Não existe uma categoria única prevista pela CIP que enquadre as patentes
em Biotecnologia, pois esta área engloba um grupo de tecnologias relacionadas.
Dessa forma em 2005 a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) publicou um guia com uma lista de 30 códigos CIP
correspondentes às patentes de biotecnologia para a geração de estatísticas
biotecnológicas [40]. Para análise das patentes na área de biotecnologia, foi utilizado
como filtro das buscas estes 30 códigos CIP sugeridos pela OCDE Erro! Fonte de
eferência não encontrada.. Os depósitos de pedidos no INPI foram obtidos sem
restrição de data tendo, dessa forma, acesso à todas as patentes publicadas on-line
pelo INPI de 1975 à Julho de 2010. Devido ao período de sigilo de 18 meses para
publicação dos pedidos, os dados publicados correspondem fielmente apenas às
patentes depositadas até Dezembro de 2008.
Baseado nos 30 CIP foram encontrados 9.791 pedidos de patente de
biotecnologia depositados no Brasil e publicados até 1º de Julho de 2010. Pela
analise, foi verificado que 10,9% da patentes de biotecnologia depositadas no INPI
são para processos de medição ou ensaio envolvendo ácidos nucléicos (Tabela 8).
O segundo e terceiro lugares nos 10 maiores CIP pertencem a patentes envolvendo
agro-tecnologias (mutação ou engenharia genética para células vegetais e novas
plantas ou processos para obtenção das mesmas; reprodução de plantas por meio
de técnicas de cultura de tecidos. Plantas floríferas, i.e., angiospermas). A Tabela 8
apresenta os 10 CIP mais representativos para pedidos de patente depositados no
INPI. A Tabela 9 apresenta os 10 CIP mais representativos apenas para o último
ano analisado (2008). A classificação C12Q que aparece em primeiro lugar na
Tabela 8 (que corresponde a todos os anos analisados) está em 7º lugar de
representatividade no ano de 2008. A CIP mais representativa em 2008 (C12N
15/00) aparece em 2º e 6º lugar quando analisado todo o período (1975 à 2010). A
Figura 14 apresenta a dinâmica dos grupos de atividade dos 10 CIP mais
expressivos apresentados na Tabela 8.
Tabela 8 – Os 10 CIP mais representativos para pedidos de patente em biotecnologia depositados no INPI entre 1975 e 2008.
CIP
%
Descrição
Grupo de
atividade
C12Q 1/68 10,9% Processos de medição ou ensaio envolvendo ácidos nucléicos.
Genética
C12N
15/82
9,7%
Mutação ou engenharia genética para células vegetais.
Genética
A01H 5/00 7,7%
Novas plantas ou processos para obtenção das mesmas; reprodução de plantas por meio de
técnicas de cultura de tecidos. Plantas floríferas, i.e., angiospermas.
Agronegócios
C12N 5/10 6,2%
Células modificadas pela introdução de material genético exógeno, por ex., células
transformadas por vírus.
Genética
C12N 1/21 5,5% Bactérias modificadas pela introdução de material genético exógeno.
Genética
C12N
15/00
5,4%
Mutação ou engenharia genética; DNA ou RNA concernentes à engenharia genética, vetores,
por ex., plasmídeos ou seu isolamento, preparação ou purificação; Uso de seus hospedeiros.
Genética
A61K
39/395
5,0%
Preparações medicinais contendo anticorpos; Imunoglobulinas; Imunosoro, por ex., soro
antilinfocítico.
Saúde
A61K
38/00
4,5%
Preparações medicinais contendo peptídeos.
Saúde
C12N 1/20 4,4%
Bactérias; Suas composições; Processos de propagação, manutenção ou conservação de
micro-organismos ou suas composições; Processos de preparação ou isolamento de
composições contendo um micro-organismo; Meios de cultura para tal.
