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2O LUGAR DA MULHER NA SOCIEDADE

4 ASPECTOS METODOLÓGICOS

4.2 Análise de conteúdo

Apesar do nascimento da técnica de análise de conteúdo ser direcionado às análises quantitativas, essa metodologia vem se desenvolvendo, também, em meio a pesquisas qualitativas (BAUER, 2002). Com o auxílio de tal técnica, é possível reduzir a complexidade de vários textos através da sistematização e contagem de unidades do texto:

Ela é uma técnica para produzir inferências de um texto focal para seu contexto social de maneira objetivada. Este contexto pode ser temporariamente, ou em princípio, inacessível ao pesquisador (...) é, em última análise, uma categoria de procedimentos explícitos de analise textual para fins de pesquisa social (BAUER, 2002, p.191).

Como conceito, esta técnica de análise de dados consiste em:

conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 2009, p.44).

Tal tipo de análise estrutura-se em três fases: pré-análise; exploração do material; tratamento dos resultados, inferência e interpretação (BARDIN, 2009)

Como pré-análise, se tem a:

fase de organização propriamente dita. Corresponde a um período de intuições, mas tem por objetivo tornar operacionais e sistematizar as ideias

iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das operações sucessivas, num plano de análise (BARDIN, 2009, p. 95).

A pré-análise seria o contato inicial da pesquisadora com os dados. Esta etapa serve para, principalmente, realizar a leitura flutuante, sistematizar as informações coletadas e estabelecer indicadores para auxiliar nas próximas etapas da análise dos dados.

Já a exploração do material corresponde à fase de operações, de codificação ou enumeração, em função de regras formuladas. A codificação, por sua vez, permite que os dados brutos sejam transformados e agregados em unidades, para se obter uma descrição das características do conteúdo (BARDIN, 2009).

Depois da pré-análise e da exploração do material, a análise segue com o tratamento descritivo, no qual os elementos são classificados em categorias temáticas de acordo com critérios estabelecidos anteriormente; o que permite a classificação dos elementos de significação constitutivos da mensagem.

No tocante aos questionários, as informações obtidas foram sistematizadas em tabelas que serviram como base para selecionar os indicadores utilizados na análise dos dados, sendo eles: 1. Sexo; 2. Curso/área; 3. Motivo da escolha. Em relação ao indicador 3, foram identificadas quatro categorias para seu tratamento descritivo: 3.1. Motivo pessoal/gosto; 3.2. Influência da família; 3.3. Remuneração; 3.4. Vontade de ajudar.

Para a análise de conteúdo do projeto político-pedagógico, regimento escolar e projetos das escolas, foram elencados como indicadores para o tratamento dos dados: 1. Questões de gênero; 2. Termos no masculino genérico; 3. Distinção entre os sexos. Estes três indicadores contribuem para a apreensão de elementos presentes no processo educativo que podem indicar aproximações ou distanciamentos da cultura patriarcal.

Na observação não participante, em sala, os indicadores utilizados para analisar as aulas foram: 1. Interesse dos(as) estudantes; 2. Conteúdos relacionados a gênero ou feminismo; 3. Brincadeiras de cunho machista; 4. Organização da sala. Tais indicadores foram elencados no intuito de compreender as relações sociais de sexo presentes no cotidiano das salas de aula, seja por meio dos conteúdos trabalhados, maneira de agir do(a) professor(a) ou até mesmo na forma dos(as) alunos(as) organizarem-se em sala.

Para as entrevistas, os indicadores de análise e categorias para o tratamento descritivo foram definidos previamente a partir de um roteiro, a fim de facilitar a fase de pré-análise dos dados. Entretanto, com a análise do conjunto de entrevistas tais indicadores e categorias sofreram algumas modificações, uma vez que, após finalizada a pesquisa de campo e transcrito o material, as informações obtidas foram sistematizadas em uma tabela para melhor observação dos dados obtidos. A partir daí, as categorias e indicadores foram definidos, tomando também, como base, os objetivos almejados. Assim, para aplicação da técnica da análise de conteúdo nos dados da pesquisa, os indicadores e categorias utilizados foram os da tabela a seguir:

Tabela 1 Categorias/Indicadores 1. Socialização 1.1. Estrutura familiar 1.1.1. Tradicional 1.1.2. Não tradicional 1.2. Vivência no âmbito familiar 1.2.1. Contribui para o empoderamento 1.2.2. Reproduz desigualdades 1.3. Mecanismos de influência 1.3.1. Família 1.3.2. Escola 1.3.3. Outros 1.4. Gostos da infância 1.4.1. Reproduz desigualdades 1.4.2. Não reproduz desigualdades 2. Perspectiva de futuro 2.1. Âmbito pessoal 2.1.1. Restringe-se à divisão sexual do trabalho 2.1.2. Supera a divisão sexual do trabalho 2.2. Âmbito profissional 2.2.1. Restringe-se à divisão sexual do trabalho

