referentes à Escala de Coerção Sexual da Vítima (ECS-Vítima), à Escala de Coerção Sexual do Perpetuador (ECS-Perpetuador) e às Escalas de Táticas de Conflitos 2, subescala coerção sexual (ETC2).

No que diz respeito à Escala de Coerção Sexual, (ECS), esta é divida entre Vítima e Agressor e tem como propósito identificar se existe comportamentos sexuais coercivos na relação – no caso da ECS-Perpetuador, procura reconhecer se o sujeito pratica algum tipo de coerção sexual. No caso da ECS-Vítima, pretende reconhecer se o individuo sofreu algum tipo de coerção sexual. Cada uma das Escalas é constituída por três fatores: “verbal”; “tocar/expor” e “coerção ilegal”.

A estatística descritiva (Tabela 6) indica que os valores médios são bastante baixos em todos os fatores sendo a ECS-Vítima uma média mais alta (M= 1,26; DP = 0,45) do que a ECS-Perpetuador (M = 1,14; DP = 0,33).

Tabela 6. Média e desvio-padrão da Escala de Coerção Sexual da Vítima e do Perpetuador

Subescalas Média (DP) ECSVítima_Verbal 1,27 (0,48) ECSVítima_Tocar/Expor 1,34 (0,60) ECSVítima_Coerção Ilegal 1,18 (0,41) ECSVítima_Total 1,26 (0,45) ECSPerpetuador_Verbal 1,29 0(,34) ECSPerpetuador_Tocar/Expor 1,20 (0,46) ECSPerpetuador_Coerção Ilegal 1,10 (0,30) ECSPerpetuador_Total 1,14 (0,33)

45 No que diz respeito à frequência das respostas da ECS-Vítima, por item (tabela 7), a análise das respostas afirmativas demonstra que 12,2% respondeu positivamente a, pelo menos um item. No que concerne às técnicas coercivas do tipo verbal, pelo menos, 12,2% da amostra respondeu que foi vítima de um desses tipos de coerção, sendo que ser forçado a ter sexo fazendo com que se sentisse culpado é a técnica mais usada.

Relativamente as estratégias coercivas do tipo tocar/expor, 12,9% respondeu afirmativamente a pelo menos um item, nomeadamente, situação em que foi forçado/a por alguém a ter sexo ao acariciarem os seus órgãos genitais. Em relação à coerção ilegal o valor mais elevado é para ser forçado/a por alguém a ter sexo através da chantagem, com um valor de 6,5%.

46

Tabela 7. Frequências de resposta referente à Escala de Coerção Sexual da Vítima

Versão Vítima- Itens Não

def. Não Sim

Sim def. Fator Verbal

1. Já alguma vez foi forçado/a por alguém a ter sexo, fazendo com que

se sentisse culpada/o?

2. Já alguma vez foi forçado/a a por alguém a ter sexo ao discutirem

consigo?

3. Já alguma vez foi forçado/a por alguém a ter sexo ao chamarem-lhe

de púdico/a, frígido/a, etc?

4. Já alguma vez foi forçado/a por alguém a ter sexo ao fazerem-lhe

sentir que lhe o deve (e.g. tem vindo a namorar há já seis meses e por isso deve sexo ao seu/à sua parceiro/a)?

5. Já alguma vez foi forçado/a por alguém a ter sexo ao alcoolizarem

na/o (ou aproveitando-se de si por estar alcoolizada/o)?

6. Já alguma vez foi forçado/a por alguém a ter sexo ao implorando-

lhe ou fazendo-lhe sentir pena da pessoa?

78,9% 82,9% 82,1% 78,9% 78% 80,5 8,9% 13% 14,6% 14,6% 16,3% 10,6% 11,4% 4,1% 2,4% 4,9% 4,9% 8,9% 0,8% – 0,8% 1,6% 0,8% – Fator Tocar/Expor

7. Já alguma vez foi forçado/a por alguém a ter sexo ao despirem-se à

sua frente?

8. Já alguma vez foi forçado/a por alguém a ter sexo ao exporem-lhe

as partes íntimas?

9. Já alguma vez foi forçado/a por alguém a ter sexo ao acariciarem os

seus órgãos genitais?

77,2% 77,2% 73,2% 15,4% 14,6% 14,6% 7,3% 7,3% 10,6% – 0,8% 1,6%

Fator Coerção Ilegal

10. Já alguma vez foi forçado/a por alguém a ter sexo através da

chantagem?

