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Tabela 4 Substâncias Identificadas nas Emissões Durante a Queima de Eucalipto na Produção de Carvão Vegetal.

1.3. COMPOSTOS CARBONÍLICOS

1.3.5. Métodos de Determinação no Ar

1.3.5.7. Análise das Hidrazonas Formadas

Várias técnicas analíticas podem ser utilizadas na quantificação das hidrazonas dos CC (vide Tabela 18). Na atualidade, as que estão sendo mais utilizados são aquelas que envolvem a cromatografia líquida de alta eficiência com sistemas de detecção por UV (CLAE-UV), por diode array (CLAE-DA) e por espectometria de massas com ionização química (CLAE-EM/IQ). O método de quantificação por CLAE-UV é, sem dúvida, o mais antigo e popular dos três, e ainda é o indicado pela US EPA (TO-11A), juntamente com o CLAE-EM/IQ. O método por CLAE-DA representa uma melhora na seletividade, mas o sistema CLAE-EM/IQ é que tem sido apontado como o mais sensível e seletivo de todos, melhorando as informações sobre as estruturas dos compostos e possibilitando a quantificação de misturas de difícil separação como, por exemplo, a dupla acroleína-acetona, que tem demandado muito esforço na otimização da fase móvel (VAIRAVAMURTHY et al., 1992; GROSJEAN & GROSJEAN, 1995; GROSJEAN et al., 1996; SAKURAGAWA et al., 1999; GROSJEAN & GROSJEAN, 2002). Infelizmente é um sistema extremamente caro e, por isso, disponível em poucos laboratórios do Brasil. Por esta razão, será apresentado a seguir um resumo do método de análise das hidrazonas utilizando o sistema CLAE-UV.

As hidrazonas formadas são eluídas dos cartuchos das amostras coletadas e dos brancos com volumes de acetonitrila variando entre 2 e 10 mL, aferidos em balão volumétrico. A velocidade de eluição deve ser em torno de 5 mL min-1. Uma alíquota da solução eluída (por exemplo, 20 μL) é injetada no CLAE-UV, dotado de coluna cromatográfica (geralmente de C18) e sistema isocrático ou gradiente, utilizando-se,

diferentes solventes como fase móvel e comprimentos de onda na faixa de 360 a 430 nm. A vazão da fase móvel geralmente está em torno de 1 mL min-1. A pressão do sistema varia entre 1700 e 2200 psi (GROSJEAN & GROSJEAN, 1995; GROSJEAN et al., 1996; ANDRADE, 2001). Como exemplos de fase móvel tem-se a mistura metanol/acetonitrila/água, na proporção 74,5:0,5:25% (v/v/v) utilizada por ANDRADE (ANDRADE, 2001), a mistura acetonitrila/água/tetrahidrofurano nas proprções 40:20:40% (v/v/v) utilizada por SAKURAGAWA e colaboradores (SAKURAGAWA et al., 1999), ou 54:36:10% (v/v/v), utilizada por GROSJEAN e colaboradores (GROSJEAN et al., 1996).

Os padrões das hidrazonas para a elaboração da curva de calibração podem ser adquiridos prontos para boa parte dos CC, ou sintetizados no próprio laboratório, como ocorre em grande parte dos estudos (GROSJEAN & GROSJEAN, 1995; GROSJEAN et al., 1996; ANDRADE, 2001).

A estabilidade das amostras coletadas é sempre uma preocupação em todos os métodos de monitoramento atmosférico. Nas determinações de CC utilizando cartuchos Sep- Pak impregnados com 2,4-DNPH, alguns autores têm adotado diferentes intervalos de tempo entre a coleta e a extração das hidrazonas, variando de três dias até duas semanas (CORRÊA, 2003) e da eluição dos cartuchos até as análise dos extratos eluídos, até um máximo de 4 semanas (PIRES & CARVALHO, 1999). Tem sido um consenso a recomendação de que as amostras ou extratos sejam mantidos sob refrigeração até a determinação (PIRES & CARVALHO, 1999; JURVELIN et al., 2003; HO & YU, 2004). O método TO-11 da US EPA recomenda que após a amostragem, os cartuchos sejam estocados a uma temperatura de 4 °C por, no máximo, duas semanas. Se períodos mais longos forem necessários, o método recomenda extrair os cartuchos com acetonitrila e estocar os extratos em frascos de estocagem de longo tempo por, no máximo, um mês (a 4 °C). Além disso, alerta para o fato de se as

amostras tiverem que ser mantidas não refrigeradas antes das análises, que isso não ocorra por mais do que dois dias (WINBERRY et al., 1999).

