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2.3 S ELECÇÃO DA AMOSTRA E METODOLOGIA

2.3.2 Metodologia adoptada

2.3.2.4 Análise de regressão

Devido à imposição de novos e mais onerosos limites do PEC, é expectável que as empresas tenham reagido no sentido de minimizar a despesa com este imposto. Contudo, este comportamento não é esperado nas empresas cuja estimativa do PEC atinja o limite máximo previsto no novo regime do PEC.

No sentido de testar a Hipótese 5, que prevê que perante esta alteração as empresas em 2002 manipularam as suas contas (v.g. por via dos proveitos) no sentido descendente, utiliza-se o seguinte modelo de regressão:

i i i i i i

i PEC LIM LnA LIM TIM

AD =

β

0+

β

1 +

β

2 +

β

3 +

β

4 * +

ε

Em que:

AD = Accruals discricionários estimados;

PEC = Estimativa do pagamento especial por conta;

LIM = Variável dummy que toma o valor 1, se o PEC estimado é igual ou superior a

200.000€ e 0, se o PEC estimado se encontra no intervalo [1.250; 200.000[;

LnA = Logaritmo natural do activo; TIM

LIM * = Variável interactiva que resulta do produto das variáveis LIM e TIM;

ε

= Termo de perturbação;

i representa cada uma das empresas em análise em 2002.

Neste modelo utilizam-se os accruals discricionários (AD) que foram estimados a

partir do modelo de Jones modificado. A variável PEC é relativa à estimativa do pagamento especial por conta a realizar em 2003. Para a determinação desta variável é indispensável a informação relativa aos proveitos de 2002 e aos pagamentos por conta (PpC) efectuados no mesmo ano. Para a determinação dos pagamentos por conta de 2002, seria necessário conhecer o valor da colecta de 2001 deduzido das retenções na fonte, porém, não se dispõe desta última informação. Para ultrapassar esta limitação, admitiu-se que o valor da colecta não diferirá muito significativamente do IRC liquidado pelas empresas e, portanto, utilizou-se o valor do IRC de 2001 como proxy do valor da colecta.

Depois deste pressuposto foram estimados os pagamentos por conta de 2002 do seguinte modo:

Finalmente, os pagamentos especiais por conta a liquidar pela empresa em 2003 foram estimados como se segue.

2002 2002 2003

1

PROV

PpC

PEC

=

%

*

Em que: 2003

PEC

= Pagamento especial por conta a efectuar no exercício 2003;

2002

PROV

= Valor dos proveitos e ganhos do exercício 2002;

2002

PpC

= Estimativa do valor dos pagamentos por conta efectuados no ano de 2002.

A expectativa relativamente aos sinais dos coeficientes do modelo é a seguinte. Se as empresas manipularam os seus proveitos no sentido de minimizar a despesa com o PEC, espera-se encontrar uma relação significativa entre os accruals discricionários e o PEC. A

ideia subjacente a esta intuição é a de que as empresas com o intuito de minimizar esta despesa poderão ter diferido o reconhecimento de proveitos. Assim, o sinal do coeficiente desta variável prevê-se negativo. Relativamente ao coeficiente da variável LIM espera-se obter um sinal positivo, dado que as empresas com PEC igual ou superior ao limite máximo previsto não tenderão a manipular por via dos accruals com o intuito de

minimizar esta despesa. É possível que nestas empresas predominem outros incentivos, como o reforço do poder negocial junto de terceiros (v.g. instituições financeiras), daí conjecturar-se que estas empresas apresentem accruals discricionários mais elevados. A

variável interactiva LIM*TIM controla os incentivos predominantes nas empresas com altas taxas de imposto médias e cujo PEC excede o limite máximo dos 200.000€. Relativamente a estas empresas espera-se obter accruals discricionários no sentido

descendente, dado que o incentivo que predominará será o relativo à minimização do imposto sobre o rendimento. O sinal desta variável espera-se negativo. Finalmente, a

IRC2001*75% se volume de negócios 2001 < 498.797,90€

IRC2001*85% se volume de negócios 2001 > 498.797,90€

variável LnA controla a dimensão das empresas, não se prevendo qualquer sinal para esta variável.

