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PACIENTES E MÉTODOS

5.5 Identificação da melhor combinação de testes que discrimina as fases da doença

5.5.2 Análise discriminante

Foram analisados 193 dados de 31 pacientes em 8 períodos de tempo (meses 1, 2, 3, 4, 6, 8, 10 e 12 meses) primeiramente e a seguir utilizando os dados agrupados em 3 períodos. O grupo 1, infecção aguda, reúne os meses 1, 2 e 3; o grupo 2, infecção convalescente precoce, os meses 4, 6 e 8; e o grupo 3, infecção convalescente tardia, os meses 10 e 12.

Dos 15 testes estudados, treze foram usados na análise discriminante. Foram excluídos da análise por IFI para anticorpos IgG e IgM anti T. gondii, que não se mostraram significantes em distinguir a fase de infecção nas análises feitas pelas curvas ROC e pelos testes de correlação de Pearson, além de não mostrarem variação temporal nos testes de Tukey (TAB. 4 e 5; TAB. 26 e 27 do APÊNDICE D). Os resumos dos resultados da análise discriminante para vários modelos propostos (percentual de acerto da validação cruzada) podem ser observados nas Tabela 15 e Tabelas 32 a 39 (APÊNDICE D). A Tabela 16 mostra que a análise step wise

identificou a combinação de testes que produziu o melhor resultado, escolhendo 4 dentre os treze testes: avidez CF, IgM ELFA, avidez ELFA e IgG2 CF (modelo 4). Este modelo obteve em média 76,7% de acerto na classificação dos casos pertencentes ao grupo original e 75,6% (média) na validação cruzada. Apenas 1 caso sofreu reclassificação na validação cruzada, deslocando-se do grupo 2 para o grupo 3. O modelo mostrou ainda que 7/65 (10,8%) casos do grupo 1 e 11/49 (22,4%) do grupo 3 foram erroneamente classificados no grupo 2, ou seja, no grupo próximo ao de origem.

TABELA 15- Resultados da aplicação do modelo de análise discriminante para os 13 testes sorológicos anti- T. gondii com significância estatística, de acordo com os estágios de infecção

ELISA, ensaio imunoenzimático; ELFA, ensaio imunoenzimático fluorimétrico; IFI, imunofluorescência indireta, CF, citometria de fluxo; G1- Infecção aguda; G2- Infecção convalescente precoce; G3- Infecção convalescente tardia

TABELA 16- Resultados da análise discriminante (Step Wise) com quatro testes: avidez CF, IgM ELFA, avidez ELFA e IgG2 CF (Modelo 4b,c)

ELFA, ensaio imunoenzimático fluorimétrico; CF, citometria de fluxo; G1- Infecção aguda; G2- Infecção convalescente precoce; G3- Infecção convalescente tardia

a. A validação cruzada é realizada apenas para os casos contidos na análise. Na validação cruzada, cada caso é classificado pela função derivada de todos os casos, retirado aquele em questão.

b. 76,7% dos casos do grupo original foram corretamente classificados c. 75,6% dos casos foram corretamente classificados pela validação cruzada

A Tabela 17 apresenta os resultados da análise discriminante obtida com o modelo 4 pelo método step wise, em que foi excluída a IgG2, gerando o modelo 12. Este modelo, que excluiu a IgG2, mostra desempenho semelhante ao modelo 4.

TABELA 17- Resultados da análise discriminante com três testes: avidez CF, IgM ELFA e avidez ELFA (Modelo 12b,c)

ELFA, ensaio imunoenzimático fluorimétrico; CF, citometria de fluxo; G1- Infecção aguda; G2- Infecção convalescente precoce; G3- Infecção convalescente tardia

a. A validação cruzada é realizada apenas para os casos contidos na análise. Na validação cruzada, cada caso é classificado pela função derivada de todos os casos, retirado aquele em questão.

b. 75,1% dos casos do grupo original foram corretamente classificados c. 75,1% dos casos foram corretamente classificados pela validação cruzada

6.DISCUSSÃO

Este estudo avaliou 72 pacientes, selecionando 32 que preencheram os critérios de infecção aguda por T. gondii e com disponibilidade de amostra de sangue dentro do primeiro trimestre. Esses pacientes foram acompanhados no período de um ano, tendo sido coletado sangue nos meses 1, 2, 3, 4, 6, 8, 10 e 12 após início dos sintomas. Apenas um paciente desistiu do estudo na quarta coleta, totalizando assim 31 pacientes no estudo.

