• Nenhum resultado encontrado

discussão e interpretação dos resultados

4. Análise, discussão e interpretação dos resultados

Este é sem dúvida um ponto fulcral de todo o trabalho até então desenvolvido, pois é nesta etapa que serão analisados e interpretados os dados obtidos, interpolando-os com os dados da literatura mais pertinentes, de modo a conseguirmos dar resposta aos objectivos inicialmente estipulados.

Após a análise dos dados recolhidos, parece existir um consenso entre todos os entrevistados relativamente à presença de Estética ou elementos da Estética no Desporto, o que vai de acordo com aquilo que foi evidenciado pela literatura. Apesar de ser uma área de estudo recente, já em 1938, num trabalho intitulado Desporto, Jogo e Arte, Lima sustentava que o Desporto pode suscitar profundas emoções Estéticas e na realidade, todos os atletas entrevistados relacionaram Desporto e Estética identificando no Desporto elementos de natureza Estética.

“(…) eu acho que mais ou menos todos os Desportos têm o seu cunho de estético, uns mais que outros, mas acho que em todos eles nós podemos encontrar um bocadinho de qualquer coisa que pode ser definido pela Estética.” (Entrevista 5)

“Em todos os Desportos há Estética.” (Entrevista 6)

“Todo o movimento envolve uma componente plástica e portanto a partir daí isso liga directamente o Desporto à Estética porque o Desporto na generalidade é movimento, na maior parte dos casos é movimento e portanto inclui uma componente estética muito grande (…)”. (Entrevista 8)

“Todos têm a sua Estética, a sua graciosidade também não é.” (Entrevista 9)

“Eu acho que há, cada Desporto tem a sua Estética muito própria, sem dúvida nenhuma.” (Entrevista 11)

Recorrendo à literatura, encontramos Hyland (1990), que sustenta que a maioria dos filósofos do Desporto concordam com a existência de uma

poderosa componente estética na actividade desportiva e também Witt (1989) que é um outro autor que pensa que o mundo do Desporto é um mundo de valores estéticos. Witt (1989) menciona um aspecto comum a todos os Desportos, que respeita à possibilidade de constituírem fonte de prazer estético – em todos os tipos de Desporto e todas as situações desportivas podem constituir-se fonte de um prazer estético. Do mesmo modo argumenta Fisher (1972, cit. por Osterhoudt, 1991), para quem o Desporto constitui uma fonte muito rica de experiência estética e Lovisolo (1997), que defende que o Desporto evoca a presença de elementos estéticos.

Relativamente a este ponto parece inegável para todos os entrevistados, a presença de Estética no Desporto, facto que vai de encontro ao evidenciado na literatura.

Quando falamos em Desporto referimo-nos, naturalmente, à pluralidade de Desportos, sendo que quando os inquiridos foram directamente confrontados com a questão da presença da Estética nas diversas modalidades desportivas, apenas um refutou esta ideia. Todos os outros foram unânimes em aceitar a presença de Estética em todas as modalidades, salientando porém que as mesmas possuem Estéticas diferenciadas e muito próprias.

“E por isso é que se consegue entender que as diferentes modalidades desportivas com imagens estéticas tão diferentes, possam cada uma delas tocar em pessoas também tão diferentes e tão abrangentes. (…) “(…) há Desportos aparentemente mais estéticos (…)” (…) “Todas as modalidades desportivas têm uma estética própria e uma beleza incontestável” (Entrevista 1).

“Nenhuma modalidade desportiva, desde o hóquei em campo ao hóquei em patins, ao voleibol, à natação ou ao remo, todas elas têm gestos de uma beleza extraordinária e na qual logicamente se inclui a globalidade e a generalidade do conceito da Estética.” (Entrevista 2)

“Portanto eu tenho muita dificuldade, reconheço com facilidade que por mais aproximações que se queiram fazer, as actividades são todas diversas e

ainda bem que é assim e dentro de cada actividade é possível reconhecer concepções diversas.” (Entrevista 3)

Evidenciando os dados da literatura, também Kupfer (1988) refere que não é apropriado esperar a mesma riqueza Estética de diferentes formas ou estilos artísticos. Assim Kupfer (1988) realça que a apreciação Estética de um Desporto em particular tem que ser adequada às possibilidades Estéticas desse Desporto.

