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CAPÍTULO II: ASPECTOS TEÓRICOS-METODOLÓGICOS

2.1 Análise de conteúdo: aspectos gerais

Com base nas técnicas utilizadas em cada tipo de análise, Bardin (2011) destaca quatro

tipos principais de análise de conteúdo: a temática ou categorial, mais utilizada e que funciona

com base no desmembramento de aspectos do texto, segundo as categorias propostas, e

posterior reagrupamento com base em analogias, estando voltada a discursos diretos e simples

(significações manifestas); a de avaliação ou representacional, voltada ao locutor, quanto ao

direcionamento de sua fala, tendo suas atitudes como principal foco da análise através de sua

opinião; a de expressão, na qual os indicadores são utilizados para se chegar à inferência

formal com base na relação entre o discurso, o locutor e o meio, destacando a importância de

conhecer os tracos pessoais do autor; e de enunciação, usada na análise de entrevistas abertas,

levando em conta a comunicação como um processo e não como um dado estatístico baseado

nas condições de produção, estruturas gramaticais, lógica de organização e figuras de retórica.

Sendo a análise temática ou categorial a mais utilizada, a autora a divide em três fases,

a saber:

a) Pré-análise;

b) Exploração do material;

c) Tratamento dos resultados, inferência e interpretação.

Elas possuem características específicas e se voltam a momentos distintos da análise

de conteúdo, sendo essenciais algumas observações sobre cada uma das três fases.

a) Pré-análise

É a fase de organização da análise. Trata-se de primeira fase da pesquisa, voltada à

sistematização de ideias, podendo ser mais flexível, porém não menos importante. A ênfase

nesse momento inicial é na leitura flutuante, contato inicial com os documentos a serem

analisados; escolha dos documentos, em que se define a priori o universo de textos analisados,

podendo a escolha se pautar nas regras da exaustividade, representatividade, homogeneidade e

pertinência; formulação das hipóteses e dos objetivos, sendo as primeiras as afirmativas

provisórias que serão verificadas e os últimos, as finalidades a que se propõe a análise, além

do quadro teórico e/ou programático no qual os resultados obtidos serão utilizados; a

referenciação dos índices e a elaboração dos indicadores, já que, considerando os textos como

manifestações dos índices nos quais a análise de debruçará, é necessário a escolha e

sistematização dos indicadores; e preparação do material, pois antes da análise o material

deve ser reunido e preparado.

b) Exploração do material

São feitas operações de codificação, decomposição ou enumeração, em função de

regras previamente formuladas. Nessa fase dois aspectos merecem atenção especial. O

primeiro deles é a codificação. Nele o material obtido é tratado e transformado a partir dos

dados brutos do texto, em um processo que inclui o recorte, agregação e enumeração,

atingindo uma representação significativa do conteúdo. Entre os elementos do texto a serem

levados em conta estão as unidades de registro, que correspondem à unidade de significação

codificada com vistas à categorização e contagem referencial, podendo ser palavra, tema,

objeto ou referente, personagem, acontecimento ou documento; e a unidade de contexto, que

serve para a compreensão da codificação das unidades de registro, correspondendo ao

segmento da mensagem cujas dimensões são mais amplas. Também fazem parte da

codificação as regras de enumeração que podem ser determinadas pela presença ou ausência,

frequência ponderada, intensidade, direção, ordem ou coocorrência, etc.

Durante a exploração do material ocorre ainda a categorização, que corresponde à

divisão dos componentes das mensagens analisadas em rubricas ou categorias. Este processo

de classificação se baseia na diferenciação entre os elementos e posterior reagrupamento

baseado em analogias. O critério para a categorização podem ser semântico, sintático léxico

ou expressivo.

c) Tratamento dos resultados, inferência e interpretação

Na última fase a atenção se volta ao tratamento aos dados obtidos anteriormente.

Ocorrem operações estatísticas como porcentagens, organizadas em gráficos e tabelas, síntese

e seleção dos resultados, inferências e interpretação. Entre os aspectos a serem observados

estão as condições de produção do material analisado, a formulação de questões sobre o

conteúdo, a discussão das inferências em uma perspectiva mais abrangente, visando atribuir

um grau de significação mais amplo ao material, e apresentação dos resultados através de

descrições cursivas, acompanhadas da exemplificação das unidades de registro, gráficos e

tabelas, destacando os aspectos quantitativos levantados.

A inferência, parte essencial dessa fase, descrita pela autora como “interpretação

controlada”, pode estar voltada ao emissor, ao receptor, à mensagem ou ao meio. A inferência

remete aos antecedentes da mensagem, provas de legalidade e autenticidade e aos resultados

da comunicação.

Embora faça distinção entre a análise de conteúdo (quantitativa) e a análise do

discurso (qualitativa), quando o objeto de estudo são produtos impressos como jornais e

revistas, Sousa (2004, 2006) destaca uma série de aspectos que podem ser levados em

consideração na análise de conteúdo dos órgão jornalísticos impressos.

Sobre as publicações em si é importante conhecer sua organização noticiosa,

periodicidade, tiragem, público-alvo, linha editorial, propriedade, estrutura organizacional,

rede de correspondentes, enviados e obtenção de informações em geral, além do tipo de

jornalismo praticado pelo veículo no que diz respeito a finalidade (noticioso, documental, de

precisão, interpretativo ou analítico, opinativo ou de serviço) e especialização (generalista ou

especializado).

Com relação ao conteúdo dos textos jornalísticos é necessário observar elementos

como os objetivos e ações dos protogonistas; tema, enquadramento e estrutura das histórias; a

estrutura textual, principalmente a apresentação do lead, a construção do texto por blocos, o

uso da pirâmide invertida, da progressão cronológica, entrevistas organizadas em forma de

pergunta/resposta, etc; o vocabulário, estilo e significação, com atenção especial à existência

de polissemia, neologismo, associação e relação entre vocábulos, associação verbal,

intertextualidade, estática fonética, supressão de vocábulos nas frases e figuras de estilo.

Já sobre os elementos referentes à prática jornalística, se destacam o uso de fontes e

citações; os procedimentos de objetividade usados na identificação das fontes, contrastação de

fontes antagônicas, imputação de opiniões, descrição de acontecimentos, verificação dos

fatos, auscultação das testemunhas do acontecimento e recurso a sinais de precisão; elementos

de dramatização como exagero, simplificação, oposição, deformação, ampliação emocional;

procedimentos de persuasão como uso de cifras, menção das causas dos acontecimentos,

encadeamento de causas e consequências, uso de argumentos/conceitos, citação de

especialistas, referências a consequências, etc; o tipo de texto, se narrativo, descritivo,

expositivo, diálogo/texto citado, argumentativo; e os gêneros jornalísticos utilizados como

notícia, entrevista, reportagem, editorial, crônica, foto-legenda e artigo.

Outros fatores importantes a serem observados ainda são a utilização de personagens,

as identidades jornalísticas, a assinatura da informação, o dito, implícito, não dito, lembrado

ou esquecido, o contexto gráfico da apresentação das matérias e a associação a imagens.