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2. ABORDAGEM METODOLÓGICA

2.6 Análise de dados

Os dados foram, portanto, analisados no contexto de abordagens quantitativas e qualitativas, sendo obtidos por meio das entrevistas com roteiro semiestruturado e observação não participante. Os dados considerados quantitativos foram tabulados via programa computacional Excel, versão 2007, e submetidos à análise com a utilização do programa Statistical Package for Social Science (SPSS), versão 20.0, aplicativo muito utilizado em Ciências Sociais para processar e analisar os dados de uma pesquisa. Foram acrescidas a esses dados as notas analíticas relacionadas às observações realizadas durante as diversas inserções nos conjuntos habitacionais e também a análise das respostas dos entrevistados, devidamente categorizadas e submetidas à análise (dados qualitativos). Algumas respostas foram transcritas neste trabalho, afim de retratar a realidade do ambiente pesquisado e visando proporcionar ao leitor um melhor entendimento dessa realidade. Os dados foram discutidos e analisados com base nas fundamentações contidas no referencial teórico, pretendendo-se atender aos objetivos desta pesquisa e à confirmação ou refutação das hipóteses apresentadas.

O roteiro de entrevistas foi elaborado de forma a facilitar a análise dos dados, relacionando-os aos objetivos da pesquisa e à confirmação ou refutação das hipóteses. Desta forma, as respostas das questões abertas na entrevista, foram gravadas, transcritas e agrupadas conforme a afinidade entre elas, construindo-se categorias de análise e gerando dados qualitativos. Os dados provenientes de respostas fechadas foram tabulados e, juntamente com as respostas abertas e com as anotações de campo, submetidos à análise. O referencial teórico constante deste estudo, foi utilizado como base para a análise, interpretação e discussão dos dados primários obtidos.

Para atendimento ao primeiro objetivo: caracterizar a realidade socioeconômica e demográfica das famílias, fez-se necessário conhecer o perfil socioeconômico do entrevistado e de sua família. Obteve-se, assim, uma visão geral sobre o morador dos conjuntos habitacionais, com relação à idade, sexo, cor, relação de parentesco, estado civil, tempo de moradia, número de moradores por domicílio, situação trabalhista, atividade realizada, local de trabalho, situação em relação ao estudo, escolaridade e local de estudo. O desenvolvimento do perfil socioeconômico fornece uma dimensão coletiva em relação aos grupos que moram nos conjuntos habitacionais estudados e, também, apresenta indicadores que estão relacionados à sociabilidade.

Para se atingir o segundo objetivo: caracterizar a infraestrutura urbana nos conjuntos habitacionais do PMCMV, procurando estabelecer correlações dessa realidade percebida pelos entrevistados, com as formas de sociabilidade que perpassam a vivência dos moradores nesses conjuntos habitacionais, inicialmente, caracterizou-se a infraestrutura urbana nos conjuntos habitacionais do PMCMV, buscando-se, posteriormente, a percepção dos entrevistados acerca dessa infraestrutura, estabelecendo-se correlações desse quadro com as formas de sociabilidade estabelecidas entre os moradores. As variáveis, nesta primeira questão, estiveram relacionadas aos problemas com: transporte coletivo e escolar público; infraestrutura comercial nos conjuntos; fornecimento de água, energia elétrica e esgotamento sanitário; coleta de lixo; policiamento; saúde (escolas e creches); áreas de lazer; serviços de comunicação e serviços de saúde (hospitais e postos de saúde). Complementarmente, foram elaboradas questões sobre a percepção dos entrevistados em termos da infraestrutura urbana presente. Além disso, procurou-se, também, sua percepção acerca da conservação das áreas internas do conjunto e do seu entorno (estradas de acesso); condições de iluminação pública no interior do conjunto e no seu entorno (estradas de acesso); casas abandonadas e, ou, depredadas. Essa percepção foi dimensionada numa escala gradativa de 1 a 4, nos seguintes termos: problema inexistente, problema pouco grave, problema grave e problema muito grave. Como resultado da percepção dos entrevistados, para cada uma das avaliações, foi calculada a média da gradação das percepções.

A mobilidade urbana dos moradores foi percebida a partir das formas de deslocamento dos mesmos (o uso de veículos pelos moradores, assim como o transporte coletivo, o transporte escolar público, bem como o deslocamento feito a pé e de bicicleta), locais de compra e de lazer (se no conjunto ou fora dele).