11. Já alguma vez foi forçado/a por alguém a ter sexo através de algum

tipo de ameaça?

12. Já alguma vez foi forçado/a por alguém a ter sexo através da oferta

de dinheiro ou de presentes caros?

13. Já alguma vez foi forçado/a por alguém a ter sexo através do uso

da força física? 81,3% 86,2% 88,6% 87% 12,2% 11,4% 8,9% 11,4% 6,5% 2,4% 1,6% 1,6% – – 0,8% –

Em relação à ECS-Perpetuador, a análise de frequência de resposta positivas aponta que a prevalência de perpetuação de comportamentos agressivos é de 4,1%. Relativamente às estratégias de coerção do tipo verbal, 2,4% respondeu afirmativamente a, pelo menos, um dos itens sendo que forçar alguém a ter sexo fazendo com que essa

47 pessoa se sentisse culpada e forçar alguém a ter sexo implorando ou fazendo com que a pessoa sentisse pena por si são as técnicas mais utilizada pelo agressor. No que concerne às técnicas do tipo tocar/expor 4,1% respondeu positivamente a, pelo menos, um dos itens – esta é o tipo de técnica mais utilizada pelo perpetuador – sendo que expor as suas partes íntimas e acariciar os seus próprios genitais são as técnicas mais usadas. Por fim, nas técnicas de coerção sexual, 1,6% respondeu positivamente a, pelo menos, um dos itens onde a chantagem é a técnica mais utilizada.

Tabela 8. Frequências de resposta referente à Escala de Coerção Sexual do Perpetuador

Versão Agressor – Itens Não

def. Não Sim

Sim def. Fator Verbal

1. Já alguma vez forçou alguém a ter sexo, fazendo com a que a pessoa

se sentisse culpada?

2. Já alguma vez forçou alguém a ter sexo, discutindo com a pessoa? 3. Já alguma vez forçou alguém a ter sexo ao chamar-lhe de púdico/a,

de frígido/a, etc?

4. Já alguma vez forçou alguém a ter sexo, fazendo com que a pessoa

sentisse que lhe o deve (e.g. tem vindo a namorar há já seis meses e por isso o/a seu/sua parceiro/a deve-lhe sexo)?

5. Já alguma vez forçou alguém a ter sexo alcoolizando a pessoa (ou

aproveitando-se da mesma por estar alcoolizada)?

6. Já alguma vez forçou alguém a ter sexo implorando ou fazendo com

que a pessoa sentisse pena por si?

91,1% 90,2% 90,2% 88,6% 90,2% 83,7% 7,3% 8,9% 7,3% 10,6% 8,9% 13,8% 0,8% 0,8% 1,6% – 0,8% 2,4% 0,8% – 0,8% 0,8% – – Fator Tocar/Expor

7. Já alguma vez forçou alguém a ter sexo despindo-se à sua frente? 8. Já alguma vez forçou alguém a ter sexo expondo as suas partes

íntimas?

9. Já alguma vez forçou alguém a ter sexo acariciando os seus órgãos

genitais? 85,4% 85,4% 80,5% 12,2% 10,6% 15,4% 1,6% 4,1% 4,1% 0,8% – –

Fator Coerção Ilegal

10. Já alguma vez forçou alguém a ter sexo chantageando a pessoa? 11. Já alguma vez forçou alguém a ter sexo ameaçando a pessoa? 12. Já alguma vez forçou alguém a ter sexo, oferecendo à pessoa

dinheiro ou presentes caros?

13. Já alguma vez forçou alguém a ter sexo recorrendo à força física?

89,4% 91,9% 90,2% 91,9% 8,9% 8,1% 8,9% 7,3% 1,6% – 0,8% 0,8% – – – –

48 Posteriormente, e com o intuito de se compreender melhor a prevalência e a cronicidade do uso da coerção sexual na resolução de conflitos nas relações de namoro, analisou-se os dados referentes às Escalas de Táticas de Conflito 2 (ETC2).

Dadas as caraterísticas de resposta desta escala, que apresenta respostas que podem variar do 1 ao 8, as médias apresentadas na Tabela 9 apenas incluem os valores médios de 1 a 6 da subescala, tendo-se optado por uma transformação das respostas 7 e 8.