Alguns autores têm relatado a formação de picos duplos nas análises cromatográficas, seja por CG ou por CLAE, resultantes da presença de isômeros das 2,4- DNPHO formadas (VAIRAVAMURTHY, 1992; GARCÍA-ALONSO & PÉREZ-PASTOR, 1998; UCHIYAMA et al., 2003), mas este aspecto não tem sido considerado na maioria dos estudos consultados. Uchiyama e colabarodores (UCHIYAMA et al., 2003) sugerem ainda que se adicione ácido fosfórico às soluções padrões e aos extratos eluídos das amostras para formar uma solução ácida a 0,02 - 1%. Segundo os autores isto evita possíveis erros analíticos provocados pela presença dos isômeros E/Z (estereoisômeros) das 2,4-DNPHO. No entanto, nenhum dos demais artigos consultados, adotou esta orientação.

1.4. EXPOSIÇÃO DOS TRABALHADORES DAS CARVOARIAS

Conforme apresentado nas seções anteriores, a queima da madeira é sabidamente uma fonte de emissão de centenas de substâncias químicas para a atmosfera, entre elas os compostos carbonílicos. Apesar disso, pouquíssimos estudos foram realizados envolvendo o ramo de atividade da produção de carvão vegetal, principalmente sobre a exposição dos trabalhadores. Devido às precárias condições de trabalho ainda encontradas nos dias de hoje na maioria das carvoarias existentes, os estudos têm se concentrado nas questões relativas à organização de trabalho, aos riscos de acidentes e de intoxicação por monóxido de carbono, ao desconforto térmico, às relações trabalhistas, aos fatores ergonômicos e político-sociais e à exposição à poeira do carvão (DIAS et al., 2002; ZUCHI, 2002; KATO et al., 2005).

Ré-Poppi e Silva (RÉ-POPPI & SILVA, 2001) estimaram a dose de HPAs inalada por carvoeiros a partir das medidas das concentrações dos HPAs emitidos de um único forno que

queimava eucalipto, construído para esta finalidade. Os autores encontraram níveis elevados de concentrações de HPAs a uma distância de 1,5 m do forno. Em estudo complementar, utilizando este mesmo forno, Barbosa estimou o risco de câncer pulmonar de um trabalhador de carvoaria a partir das concentrações de HPAs determinadas (BARBOSA, 2002). É um ótimo ponto de partida, mas são apenas estudos pilotos, realizados fora do ambiente real e não envolveram a coleta sistematizada de amostras da zona respiratória dos trabalhadores (amostras pessoais). Além disso, restringiram-se aos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos.

Um estudo pioneiro sobre riscos ocupacionais e biomarcadores urinários de exposição a fumaça de madeira, realizado nas carvoarias da região norte de Salvador, Bahia, determinou concentrações médias de naftaleno e pireno, obtidas na zona respiratória dos trabalhadores, em torno de 11,50 μg m-3 e 0,81 μg m-3, respectivamente e mostrou que esses trabalhadores tinham uma exposição sistêmica a compostos genotóxicos. É um estudo inédito que não envolveu a determinação dos CC, no qual a autora alertava para a necessidade de confirmação dos dados, em virtude do pequeno número de amostras coletadas e do fato de que apenas uma única jornada de trabalho foi avaliada (KATO, 2003; KATO et al., 2004).

Apesar da queima da madeira ser uma das fontes de emissão de CC para a atmosfera (Tabelas 5 e 6), não foi encontrado qualquer estudo envolvendo a determinação destes compostos no ar inalado por trabalhadores de carvoarias no Brasil ou no mundo, sendo, portanto, totalmente desconhecido os níveis de exposição ocupacional dos trabalhadores a essas substâncias. Essa ausência de informações tem dificultado a ação dos órgãos de fiscalização e de vigilância à saúde dos trabalhadores no tocante ao estabelecimento de mecanismos de prevenção da exposição e de controle ambiental.

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