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Na abordagem direct research é requerido uma perspectiva longitudinal, onde o pesquisador reconstrói a história do fenômeno, que pode ser definida como uma pesquisa baseada na descrição e na indução, no uso de amostras simples em oposição a métodos rigorosos, na utilização de muitos elementos em contraposição de poucas variáveis. Esta metodologia proposta por Mintzberg e Mchough (1985), divide-se em quatro fases:

1. A coleta dos dados secundários, priorizando as informações obtidas em bibliotecas, arquivos, jornais, relatórios, ou seja, aqueles documentos cujas informações foram coletados por pessoas que não estavam presentes na ocasião da ocorrência do fenômeno estudado. Nesta etapa o pesquisador trata as entrevistas apenas como complementares.

2. Inferência de estratégias e períodos, onde os dados são arranjados de forma cronológica.

3. A análise de cada período. Nesta fase a pesquisa passa a apoiar-se nas entrevistas e informações primárias coletados junto às pessoas que estavam presentes por ocasião da ocorrência do fenômeno estudado e que permitem explicá-lo.

4. A análise teórica.

Para a análise dos dados coletados não houve uma prévia definição de categorias de análise. A intenção ao analisar os conteúdos dos depoimentos foi permitir que eles emergissem e explicassem o que mostravam de semelhante ou de contraditório sobre o fenômeno na visão dos entrevistados, tendo como pano de fundo a estratégia nos processos de negociação definida por Shelling (1963) e também o modelo dos stakeholders.

A agregação das abordagens direct research, história oral e o modelo dos stakeholders definiu a metodologia utilizada para pesquisa e a analise dos dados coletados nesta investigação, que buscou a elucidação dos fatos e dos conflitos ocorridos na implantação da UHE de Machadinho, desde a elaboração do seu projeto básico e estudos ambientais até a implantação do empreendimento, como também, identificar os períodos, os estratagemas e as estratégias utilizadas pelo empreendedor da usina hidroelétrica em relação aos demais stakeholders.

CAPÍTULO III

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Introdução

Neste capitulo será apresentada a revisão bibliográfica na qual os stakeholders, as estratégias e a estratégia dos conflitos ocupam um lugar privilegiado. Nas pesquisas realizadas nas bibliotecas da Universidade Federal de Santa Catarina e da Universidade de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina foram encontradas dissertações e teses que trataram de aspectos relacionados ao tema trabalhado, as quais abordar-se-á a seguir de forma resumida, buscando encontrar indicativos que orientem à presente pesquisa.

O trabalho de Joffre Wendhausen Valente intitulado, Reflexos do Ecodesenvolvimento do Setor Elétrico Brasileiro – O Caso da Usina Hidroelétrica de Itá, aponta para as evoluções ocorridas no Setor Elétrico dentro do conceito de desenvolvimento sustentável nas obras da hidroelétrica de Itá situada no rio Uruguai.

As conclusões de Valente (1996) antecipam a necessidade da modernização da sociedade e da premência da colocação de novos atores na discussão sobre a aceitação ou não de obras de usinas hidroelétricas, tais como, os Comitês de Acompanhamento, Comissões Municipais de Atingidos, Cooperativas e, Governos Estaduais e Municipais.

No tocante às hidroelétricas, o que representa o conceito de Desenvolvimento Sustentável para o Setor Elétrico Brasileiro? Ele representa uma maior consideração de dimensões sociais e ambientais (através da chamada variável sócio-ambiental) no decorrer da história do planejamento no Setor Elétrico. Essa maior consideração expressa-se na:...d)colocação de novos atores sociais no processo de tomada de decisão.

Sobre a mobilização do elenco de atores sociais é de ressaltar o pressuposto básico da existência de uma vontade política capaz de assumir a promoção efetiva de um processo de planejamento participativo. Sendo que, nas grandes barragens, a construção de tal vontade política depende não só da postura adotada pelo setor elétrico, mas também da mobilização da sociedade civil organizada e da atuação dos órgãos responsáveis pela política ambiental.

Neusa Maria Bloemer (1996) no desenvolvimento da tese de Doutorado, Itinerâncias e Migrações: A Reprodução Social de Pequenos Produtores e as Hidroelétricas, colocou o poema O Grito dos Atingidos pelo Dilúvio, de Domingos Finato que incitava os atingidos a lutarem por suas terras, conforme reproduzo abaixo:

Águas para a vida e não para a morte Terra no Rio Grande e não lá no Norte Barragens interessa somente para os fortes Destruindo os pobres e sua própria sorte. Sangue de gaúcho não pode gelar

Contra o imperialismo nós vamos lutar Os americanos querem nos matar Na força da união vamos nos salvar. A pátria tão grande e tantos sem terra Querem cobrir os campos e a serra E água da mote cria da besta fera O que será amanhã o que nos espera. Há tanta energia fonte alternativa Respeitando o povo, a natureza viva Preservando a história, cultura nativa

E a santa mãe terra que o povo cultiva. Povo atingido, demo-nos as mãos Deus é nosso pai, nós somos irmãos Ser contra a barragem é dever de cristão Diga a terra sim, mas barragem não.

Nesse poema de Domingos Finato, constata-se o caráter político da luta dos atingidos contra as barragens, Contra o imperialismo nós vamos lutar / Os americanos querem nos matar, eram idéias revolucionárias que na época se chocavam contra os métodos autoritários utilizados pelo Governo Federal. Observa-se também o aspecto religioso do movimento e o envolvimento da Igreja Católica no processo, Ser contra a barragem é dever de cristão.

A história de luta do povo gaúcho, também, é realçada dentro do poema, através do verso Sangue de gaúcho não pode gelar. A frase Águas para a vida e não para a morte, virou um refrão de luta dos atingidos por barragens, e foi encontrada três vezes durante os trabalhos de campo, a primeira vez, citada verbalmente pelo grupo de funcionários da prefeitura local, que acompanhava a visita ao antigo eixo da UHE Itapiranga, no município de Itapiranga, junto à cruz fincada no eixo da barragem, e na segunda vez na camiseta de um entrevistado no reassentamento de Nova Machadinho, e finalmente a terceira vez a frase foi citada em entrevista com integrantes do MAB.

Luiz Eduardo Catta (1994) produziu uma dissertação, denominada O Cotidiano de uma fronteira: A Perversidade da Modernidade. O trabalho versou sobre o papel representado pela instalação da Usina Hidroelétrica de Itaipu na fronteira do Brasil com o Paraguai, na época que era instalado no Brasil um

projeto de modernidade, planejado pelos governos militares e que gerou a transformação do cotidiano da população de Foz do Iguaçu expressa, segundo o autor, no incremento da pobreza, da criminalidade e das alternativas informais de trabalho pela sobrevivência de camadas populares.

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