“Eu costumo dizer que não há um Desporto melhor do que outro, não há uma modalidade melhor do que outra, embora eu neste contexto e no contexto que eu acabei há bocado de falar sobre a Estética, eu entendo que há alguns Desportos que sejam mais completos do que outros e por isso, onde estes graus de liberdade, onde a expressão do que é, do ponto de vista antropológico, possa ser considerado como mais especificamente humano, se pode verificar as condições, e por exemplo, concretamente o ser humano só adquire as características humanas porque vive um contexto social.” (Entrevista 4)

“É por isso que eu digo que não há um Desporto que seja melhor que o outro. Há, eu há bocado quando fiz a diferença entre desportos individuais e desportos colectivos, há provavelmente uns desportos que são mais ricos do que outros e potencializam mais a expressão daquilo que na essência é o ser humano ou deve ser o ser humano, mas não há um desporto melhor que outro, cada um na sua modalidade pode expressar-se de modo cada vez mais estético. (Entrevista 4)

“Eu penso que não existe nenhuma modalidade desportiva que não tenha a sua expressão Estética.” (…) “Qualquer classificação entre desportos estéticos e não estéticos para mim é fútil e não corresponde à realidade daquilo que eu penso que é a Estética do Desporto.” (Entrevista 6)

Wertz (1988) acrescenta que é necessário encontrar nas acções características de determinadas actividades, marcas, sinais identificadores, e

não ficarmos apenas pelo contexto. A essência dos movimentos é definida pelo contexto normal das suas ocorrências. Argumenta ainda que determinar o tipo de acção é necessário mais do que a localização ou a envolvência.

“(…) cada Desporto depois explora ou sobrevaloriza mais uns aspectos do que outros(…)” (Entrevista. 11).

Associado a isto encontra-se nomeadamente o facto das diferentes modalidades possuírem objectivos distintos e numas prevalecer mais o lado artístico do que noutras.

“Provavelmente os desportos, há desportos com uma tendência, um contexto mais artístico que outros e nesses, estou a pensar por exemplo no caso da ginástica, mais da ginástica feminina, por exemplo, mas da ginástica em geral, todos esses elementos estéticos estão lá muito mais visíveis, mas mesmo outros desportos, a patinagem no gelo, por exemplo, e outros desportos têm essa componente estética muito evidente. Agora há outros desportos em que a Estética não é tão importante, não é aquilo que prevalece no objectivo do Desporto, são desportos em que a Estética está intrínseca, está latente.” (Entrevista 8).

“Em todos os desportos. Umas, e quando há bocado falaste na questão da ginástica artística, da patinagem, da natação sincronizada e aí, essas modalidades exigem mais uma performance artística, do que propriamente Estética, é mais artística, tem mais um vector artístico na performance dos atletas, eu ia a dizer das atletas, provavelmente é mais das atletas, mas dos atletas. Portanto há uma intenção artística na execução, o que não é o caso de um futebolista, ou de um andebolista, ou de um basquetebolista, ou de um atleta. Esses estão mais interessados na performance, no resultado do que propriamente no aspecto estético, o que não acontece nestas modalidades, aí é que está a diferença, a diferença é só essa. É a intenção artística que se põe

na execução ou a intenção na obtenção do resultado no objectivo do jogo que se pratica ou na modalidade que se pratica nas outras, mas de resto esteticamente, o corpo humano é estético por natureza, portanto está em todos os desportos.” (Entrevista 81)

Segundo Takács (1989), não há margem de dúvidas relativamente à existência de desportos possuidores de evidentes sinais formais de beleza, baseadas em valores externos, p.ex., um desporto pode ser bonito porque é espectacular, dinâmico, colorido; os fatos bonitos podem ser vistos; existem movimentos harmoniosos; porque é excitante, leve, intelectual, gracioso, etc. Estes sinais podem variar de diferentes maneiras de acordo com o gosto pessoal e a educação, e na forma como o observador apreende a harmonia corporal, as cores, beleza facial, sorriso, música, cenário, roupas, efeitos de luzes.

A existência de qualidades estéticas na realidade do Desporto é na generalidade e quase unanimemente aceite e até esperada. (Witt, 1989).

Deste modo, sendo nosso intuito reconhecer se os inquiridos recorriam a categorias estéticas para clarificarem a sua perspectiva sobre a temática em questão, pudemos verificar, após uma análise exaustiva dos dados obtidos, neste caso sob a forma de linguagem (discurso), que recorriam com alguma frequência a algumas categorias da Estética e foi-nos igualmente possível seriar algumas delas, que de algum modo sobressaíram, com maior ou menor grau de importância, no discurso deles.

Passamos agora à apresentação das categorias que se manifestaram mais relevantes.

