3 MATERIAL E MÉTODOS 5.2 ANÁLISE DAS VARIÁVEIS TRANSOPERATÓRIAS As tentativas de inclusão de todas as variáveis no ajuste do modelo de regressão logística reduntaram em fracasso, em função de essas variáveis formarem uma combinação linear e tornarem o modelo inválido para classificar o paciente nos Grupos Letal e Não-Letal. Foi aplicado, então, o método discriminante linear; porém, mesmo assim, a eficácia do modelo em classificar os pacientes corretamente nos dois grupos foi de 87,62%, para a finalidade do estudo, este resultado não é aceitável. Avaliando a técnica cirúrgica, o grande desafio é a reesternotomia mediana, várias técnicas visando diminuir o risco de sangramentos, geralmente, fatais foram descritas. ANTUNES (1992) descreve técnica utilizando serra oscilatória e com tração na parte superior do esterno. No nosso trabalho mantivemos a manutenção dos fios de aço da tábua posterior do esterno que servem para determinar a profundidade da serra, sendo uma proteção para as estruturas cardíacas. Esta técnica foi relatada por BORTOLOTTI et al. (1994). Este fato foi importante, pois houve lesão do coração (ventrículo direito) em apenas um paciente. Não foi rotina, a dissecção prévia dos vasos femorais como sugerido por SPAMPINATO et al. (1998), visto que houve necessidade de canulação femoral em um caso. BILAQUI et al. (1981) sugerem a canulação rotineira da artéria femoral antes da esternotomia. A dissecção prévia, da artéria femoral, em nossa opinião, é desnecessária, visto que a canulação da aorta foi possível em 99% dos casos. Além disso, a reoperação da região femoral, abordada previamente, é algo difícil, pela grande aderência e a possibilidade de lesão arterial ou venosa. Destaca-se, porém, a realização da esternotomia com os tubos do sistema extracorpóreo no campo operatório e já preenchidos com soro fisiológico, dessa forma, pode-se ter o auxílio da circulação extracopórea em caso de acidente hemorrágico. A utilização de radiografia de tórax para determinar a proximidade do coração com o esterno como sugerido por ANTUNES (1992) não foi fator importante para prevenção da lesão cardíaca, visto que em todos os casos o coração estava justaposto à parte posterior do esterno. MULLIGAN, SOTO e NATH (1987) utilizaram a tomografia computadorizada de tórax para avaliar a necessidade ou não da tomografia tridimensional é método superior para definir estratégia em reoperações cardíacas, mesmo em revascularização miocárdica, possibilitando a localização de estruturas cardíacas vitais e diminuindo, assim, a morbidade em reoperações cardíacas. A mortalidade de acidente hemorrágico após a esternotomia é de 37%, conforme descrito por DOBELL e JAIN (1984). Na nossa paciente, a lesão foi corrigida com sucesso, sem outras dificuldades, com o auxílio da circulação extracorpórea. Outro detalhe da técnica operatória que facilita a dissecção do coração e evita a sua lesão é a presença do pericárdio fechado ou aproximado. Este fato ocorreu em 80% dos nossos pacientes. DOBELL e JAIN (1984) relataram que o pericárdio não estava fechado em 88% dos casos operados e que é um fator que predispõe ao acidente hemorrágico. Por outro lado, LOOP (1984) relatou que o fechamento do pericárdio pode ocasionar complicações graves como o tamponamento cardíaco e a obstrução de enxertos cardíacos. Em nosso serviço temos a conduta de fechar o pericárdio sempre que possível, principalmente em doentes jovens, que necessitarão de outras reoperações. Não observamos complicações, ao contrário, a presença do pericárdio promove plano de dissecção seguro e torna o ato operatório mais fácil. Na literatura existe preocupação em diminuir as aderências para reoperação futura, diversos autores têm colocado membranas envolvendo o coração, previnindo, assim, lesão cardíaca na reesternotomia. (JACOBS et al., 1996; WALTHER et al., 2005 e SAKUMA et al., 2005). Realizamos a liberação total do coração em todos os pacientes, este fato é fundamental para a retirada de ar e facilita a exposição