O detalhamento acerca das condições de acesso ao transporte coletivo e escolar público fizeram-se necessárias devido ao fato de ser uma forma (para muitos moradores a única) de ligação entre os conjuntos habitacionais com os seus entornos e também com a cidade, podendo constituir-se em um importante fator de construção ou de restrição da sociabilidade, uma vez que pode ou não possibilitar o deslocamento entre as várias áreas da cidade com diferentes interesses.

Procurou-se, também, delinear os tipos de tecnologias disponíveis e a forma de acesso aos serviços de comunicação através de telefone público, telefone fixo, telefonia móvel e uso da internet. Pretendeu-se entender como o uso destas tecnologias ou a falta

delas pode influenciar nas possibilidades de comunicação, as quais estão diretamente relacionadas à sociabilidade dos indivíduos, sendo, conforme aponta Giddens (1993), um elemento intrínseco e indispensável na transformação da intimidade moderna.

Para atendimento do terceiro objetivo: analisar a sociabilidade entre os moradores a partir das formas de integração e conflitos existentes, práticas de lazer e percepção do risco pelos moradores, inicialmente, procurou-se identificar os tipos de atividade que realizam, o local onde as realizam (se nos conjuntos habitacionais ou fora deles) e a frequência com que realizam as atividades. A busca por informações se deu desde as formas de lazer desenvolvidas pelos respondentes, tanto externamente quanto internamente no conjunto, abrangendo os usos das áreas de lazer presentes nos conjuntos habitacionais pesquisados. este levantamento foi feito com o intuito de perceber se a sociabilidade se colocava mais restrita ao mundo privado (assistir TV, jogar videogame, acessar a internet, ler e estudar, dentre outras atividades), ou mais voltada para o mundo público (bares; restaurantes; ficar em casa; bailes e forrós; parquinho do conjunto; visita aos vizinhos e, ou, amigos; parques e praças; igreja; outro local de lazer ou diversão, como shows e festas em outros bairros da cidade).No atendimento ao quarto objetivo: analisar a sociabilidade dos moradores a partir do vínculo estabelecido com a moradia e com o lugar, bem como o sentimento de pertencimento manifestado em relação ao conjunto habitacional em que reside, foi feita a análise da sociabilidade dos moradores a partir do vínculo estabelecido com o lugar e com os moradores, bem como o sentimento de pertencimento que eles manifestam. Para tanto, procurou-se entender o grau de confiança em que se estabeleciam as interações entre moradores. Nesses termos foram elaboradas as seguintes questões: confia nos seus vizinhos? Acha seus vizinhos prestativos? Se sente bem entre seus vizinhos? Porque se sente bem, ou não, entre seus vizinhos? E ainda, tem algum vizinho com quem possa deixar sob os cuidados um filho seu? Tem algum vizinho a quem possa recorrer para pedir, por exemplo, o empréstimo de um gênero alimentício, um veículo (para o caso de transporte de alguém numa emergência), etc.? Além da confiança, pretendeu-se perceber o nível de organização coletiva nos conjuntos habitacionais. Para tanto, foram elaboradas as perguntas: este ano foi feita alguma reunião para discussão dos problemas do conjunto? Em caso negativo, no seu entendimento, qual(ais) seria(m) o(s) motivo(s)?

Nesse objetivo também se buscou perceber as formas de estigmatização, dentre as formas de alteridade. Isso porque, morar em um conjunto habitacional advindo de

uma política pública para segmentos de baixa renda pode estar associado a relações fortemente marcadas por estigmas. Assim, elaborou-se as seguintes questões: já sofreu algum tipo de discriminação no conjunto onde mora, na vizinhança ou na área central da cidade? O fato de morar neste conjunto influencia, de alguma forma, a sua inserção no mercado de trabalho? Foi bem recebido quando se mudou para o conjunto? Considera que aqui todos são iguais?

Para atender ao quarto objetivo, o pertencimento ao conjunto e ao bairro foi analisado mediante manifestação em relação ao mesmo a partir das seguintes questões que informavam o sentimento de pertença em relação ao conjunto habitacional. Como se sente em relação ao conjunto onde mora? Se sente “em casa” neste conjunto habitacional? Porque? Este conjunto é apenas um lugar para morar provisoriamente? Se pudesse se mudaria deste lugar, porque?