4. 1) Beleza

Esta foi a categoria mais focada e mais evidenciada pelos entrevistados, o que não nos surpreende, visto que é comum recorrer-se à beleza como forma de descrever e clarificar o conceito de Estética do Desporto

Takács (1989) sustenta, contudo, que é necessário reflectir e analisar profundamente a Estética do Desporto, isto é, as qualidades estéticas associadas ao Desporto, o que implica uma análise centrada nas categorias estéticas, concentrando-nos acima de tudo na beleza.

Takács (1989) afirma ainda que quando se relacionam as expressões Desporto e Estética, imediatamente se pensa em desportos “bonitos”. Na sua opinião, a beleza é a qualidade estética mais difícil, contudo é aquela sobre a qual mais se opina e discute.

Essa associação entre os dois conceitos foi visível no discurso de uma grande parte dos entrevistados.

“(…) a Estética é qualquer coisa de bonito, que aos nossos olhos é bonito.” (…) “De acordo com a definição do próprio termo, a Estética está relacionada com algo que aos nossos olhos é belo, é bonito, é agradável, nos faz sentir bem, nos dá prazer ao olhar.” (Entrevista 1)

“(…) tudo isso são gestos que têm a ver e estão relacionados com a Estética, com a beleza do movimento(…)” (…) “Não há nenhuma modalidade desportiva, nenhuma actividade que as pessoas possam fazer em que os gestos fundamentais de cada uma dessas modalidades são gestos que se forem analisados ao pormenor são gestos de uma beleza e esteticamente muitíssimo perfeitos.” (…) “se nós analisarmos o gesto na forma como os músculos trabalham nas expressões faciais, na forma como as articulações se colocam em jogo, nós podemos ver em qualquer um dos gestos atitudes de uma rara beleza.” (Entrevista 2)

Também Patrício (1993), reconhecendo que o belo se manifesta na experiência sensível, afirma que a beleza é mais rica que a pura sensação, já que é ela que nos proporciona a presença do valor estético.

Ao longo das entrevistas foi evidente o recurso aos conceitos belo e beleza, como formas de explicitar e de relacionar com o termo Estética.

“Qualquer que seja a actividade desportiva, o que o individuo realiza e a forma como realiza, os movimentos que realiza, os movimentos são de tal maneira coordenados a nível motor e cerebral e central, que essa coordenação motora, a maneira como os executa, mesmo que seja um desporto aparentemente de uma agressividade brutal, podem-se tornar esteticamente perfeitos e de uma beleza incalculável.” (Entrevista 2)

“(…) a Estética acho eu que tem que ver com o belo.” (Entrevista 4)

“ A Estética no Desporto tem a ver com a Estética na vida, radica no desejo de fruirmos o belo através do Desporto.” (Entrevista 6)

“ (…) para mim, ou por ter praticado, acho que é um Desporto que transmite ate, é bonito e tem noções de Estética, quer dizer, as atitudes são bonitas.” (Entrevista 7)

“(…) qualquer modalidade tem aspectos estéticos e de beleza estética (…)” (Entrevista 8)

“Estética remete para o belo e para a harmonia (…)” (…) “(…) tudo conceitos que estão ligados à Estética, portanto remete-nos sempre para o belo (…)” (Entrevista 10)

Mas beleza é um conceito muito vago e difícil de descodificar. Na opinião de Takács (1989) a Estética do Desporto é facilmente associada a movimentos elegantes, ambientes agradáveis, desportistas bem vestidos, multidões de apoiantes vestidos de formas coloridas e outras situações similares., contudo é sua opinião também que beleza é a qualidade Estética mais difícil.

Por outro lado, concordamos com Porpino (2003) quando afirma que o ideal clássico de beleza não é exclusivo nem suficiente para envolver o

universo estético nos dias de hoje. É importante ressalvar que a Estética contemporânea já não se encontra aprisionada no conceito de “beleza”, ela já não tem como fulcro legitimador o “Belo” aclamado por Platão.

Tentaremos então descodificar um pouco esta categoria, guiando-nos naturalmente pelo discurso elaborado pelos entrevistados, o qual nos permitiu subdividir esta categoria em sub-categorias:

4.1.1) Perfeição

Perfeição encontra-se em nosso entender, muito ligada à beleza do movimento, pois são os gestos perfeitos os mais apreciados e aqueles que despertam em nós a fruição estética.

