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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.5 ANÁLISE DE REGRESSÃO

Com o intuito de verificar a influência dos fatores comportamentais, do Gerenciamento Financeiro e do PMCMV na Satisfação com a Vida dos beneficiários, realizou-se uma regressão linear múltipla. O modelo estimado é descrito na Tabela 26.

Tabela 26- Resultados da regressão múltipla por Mínimos Quadrados Ordinários pelo método Stepwise, estimada para a Satisfação com a Vida

Variáveis Coeficientes Padronizados Teste t VIF Valor Sig Bem-estar Financeiro 0,393 7,935 0,000 1,448

Índice de Conhecimento Financeiro -0,101 -2,288 0,023 1,149

Atitude Financeira 0,114 2,450 0,015 1,282

Dummy Possuir Dívidas -0,114 -2,618 0,009 1,117

Dummy Possuir Carnê de Crediário 0,098 2,295 0,022 1,087 Dummy Inadimplente no PMCMV -0,093 -2,148 0,032 1,097

Fonte: Elaborado pela autora (2017).

O resultado apresenta seis variáveis independentes, com um R2 ajustado de 0,230, o que significa que as variáveis independentes em conjunto explicam 23,0% da variável dependente. A significância do teste F (valor 23,598 e sig. 0,0000) indica que pelo menos uma das variáveis exerce influência sobre a variável dependente, sendo considerado o modelo significativo.

Quanto aos pressupostos do modelo, observou-se que: (i) não há autocorrelação serial, uma vez que o valor do teste de Durbin Watson (1,89) ficou próximo de 2; (ii) o modelo não apresenta problemas de multicolinearidade, dado que os VIFs ficaram próximos a 1; e (iii) os resíduos do modelo possuem distribuição normal, uma vez que o teste Kolmogorov-Smirnov não foi significativo (sig. 0,235).

Analisando-se os coeficientes que expressam a magnitude e a direção da relação de cada uma das variáveis independentes sobre a variável dependente, constatou-se que as variáveis: bem-estar financeiro, atitude financeira e possuir carnê de crediário exercem influência positiva na satisfação com a vida. Todavia, o conhecimento financeiro, possuir dívidas e ser inadimplente no PMCMV, impactam negativamente na satisfação com a vida.

Dentre as variáveis estudadas, a que mais impacta na satisfação com a vida é o bem- estar financeiro. Esse resultado enfatiza o que já vem sendo discutido por Gutter e Copur (2011), os quais indicam que o status econômico prediz fortemente a felicidade e o bem-estar geral, ou seja, as pessoas sentem-se mais felizes e de bem com a vida quando estão financeiramente seguras, característica fundamental do Bem-estar Financeiro.

No mesmo sentido, melhores atitudes financeiras, como definição de metas a serem alcançadas, administração dos recursos financeiros, preocupação com o futuro e com o ato de poupar, também impacta positivamente na satisfação com a vida. Novamente retoma-se a

questão que para um indivíduo se sentir satisfeito com a vida como um todo, ele deve dar considerar uma série de aspectos, o que inclui cuidar de suas finanças de forma saudável (KUPPENS; REALO; DIENER, 2008). Ressalta-se aqui, que segundo a OECD (2013b) a atitude financeira é uma das dimensões da alfabetização financeira, a qual contribui e torna possível o alcance do bem-estar financeiro individual, variável também impactante da Satisfação com a Vida.

A dummy possuir carnê de crediário também apresentou impacto positivo na satisfação com a vida, mesmo que em menor proporção. Infere-se a partir desse resultado, que o ato de possuir carnês de loja, remete ao fato do indivíduo ter conseguido adquirir, mesmo que parceladamente, bens que necessita e que considera importante para as suas necessidades. Para muitos, essa é a única forma de serem adquiridos alguns produtos, os tornando-os mais satisfeitos com a suas vidas.

