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Análise das proposições de Direito Internacional no período Temer (12/05/2016 a 2018)

4. Análise dos dados obtidos pelas proposições de Direito Internacional na CREDN de 2015 a 2018 - temáticas e oposição ao

4.2. Análise das proposições de Direito Internacional no período Temer (12/05/2016 a 2018)

Dentre as proposições de Direito Internacional apresentadas à CREDN no período Temer, 89 foram Mensagens enviadas pelo Poder Executivo tratando sobre os acordos

internacionais firmados pelo Brasil. Nota-se que em um ano e meio do período do segundo governo Dilma, foram enviadas 91 Mensagens, dez a mais que as encaminhadas nos dois anos e meio do governo Temer. Isso pode indicar uma menor participação internacional durante o mandato deste, ou atraso no trâmite das Mensagens.

Quanto às outras proposições, percebe-se a manutenção do número de Projetos de Decretos Legislativos, diminuição dos Projetos de Lei e aumento do número de Requerimentos.

Tabela 13 - Tipos de proposição de Direito Internacional na CREDN no período Temer

Fonte: Câmara dos Deputados, 2020

Em relação às autorias das proposições, é possível ver a mesma quantidade de projetos apresentados pela Representação Brasileira no Parlamento do MERCOSUL. No que tange aos(às) parlamentares, houve uma maior participação do deputado Carlos Zarattini (PT), da deputada Bruna Furlan (PSDB), e diminuição sensível no número de proposições apresentadas pela deputada Jô Moraes (PC do B). Dando continuidade à comparação com o período anterior, notam-se mais deputados(as) com 4 proposições, menos com 3 e 2 proposições, e mais com 1 proposição. Contudo, a diferença entre esses números é ínfima para indicar alguma diferença na atuação da CREDN somente com esses dados.

Tabela 14 - Autores(as) das proposições de Direito Internacional na CREDN no período

Fonte: Câmara dos Deputados, 2020

Quando abordados os partidos dos(as) autores(as) das proposições, identificam-se diferenças notáveis. Para relembrar, os 3 partidos com maior atuação em proposições de Direito Internacional no período Dilma foram: PC do B, com 12 propostas, PSB e PSDB, ambos com 9. No período Temer, em primeiro lugar encontra-se o PSDB, partido de centro-direita, com 24 proposições, depois o PT, partido da presidente impeachmada, com 17 propostas, e o DEM, com 7. O PC do B, partido de esquerda, diminuiu pela metade sua atuação, enquanto o partido do presidente Temer, MDB, nem chega a aparecer na lista. A ausência de parlamentares do MDB em temas de Direito Internacional indica que as proposições favoráveis ao Executivo feitas pela CREDN, foram de partidos de apoio ao presidente, o que mostra uma simpatia ideológica ou coalizão partidária. Ademais, pode-se indagar um aumento da polarização com o aumento da participação do PT, em

contraponto ao crescimento dos partidos de centro direita como PSDB e DEM - lembra-se que no período Dilma 2 dos 3 partidos mais atuantes eram da esquerda.

Ademais, é relevante notar que a maior participação do PSDB na Comissão foi acompanhada pela presença de José Serra, filiado ao partido, no cargo de Ministro das Relações Exteriores, indicado por Michel Temer. Seu antecessor, Mauro Vieira, era diplomata de carreira, não conectado a nenhum partido político (G1, 2016).

Tabela 15 - Partidos dos(as) autores(as) das proposições de Direito Internacional na CREDN no

período Temer

Fonte: Câmara dos Deputados, 2020

A guinada à direita da CREDN apresenta-se na forma de moções de repúdio ao presidente Nicolás Maduro, por conta de sua atuação como chefe de governo da Venezuela e possíveis ações contra os Direitos Humanos. Foram apresentadas no total 7 proposições sobre o tema: REQ 6841/2017, REQ 5904/2017, REQ 222/2017, REQ 212/2017, REQ 188/2017, REQ 5177/2016 e REQ 173/2016. Em contrapartida, a ala esquerda da CREDN aproveitou para atacar o primeiro ano do governo Trump, nos Estados Unidos, e a ausência de oposição do governo brasileiro a tal, criticando as ideias do presidente estadunidense de construir um muro na fronteira com o México e os ataques aos imigrantes latinos em território estadunidense (BBC, 2019). Foram 4 proposições para este fim: REQ 270/2018, REQ 269/2018, REQ 257/2018 e REQ 219/2017.

Tabela 16 - Número de proposições de Direito Internacional com autoria dos(as) parlamentares

titulares da CREDN de 2015 a 2018

Fonte: Câmara dos Deputados, 2020

No segundo governo Dilma, observou-se que 33,34% das proposições foram apresentadas por parlamentares que foram titulares da CREDN por 4 anos. No mandato de Temer, essa porcentagem caiu para 32%, não sendo uma queda muito abrupta para indicar mudanças significativas na atuação dos membros da CREDN.

Tabela 17 - Aprovação geral das proposições de Direito Internacional no período Temer

Fonte: Câmara dos Deputados, 2020

No que tange à capacidade estatística de uma proposição atingir sua finalidade na época, no período anterior, a porcentagem era de 80,95%, aproximadamente. Já no período Temer, esse número caiu para 70,67%. Poderia-se supor que a queda seja referente ao aumento da bipolaridade entre os(as) parlamentares, contudo, seguindo para a tabela abaixo, nota-se que das 75 proposições, somente 3 receberam votos contrários, indicando que o não sucesso das proposições deveu-se muito mais às cláusulas de arquivamento presentes no Regimento Interno da Câmara do que por contrariedade dos(as) parlamentares à proposição.

