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5. RESULTADOS 1 Participantes

5.6 Análise dietética

O perfil dietético dos voluntários antes, durante e após a intervenção de treinamento, representado na Tabela 4, mostrou que não houve diferença significativa no percentual de Carboidratos, proteínas e lipídeos consumidos ao longo de todo o estudo.

Tabela 4. Análise dietética dos grupos PE, TR e CO no decorrer do período de

intervenção, baseada no consumo de carboidratos, proteínas e lipídeos.

Grupo PE Grupo TR Grupo CO

Carboidratos (%) Pré 51,1 ± 4,6 50,1 ± 8,5 48,2 ± 5,3 Intra 44,9 ± 4,4 42,4 ± 5,8 44,6 ± 7,5 Pós 42,8 ± 3,4 46,1 ± 3,7 48,4 ± 3,2 Proteínas (%) Pré 22,5 ± 2,7 21,3 ± 1,9 19,8 ± 1,6 Intra 23,0 ± 2,6 26,7 ± 0,7 20,8 ± 1,8 Pós 27,0 ± 3,2 18,2 ± 1,5 18,5 ± 0,8 Lipídeos (%) Pré 26,3 ± 2,6 28,6 ± 3,2 31,1 ± 2,7 Intra 32,1 ± 2,9 30,3 ± 2,3 32,7 ± 3,4 Pós 29,2 ± 2,0 33,8 ± 2,7 32,6 ± 1,7

PE = Pré-exaustão; TR = Tradicional; CO = Controle. Não houve diferença entre os grupos.

6. DISCUSSÃO

Este estudo comparou os efeitos de dois programas de treinamento de força – um deles realizado de forma tradicional e o outro, com o emprego do método Pré-exaustão – sobre a força dinâmica máxima (extensão de joelho em cadeira extensora e no leg press 45°), bem como sobre a hipertrofia muscular não uniforme e a composição corporal em homens jovens.

Os resultados mostraram que ambos os protocolos de treinamento geraram hipertrofia, com um aumento na espessura dos grupos musculares envolvidos, em proporções longitudinais distintas. Para os dois grupos submetidos a treinamento, os músculos reto femoral e vasto lateral apresentaram diferenças significativas nas porções proximais, enquanto que o vasto medial apresentou um aumento de espessura tanto na porção proximal como distal. Excepcionalmente, o grupo submetido ao protocolo de Pré-exaustão apresentou diferença de hipertrofia na porção distal do músculo reto femoral, em relação ao grupo não treinado. Também foi observada uma hipertrofia, ainda que de menor magnitude, na porção proximal do reto femoral nos indivíduos não expostos aos treinamentos. Os sujeitos submetidos aos protocolos de treinamento obtiveram um aumento de massa livre de gordura, tanto em corpo total, quanto em membros inferiores, isoladamente, ao contrário dos indivíduos que permaneceram inativos. Quanto à força dinâmica máxima, os grupos treinados apresentaram um aumento significativamente maior em ambos os exercícios testados, quando comparados aos indivídios não treinados, e o grupo que realizou a Pré-exaustão obteve um aumento ainda mais expressivo no teste de 1RM em cadeira extensora. A partir da sexta, até a nona (e última) semana, os sujeitos não submetidos ao protocolo Pré- exaustão alcançaram um volume total de treinamento significativamente maior, em relação aos que executaram o exercício exaustivo.

Os resultados corroboraram, em parte, com a hipótese elaborada. Entretanto, acreditava- se que as alterações referentes à composição corporal, à hipertrofia muscular e à força dinâmica máxima apresentariam magnitudes amplamente distintas, para os diferentes tipos de treinamento, em razão da suposta potencialização na ativação das fibras musculares do tipo II, provocada pelo estado de hipóxia alcançado com a execução do exercício pré-exaustivo, quando a falha muscular momentânea foi atingida. Era esperado que as alterações morfológicas segmentares de MMII, obtidas com aplicação do método Pré-exaustão, fossem suficientes para superar aquelas decorrentes do treinamento de força tradicional.