Cabe retomar, que segundo o Banco Central do Brasil (2014) o acúmulo de parcelamentos não é considerado positivo para as finanças, pois pode induzir ao endividamento excessivo, todavia, realizando o pagamento desses parcelamentos e carnês de crediário em dia, evitam-se problemas financeiros e torna-se possível a aquisição de bens. Observou-se ainda, que em média, cada respondente possui três carnês de crediário, não remetendo a um número de parcelamentos excessivo, além de muitos relatarem que são contas pequenas e que costumam terminar de pagar os carnês em débito para realizar novas compras.

Quanto as variáveis que demonstraram relação negativa, a que apresentou maior impacto, foi a dummy possuir dívidas, indicando que aqueles indivíduos que possuem mais dívidas, acabam por ter a percepção de satisfação com a vida afetada negativamente. Essa relação pode ser explicada pelo fato de que as dívidas em excesso, sem condições de pagamento, geram consequências para vida social das pessoas e acabam por afetar a satisfação com a vida.

Como consequência do endividamento, a literatura evidencia a exclusão financeira, onde o indivíduo passa a encontrar dificuldades de acesso ao crédito (ANDERLONI; VANDONE, 2010), preconceito por parte de amigos, familiares e principalmente entre os cônjuges (OBSERVATÓRIO DE ENDIVIDAMENTO DOS CONSUMIDORES, 2002), além de muitas pessoas sentirem mal-estar por estarem endividados e pela dificuldade de conseguir saldar os compromissos, e relatarem passar por situações de depressão, insônia, problemas nas relações familiares e falta de perspectiva para soluções de problemas (HENNIGEN, 2012). Keese e Schmitz (2011) também apontam problemas de saúde, estresse

e angústia, menor percepção da capacidade de gerenciamento do dinheiro, menor sensação de Bem-estar Financeiro e emoções negativas, como consequências do endividamento.

O conhecimento financeiro também exibiu impacto negativo na satisfação com a vida, o que vai de encontro ao que é evidenciado na literatura, pois sendo este uma dimensão da alfabetização financeira e a mesma tende a afetar positivamente o bem-estar financeiro e consequentemente a satisfação com a vida (OECD, 2013b), esperava-se uma relação positiva. Todavia, Norvilitis e Maclean (2010) e Xiao et al. (2011) ressaltam que apenas o conhecimento financeiro não é capaz de garantir uma gestão eficaz dos recursos monetários, se não utilizado adequadamente. Dessa forma, infere-se que os indivíduos pesquisados, com maior nível de conhecimento financeiro possam não estar aplicando nas atitudes e comportamentos financeiros o seu conhecimento, ou apresentem padrões de satisfação com a vida muito elevados, não sendo ainda atingidos. De acordo com Joia (2012) cada indivíduo tem suas particularidades, ambições e considera mais relevante os seus interesses quando o assunto é satisfação com a vida.

Outra variável que demonstrou influencia negativa na satisfação com a vida foi à inadimplência no PMCMV, ratificando o que foi colocado por muitos respondentes, que afirmaram se sentir mal por não estarem conseguindo arcar com o pagamento da residência e que assim que possível irão pagar os atrasados. Eles relataram ainda, que um dos principais motivos da inadimplência é a falta de recursos financeiros, oriundos de desemprego, doença na família e atraso no boleto, situações essas que também tendem a afetar a satisfação com a vida. Outro fator que poder esclarecer essa relação negativa é a retomada de imóveis que já ocorreram nas Faixas 2 e 3(CUCOLO, 2015), o que pode fazer com que os indivíduos tenham medo de perderem o imóvel, afetando assim a sensação de segurança das famílias e a consequente satisfação com a vida.

Evidencia-se ainda que a satisfação com o PMCMV (o antes e depois), satisfação com o PMCMV, o comportamento financeiro, atitude ao endividamento, e as dummys dívida em atraso, cartão de crédito, gastos, situação do dinheiro, controle dos gastos, poupança, cadastro negativo, empréstimo do nome não foram significativas no modelo. No próximo capítulo são apresentadas as considerações finais da pesquisa com a finalidade de demonstrar as principais conclusões em relação ao problema de pesquisa e objetivos. São expostas ainda, as implicações do trabalho, no que diz respeito às limitações da pesquisa e às sugestões de trabalhos futuros.