Fonte: Câmara dos Deputados, 2020

Como apontado anteriormente, o consenso deve ser analisado junto às proposições que foram alteradas ou complementadas. Abaixo, nota-se que os números carregam similaridade aos do período Dilma, o que indica que os(as) parlamentares da Comissão mantiveram uma postura semelhante quanto à interferência nas proposições alheias, não interferindo nem mais nem menos que no período anterior.

Tabela 19 - Propostas que foram alteradas ou complementadas no período Temer.

Fonte: Câmara dos Deputados, 2020

Para indicar se o conteúdo das proposições foram favoráveis, neutros ou contrários ao Poder Executivo, foram utilizados os mesmos indicadores presentes no subitem 4.1., com a leitura das justificativas das proposições e pareceres (quando o parecer era favorável à proposição). No período anterior, transformando os números inteiros em porcentagem, observa-se que as proposições favoráveis representaram 17,46% do total (aproximadamente), as neutras, 52,38%, e as contrárias, 30,16%. No período Temer, a porcentagem foi: favoráveis, 22,67%; neutras, 41,34%, e contrárias, 36%. Ou seja, houve um aumento das proposições favoráveis e contrárias, o que pode reforçar a ideia de intensificação da polarização na CREDN no governo Temer, por mais que ele tivesse uma base de apoio parlamentar bem maior que a presidente Dilma em seu segundo mandato. Isso pode ter ocorrido pela maior participação das proposições de autoria do PT, partido que, por ser da ex-presidente, não chegou a se aliar ao Temer, e foi seu maior opositor nos dois anos e meio de mandato.

Entre os temas de maior oposição ao Executivo, encontra-se a venda da empresa nacional Embraer à estadunidense Boeing, o que geraria desemprego e perda de uma empresa pública de qualidade, na visão desses parlamentares. As críticas podem ser encontradas nas proposições: REQ 249/2018; REQ 250/2018; e REQ 264/2018.

Tabela 19 - Proposições de Direito Internacional no período Temer divididas pelo conteúdo como

favoráveis, neutros ou contrárias ao Executivo.

Fonte: Câmara dos Deputados, 2020

Por fim, para complementar o estudo das proposições contrárias e favoráveis, abaixo verificam-se os(as) autores(as), partidos, e orientação do voto no processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Como pode ser verificado, 14 dos 26 autores das proposições contrárias a alguma ação do governo Temer sobre Direito Internacional, votaram a favor do impeachment, o que mostra que nem todos que eram contrários ao governo de Rousseff foram favoráveis às ações do governo Temer. Contudo, 5 dos 6 autores de proposições favoráveis ao governo também foram favoráveis ao impeachment, o que pode indicar, nesse caso, uma aproximação ideológica maior desses parlamentares com o presidente Temer (CONGRESSO EM FOCO, 2017).

Tabela 20 - Autores(as) das proposições contrárias, no período Temer, e seus votos em relação ao

Conclusão

Ao final da introdução, foi deixado o questionamento se o Legislativo da CREDN, durante a atuação de 2015 a 2018, participou ativamente das proposições de Direito Internacional, ou foi expectador passivo das ações do Poder Executivo na área. Para encontrar essa resposta, foram apresentados textos com diferentes vieses, os quais indicaram fatores que contribuem para maior ou menor participação do Legislativo. Unindo a referência bibliográfica com as análises feitas, pode-se chegar à conclusão que, como apresentado por James McCormick e Eugene Wittkopf (1990) na teoria do bipartidarismo, dentro da esfera de estudo deste trabalho, o Legislativo atuou ativamente nas proposições de Direito Internacional, o que pode ser comprovado pelas diversas proposições, em ambos os períodos, que cobraram ou criticaram alguma ação do Executivo, seja a uma ação em relação às políticas contra os Direitos Humanos no primeiro governo Trump ou à venda da Embraer, respectivamente. Entre os fatores para apoio do Legislativo ao Executivo, descritos por Pedro Feliú Ribeiro e Flávio Pinheiro (2016), como tamanho da coalizão governista e ideologia partidária, verifica-se que uma menor coalizão da presidente Dilma (em 2015 e 2016), não fez com que ela recebesse mais proposições contrárias a suas ações do que o presidente Temer (que possuía maior coalizão), mas fez com que ela recebesse menos proposições favoráveis, o que corrobora parcialmente com as conclusões dos autores. No outro texto de Pedro Feliú (2016), o autor menciona que a oposição ao governo vota contrária a ele tanto em temas de políticas públicas como em temas de política externa. Neste trabalho, verifica-se uma confirmação desta ideia quando são analisados os(as) autores(as) das proposições contrárias à presidente Dilma e seus votos no impeachment da presidente em 2016. Fica comprovado que a maioria dos(as) autores(as) das proposições contrárias ao governo Dilma votaram a favor do impeachment, mostrando uma oposição às ações internas e externas da presidente.

Conclui-se, portanto, que os(as) parlamentares da CREDN, de 2015 a 2018, nos assuntos de Direito Internacional, foram de encontro com as ideias de quanto à teoria dos dois presidentes, não sendo espectadores passivos do Executivo.

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