Poucos estudos na literatura atual testaram hipóteses de Pré-exaustão para avaliar os seus efeitos crônicos. Fisher et al. (2014), por exemplo, não verificaram diferenças significativas para massa corporal, massa magra e massa gorda; tampouco para o aumento de força, tanto nos exercícios isolados, utilizados na Pré-exaustão, quanto nos multiarticulares, entre indivíduos que realizaram ou não ao método. No entanto, quando comparados os dados de composição corporal daquele estudo aos que ora apresentamos, observa-se uma maior magnitude nos nossos resultados e essa discrepância pode ser justificada pela utilização de recursos de alta fidedignidade – uma vez que o DEXA é considerado um intrumento padrão-ouro para a avaliação da composição corporal; pela utilização de testes de 1RM, para a aferição da força dinâmica máxima; pelo controle do consumo alimentar dos sujeitos, participantes do estudo; bem como pela amostra, composta exclusivamente por homens. É importante salientar que, se utilizássemos os parâmetros sugeridos por Fisher et al. (2014) para a comparação dos tamanhos do efeito, observaríamos classificações ainda mais relevantes para os nossos resultados. Aguiar et al. (2015), fugindo do modelo inicialmente proposto para Pré-exaustão, utilizaram um mesmo movimento isolado (cadeira extensora) como estratégia de Pré-exastão e como exercício subsequente, com 30 segundos de repouso entre ambos, para concluir que, mesmo com a utilização somente de exercícios isolados, o aumento da força dinâmica máxima (1RM em cadeira extensora), da área de secção transversal (avaliada com o auxílio de ressonância magnética), da resistência e da eficiência muscular do quadríceps foi significativamente maior com a inclusão da Pré-exaustão, realizada com carga equivalente a 20% de 1RM, quando comparada a um programa de treinamento de força denominado tradicional, de alta intensidade. Apesar das diferenças metodológicas, os resultados obtidos por Aguiar et al. (2015) se assemelham aos que apresentamos, quanto ao maior aumento de força dinâmica máxima exibido pelo grupo submetido à Pré-exaustão.

A falha muscular momentânea, alcançada em todas as séries dos exercícios executados durante os programas de treinamento propostos, incluindo o exaustivo, é indicada para que o recrutamento muscular completo e uma maior ativação de fibras musuclares do tipo II sejam atingidos, resultando em adaptações importantes na força e na composição corporal (Fisher et al. 2014; Fisher et al. 2011). Este é o primeiro estudo a promover um modelo de treino baseado na sequência de falhas musculares momentâneas, obtidas sucessivamente (em série) em um exercício isolado e em um multiarticular, executados com baixa e alta carga, respectivamente.

Essa providência seria imprescindível para que a hipótese clássica do método Pré-exaustão fosse testada (CARPINELI, 2010).

De acordo com o conceito original do método Pré-exaustão (Jones 1970), em exercícios multiarticulares, a falência precoce de grupos musculares ditos mais fracos (“elos frágeis”) prejudicaria, ou até mesmo impediria o exaurimento de músculos mais fortes, ao abreviar o recrutamento de unidades motoras nestes grupos, ainda que atingida a falha muscular momentânea no exercício. Portanto, a exaustão prévia, especialmente dos músculos do quadríceps na cadeira extensora, seguida da execução do leg press 45°, promoveria um recrutamento sucessivo de unidades motoras do próprio quadríceps – iniciado desde o exercício exaustivo, ainda que realizado em baixa intensidade (C. J. Mitchell et al. 2012) – aumentando, como consequência, a demanda sobre outros músculos sinergistas, a exemplo do glúteo máximo, gastrocnêmio, sóleo, músculos do complexo adutor de quadril (Augustsson et al. 2003), além de isquiotibiais. A composição dessas estruturas foi contemplada na análise seguimentar (membros inferiores), realizada com o auxíllio da absorciometria de duplo feixe, cujos resultados retrataram um aumento significativo de massa livre de gordura decorrente dos programas de treinamento realizados.

As intensidades e os intervalos de repouso adotados para ambas as condições de treino na execução do leg press foram os mesmos – seguindo um protocolo tradicional de treinamento de força com ênfase em hipertrofia muscular (American College of Sports Medicine 2009). Entretanto, ao final do programa, foi observado que o número de repetições executadas neste exercício foi consideravelmente menor para o grupo submetido à Pré-exaustão, em relação ao treinamento tradicional, a exemplo do que fora observado por Augustsson et al. (2003); Soares et al. (2016); Gentil et al. (2007); Brennecke et al. (2009).