Segundos os dados apresentados na Tabela 9, pode-se observar que as médias apresentam valores bastante baixos, o que sugere que não existe coerção sexual como forma de resolução de conflitos. É de referenciar que as práticas coercivas de grau severo são as que apresentam valores mais baixos – tanto na subescala da vítima como na subescala do agressor – o que sugere que os estudantes universitários, por norma, têm uma propensão ainda mais pequena na utilização desse tipo estratégia nas suas relações de namoro. Já, as mais utilizadas são as de gravidade ligeira, o que sugere que se pratica, nas relações de namoro, comportamentos sexuais coercivos ligeiros, embora, também aqui, os valores médios sejam muito baixos.

Tabela 9. Média e desvio-padrão das Escalas de Táticas de Conflito 2, subescala coerção sexual

Subescala Média (DP)

Escalas de Táticas de Conflito 2, Coerção Sexual_Vítima Ligeiro Escalas de Táticas de Conflito 2, Coerção Sexual_Vítima Severo Escalas de Táticas de Conflito 2, Coerção Sexual_Agressor Ligeiro Escalas de Táticas de Conflito 2, Coerção Sexual_Agressor Severo

0,50 (0,92) 0,04 (0,35) 0,75 (1,31) 0,04 (0,31)

Analisando a frequência de respostas desta escala (Tabela 10), verifica-se que, no que diz respeito às estratégias de coerção sexual de grau ligeiro, 31,7% afirmaram já ter praticado, pelo menos uma vez, este tipo de estratégia na relação. Dessas, insistir em ter relações sexuais é a estratégia de coerção de gravidade ligeira mais utilizada.

No que diz respeito às estratégias de coerção de grau severo, notou-se a prevalência de 2,4% de prática deste tipo de estratégia, pelo menos uma vez, sendo a ameaça para a obtenção de sexo oral ou anal a estratégia mais utilizada.

Relativamente às estratégias de coerção de gravidade ligeira sofridas, 28,5% respondeu positivamente a, pelo menos, um dos itens. Destas, e tal como acontecera com

49 as estratégias de coerção praticadas de grau ligeiro, a insistência é a estratégias mais sofrida. Por fim, no que concerne às estratégias de coerção sofridas de grau severo, 4,1% dos participantes responderam já terem sido vítimas de, pelo menos, um dos itens.

Tabela 10. Frequências de resposta às Escalas de Táticas de Conflito 2 Item – Severidade Ligeiro

(Agressão/Vitimização) % de Resposta Positiva Cronicidade (maior frequência)

1. Fiz o(a) meu(minha) companheiro(a) ter relações sexuais

sem preservativo.

2. O(A) meu(minha) companheiro(a) fez isso comigo.

26,8%

19,5%

Pelo menos, 1 vez (6,5%)

Pelo menos, 1 vez (8,9%)

3. Insisti em ter relações sexuais quando o(a) meu(minha)

companheiro(a) não queria, mas não usei força física.

4. O(A) meu(minha) companheiro(a) fez isso comigo.

31,7% 28,5%

Pelo menos, 1 vez (12,2%) Pelo menos, 1 vez (14,6%)

5. Insisti com o(a) meu(minha) companheiro(a) para que

tivéssemos sexo oral ou anal, mas não usei força física.

6. O(A) meu(minha) companheiro(a) fez isso comigo.

20,3%

23,6%

Pelo menos, 1 vez (10,6%)

Pelo menos, 1 vez (13,8%)

Item – Severidade Severo

7. Usei a força (e.g. batendo, detendo ou usando uma arma)

para fazer com que o(a) meu(minha) companheiro(a) tivesse relações sexuais comigo.

8. O(A) meu(minha) companheiro(a) fez isso comigo.

1,6%

0,8%

3 a 10 vezes (1,6%)

6 a 10 vezes (,8%)

9. Usei a força (e.g. ferindo, detendo ou usando uma arma)

para fazer com que o(a) meu(minha) companheiro(a) tivesse relações sexuais comigo.

10. O(A) meu(minha) companheiro(a) fez isso comigo.

0,8%

1,6%

3 a 5 vezes (,8%)

1 a 5 vezes (1,6%)

11. Recorri a ameaças para fazer com que o(a) meu(minha)

companheiro(a) tivesse sexo oral ou anal comigo.

12. O(A) meu(minha) companheiro(a) fez isso comigo.

2,4% 4,1%

Pelo menos, 1 vez (1,6%) Pelo menos, 1 vez (3,3%)

13. Recorri a ameaças para fazer com que o(a) meu(minha)

companheiro(a) tivesse relações sexuais comigo.