Não foram encontrados estudos de imunodiagnóstico da toxoplasmose aguda com semelhante número de pacientes e coletas programadas num período de seguimento de 12 meses. Como também, não foram encontrados estudos utilizando a citometria de fluxo para determinação da avidez e das subclasses de IgG.

Os soros foram testados para IgG, IgM, IgA, avidez de IgG e subclasses de IgG anti-T.

gondii, utilizando-se diferentes técnicas, totalizando quinze resultados de cada

amostra.

Caracterização da coorte de pacientes

A distribuição da coorte quanto ao sexo mostrou predomínio de mulheres (58%). No Canadá, Bowie et al. (1997) relataram importante surto de toxoplasmose, sendo 78 mulheres (78%) entre os 100 casos que preencheram os critérios de definição de doença aguda. Embora alguns estudos epidemiológicos em populações não demonstrem diferença estatística na prevalência da infecção entre homens e mulheres (Cavalcante et al., 2006), outros apontam predomínio entre indivíduos do sexo masculino (Bahia-Oliveira et al., 2003, Jones et al., 2006). A fonte de infecção exerce papel determinante na distribuição entre os sexos.

Com relação à presença de sinais e sintomas, o de maior freqüência foi a linfadenopatia, presenciada em todos os pacientes, seguido de febre (90,3%), adinamia/mal estar (67,7%) e cefaléia (54,8%). Devido à gravidade da apresentação inicial da doença não diagnosticada, três pacientes necessitaram internação hospitalar. A abundância de sintomas concomitantes na coorte estudada pode ser explicada pelo critério clínico de inclusão, que foi a presença de no mínimo dois sinais/sintomas compatíveis com toxoplasmose aguda. Descrevendo aspectos clínicos e sorológicos de 120 casos de linfadenopatia, Durlach et al. (2003) relataram a ocorrência de astenia (69%), febre (45%) e de outros sintomas não quantificados como cefaléia, mialgia e artralgia. No surto relatado por Bowie et al. (1997), os 100

indivíduos com diagnóstico de toxoplasmose aguda corresponderiam a 1,3 a 3,6% dos 2894 a 7718 casos estimados de infecção. Foram descritos os seguintes sinais e sintomas: linfadenopatia (51%), doença ocular (19%), e outros compatíveis com toxoplasmose como febre, cefaléia e mal estar/cansaço (11%). Dezoito indivíduos destes 100 não apresentaram sintomas. Embora não tenha sido objetivo do estudo, o seguimento dos pacientes durante 1 ano, permitiu observar que a adinamia perdurou por vários meses em mais da metade dos indivíduos acompanhados e tornou um dos principais incômodos relatados durante os contatos.

No presente estudo, a doença ocular foi diagnostica em 2 dos 31 casos (6,5%) de toxoplasmose aguda, um dos quais assintomático. Durante o surto de toxoplasmose ocorrido no Canadá, 20 casos de coriorretinite foram relatados (Burnett et al., 1998), reforçando a importância da realização da fundoscopia em todos os casos de toxoplasmose aguda. Estudos brasileiros relatam alta prevalência de coriorretinite em nosso país e levantam a possibilidade de que cepas de T. gondii encontradas no Brasil sejam mais propensas a causar doença ocular quando comparadas àquelas identificadas nos países europeus (Glasner et al., 1992). Quanto à época de contágio, acredita-se que tanto a toxoplasmose adquirida quanto a congênita estejam implicadas na gênese dos casos de coriorretinite diagnosticados na idade adulta (Glasner et al., 1992; Gilbert & Stanford, 2000).

6.1 Correlação dos resultados de IgG, IgM e avidez de IgG entre as diferentes