O volume total de treinamento de ambos os grupos não foi equalizado para que as reais circunstâncias de uma sessão de treino fossem preservadas. O monitoramento do LOAD (número de repetições X carga utilizada no exercício), registrado em todas as sessões de treinamento, mostrou que o grupo submetido à Pré-exaustão realizou menos trabalho do que o Tradicional, mesmo considerando a série adicional de exercício exaustivo, executado na cadeira extensora pelo primeiro grupo. O menor volume total de treinamento obtido pelo grupo que realizou a Pré-exaustão foi influenciado pelo menor desempenho alcançado na execução do leg press 45°. Apesar do número elevado de repetições realizadas na cadeira extensora, para que a falha muscular momentânea fosse obtida, a baixa carga utilizada no mesmo exercício resultou

em um LOAD reduzido, insuficiente para compensar o decréscimo de repetições totais realizadas no leg press 45 após a Pré-exaustão. Não por acaso, Jones (1970) admite a redução da carga habitual para a execução de um exercício multiarticular, após a Pré-exaustão, exatamente para que um número razoável de repetições seja alcançado. Nesse contexto, é possível inferir que o menor LOAD obtido pelo grupo submetido à Pré-exaustão foi influenciado principalmente pela fadiga decorrente do exercício exaustivo executado ≤ 10 segundos antes da primeira série de leg press 45°.

A força dinâmica máxima não apresentou relação direta com o LOAD. Para a extensão de joelhos na cadeira extensora, a prática do exercício no início, e em todas as sessões de treino, justifica a maior magnitude do tamanho do efeito observado para os ganhos de força obtidos pelo grupo submetido à Pré-exaustão, no mesmo exercício especificamente. A ausência de diferença entre as forças máximas apresentadas pelos grupos treinados, no exercício leg press 45°, sugere que o nível de esforço, e não o número de repetições completas, foi o principal fator de recrutamento de unidades motoras, com influência direta nos ganhos de força muscular (C. J. Mitchell et al. 2012; Carpinelli 2013). Este achado demonstra que é possível alcançar níveis semelhantes de força dinâmica máxima em exercícios multiarticulares com menor volume total de treinamento, com o uso da Pré-exaustão.

Apesar da referida diferença do volume total de treinamento, é importante ressaltar, a partir de uma análise clínica, que os ganhos de massa livre de gordura em membros inferiores também foram semelhantes em ambos os grupos treinados. Estes resultados preliminares , extraídos da análise seguimentar do DEXA, sugerem – mas não evidenciam – processos similares de hipertrofia muscular de membros inferiores nos grupos submetidos ao treinamento. Os resultados referentes à hipertrofia muscular apontam para um processo de alteração não uniforme da espessura dos músculos do quadríceps, tanto na perspectiva inter, quanto intramuscular. As modificações ocorridas em porções distintas (proximal e distal) de um mesmo músculo, não apresentaram proporções homogêneas; tampouco as alterações verificadas nos músculos que compõem o quadríceps femoral seguiram uma mesma lógica. Esses achados reforçam a proposição levantada por Ema et al. (2013), quando os autores sustentaram que as mudanças da arquitetura muscular observadas em um determinado músculo, ou mesmo em uma determinada região, não são suficientes para representar o comportamento de todo o grupo muscular (quadríceps, por exemplo), sugerindo a necessidade de considerar-se as alterações

intra e intermusculares, para avaliar os efeitos de um treinamento; ou, ainda, a possibilidade de selecionar diferentes estratégias de treinamento visando modificações distintas da arquitetura muscular (Blazevich et al. 2007; Jacob E. Earp et al. 2015).

Chama a atenção o aumento significativo da porção distal do músculo reto femoral (RF- 50%) para o grupo PE – com um tamanho de efeito moderado – tanto em relação ao fator tempo, quanto em comparação ao grupo CO, apesar de não existir diferença para o grupo TR. Esse comportamento reforça a tendência de hipertrofia diferenciada para o músculo biarticular do quadríceps, em relação aos monoarticulares, possivelmente decorrente da maior ativação do reto femoral, comparado aos vastos, na cadeira extensora(R. F. Escamilla et al. 1998); bem como, da predominância de fibras musculares do tipo II no RF em relação aos vastos(Jacob E. Earp et al. 2015). A tendência de aumento não uniforme do músculo reto femoral, mais relevante na porção distal, também pode estar relacionado a diferenças regionais – intramusculares – de ativação, decorrentes do exercício prescrito (Wakahara et al. 2013). Akima et al. (2004) observaram uma maior ativação na região distal do RF, em relação à proximal, durante a extensão de joelho realizada em cadeira isocinética. Embora o nosso estudo não apresente dados referentes a ativações regionais dos músculos do quadríceps durante a execução dos exercícios utilizados ao longo do período experimental, as diferenças relatadas em outras investigações, quanto à ativação intra e intermuscular do reto femoral durante a extensão isolada de joelho, pode explicar o comportamento diferenciado do RF-50% apresentado pelo grupo submetido ao exercício exaustivo em cadeira extensora.