Microbiologia
C12N
15/12
4,2%
Tabela 9 – Os 10 CIP representativos para patente de biotecnologia no INPI em 2008.
CIP
Número de
patentes
Descrição
C12N 15/00
45
Mutação ou engenharia genética
C12R 1/00
24
Classificação de microrganismos.
C12N 1/00
17
Microrganismos.
C12P 7/00
16
Preparação de compostos orgânicos contendo oxigênio.
G01N 33/00
10
Material de investigação ou analise por métodos específicos.
A61K 39/00
10
Preparações medicinais contendo antígeno ou anticorpo.
C12Q 1/00
7
Processos de medição ou teste envolvendo enzimas ou microrganismos.
C12P 19/00
7
Preparação de compostos contendo radical sacarídeo.
C12N 5/00
6
Células humanas, animais ou vegetais indiferenciadas.
A61K 35/00
6
Preparação medicinal contendo materiais ou produtos de reação com constituição
indeterminada.
A maioria das patentes depositadas no INPI pertence a não-residentes
(87,2% do total de pedidos) sendo os EUA responsáveis por 51,7% dos
depósitos realizados no Brasil (Figura 15). Seguindo os EUA, os depositantes
mais expressivos são Alemanha, Brasil, França e Suíça com respectivamente
5.065, 1.250, 1.231, 781 e 779 depósitos (Figura 15). A dinâmica destes
depósitos está apresentada na Figura 16 destacando os depósitos realizados
por brasileiros (BR) e os dois principais países depositantes não residentes,
EUA (US) e Alemanha (DE). Os outros países são apresentados como
“Outros”.
O primeiro pedido de patente de biotecnologia depositado no Brasil foi
em 1975 (número de depósito PI7604920-5) intitulado “Material de caráter
catiônico, capaz de fixar de modo reversível macromoléculas biológicas,
processos para sua preparação e suas aplicações” [42]. O depósito foi
realizado pelo Instituto Merieux e a patente foi concedida em 1983. Ainda em
83, o INPI recebeu 5 outros pedidos de patente sendo todos de não-residentes
[43,44,45,46,47]. Em 1976 o INPI recebeu um único pedido cujo depositante
pertence ao Reino Unido (indicado como “Outros” na Figura 16) [48]. O Brasil
iniciou a atividade de patenteamento em biotecnologia no próprio país apenas
em 1979 sendo o pedido PI7902520-0 intitulado “Processo Continuo de
Fermentação Alcoólica de Açúcares” depositado pela empresa “Processos LTD
Desenvolvimento de Protótipos” em parceria com a “Scientia Engenharia de
Sistema” o primeiro pedido de patente em biotecnologia brasileiro depositado
no INPI [49] (vide Anexo I página 110). Essa patente foi concedida em 1983.
Em 1979 o INPI recebeu 3 outros pedidos de patente de biotecnologia de
residentes [50,51,52] e 6 de não-residentes [53,54,55,56,57,58]. Nos 27 anos
seguintes (de 1980 a 2006) a participação brasileira foi modesta com os não-
residentes sendo responsáveis pela maioria dos depósitos realizado no Brasil.
Desde 1979, quando ocorreu o depósito do primeiro pedido de patente de
biotecnologia por um residente, a linha de tendência dos depósitos continuou
crescendo, mas apenas em 2006 os depósitos realizados por residentes
excederam os realizados por não-residentes (Figura 18), entretanto isso
ocorreu devido à redução do número de depósitos realizados por não
residentes (Figura 19). Existem dois marcos legais no período analisado: (i) em
1996, a Lei de Propriedade Intelectual foi decretada regulando as atividades de
patenteamento [21]; e (ii) em 2004, a Lei de Inovação foi decretada obrigando o
estabelecimento de Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT) dentro de
universidades e institutos de pesquisa [36].