14. O(A) meu(minha) companheiro(a) fez isso comigo.

1,6% 2,4%

1 a 10 vezes (1,6%) Pelo menos, 1 vez (1,6%)

50 5.2.3 – Relação entre Atitudes, Crenças e Comportamentos Sexuais Coercivos

Com o objetivo de reconhecer eventuais relações estatisticamente significativas entre as variáveis e as escalas aplicadas efetuaram-se correlações de Pearson (SPSS 24, 2016).

Analisando as variáveis relacionadas, podemos verificar que todas as correlações apresentam valores positivos, muitas destas correlações são significativas, contudo, de intensidade fraca a moderada (Tabela 11).

No que diz respeito às atitudes face à violência sobre homens e mulheres, elas encontram-se fortemente correlacionados de forma positiva e significativa entre si (r= ,584) e cuja intensidade apresenta os valores mais fortes em toda a tabela. Isto significa que, quem tolera as atitudes de violência para o género masculino, também, o tolera para o género feminino e vice-versa.

As atitudes legitimadoras quer masculinas, quer femininas encontram-se, também, correlacionadas positiva, e significativamente, com todas as crenças. Em particular verifica-se a correlação mais elevada, mas moderada, entre as atitudes e a crenças de ‘representação estereotipada’, significando que, quem tem mais crenças legitimadoras, tem mais atitudes e vice-versa.

A relação entre as atitudes masculinas e atitudes femininas e a escala de coerção sexual tanto na versão vítima como na versão agressor mostram correlações positivas, significativas e de força moderada, em particular em relação à escala de atitudes legitimadoras masculina, tanto para as escalas da vitima como do agressor, o que indica que quem tolera este tipo de atitudes é, também, quem mais sofre e mais pratica violência sexual.

Quanto à escala de conflito, tal como sucedeu com a escala das crenças, ambas as atitudes apresentam uma correlação significativa para toda a escala, mais uma vez com valores mais elevados com a escala de atitudes legitimadoras da violência sexual masculina, ou seja, quem apresenta mais atitudes legitimadoras é quem sofre e pratica mais estratégias coercivas de resolução de conflitos na relação.

Em relação às crenças e partindo dos dados da escala crenças sobre violência sexual, verifica-se que, as mesmas estão correlacionadas positiva e, significativamente, com as escalas de coerção sexual tanto para a vítima como para o agressor, apenas para a

51 subescala de Crença de representação estereotipada e para a crença de Falsa noção de vulnerabilidade, mas ambos com intensidade fraca

No que diz respeito à correlação da escala das crenças com a escala de táticas de conflitos, verificam-se valores significativos das subescalas com todas as escalas de conflito tanto do agressor como da vítima com exceção nos fatores ‘representação estereotipada’ e ‘Falsa noção de vulnerabilidade’.

Verifica-se ainda que os conflitos do agressor ligeiro se correlacionam com todas as subescalas das crenças também de forma ligeira ou moderada.

No que concerne à coerção sexual, esta apresenta correlação positiva e significativa, com intensidade moderada, para todos os fatores da subescala da vítima – ‘verbal’, ‘tocar/expor’, ‘coerção ilegal’ e ‘total’ – e de toda a escala de resolução de conflitos, quer do agressor, quer da vítima. Destaque para os valores de correlação entre a fator ‘agressor total’ e ‘vítima total’ (r = ,735) e para o fator ‘agressor total’ e o fator ‘agressor severo’ e ‘vítima severo’ da escala de resolução de conflitos (r = ,644; r = -652). Quer isto dizer que, quem pratica maior coerção sexual não só também é mais vítima de coerção sexual como quem utiliza mais estratégias de resolução coercivas de grau severo e quem menos sofre desse tipo de estratégias ou vice-versa. Partindo dos dados da escala total da vítima, também esta apresenta correlação significativa e positiva nas subescalas ‘agressor’ e ‘vítima’ e em todos os seus fatores. Ou seja, quanto mais a pessoa sofreu de coerção sexual, mais estratégias coercivas ela vai utilizar e sofrer na relação.