Os aumentos observado no vasto lateral (proximal) e no vasto medial (proximal e distal), em ambos os grupos treinados, refletem as adaptações decorrentes do programa de treinamento, e o curto período de intervenção (9 semanas) pode justificar a ausência de diferenças significativas intra e inter-grupos. Uma tendência de maior hipertrofia no sentido proximal- distal foi observado por Narici et al. (1989), quando os autores relataram um pico na área da seção transversal do quadríceps femoral, na porção correspondente a 4/10 do comprimento do fêmur (trocânter maior / joelho) diminuindo nas regiões distais, quando a medição se aproxima do joelho. Em relação ao músculo vasto lateral, as porções correspondentes às utilizadas no nosso estudo apresentaram comportamento similar, visto que foram observadas diferenças significativas no aumento das regiões proximais, mas não das distais. Ainda no estudo de Narici et al. (1989), o músculo vasto medial apresentou um pico de área de secção transversal a 8/10 do cumprimento do fêmur, enquanto no vasto lateral foi observado maior aumento a 4/10. Estas

medidas se aproximam das porções correspondentes a 55% - VL (vasto lateral proximal) e do ponto médio entre as duas medidas utilizadas para o vasto medial (15% e 35% - VM), o que sugere um comportamento similar dos nossos resultados, no que se refere à hipertrofia não uniforme dos vastos ao longo da sua extensão.

Somente o treinamento de força tradicional resultou em um aumento significativo na espessura de glúteo máximo, considerando o fator tempo – pré e pós-intervenção. Esse resultado vai de encontro à especulação proposta por Augustsson et al. (2003), quando os autores inferiram que a pré-exaustão de extensores de joelho – quadríceps – poderia aumentar a contribuição de músculos sinergistas, a exemplo do próprio glúteo máximo, para que a execução do exercício fosse mantida. O aumento da espessura do músculo glúteo máximo apenas para o grupo que não foi submetido à exaustão prévia do quadríceps pode ser justificada: uma vez que não foi realizada a extensão de quadril isolada – pré-exaustiva – o glúteo máximo se encontrava na mesma condição, para ambos os grupos, no momento em que as três séries de leg press 45° foram executadas. Nestas condições, o maior volume total de treinamento, obtido pelo grupo TR, influenciado pelo maior número de repetições realizadas no leg press 45°, interferiu diretamente na hipertrofia dos extensores de quadril, porquanto estes não foram exauridos previamente. O mesmo raciocínio não poderia ser aplicado aos músculos do quadríceps, já que, de acordo com a nossa hipótese, os extensores de joelho teriam iniciado a execução das séries de leg press 45° com uma fadiga considerável das fibras do tipo I, o que potencializaria o recrutamento das fibras do tipo II, mais suscetíveis ao processo de hipertrofia (Aguiar et al. 2015b; Brad J Schoenfeld 2013).

Convém registrar que, apesar da disposição das máquinas – cadeira extensora e leg press 45° – de maneira estratégica para permitir a troca imediata de um para o outro exercício, durante o período experimental, não foi possível obedecer o tempo médio indicado pelo próprio Jones (1970) para essa transição (≤ 2-3 s), o que sugere uma melhor análise da influência do tempo de transição sobre a eficácia do método, haja vista a dificuldade de sua aplicação sem o auxílio de equipamentos especializados (Carpinelli 2010; Fisher et al. 2014), não comuns em centros de treinamento.

7. CONCLUSÃO

O emprego da Pré-exaustão em um programa de treinamento de força destinado a indivíduos destreinados é uma estratégia útil e eficaz para o aumento da força dinâmica máxima, da hipertrofia muscular e da massa livre de gordura em membros inferiores, quando comparada a um programa de treinamento de força tradicional, no qual um maior volume total de treinamento é necessário para que os mesmos benefícios sejam alcançados.

Se a hipertrofia do quadríceps for o objetivo do praticante em um programa de treinamento de força, a pré-exaustão deste grupo muscular, em exercício isolado de baixa intensidade, é uma alternativa producente. Quando a hipertrofia dos extensores de quadril for prioridade, a pré-exaustão do quadríceps deve ser evitada para que um maior desempenho seja alcançado no exercício multiarticular e, como consequência, maiores níveis de crescimento sejam obtidos por aquele grupo muscular sinergista.

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