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Análise de dados obtidos por via de questionários entregues no âmbito da

8. CONSIDERAÇÕES ACERCA DA RELAÇÃO ENTRE A MEDIAÇÃO

8.2. Análise de dados obtidos por via de questionários entregues no âmbito da

O estágio no TFML levou-me a considerar que, não basta uma decisão ou acordo no que concerne à regulação parental, para o bem-estar e normal desenvolvimento de uma criança, é imprescindível que os progenitores se relacionem minimamente, mas para tal, é essencial que estejam abertos ao diálogo.

No TFML, pude testemunhar casos antagónicos. Em alguns, era notória a vontade de perpetuar o conflito por parte de um, ou até de ambos os pais. Noutros, apesar de alguns pequenos desentendimentos entre os pais, os mesmos conseguiam, com a intervenção do MP, do Juiz ou dos respetivos advogados, atingir o consenso. Em casos mais invulgares, os pais vinham munidos com uma proposta de acordo.

Em qualquer dos casos, penso que a Mediação Familiar seja um utensílio útil para estas famílias, uma vez que, perante progenitores entre os quais impera o litígio, fomenta o consenso, e para aqueles que conseguem comunicar relativamente bem um com o outro, permite uma solução célere para a obrigação de regular o exercício parental.

Neste contexto, comecei a questionar-me sobre o motivo pelo qual as partes continuam a preferir a via judicial, em prejuízo da autodeterminação extrajudicial da questão, e assim, decidi consultá-las, através de questionários por mim elaborados237. O modus operandi consistia em, após certas diligências238, retirava-me da sala de diligência com as partes, apresentava-me a mim, a minha função no âmbito do estágio curricular (e a não vinculação ao TFML), o objetivo do questionário e explicava sucintamente o processo de Mediação Familiar. Só aí, perguntava às partes se poderiam responder ao referido questionário.

Todos os questionários são confidenciais, e foram entregues de forma individual, porém, agrupadas, de modo a tentar averiguar se havia correspondência

237 Sobre os quais fizemos referência ao longo deste relatório, e que estão em anexo ao mesmo. A aplicação dos inquéritos foi temporalmente circunscrita ao período de tempo compreendido entre 19/10/18 a 17/01/19. 238 No âmbito das ações de regulação, alteração e incumprimento do exercício das responsabilidades parentais.

84 entre as vivências e conhecimentos dos respondentes, e se ambos teriam aceitado ou não o processo de mediação pré-judicial.

Decidi entregar estes questionários exclusivamente nos processos judiciais em fase inicial, na primeira conferência de pais, por considerar que se os entregasse em todos os casos pendentes no tribunal, as respostas seriam influenciadas pelo sentimento de discórdia, vivenciados pelos progenitores, ao longo de vários volumes. Com o tempo, as posições cristalizam-se e deixa de haver flexibilidade entre os envolvidos, como pude observar. Pelo contrário, numa fase inicial da contenda, as partes ainda estão abertas à negociação.

O questionário é constituído por sete questões, nomeadamente, a data de nascimento dos respondentes, o parentesco em relação à criança, o motivo pelo qual recorreu ao tribunal, se já participou numa sessão de mediação (independentemente de ser familiar ou não), se têm conhecimento sobre o valor indexado à Mediação Familiar (no SMF), se sabem que o acordo homologado tem força executiva e, por fim, se com a informação por mim transmitida sobre a Mediação Familiar, teriam recorrido à este meio antes de recorrer ao tribunal.

Quanto à primeira questão, podemos agrupar os dados relativos às idades dos respondentes do seguinte modo:

Relativamente à segunda questão, todos os respondentes são os próprios progenitores das crianças.

Nascimento Sexo Total

1960-69 F 1 M 1 1970-79 F 6 M 5 1980-89 F 3 M 7 1990-2000 F 5 M 2 30

85 Quanto ao motivo pelo qual as partes envolvidas recorreram ao tribunal foi, na esmagadora maioria, para regular as responsabilidades parentais, como mostra a figura infra:

Figura 17 Respostas ao questionário

Quando questionados sobre a Mediação Familiar, as respostas foram as seguintes:

Figura 18 Respostas ao questionário

alteração 8 27% regulação 18 60% outro 4 13%

MOTIVO PELO QUAL RECORREU AO TRIBUBAL

alteração regulação outro

5 5

11

25 25

19

Já participou numa sessão de mediação?

Tem conhecimento que a Mediação Familiar acarreta um

custo de 50€ a cada uma das partes envolvidas?

Tem conhecimento que o acordo obtido em sede de Mediação

Familiar apenas necessita de homologação para ter força

executiva? 0 5 10 15 20 25 30 Sim Não

86 Contrariamente do que, à primeira vista, possa parecer, as respostas afirmativas, às duas primeiras questões da Fig.18, não são dos mesmos respondentes, como se pode ver nos anexos.

Finalmente, a última pergunta era exatamente: “Nestes termos,

recorria à Mediação Familiar para

obter um acordo sobre a

regulação/alteração das

responsabilidades parentais antes de recorrer ao Tribunal?”.

Ao que os participantes responderam predominante que sim, como podemos ver na Fig.19. Por isso, considero que se houver conhecimento deste procedimento, as partes acabam por reconhecer as suas vantagens e, consequentemente, a aderir ao mesmo.

Além disso, tentei relacionar as idades dos respondentes, com a aceitação ou recusa em participar numa mediação pré-processual. A faixa etária não constituirá uma limitação à opção por esta via, pois não se verifica uma tendência clara, como podemos verificar na tabela seguinte:

Disposição à participação em Mediação Familiar por faixa etária

Nascimento Sexo Sim Não Talvez Total

1960-69 F 1 - - 1 M - - 1 1 1970-79 F 4 1 1 6 M 3 - 2 5 1980-89 F 1 2 - 3 M 4 1 2 7 1990-2000 F 4 1 - 5 M 2 - - 2 19 5 6 30

Figura 20 Respostas ao questionário

Sim 19 63% Não 5 17% Talvez 6 20%

Sim Não Talvez

87 Por toda a informação exposta, creio que fará sentido reconhecer a necessidade de uma solução extrajudicial para os conflitos familiares, e vislumbro a mediação como a mais adequada. No campo dos meios de RAL, embora tenha, de igual modo, refletido sobre a previsão de normas semelhantes às previstas entre os artigos 49.º e 56.º da Lei dos Julgados de Paz239, reconheço que, nestes casos, é permitido às partes afastar previamente a possibilidade de realização da pré-mediação, e entendo que tal não teria interesse para o objetivo de disseminar a mediação. Por isso, considero que a opção mais eficiente passaria por elevar a Mediação Familiar a requisito processual, através da pré-mediação obrigatória, à luz do que se tem verificado em alguns países europeus.

Questão diferente da aqui proposta, é a obrigatoriedade da mediação. Vamos estudar brevemente a divergência doutrinária sobre esta e, seguidamente, aferir a constitucionalidade da obrigatoriedade da pré-mediação, no âmbito da regulação parental, como via complementar aos tribunais.

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