“Ora a Estética…o conceito de Estética, Estética acho eu que tem que ver com o belo. O belo tem que ver com o perfeito, então se juntarmos isto, se juntarmos estes conceitos com o conceito de Desporto, o Desporto procura através de uma actividade muito específica com um enquadramento muito especifico ter a noção de que o Desporto pode contribuir para a perfeição do ser humano, nas suas mais variadas vertentes.” (Entrevista 4)

A Perfeição aparece neste contexto, na Estética do Desporto, e na perspectiva dos entrevistados, como intimamente ligada à qualidade técnica.

Boxill (1988) refere que quando o corpo se move eficientemente, apresenta uma fluidez e graça que é a sua beleza. Desta ideia partilha uma entrevistada, para quem os indivíduos com mais qualidade técnica esteticamente demarcam-se de todos os outros.

“Os olhos com que nós olhamos para as técnicas de nado, para as técnicas de partir, para as técnicas de virar, têm de facto uma estética única. O que, na nossa perspectiva, distingue muitas vezes o campeão do não campeão, é precisamente um toque diferente que o faz chegar mais rápido à parede mas

que, também esteticamente é superior, porque ao nível da sua qualidade técnica, é de facto tão bom que esteticamente se demarca de todos os outros.” (Entrevista 1)

Kupfer (1988) por sua vez, refere que a actividade desportiva não é externamente definida pelo marcar pontos/ganhar, mas internamente definida pelo que é necessário para marcar pontos, pela maneira de jogar cujo desfecho é o marcar pontos.

Relativamente aos entrevistados, a qualidade técnica foi um conceito que marcou presença no discurso, naturalmente associada à perfeição, eficiência e como estimuladora e incrementadora da Estética.

“Isto é, valorizo o aspecto estético correlacionado com os aspectos técnicos e rentabilidade de um indivíduo e logicamente isso já aumenta, os indivíduos tecnicamente mais perfeitos, habilidosos em termos manuais e logicamente com a coordenação cerebral que os caracteriza, esteticamente é mais agradável de os observar em termos desportivos e são indivíduos que por exemplo dão maior rendimento desportivo aqueles que tecnicamente são mais perfeitos, esteticamente são “mais bonitos de observar”. (Entrevista 2)

“Valorização da Estética para mim, nesta área, Estética, beleza em termos de movimento, menos gestos parasitas, tecnicamente mais perfeitos, habilidades motoras muito mais bem conseguidas, mais bem treinadas nesses indivíduos.” (…) “Se o atleta for perfeito na forma como executa o gesto desportivo, esteticamente também será perfeito qualquer que seja a modalidade ou actividade desportiva.” (…) “(…)se nós analisarmos essas imagens, com cuidado, esteticamente algumas delas mostram alguns atletas extremamente perfeitos e imagens muitíssimo bonitas.” (Entrevista 2)

Parece-nos que esta associação é correcta, levando em consideração que a Estética está ligada às questões da sensorialidade e sensibilidade, a nossa fruição estética é muito maior quando visualizamos um movimento perfeito de

acordo com os seus padrões específicos, o qual provoca em nós maior regozijo e excitação.

“ (…) a procura dum caminho que nos conduza à exploração dessas características mais especificamente humanas e que nos vai distinguir dos outros seres, provavelmente é o caminho da Estética, é o caminho de encontrarmos o belo, o perfeito(…)” (Entrevista 4)

“E quando eu começo a correr num programa de treino de corrida, que visa por exemplo participar numa maratona, e eu começo a correr preso, cheio de sincinésias, cheio movimentos parasitas, bloqueado, com dificuldades respiratórias, estou ali num patamar protoestetico ou paraestetico, tem algo de anti estético porque tudo aquilo é feito em sacrifício, em expressão fechada. Depois com o treino eu vou começando a dominar o meu corpo, vou dominando a fluidez de movimento, movimentos mais fluidos, mais soltos, mais económicos, começo a ganhar souplesse no movimento, começo a ter capacidade não só fisiológica, como mecânica como Estética, começo eu a adaptar o gesto à minha própria funcionalidade, à minha própria anatomia e começa a aparecer uma funcionalidade que tem muito de estético.” (Entrevista 6)

Kupfer (1988) afirma que a excelência é atingida quando o corpo se move da forma mais perfeita, sendo este o principal critério para a apreciação estética.

Também Masterson (1983) evidencia esta categoria, associada à excelência, afirmando que esta última quando se verifica é descrita como bela.

Hemphill (1995) é um outro autor que faz referência à excelência como uma categoria Estética (ver quadro 1). A excelência foi igualmente evidenciada por um entrevistado e podemos, neste contexto assumi-la como um sinónimo de perfeição.