52 Tabela 11. Correlações 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 1. Atitudes_Masculinas 2. Atitudes_Feminas ,584** 3. Crenças_RepresentaçãoEsteriotipo ,583** ,518** 4. Crenças_ProvocaçãoVitima ,339** ,246** ,628** 5. Crenças _FalsaNoçãoInvulnerafilidade ,292** ,288** ,593** ,476** 6. Crenças_FalsaNegação ,270** ,292** ,456** ,577** ,248** 7. Crenças_ConsentimentoVitima ,340** ,309** ,559** ,565** ,231* ,634** 8. Crenças_Total ,500** ,445** ,875** ,846** ,604** ,736** ,779** 9. ECSPeroptuador _Verbal ,464** ,290** ,320** ,133 ,412** ,106 ,164 ,278** 10. ECSPerpetuador _TocarExpor ,469** ,308** ,352** ,194* ,327** ,140 ,283** ,331** ,702** 11. ECSPerpetuador _CoerçãoIlegal ,415** ,329** ,334** ,111 ,451** ,127 ,158 ,285** ,819** ,692** 12. ECSPerpetuador _Total ,496** ,335** ,365** ,159 ,435** ,133 ,216* ,324** ,948** ,862** ,909** 13. ECSVitima_Verbal ,384** ,299** ,260** ,128 ,358** ,089 ,105 ,229* ,614** ,533** ,669** ,662**

14. ECSVitima_T ocarE xpor ,356** ,234** ,284** ,194* ,265** ,046 ,215* ,261** ,520** ,703** ,510** ,626** ,757**

15. ECSVitimaCoerçãoI legal ,420** ,311** ,298** ,166 ,325** ,153 ,152 ,274** ,686** ,607** ,780** ,753** ,795** ,718** 16. ECSVitima_T otal ,419** ,308** ,301** ,171 ,351** ,101 ,162 ,271** ,659** ,653** ,709** ,735** ,953** ,887** ,899** 17. Conflitos_AgressorLigeiro ,409** ,352** ,427** ,264** ,342** ,216* ,363** ,418** ,328** ,374** ,331** ,375** ,391** ,389** ,332** ,408** 18. Conflitos_AgressorSevero ,421** ,284** ,296** ,114 ,417** ,020 ,055 ,220* ,658** ,503** ,563** ,644** ,468** ,399** ,527** ,504** ,275** 19. Conflitos_VitimaLigeiro ,382** ,284** ,327** ,136 ,309** ,079 ,147 ,258** ,403** ,340** ,414** ,424** ,417** ,312** ,385** ,412** ,683** ,457** 20. Conflitos_VitimaSevero ,418** ,270** ,232** ,090 ,358** ,025 ,032 ,176 ,675** ,502** ,564** ,652** ,477** ,415** ,544** ,518** ,255** ,976** ,421**

53 5.2.4 – Impacto do Género

De modo a testar o impacto do género na vitimização, na prática e na presença de atitudes e de crenças legitimadoras de violência sexual, nas relações amorosas, foi realizado um T-Student (SPSS 24, 2016) cujos dados estão apresentados na tabela 12.

Tabela 12. T-Student para a variável do Género

Variáveis Feminino Média (DP) Masculino Média (DP) T Sig. AtitudesMulheres 1,82 (,39) 1,96 (,47) -1,833 ,207 AtitudesHomens 1,38 (,37) 1,70 (,57) -3,696 ,001* Crenças_RepresentaçãoEstereotipadaViolação 1,33 (,44) 1,56 (,44) -2,740 ,429 Crenças_Provocação Vítima 1,65 (,67) 2,14 (,84) -3,558 ,026* Crenças_FalsaNoçãoInvulnerabilidade Pessoal 1,30 (,32) 1,42 (,40) -1,923 ,155 Crenças_FalsasAlegações Crenças_ConsentimentoVítima Crenças_Total 2,02 (,78) 1,87 (,76) 1,54 (,44) 2,25 (,65) 2,35 (,81) 1,83 (,44) -1,702 -3,304 -3,513 ,058** ,787 ,551 ECSPerpetuador_Verbal 1,05 (,19) 1,24 (,47) -3,077 ,000* ECSPerpetuador_Coerção Ilegal 1,07 (,24) 1,15 (,38) -1,526 ,005* ECSPerpetuador_Tocar_Expor 1,16 (,43) 1,26 (,47) -1,201 ,112 ECSPerpetuador_Total ECSVitima_Verbal ECSVitima_Coerção Ilegal 1,08 (,22) 1,29 (,48) 1,16 (,38) 1,22 (,43) 1,25 (,48) 1,21 (,46) -2,309 0,430 -0,622 ,001* ,471 ,271 ECSVitima_Tocar_Expor 1,34 (,61) 1,35 (,59) -0,079 ,932 ECSVitima_Total CTS2 – CoerçãoSexualVitimizaçãoLigeiro CTS2 – CoerçãoSexualPerpetuaçãoLigeiro CTS2 – CoerçãoSexualVitimizaçãoSevero CTS2 – CoerçãoSexualPerpetuaçãoSevero 1,26 (,43) 0,37 (,71) 0,61 (1,26) 0,02 (,87) 0,21 (,13) 1,26 (,47) 0,68 (1,14) 0,95 (1,38) 0,09 (,53) 0,07 (,46) 0,009 -1,829 -1,376 -1,068 -0,783 ,883 ,010* ,205 ,033* ,111 *p ≤ ,05; ** p > ,05 e ≤ ,09.