2.2.2 Supera a divisão sexual do trabalho 2.3. Motivação da escolha profissional 2.3.1. Divisão sexual do trabalho 2.3.2. Influência da família 2.3.3. Outro fator 2.4. Aptidão 2.4.1. Restringe-se à divisão sexual do trabalho 2.4.2. Supera a divisão sexual do trabalho 3. Consciência feminista 3.1. Empoderamento 3.2. Desconhecimento 3.3. Feminismo nos espaços de socialização 3.4. Escola 3.5. Família

Na análise de conteúdo, o texto é visto como um instrumento de pesquisa e, ao considerá-lo como reprodutor de quem os escreve, os resultados das análises configuram o que deve ser explicado em uma pesquisa (BAUER, 2002). Assim, neste

momento, faz-se necessário retomar a relação entre os aspectos metodológicos e os objetivos almejados no presente trabalho.

Em relação ao objetivo geral, que é o de analisar implicações da socialização desigual entre homens e mulheres nas escolhas profissionais de meninas adolescentes, foi utilizada toda a metodologia proposta a fim de articular-se com os objetivos específicos.

No âmbito do primeiro objetivo específico, que é investigar quais aspectos da divisão sexual do trabalho aparecem nas perspectivas de futuro das meninas estudantes das duas escolas do Recife, utilizaram-se tanto os questionários quanto as entrevistas. Pretendeu-se, através dos questionários, analisar se entre os motivos das escolhas de futuro dos meninos e meninas existe uma distinção ou explicação que possa ser relacionada à divisão sexual do trabalho. Com as entrevistas, por sua vez, buscou-se compreender, através das falas das meninas, de que maneira sua socialização na escola e também na família influenciaram em sua escolha profissional.

Para o segundo objetivo específico, que é analisar em que medida as escolas refletem as desigualdades entre meninos e meninas, geradas pelas relações sociais de sexo, articulou-se o emprego da análise dos documentos, das entrevistas e da observação não participante. Com base nos documentos, foi possível verificar a forma na qual aqueles que os formularam partiram de uma distinção desigual entre homens e mulheres, de modo a demonstrar como as escolas reproduzem, em seus documentos oficiais, tais desigualdades. Através das entrevistas e observação não participante, tentou-se entender de que forma a escola, em seu dia-a-dia, configura-se como um espaço de desiguais oportunidades para meninos e meninas.

A respeito do terceiro objetivo específico, que é compreender as diferenças entre as escolhas profissionais das meninas estudantes da escola pública e privada, pretendeu- se realizar uma comparação entre os resultados obtidos na Escola1 e na Escola2, por considerar-se que ―Traçar um perfil ou comparar os perfis para identificar um contexto, são inferências básicas de uma AC‖ (BAUER, 2002, p.193), sendo o contexto da pesquisa a sociedade marcada por desigualdades de classe e raça, que reflete diferenças entre as duas escolas.

A partir disso, a utilização da técnica da análise de conteúdo no presente trabalho torna-se importante ao considerar a quantidade de dados analisados: documentos, questionários com os(as) alunos(as) dos terceiros anos de duas escolas, entrevistas com 10 alunas de cada uma das duas escolas, observação dos intervalos, das aulas etc. A análise de tais dados torna-se possível através da técnica elencada, em que a ―classificação sistemática e a contagem de unidades do texto destilam uma grande quantidade de material em uma descrição curta de algumas de suas características‖ (BAUER, 2002, p. 191), ou seja, tal ferramenta possibilita a organização dos dados e facilita a compreensão e interpretação de seus resultados, dando sentido e espaço para a interpretação destes de uma forma qualitativa. Além disso, tal técnica também permite a interpretação tanto dos significados, quanto dos significantes dados pelos sujeitos da pesquisa (BAUER, 2002).

Após estes estudos prévios referentes à análise de conteúdo, ao sopesar a metodologia e os objetivos propostos, avalia-se que sua técnica se configurou como a melhor forma de análise para realização da pesquisa e obtenção dos resultados. Todos os instrumentos utilizados na coleta de dados foram essenciais para a obtenção dos objetivos – geral e específicos. Entretanto, de nada adiantariam entrevistas, questionários, observação não participante, análise documental etc., se a análise dos dados obtidos não fosse eficaz e os confirmasse, o que mais uma vez nos remete à importância da utilização de tal forma de análise no presente trabalho.

5 O CRESCER DE UMA MULHER: A INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA E DA