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CAPÍTULO 1. REVISÃO DA LITERATURA

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.2. Análise de fatores

A aplicação do modelo fatorial exige correlação entre as variáveis utilizadas. O teste de KMO, cujo coeficiente foi igual a 0,855, revelou a existência de alta correlação entre as variáveis. Por outro lado, o teste de esfericidade de Bartlett foi significativo (p<0,001), rejeitando-se a hipótese nula e indicando que a matriz de correlações populacionais é diferente da matriz identidade, sendo as variáveis correlacionadas entre si. A estatística foi suficientemente significativa para prosseguir a análise fatorial.

Os resultados da análise fatorial, após escolher a extração de 3 fatores e rotação pelo método VARIMAX, estão descritos na Tabela 11.

Tabela 11- Cargas fatoriais após a rotação ortogonal e as comunalidades.

Variáveis Fatores Comunalidades

1 2 3 V1 *0,850 0,229 0,165 0,801 V2 0,408 0,106 *0,708 0,679 V3 -0,383 *-0,706 -0,381 0,791 V4 *0,695 0,481 0,321 0,816 V5 0,522 *0,638 0,42 0,856 V6 0,49 *0,544 -0,052 0,539 V8 0,078 *0,675 0,064 0,466 V12 *-0,918 -0,242 -0,064 0,905 V14 *-0,918 -0,201 -0,082 0,890 V15 *-0,921 -0,256 -0,121 0,928 V10 0,564 *0,598 0,111 0,688 V11 *0,626 0,579 0,101 0,737 V21 0,3 0,145 *0,604 0,476 V23 0,269 *0,626 0,37 0,601 V24 *-0,535 0,294 -0,181 0,405 V25 0,248 0,035 *-0,659 0,497 V26 -0,15 *0,668 -0,35 0,591 Autovalores 5,810 3,757 2,099 0,801 Variância explicada (%) 34,179 22,098 12,347 Variância acumulada (%) 34,179 56,277 68,624

* Variáveis de maior peso nos respectivos fatores.

O primeiro fator é formado pelos indicadores: Suficiência da fonte dietética média (V01), Fonte de proteína média (V04), Prevalência de subnutrição (V12), Intensidade de o déficit alimentar (V14), Prevalência de insuficiência de alimentos (V15), Acesso a instalação sanitárias melhoradas (V11), e Valor de importações de alimentos no total de mercadoria exportada (V24). O fator caracteriza-se então por indicadores relacionados com o alimento, a alimentação e sua influência no ser humano; quer dizer à “nutrição” do ser humano, a qual, segundo a OMS (2014), é a ingestão de alimentos em relação com as necessidades dietéticas do organismo, sendo que uma boa nutrição (uma dieta suficiente e equilibrada combinada com o exercício físico regular) é elemento fundamental de uma boa saúde. Então uma má nutrição pode reduzir a imunidade, aumentar a vulnerabilidade às enfermidades, alterar o desenvolvimento físico e mental e reduzir a produtividade.

O segundo fator está conformado pelos indicadores: Proporção da fonte de energia derivada de cereais, raízes e tubérculos (V03), Fonte de proteína de origem animal média (V05), Porcentagem de estradas pavimentadas em relação ao total de estradas (V06), Densidade de estrada (V08), Acesso a fontes de água potável melhorada (V10), Estabilidade política e ausência de violência/terrorismo (V23), e Proporção de dependência de importação de cereais (V26). Então este fator se caracteriza por indicadores relacionados com aspectos indiretos à alimentação, mas que levam a um bom estado nutricional do ser humano, ou seja, “logística e políticas”.

De acordo com Suleri (2012), Grant (2012) e Johson (2013), pode-se explicar a relação entre estes indicadores com a denominação do segundo fator. Pelo lado do abastecimento, duas das principais causas da volatilidade do preço dos alimentos e falta de acesso econômico são governanças ineficientes e práticas de distorção de mercado. Mercados ineficientes em países de governos pobres, o elevado custo de transporte a través da inflação do preço do combustível, dano (e não reparável) de infraestrutura, acumulação compulsiva, cartéis (particularmente de geralmente de alimentos básicos) e contrabando de grãos e animais, todo geram inflação de alimentos e todos podem ser combatidos através de uma melhor governança local.