do anel mitral. VON DER EMDE et al. (1986) também sugeriram esta técnica. Outros autores como BORTOLOTTI et al. (1988) e STARK (1989) consideram que a dissecção deve se restringir ao mínimo necessário para a operação. Outra via de acesso, como a toracotomia direita sugerida por VLESSIS e BOLLING (1998) para evitar aderências, não foi utilizada, pois cuidados técnicos com a reesternotomia tornam o risco do procedimento aceitável. Foi utilizada, em todos os casos, a cardioplegia cristalóide via anterógrada, que apresentou bons resultados mesmo em pacientes com disfunção ventricular grave (POMERANTZEFF et al., 1996). O tempo de pinçamento aórtico variou de 12 a 165 minutos (média 48,5 ± 19,83), porém, não foi fator determinante de mortalidade, comprovando que a proteção miocárdica é satisfatória, porém, alguns detalhes da técnica devem ser observados, como o pinçamento completo da aorta, nova infusão de cardioplegia a cada 20 minutos e hipotermia tópica adequada (COHN et al. 1993). BIGLIOLI et al. 1994), PANSISI et al. (1990), WIDEMAN et al. (1981) e ECHEVARRIA et al. (1991) demonstraram que o pinçamento aórtico prolongado é fator preditivo de mortalidade hospitalar em reoperação valvar na análise univariada. Na retirada das próteses, o primeiro tempo operatório consiste na remoção do tecido que recobre o anel protético, depois identificam-se os fios de sutura, que são tracionados e retirados individualmente e a prótese é removida com auxílio do descolador. Por último, debrida-se o anel dos tecidos excedentes. BORTOLOTTI et al. (1988) e DURAN (1989) também sugerem esta técnica, protegendo o anel valvar. GEHA e LEE (1996) sugerem a retirada somente dos folhetos da prótese e o implante de nova prótese mecânica sobre o anel de teflon da bioprótese, minimizando, desta forma, o trauma cirúrgico e o tempo operatório com redução da mortalidade. Não concordamos com esta técnica, por várias razões: maior predisposição à infecção pela maior quantidade de material estranho, menor diâmetro da prótese que será implantada e sua protrusão para o átrio esquerdo pode comprometer a hemodinâmica da prótese, além da dificuldade aumentada de remover esta prótese em uma reoperação futura. MAZZUCCO, LUCIANI e PESSOTTO (1997) também relataram estas mesmas críticas. Um dos pacientes que foi a óbito na sala cirúrgica apresentava a prótese implantada sobre o anel protético anterior. A retirada desta prótese foi muito laboriosa, aumentou o tempo operatório e o resultado funcional não foi satisfatório. Não utilizamos o bisturi elétrico para retirada das próteses como sugerido por CAVALCANTI et. al. (1992). Em todos os nossos casos, fizemos a retirada total da prótese anterior e debridamento do anel. Nos três casos de endocardite infecciossa, foi feita a remoção de todo o foco infeccioso e reconstruído o anel valvar quando necessário. O tempo de circulação extracorpórea (CEC) não infuenciou significativamente a mortalidade hospitalar na análise multivariada. O tempo de CEC prolongado está relacionado com vários fatores, como procedimentos associados à reoperação valvar, reconstrução do anel valvar na endocardite, pacientes com disfunção ventricular que necessitem de algum tempo de assistência circulatória mais prolongada. KIRKLIN et al. (1983) demonstraram a influência do tempo de CEC na pulmonares, renais e hematológicas. Estas reações são o resultado de reação inflamatória por vasoconstrição, aumento de permeabilidade capilar e outros fatores mediados pela ativação e formação das interleucinas (MOURA, POMERANTZEFF e GOMES, 2001). BOURBON et al. (2004) relataram que a resposta inflamatória da circulação extracorpórea pode não apresentar os sinais clássicos e não depende do tempo de CEC, mas sim da exposição às superfícies artificiais do circuito da extracorpórea, injúria de isquemia e reperfusão e liberação de endotoxinas. No documento JOSÉ DANTAS DE LIMA JÚNIOR ANÁLISE MULTIVARIADA DOS FATORES PREDITIVOS DE MORTALIDADE HOSPITALAR EM REOPERAÇÃO VALVAR MITRAL (páginas 74-77)