Analisando os depósitos realizados pelas regiões brasileiras,
encontramos uma concentração de depósitos oriundos da região sudeste do
Brasil (Figura 20). O estado de São Paulo possui 43,5% dos depósitos, o Rio
de Janeiro é o segundo estado com 18,3%, seguido por Minas Gerais com
9,7%. Fora da região sudeste, o Distrito Federal aparece em quarto lugar com
7,4% dos depósitos e o Rio Grande do Sul em quinto com 6,1%. Diversos
estados brasileiros não possuem depósitos de patentes de biotecnologia no
INPI (estados do Acre, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Rondônia, Roraima e
Tocantins).
Os depositantes foram divididos em 4 grupos: empresas, universidades,
governo (órgãos governamentais podendo ser, por exemplo, ministérios e
institutos de pesquisa) e pessoa física. Conforme apresentado na
Tabela 10, o tipo de depositante mais ativo no Brasil são as empresas
(9.522 pedidos). O grupo de universidade é o segundo mais expressivo (1.590
depósitos), mas consideravelmente inferior ao número de depósitos realizados
por empresas. O número de depósitos realizados por órgãos governamentais e
por pessoas físicas correspondem a 967 e 470, respectivamente. Entretanto,
quando se analisa apenas os 1.231 depósitos realizados por residentes pode-
se perceber que os depósitos realizados por universidades passam a ser o
grupo mais expressivo (383 pedidos). A contribuição das empresas e dos
órgãos
governamentais
é
muito
próxima
(270
e
250
depósitos
respectivamente). Um dado importante é o que os depósitos de residentes
realizados por pessoa física é o segundo mais expressivo (322 depósitos). O
depósito realizado por pessoa física foi primeiramente observado em 1980 e
desde então está presente em todos os anos analisados (Figura 21). Como os
pedidos de patente podem ter um ou mais depositantes, a soma dos valores
indicados na
Tabela 10 são maiores do que o número de depósitos realizados.
Tabela 10 – Número de patentes de biotecnologia depositadas por residentes e
não residentes no INPI entre 1975 e 2008 por tipo de depositante.
Tipo de
Depositante
No total de patentes
depositadas
Número de patentes
depositadas por
residentes
Empresas
9522
270
Governo
967
257
Pessoa Física
470
322
Universidade
1590
383
A Tabela 11 apresenta os 10 maiores depositantes de patentes de
biotecnologia no Brasil. Os tres principais depositantes são Pfizer, Novartis e
Sanofi, com 339, 288 e 245 pedidos de patente de biotecnologia,
respectivamente. Existem no total 4.235 depositantes diferentes no INPI sendo
que os 10 maiores apresentados na Tabela 11 apresentam uma média de
195,4 pedidos cada. 2.910 depositantes realizaram apenas um único depósito.
Os 1.315 depositantes restantes possuem uma média de 6,2 pedidos cada. O
maior depositante residente é a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com 69
pedidos de patente (Tabela 12). As últimas 5 patentes depositadas no INPI
pela
Pfizer
e
pela
Fiocruz
estão
apresentadas
na
Tabela
13
[59,60,61,62,63,64,65,66,67,68]. Após a Fiocruz, os maiores depositantes são
a UNICAMP e a USP, duas universidades pertencentes ao estado de São
Paulo, com 67 e 61 pedidos de patentes em biotecnologia depositados no INPI.
Vale destacar que a FAPESP, quarta colocada na Tabela 12, é uma fundação
de apoio à pesquisa, não um centro de pesquisa.
Tabela 11 – Os 10 maiores depositantes de pedidos de patente em
biotecnologia no Brasil entre 1975 e 2008.
Depositante
Número de patentes
depositadas
Pfizer, Inc.
339
Novartis Inc.
288
Sanofi
245
Ajinomoto Co.
191
F. Hoffmann-La Roche AG
179
Wyeth Holdings Corporation
158
Basf Agrochemical Products
B.V.
157
Monsanto Company
144
Novo Nordisk
129
Novozymes, Inc.
