• Nenhum resultado encontrado

O advento dos meios de comunicação e, sobretudo, a discursividade da mídia acerca dos fatos que circulam na sociedade ganharam grande respaldo no campo da AD. Cada vez mais, é comum a presença de produções acadêmicas brasileiras nesse campo.

Face a essa discussão, já que se trata da relação da AD e mídia cabe ressaltar que a contribuição de Michel Pêchuex é essencial para a disseminação desse campo de pesquisa na AD no Brasil. Consideravelmente, na esfera brasileira, os estudos nessa área vêm ganhando espaço desse o final dos anos de 1970, consolidando cada vez mais um vasto campo de investigação que relaciona os estudos linguísticos com as problemáticas sociais da história, atesta Gregolin (2003). No que concerne à relevância dessa abordagem, Gregolin (2007) nos apresenta que a posição dos pesquisadores ao colocarem como tarefa a problematização das bases epistemológicas, possibilitou a percepção de que o discurso é um lugar de enfretamento teórico-metodológico.

Frente a isso, outras referências teóricas são também crucias para o fortalecimento da investidura pêcheutiana na AD e que, consequentemente, vão influenciar as suas propostas, tais como: Louis Althusser (releitura marxista e a discussão da ideologia e Aparelhos ideológicos

5 A evidência do sentido – a que faz com que uma palavra designe uma coisa – apaga o seu material, isto é, faz ver como transparente aquilo que se constitui como pela remissão a um conjunto de FDs que funcionam como uma dominante. [...]. (ORLANDI, 2009, p.46).

31 do Estado), Foucault (a noção de formação discursiva) e Lacan (leitura das teses de Freud sobre o inconsciente). Nos ressalta Gregolin (2007, p.14), “a natureza complexa do objeto discurso – no qual confluem a língua, o sujeito e a história – exigiu que Michel Pêcheux propusesse a constituição de um campo em que se cruzam várias teorias [...]”.

Tendo isso em mente, percebemos que a AD se interessa cada vez mais em focar na mídia como objeto de investigação. A relação entre os estudos midiáticos e a análise do discurso proporciona uma riqueza para os dois campos, uma vez que se complementam pelo fato de possuírem o mesmo objeto: as produções sociais de sentidos. Assim, “os estudos sobre o discurso da mídia focalizam o modo como nela são produzidos saberes sobre o corpo, a política, [...], a cultura etc. Os autores brasileiros procuram descontruir as evidências do sentido que as mensagens midiáticas transmitem [...]”. (BONÁCIO, 2009, p.73).

A relação discurso e mídia tem ocupado um espaço relevante ao olhar do analista do discurso. Essa prática é constante e surge no analista do discurso como maneira de compreender como a mídia discursivisa os diversos temas sociais e, consequentemente, observar como os efeitos de sentido são materializados nos textos que transitam na esfera social.

Pontua Gregolin (2007), que a análise do discurso é uma área de estudo que proporciona ferramentas conceituais para a análise dos acontecimentos discursivos, ao tempo em que toma os efeitos de sentido como objeto de estudo. Nessa construção, os sujeitos sociais que realizam e produzem esses efeitos de sentidos são tomados pela materialidade da linguagem e pela história. Por isso, nas palavras da autora, o campo da AD e da mídia estabelecem um diálogo rico, com o intuito de compreender o papel dos discursos na produção de identidades na sociedade.

As contribuições desses teóricos possibilitaram o cruzamento das diversas áreas do conhecimento e, principalmente, o estudo da relação sujeito, linguagem, discurso e história. Sendo assim, nascia a AD — campo transdisciplinar —, a disciplina do entremeio com o objetivo de contestar as ideias do formalismo francês estruturalista, vigente no século XIX.

Consoante Bonácio (2009), ao se ater às palavras de Navarro (2006), o analista ao trabalhar com a mídia deve enxergá-la como um campo que permite a produtividade e a circulação de sentidos, além de nos apresentar que a ocupação com os discursos veiculados nos meios de comunicação resulta numa aventura, em que o analista do discurso se deparará, visto que encontrará desafios ao trabalhar com os discursos verbais e imagéticos, além dos mecanismos de produção e circulação de sentidos. Desta forma, Gregolin (2003) ressalta que

32 quando o analista adota o ponto de vista da AD, ele focaliza os acontecimentos discursivos, tendo como base a ideia de que existe um real da língua e um real da história, e diante disso cabe ao analista de discurso entender a relação entre essas duas ordens, visto que o sentido é construído através da relação entre sujeitos históricos e que por causa desse fator, a interpretação se origina a partir da relação do homem com a língua e a história.

É também fundamental ao analista a explicação do objeto de investigação, tendo como base a delimitação das categorias da AD para o corpus a ser analisado, ou ainda para melhor compreensão dos aspectos imagéticos e linguísticos ocasionados pelo discurso em questão, englobar outros conceitos, se necessário.

Na visão de Gregolin (2003), a AD tem como proposta descrever os pontos articulados entre a materialidade dos enunciados, assim como seu agrupamento em discursos, sua inserção em formações discursivas, sua circulação através de práticas simbólicas, seu controle por princípios relacionados ao poder e sua inserção em um arquivo histórico.

Diante disso, os discursos proferidos na mídia e analisados por meio do respaldo teórico da AD brasileira, nos possibilita observar como a mídia interfere na produção e circulação de sentidos, além de nos apresentar como as práticas discursivas são transformadas pelos meios de comunicação de massa por meio da prática de espetacularização dos fatos. Logo, “[...] A realidade surge no espetáculo, e o espetáculo é real. Essa alienação recíproca é a essência e a base da sociedade existente”. (DEBROD, 1997, p.15 apud GREGOLIN, 2003, p.9).