“(…) o que aquilo pressupõe de treino e de domínio corporal e domínio mental, começamos nós os homens do Desporto, porque sabemos que na

nossa modalidade desportiva o quanto custa chegar à excelência, começamos depois a avaliar a Estética das modalidades desportivas, mesmo aquelas que não gostamos, pela Estética do esforço, pela Estética do sofrimento, para chegarmos à excelência.” (Entrevista 6)

Portanto, de um modo geral, é opinião dos entrevistados que são a perfeição, a qualidade técnica, as habilidades motoras mais bem treinadas e mais bem conseguidas, que propiciam a fruição Estética. Os gestos belos são aqueles tecnicamente perfeitos, logo esteticamente também perfeitos.

4.1.2) Superação / Transcendência

Na opinião de Gaya (2006), são imensos os discursos que se elaboram e que ganham forma sobre os corpos que se exercitam, chamando a nossa atenção para a imensidão de manifestações que ele próprio é capaz de produzir: “(…) enganam-se aqueles que só vêem nos corpos desportivos manifestações da força, da velocidade, da flexibilidade, da resistência, da agilidade, do equilíbrio (…)” (id., p. 102).

“(…) desde que o corpo esteja implicado, o corpo é de facto uma coisa…e o da mulher é igual, é de facto uma coisa fantástica na exploração dos seus limites e quando consegue continuar a ser o corpo e mais, e consegue, sujeito a uma actividade desse tipo transmutar-se quase, melhorar (…)” (Entrevista 3)

Cunha e Silva (1999, p.60) é um outro autor que opina sobre esta temática. No seu entender, todos os desportos são, potencialmente, portadores de qualidades estéticas, sendo que o corpo desportivo (o corpo do atleta) “(…) emerge como um objecto necessariamente belo”. O autor refere ainda que o corpo do desportista oferece ao Desporto essa mais valia Estética.

“(…) o corpo na exploração, digamos, dos limites do possível para o corpo, é qualquer coisa de fantástico. A generalidade dos desportos devem, na sua máxima expressão de actividade desportiva, ao corpo isso mesmo (…)”.” (Entrevista 3)

“(…) procurar superar sempre aquilo que era a minha capacidade e por isso ser sempre cada vez melhor, ser sempre o mais inteligente possível (…)”. (Entrevista 4)

“(…) é um corpo em movimento, um corpo em acção, um corpo em ludíbrio, um corpo em expressão máxima das suas capacidades funcionais, das suas capacidades sejam motoras sejam coordenativas e, daí emerge uma determinada beleza (…)”. (Entrevista 6)

“Portanto o Desporto de alto rendimento tem sempre foros, tem sempre focos de agressividade, de dureza, de ultrapassagem de limites e eu encaro qualquer modalidade desportiva que atinge o seu patamar máximo de expressão na performance máxima, dessa performance máxima é incompatível com facilitismos, é incompatível com uma dinâmica de lazer, a alta performance no Desporto exige sacrifício, exige dor, exige suor, exige muitas vezes ferimento, exige auto punição e isso, para uma pessoa que não ame o Desporto vê isso como uma factor inestético. Eu como amante do Desporto vejo essa auto superação e mesmo quando essa auto superação está tocada pela punição física e mental, pelo esforço de ir mais longe e quando esse desejo de ir mais longe se vira em parte contra mim, eu vejo aí uma Estética de existência, uma Estética aqui nesse plano particular, é uma Estética ética (…)”. (Entrevista 6)

As categorias transcendência e superação foram já evidenciadas por Lacerda (2002), as quais, segundo a autora, convergem de igual modo para a exaltação do potencial estético da actividade desportiva.

“Mas quando ele cai e se levanta outra vez, esta Estética da existência de eu ir à procura outra vez da minha realização” (…) “levantar-se constantemente, sempre à procura de se recensir das cotas e isto é, penso eu, a mensagem

mais bela da Estética do Desporto.” (…) “a Estética que me interessa é aquela que eu consigo exprimir-me no desenvolvimento de todas as minhas capacidades e que são expressas numa vitoria em relação ao outro e em relação a mim, aos meus próprios limites.” (…) “Portanto o caminho até ao patamar em que o gesto desportivo passa de mero gesto funcional para gesto de afirmação estética, é um caminho muito duro, só poucos é que conseguem.” (...) “isso é Estética máxima, conseguir enquadrar o corpo num esforço de superação, de cargas nunca atingidas” (…) “ coordenação máxima de músculos em máxima contracção para atingir uma máxima fluidez de

Documentos relacionados