Os resultados demonstram existir diferenças significativas entre os géneros em relação algumas das escalas utilizadas. No que diz respeito à ‘escala de atitudes em relação à violência’, esta apresenta diferenças estatisticamente significativas na subescala ‘atitudes dos homens’, onde os homens apresentam uma maior média (M = 1,70; DP = 0,57) significativamente maior em relação à média das mulheres, o que significa que os homens demonstram maior aceitação de atitudes de violência em relação às mulheres do que as mulheres da amostra. De referir que a média das atitudes femininas é maior, para ambos os géneros, do que a média das atitudes masculinas, o que pode mostrar que as

54 atitudes femininas são mais aceites do que as atitudes masculinas, contudo, esse valor não é estatisticamente significativo.

Em relação às crenças legitimadoras de violência sexual, verificou-se a existência de diferenças estatísticas significativas entre homens e mulheres na subescala ‘provocação da vítima’ e diferenças marginalmente significativas na subescala ‘falsas alegações’ e, em ambos os casos, as médias apresentam valores mais elevados no sexo masculino. Isto é, os homens manifestam mais crenças de que a violência sexual pode ser justificável caso a vítima tenha determinadas condutas que despertam no homem sentimentos de provocação (M = 2,14) do que as mulheres (M = 1,65). Os homens apresentam também mais crenças de falsa alegação, cujo objetivo seria um eventual arrependimento ou retaliação e que pode ser desvalorizada mediante a negação da sua ocorrência (M = 2,25) do que as mulheres (M = 2,14). Apesar desta diferença ser apenas marginalmente significativa (p = ,058).

Em relação à escala de coerção sexual, verificou-se que as diferenças estatisticamente significativas entre os géneros apenas estão presentes na subescala referente ao agressor. Aqui, tanto os fatores ‘verbal, ‘coerção ilegal’ e ‘total’ apresentam valores estatisticamente significativos entre homens e mulheres, sendo que em todos eles os homens apresentam valores mais elevados (M = 1,24; M = 1,26 e M = 1,22, respetivamente).

Por fim, no que diz respeito à escala de táticas de conflito, as diferenças estatísticas entre géneros estão presentes na subescala ‘vitimização’, tanto nos fatores de grau de severidade ligeiro como severo. Nesta subescala os homens são quem apresentam médias de vitimização mais altas tanto grau de severidade ligeiro (M= 0,68) como de severo (M= 0,09), o que leva a querer que são os homens quem são mais vítimas de táticas como o abuso físico, psicológico ou coerção sexual.

55 5.2.5 – Impacto da Experiência de Abuso na Infância

Com o objetivo de observar possíveis diferenças na vitimização, na prática e na presença de atitudes e de crenças legitimadoras de violência sexual nas relações amorosas em função de ter tido ou não experiência de abuso na infância foi realizado um T-Student (SPSS 24, 2016).

Tabela 13. T-Student para a variável da Experiência de Abuso na Infância

Variáveis Não Média (DP) Sim Média (DP) t Sig. AtitudesHomens 1,43 (,41) 1,66 (,58) -2,520 ,019* AtitudesMulheres 1,83 (,40) 1,96 (,48) -1,552 ,067** Crenças_RepresentaçãoEstereotipadaViolação 1,35 (,42) 1,57 (,47) -2,602 ,514 Crenças_ProvocaçãoVítima 1,74 (,72) 2,06 (,84) -2,241 ,265

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