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Quatro 8 Participação no turismo da comunidade da Ilha de Deus

6 RACIONALIDADE DA INICIATIVA TURÍSTICA DA ILHA DE DEUS

6.4 análise da organização e gestão no desenvolvimento do TBC da

6.5.2 Análise das cinco ecologias (racionalidade cosmopolita)

Para melhor entendimento, apresentam-se aqui as cinco “ecologias e seus aspectos característicos:

 Ecologia de saberes - Valorização das práticas e saberes locais

 Ecologia das temporalidades - Valorização de práticas e saberes que remontam a outra temporalidade

 Ecologia dos reconhecimentos - Valorização da diversidade de sujeitos  Ecologia das trans-escalas - Valorização e credibilidade às práticas e

saberes locais em precedência à práticas e saberes hegemônicos globalizados

 Ecologia da produtividade - Recuperação de sistemas alternativos de produção

Estas informações podem ser encontradas no referencial teórico desta dissertação, onde encontra-se formatado em quadro os parâmetros parciais de análise para o reconhecimento de uma lógica cosmopolita operando, neste caso na iniciativa de TBC da Ilha de Deus.

Os reconhecimentos que o procedimento sociológico das ausências apresenta são indícios de outros reconhecimentos ainda por serem desvelados pelo procedimento da sociologia das emergências, que nesta pesquisa representam os saberes, práticas e sujeitos que no TBC da Ilha de Deus, em um futuro factível e próximo, poderiam fazer parte das experiências já existentes.

A identificação e explicação das cinco “ecologias” (razão cosmopolita) foi realizada através da observação direta, vivência turística e entrevistas realizadas no período de março a dezembro de 2018 com a ONG Saber Viver; com pessoas da Ilha de Deus que atuam diretamente na iniciativa turística da Ilha; com João Paulo - profissional da área de turismo, voluntário no turismo da Ilha de Deus.

O Reconhecimento e valorização das práticas e saberes locais aparecem no TBC da Ilha de Deus na gastronomia tradicional local oferecida aos turistas, na

explicação ao turista das expertises da tradição pesqueira, como mostra este trecho de entrevista com Edy Rocha, em outubro de 2018:

[...] as pessoas aqui são pescadores, as pessoas devem conhecer como essas pessoas vivem, né? Então é importante todo passeio turístico a gente apresenta o sururu para as pessoas e as pessoas que catam o sururu. E aí toda a cadeia produtiva do sururu, né? Como ele é pescado? Quem pesca? A vida desta pessoa. (EDY ROCHA, outubro de 2018).

Na fala de Edy Rocha. Se percebe a ecologia do saber - valorização das expertises tradicionais pesqueiras

 Ecologia das temporalidades

O Reconhecimento e valorização de práticas e saberes que remontam a outra temporalidade estão presentes na realização do TBC da Ilha nas apresentações culturais tradicionais, inclusive percebeu-se nostalgia nos moradores ao falarem de outras manifestações culturais da Ilha que estão sendo resgatadas através da prática turística. Destaca-se também o uso de embarcações tradicionais - as baiateras - durante passeios com os visitantes e na atividade turística criativa de pesca tradicional.

No evento turístico “IV Festival de Verão da Ilha de Deus” a ecologia das temporalidades revisitou a todos presentes naquela oportunidade, ao pôr do sol grupos de várias comunidades com trajes folclóricos começaram a atracar suas pequenas embarcações tradicionais no “marco zero” da Ilha de Deus, onde foram realizadas diversas apresentações de danças, músicas e canções que visibilizaram e valorizaram as temporalidades daqueles sujeitos cuja globalização não se apoderara, perdido na escuridão distante mal avistava-se o shopping Rio Mar.

 Ecologia dos reconhecimentos

O Reconhecimento e valorização da diversidade de sujeitos na prática do turismo da Ilha de Deus é percebida através da ampliação da participação socioeconômica e de tomada de decisões das mulheres, jovens e velhos moradores da Ilha. As mulheres têm se destacado no empreendedorismo no TBC da Ilha, na organização e coordenação, os idosos passam a ser mais valorizados por serem detentores da história da Ilha que se conta aos turistas.

Ecologia das trans-escalas

A valorização e credibilidade das práticas e saberes locais em detrimento das práticas e saberes hegemônicos globalizados ficam evidentes na maioria das práticas do TBC, até mesmo porque as pessoas envolvidas diretamente com o turismo da Ilha de Deus já perceberam que é a identidade local que atrai os visitantes, que eles querem conhecer o que no local não foi globalizado.

 Ecologia da produtividade

A Recuperação e valorização dos sistemas alternativos de produção fica evidente e é onde mais fortemente se percebe uma racionalidade contra- hegemônica se processando no TBC da Ilha na prática da economia solidária. Isto se deve principalmente a solidariedade e a vivência comunitária bastante presente na Ilha de Deus, bem representado nas palavras de um dos integrantes da ONG Caranguejo Uçá em entrevista, em outubro de 2018: “As pessoas da Ilha tem uma paz, uma tranquilidade que vem das pessoas do interior (os antecessores dos ilhéus que migraram para a IIha). A Ilha é solidária pra caramba, e a gente tenta manter isso vivo nos jovens. ”

A sustentabilidade de uma economia solidária assenta principalmente no encontro solidário com o outro, para só em seguida sustentar-se através das técnicas econômicas. Na prática do TBC, Edy Rocha descreve assim a economia solidária:

[...] “Ela (chefe de cozinha Negra Linda) compra o sururu, compra o camarão, compra o peixe, tudo na comunidade. Então o pessoal (o turista) passa alí compra água mineral, compra cerveja, compra tudo. Então isso é que movimenta. A economia solidária é isso. ” (EDY ROCHA, outubro de 2018).

As pessoas que se beneficiam de forma direta do TBC não são muitas pessoas, contudo o movimento do comércio da Ilha aumenta bastante quando chegam grupos de turistas e as pessoas que se beneficiam de forma direta do TBC procuram reverter parte dos benefícios gerados pelo turismo em forma de benefícios coletivos para a comunidade através de projetos sociais, equipamentos para uso coletivo e etc.