A comprovação da robustez dos resultados obtidos no modelo inicial impõe-se, pelo que são desenvolvidos e testados dois modelos de regressão alternativos (MA1 e MA2).

Com efeito, como o objectivo principal é testar a medida de manipulação utilizada na regressão inicial ambos os modelos alternativos têm as mesmas variáveis independentes da regressão inicial, diferindo apenas quanto à variável dependente. O MA1 tem a seguinte

estrutura: i i i i i i

i PEC LIM LnA LIM TIM

AD =

β

0 +

β

1 +

β

2 +

β

3 +

β

4 * +

ε

(MA1)

Neste modelo de regressão a variável dependente AD consiste no valor absoluto dos accruals discricionários estimados pelo modelo de Jones modificado. A utilização desta

variável como proxy da manipulação é utilizada por Haw, Hu, Hwang e Wu (2004), bem

como noutros estudos com importante impacto na literatura sobre a MR, tais como Warfield, Wild e Wild (1995), Klein (2002) e Frankel, Johnson e Nelson (2002) e outros10. A variável AD tem além do mais a virtuosidade de captar o efeito líquido de todas as

escolhas contabilísticas, isto é, da manipulação no sentido ascendente e descendente. O segundo modelo alternativo apresenta-se de seguida.

i i i i i i

i PEC LIM LnA LIM TIM

AT =

β

+

β

+

β

+

β

+

β

+

ε

∆ 0 1 2 3 4 * (MA2)

Em DeAngelo (1986) é utilizada uma proxy para comprovar a existência de MR que

consiste em considerar o ano anterior (estimation period) àquele em que se admite a

hipótese da existência de MR (event period) como tendo os accruals normais isentos de

manipulação. 1 − = t t AT AND Em que:

AND = Accruals não discricionários;

AT = Accruals totais.

Admite-se que, entre 2001 e 2002, além da referida modificação do regime do PEC, não ocorreram alterações significativas na envolvente fiscal, legal e económica que

pudessem incentivar uma manipulação mais agressiva ou uma alteração significativa do padrão de manipulação. Com efeito, o ano de 2001 é tomado como o ano padrão

(estimation period) relativamente ao qual se considera estar perante uma situação de

ausência de manipulação induzida por razões de economia da despesa do PEC11. Dada a alteração ocorrida no regime do PEC considera-se o ano 2002 como event period,

relativamente ao qual se espera verificar uma alteração no nível de manipulação. Assim, a variável dependente, tomada como proxy da manipulação, foi determinada através da

diferença (valor absoluto) entre os accruals totais de 2001 e 2002.

A expectativa relativamente aos sinais dos coeficientes que a seguir se descreve é semelhante para ambos os modelos de regressão alternativos. Relativamente à variável PEC prevê-se que o sinal do coeficiente seja positivo, na medida em que se esperam, em termos absolutos, maiores níveis de manipulação para as empresas com valores de PEC mais elevados. A variável dummy LIM controla as empresas para as quais não é expectável

existirem incentivos decorrentes da alteração do PEC. Para estas empresas o incentivo predominante será diferente do relativo à minimização do PEC. Embora o sentido da manipulação seja distinto, é expectável que o coeficiente da variável LIM seja positivo. A variável LIM não assume nos modelos alternativos a importância que adquire no modelo inicial, dado que a análise dos valores absolutos não permite distinguir claramente o sentido da manipulação. Porém, a variável interactiva é particularmente interessante na medida em que permitirá controlar com mais acuidade o principal incentivo com que se defrontam as empresas cuja estimativa do PEC atinge o limite máximo. Com efeito, para as empresas com elevada TIM e com PEC maior ou igual a 200.000€ espera-se obter menores

accruals discricionários do que para as restantes empresas, dado que aquelas tenderão a

manipular no sentido de minimizar o imposto sobre o rendimento não manipulando, tanto como as outras, no sentido ascendente. Relativamente à variável LnA não se prevê qualquer sinal para o seu coeficiente.

11

Tal como já se referiu, antes da alteração introduzida na lei do Orçamento de Estado de 2003 o regime do PEC previa o pagamento de uma colecta mínima cujos limites eram muito pouco significativos, pelo que não é expectável que as empresas tenham reagido com o intuito de minimizar a despesa com o PEC nos anos anteriores àquela alteração.