124
Tabela 12 – Os 10 maiores residentes depositantes de pedidos de patente em
biotecnologia no Brasil entre 1975 e 2008.
Depositante
Número de patentes
depositadas
FIOCRUZ (Governamental)
69
UNICAMP (Universidade)
67
USP (Universidade)
61
FAPESP (Governamental)
56
UFMG (Universidade)
51
EMBRAPA (Governamental)
40
UFRJ (Universidade)
38
PETROBRAS (Empresa)
35
UnB (Universidade)
30
Tabela 13 – Os 5 últimos pedidos de patente depositados pela Pfizer e pela Fiocruz para biotecnologia no Brasil entre 2005 e
2008.
Número
Data de
depósito
Título
Depositante
PI0512655-0 20/06/2005 Bioexame de RNA
Pfizer Products INC
PI0512745-9 20/06/2005 Métodos de genotipagem e de caracterizar um agente e kit
Pfizer Products INC.
PI0514422-1 15/08/2005
Biotransformação enantioseletiva para o preparo de intermediários do
inibidor de proteína tirosina quinase
Pfizer Products INC.
PI0517745-6 02/11/2005 Vírus mutante da síndrome reprodutiva e respiratória de suínos
Pfizer Products INC.
PI0606189-3 13/02/2006
Composição, vacina e método para proteger um animal porcino de
infecção por um vírus de prrs, célula hospedeira transfectada, método
para fazer um vírus de prrs geneticamente modificado e atenuado
Pfizer Products INC
PI0401929-6 24/05/2004
Método, iniciadores específicos e kit para a detecção de Neisseria
menigitidis
Fundação Oswaldo Cruz
PI0504441-3 20/10/2005
Vetores de expressão plasmidial contendo regiões específicas para a
expressão de proteínas ou epítopos recombinantes de rotavírus e
astrovírus, processo de produção dos insumos para geração de
imunobiológicos para diagnóstico
Fundação Oswaldo Cruz
PI0505529-6 19/12/2005
Proteínas liga e ligb (leptospiral ig-like(lig) domains) para vacinação e
diagnóstico
Fundação Oswaldo Cruz
PI0704650-2 30/11/2007 Epítopos lineares do envelope do vírus da dengue
Fundação Oswaldo Cruz
PI0704860-2 21/12/2007
Utilização de vírus influenza recombinantes e vírus Vaccinia ankara
modificado (mva) com genes que codificam para as proteínas de
superfície sag1 e sag2 do Toxoplasma gondii como vacinas contra
Os pedidos de patente que ainda permanecem ativos correspondem a 51,9%
do total de pedidos de patente de biotecnologia depositados no INPI sendo que
apenas 488 pedidos foram concedidos. Dos 4.808 pedidos inativos, as três
principais causas de inativação são a falta de pagamento de anuidades, o
indeferimento do pedido ou a falta de resposta à exigência feitas pelos
examinadores de patente do INPI correspondendo a 12,5%, 11,8% e 4,4% dos
9.971 depósitos em biotecnologia, respectivamente. Nossa análise também revelou
que 93,3% dos depósitos inativos pertencem a não residentes, ou seja, 4.485. Como
a porcentagem de não residentes para os depósitos de pedidos é 87,2% podemos
concluir que os não-residentes tem, proporcionalmente, um peso maior na
inatividade dos pedidos. Analisando o peso dos não-residentes em cada um dos três
principais motivos de inatividade dos pedidos, vemos que essa diferença é ainda
maior (respectivamente 94,7%, 96,1% e 95,5% das patentes inativas devido à falta
de pagamento de anuidades, ao indeferimento do pedido ou à falta de resposta à
exigência feitas pelos examinadores de patente do INPI pertencem a não
residentes).
4.2 Análise dos pedidos de patente de biotecnologia depositados via
No documento
A análise da atividade de patenteamento em biotecnologia no Brasil
(páginas 55-64)