A nível internacional, a relação entre a segurança alimentar, conflitos e revoluções necessita ser melhor entendida. A segurança alimentar tem uma maior influência nas políticas nacionais, pode ter um impacto significativo na disponibilidade dos alimentos.

Conflitos no exterior também têm potencial de impacto e de pôr em perigo os interesses domésticos a través da interrupção do comércio e da economia, o deslocamento de pessoas, e os gastos da reconstrução pós-conflito. A inflação do preço dos alimentos não é simplesmente a cambiante relação entre a oferta e a demanda. Um mundo e um sistema de alimentos mais globalizados significam um mais independente também. Um jogo de soma zero, ou seja, uma situação onde o ganho do país deve ser balanceado pela perda de outro, torna particularmente vulnerável o sistema aos governos sucumbir ao pânico, acumulando alimentos ou limitando as exportações.

O terceiro fator é formado pelos indicadores: Índice de produção de alimentos (V02), Variabilidade de produção de alimentos (V21), e Porcentagem de terras aráveis equipadas para irrigação (V25). Estes fatores relacionam-se com aspectos de geração de mais alimentos e os meios para isso acontecer, quer dizer a “produção de alimentos”. Segundo a FAO (2014) o consumo e produção sustentável exigem considerar todos os aspectos e fases da vida de um produto, desde a produção ao consumo, e inclui temas como estilos de vida sustentáveis, dietas sustentáveis, gestão das perdas e desperdícios de alimentos e reciclagem, normas de sustentabilidade voluntárias, apesar dos métodos e condutas ecologicamente adequadas que reduzam ao mínimo os efeitos adversos sobre o meio ambiente e não coloquem em perigo as necessidades das gerações presentes e futuras.

Teoricamente os indicadores: acesso a instalações sanitárias melhoradas (V11) e valor de importações de alimentos no total de mercadoria exportada (V24) estão mais relacionadas com o segundo fator e por ter também para este fator valores de correlações altas, recomenda-se que em estudos posteriores estes indicadores formem parte deste fator e não do primeiro fator. O mesmo acontece com os indicadores: proporção da fonte de energia derivada de cereais, raízes e tubérculos (V03) e fonte de proteína de origem animal média (V05), os quais pertencem ao segundo fator mas teoricamente encaixam melhor no primeiro fator.

Os três fatores são capazes de medir o estado de segurança alimentar e nutricional de um país mediante indicadores, pois explicam 68,6% da variância total dos dados (Tabela 11). Os autovalores representam quanto da variância da amostra é explicada pelos fatores individualmente. O primeiro fator explica 34,2% da variância dos dados sendo o mais importante na medição do estado de segurança alimentar e nutricional mundial.

O somatório do quadrado das cargas fatoriais fornece uma estimativa da comunalidade, ou seja, quanto da variância de cada variável pode ser explicada pelos fatores comuns (CHINELATTO NETO et al., 2005). Os valores elevados obtidos indicam que a análise realizada permitiu a captação de grande parte da variabilidade associada a cada uma das variáveis.

Os três fatores obtidos nesta análise “nutrição”, “logística e políticas” e “produção de alimentos” são completamente diferentes das quatro dimensões estabelecidos pela FAO (2012) “disponibilidade”, “acesso”, “utilização” e “estabilidade”; mas pelo fato dos três fatores terem demostrado ser estatisticamente válidos pode-se inferir que é completamente seguro considerar estes três fatores para agrupar os indicadores de segurança alimentar e nutricional desde um ponto de vista diferente ao estabelecido pela FAO, considerando o alto grau de correlação dos indicadores que formam um mesmo fator.