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5. Material e Método 45 

5.7 Análise das Entrevistas 53 

Os dados das entrevistas foram examinados através da análise de conteúdo (Bardin, 1977). A análise procurou extrair a significação dos eventos relatados através de micro unidades de sentido, utilizando de procedimentos sistemáticos, objetivos e exaustivos. Conforme Bardin (1977), as fases da análise de conteúdo são: 1) Pré-análise; 2) Exploração do material e; 3) Tratamento dos resultados, inferência e interpretação.

A fase da pré-análise é a síntese geral do material coletado através da transcrição literal das entrevistas. A síntese é preparada a partir de uma leitura cuidadosa e exaustiva das entrevistas, procurando marcar o modo como cada entrevistado abordou os temas propostos ou os temas que surgiram espontaneamente. Essa marcação se faz por micro unidades de sentido, ou seja, todos os assuntos que foram abordados na entrevista. A exploração do material consiste em codificar os dados das entrevistas, criando um sistema de categorias que permite a organização dos dados de maneira hierarquizada e de mais fácil manuseio.

O sistema de categoria dos dados deve possuir as seguintes características: 1) Mutuamente exclusivas: cada micro unidade de sentido codificada só pode pertencer a uma categoria; 2) Pertinência: as categorias devem ser embasadas teoricamente e serem adaptadas à realidade do fenômeno estudado; 3) Precisas: ter uma clara definição operacional da categoria; 4) Exaustivas: o conjunto de categorias é compreensível e abrange o máximo de conteúdos (Laville & Dionne, 1994). A construção de categorias

pode ser feita de acordo com o modelo aberto, modelo fechado ou modelo misto (Laville & Dionne, 1994). No modelo aberto, as categorias tomam forma no desenvolver da própria análise, ao passo que, no modelo fechado, as categorias são previamente estabelecidas e embasadas teoricamente. Já no modelo misto as categorias são escolhidas a priori, mas o pesquisador tem a liberdade de modificá-las ao longo da análise. Por fim, os resultados obtidos são interpretados de acordo com os objetivos do estudo.

O presente estudo obedeceu aos critérios da análise de conteúdo de modelo fechado, no qual as categorias foram estabelecidas a priori. Tal escolha se deu com o objetivo de verificar a adequação das categorias ecológico-culturais pré-existentes (Gallimore e cols. 1989) para o contexto brasileiro. Partindo para uma abordagem quantitativa, foram realizadas distribuições de freqüência de categorias.

5.7.1 Variáveis avaliadas nas entrevistas

As variáveis analisadas serão definidas em três esferas: comportamentais, cognitivas e contextuais. Elas não são mutuamente excludentes, sendo que um mesmo trecho pode servir tanto para a análise do nível comportamental quanto do nível contextual. A variável cognitiva será avaliada como um estilo preferencial de coping apresentado ao longo de toda a entrevista, sendo cotado um estilo preferencial por entrevista. Todas as entrevistas forma analisadas por dois juízes, o autor da dissertação e uma aluna de iniciação científica treinada para finalidade. Foi avaliado também se o entrevistado contava com o apoio do pai/mãe da criança e este(a) contribuía de maneira satisfatória no cuidado com a criança com TD. Está variável foi chamada de apoio do cônjuge.

Os critérios para a classificação dos níveis comportamentais, contextuais e cognitivos são explicados a seguir.

Nível comportamental:

Presença de situações em que o entrevistado relata o modo como seu filho (a) se comporta, evidenciando um padrão de reforçamento diferencial de comportamentos de dependência.

Nível Cognitivo:

O estilo preferencial de coping se refere a um padrão de enfrentamento que foi identificado ao longo da entrevista. Após a leitura exaustiva das entrevistas, foi realizada a cotação quanto ao estilo de coping preferencial do entrevistado, sendo eles: 1) predominantemente assimilativo; 2) predominantemente acomodativo; 3) flexível e 4) sem padrão aparente (definidos no item 4.2). O critério para a classificação do estilo de coping foi subjetivo, através do qual os juízes procuram encontrar evidências no discurso do entrevistado que demonstrassem um padrão de enfrentamento típico frente aos estressores da vida diária.

Nível Contextual:

A abordagem que norteia a análise das entrevistas no nível contextual é a teoria ecológico-cultural. Ela propõe dez categorias para compreensão e avaliação dos efeitos do ambiente e do contexto da atividade e da conduta na acomodação familiar (Gallimore e cols., 1989). Segue abaixo a definição operacional de cada uma das categorias.

1. Trabalho e subsistência

É definido pela base econômica da família. Compreende o status financeiro e ocupacional da família, bem como as atitudes dos pais sobre suas carreiras e trabalho. Inclui segurança e estabilidade no trabalho, flexibilidade de horas, plano de saúde ou equivalente e contar com múltiplas fontes de suporte.

2. Saúde pública e características demográficas

Relaciona-se ao uso dos serviços sociais pela família. Inclui o número e a qualidade dos serviços utilizados pela criança, incluindo escola e tratamentos, o pagamento por esses serviços (público ou privado) e a resposta da família a esses serviços.

3. A conveniência e segurança das condições de moradia e da vizinhança

Dizem respeito à estrutura do ambiente familiar, mudanças estruturais na casa, mudanças na localização da casa e a segurança e conveniência da vizinhança.

4. Divisão do trabalho segundo o gênero

Varia conforme a quantidade de cuidado com a criança e a divisão do trabalho doméstico. A complexidade da família no cuidado com a criança e na divisão das tarefas domésticas, bem como o nível de assistência disponível dentro e fora da família também são avaliados.

5. Participação da criança na rotina.

Diz respeito à relação familiar, às preocupações dos pais sobre os amigos de seus filhos e seu envolvimento com eles.

6. Rede de envolvimento com desenvolvimento típico

Relaciona-se com o envolvimento da criança com redes sociais não deficientes, as crenças das famílias sobre integração social bem como as experiências da criança em relações sociais com pessoas sem transtornos do desenvolvimento.

Avaliado de acordo com o envolvimento da criança com redes deficientes, crenças familiares sobre proteção social, experiências com pares com transtornos do desenvolvimento e envolvimento da família com profissionais.

8. Diversidade

É definida pela diversidade de influências culturais sobre a família. Compreende a rede social da família, a vizinhança e a escola da criança.

9. Suporte

Compreende a variedade e quantidade da assistência recebida, relaciona-se com o suporte social da família, a participação religiosa e fontes não profissionais de participação. 10. Informação

Varia conforme o uso feito das informações providas por profissionais, a quantidade de informação recebida e a quantidade de tempo gasto procurando por mais informações.

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