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O dom da fala foi concedido aos homens não para que eles se enganassem uns aos outros, mas sim para que expressassem seus pensamentos uns aos outros Santo Agostinho

Depois da observação e acompanhamento efectuado passamos à apresentação dos aspectos que foram alvo de observação tendo em conta os objectivos deste trabalho. Apesar de fazerem parte de um todo que é o processo de treino, irão ser apresentados e discutidos de forma separada, no sentido de uma maior simplicidade e clareza na exposição.

4.1- Exercícios Criados vs Modelo de Jogo

No que diz respeito a este ponto, começamos por nos referir ao aspecto estrutural das sessões de treino observadas para uma melhor contextualização do processo. Com efeito, verificámos a manutenção de uma estrutura base em todas as sessões. Essa estrutura base dividia-se em três partes: uma parte inicial de exercícios variados de mobilização segmentar; uma segunda parte constituída por um ou dois exercícios que contemplavam situações jogadas e uma parte final constituída por um conjunto de alongamentos e trabalho abdominal e onde por vezes alguns jogadores eram requisitados para a marcação de penaltis ou livres directos.

Nessas diferentes sessões por nós presenciadas, observámos que os únicos exercícios não relacionados directamente com o modelo de jogo tinham a ver com o aquecimento e com a parte final do treino. Neste último caso, em relação ao trabalho abdominal e alongamentos efectuados. Por isso, podemos dizer que

havia uma efectiva preocupação na criação de exercícios para que os comportamentos requisitados se relacionassem com o modelo de jogo da equipa. Este facto era claramente confirmado aquando da aplicação dos exercícios, já que nos era explicado claramente, por Nelo Vingada, os comportamentos que se pretendiam exercitar. Foi-nos também referido pelo mesmo que estes tinham como referencial o seu modelo de jogo para a equipa.

Como exemplo de um exercício relacionado com o modelo de jogo da equipa podemos referir uma situação de jogo 10x9 com dois guarda redes, em 2/3 do campo. Os elementos das equipas que possuíam colete de cor não participavam nos processos defensivos, isto é, não tinham missões defensivas. Quando as suas equipas estivessem sem posse de bola, deveriam colocar-se posicionalmente, em função da bola, na posição que lhes permitisse uma participação fundamental na transição defesa – ataque. Este exercício, segundo o Nelo Vingada, serviria para procurar uma disponibilidade total desses jogadores para uma transição defesa – ataque muito rápida e esses jogadores seriam as referências do primeiro passe de transição.

Além do mais, como se tratava da semana que antecedia o jogo contra o Sporting, era objectivo privilegiar as acções de ataque e contra ataque. Como nos foi dito por Nelo Vingada, quando o confronto seguinte é contra equipas cujo valor teórico é superior, dá-se privilégio aos exercícios dirigidos para as acções de ataque e contra ataque, como pudemos observar. Isto porque parece ser convicção que nestes jogos haverá, à partida, “uma tendência maior em defender” e nesse sentido será importante aproveitar ao máximo as situações de ataque e contra – ataque que ocorrerem.

Como se verifica, este tipo de exercício, por pretender potenciar comportamentos desejados é um exercício que pode ser considerado específico do modelo de jogo, além de ser um exercício que tem em conta o lado estratégico indo ao encontro das opiniões de alguns autores como Carvalhal (2003), Guilherme Oliveira (2003) e Queirós (2003) quando a este propósito destacam a importância da manutenção da identidade da equipa em qualquer jogo, e

assumam, também, o lado estratégico como aspecto importante. Se os fenómenos de adaptação que estão na base da elevação do rendimento estão ligados à especificidade do estímulo (Manno, 1982), o exercício referido, parece de facto, poder ser potencialmente específico do modelo de jogo pretendido.

Outro exemplo do referido diz respeito a uma situação de jogo em que se opunham os Defesas e os Médios Defensivos contra os Médios Ofensivos e os atacantes. A primeira equipa procurava evitar o golo. A segunda equipa procurava marcar golo, esperando pacientemente o erro do adversário.

À defesa e Meio Campo foram pedidas coberturas defensivas sucessivas. Ao Meio Campo e Ataque foi pedido a manutenção e circulação da posse da bola procurando desorganizar defensivamente a equipa adversária.

Com este exercício, procurou-se a aquisição de comportamentos relacionados com o modelo de jogo, como “o movimento do bloco defensivo em função da bola e da posição do adversário” e o “controlo da posse da bola”.

Ainda outro exemplo de exercício, diz respeito à criação de combinações ofensivas (Laterais, Médios ofensivos e Avançados) com finalização.

Com ele procurou-se promover a aquisição de automatismos relacionados com a movimentação ofensiva que se pretendia para a equipa.

Portanto, também estes exercícios se podem considerar específicos por exercitarem comportamentos relacionados com aquilo que se pretende no jogo.

Este facto constatado vem sustentar a ideia de alguns autores como Garganta (1997), Frade (1994), Guilherme Oliveira (2004), Jesualdo Ferreira (2004), Carlos Queirós (1993), Mourinho (2000), Castelo (2000), quando salientam a importância da criação de exercícios relacionados com o modelo de jogo na edificação dos pressupostos que estão na base da operacionalização.

A procura da aquisição dos princípios de jogo pretendidos através do exercício específico vai ao encontro do que Guilherme Oliveira (2004) pensa quando salienta a importância desse facto para a aquisição de conhecimentos específicos/imagens mentais ajustadas.

4.2 - Intervenção nos exercícios relacionados com o Modelo de Jogo vs Objectivos pretendidos

No que diz respeito a este ponto, a nossa preocupação centrou-se nos exercícios que procuravam potenciar comportamentos relacionados com o modelo de jogo da equipa.

Procurámos assim perceber a forma como o treinador intervinha no decorrer da aplicação dos exercícios relacionados com o modelo de jogo e se essa intervenção tinha em conta os objectivos para os quais os exercícios tinham sido criados.

Observou-se ao longo de todas as sessões de treino que, intencionalmente, não havia intervenção por parte do treinador no decorrer dos diferentes exercícios.

De uma opinião diferente são alguns autores, quando caracterizam a intervenção no decorrer do exercício como fundamental (Guilherme Oliveira, 2004; Mourinho, 2003; 2005; Graça, 1997; Mesquita, 1998; Castelo, 2002; Jesualdo Ferreira, 2004; Frade, 2004). Para eles, a relação que se estabelece com o mesmo, materializada numa efectiva intervenção é que parece propiciar que o potencial específico se possa revelar.

Também Guilherme Oliveira (2004) e Mourinho (2005) referem que é importante estabelecer com o exercício uma relação de interactividade durante a realização do mesmo. Mourinho (2003) assume o gosto particular em interpelar o jogador e de com ele chegar à conclusão da melhor solução comportamental a adoptar. Na opinião de Guilherme Oliveira (2004) esta parece ser a forma mais adequada para o potencial do exercício se poder manifestar. Indo ao encontro de Jensen (2002), este refere que ao direccionar-se a aprendizagem, através do

feedback interactivo, é provável que fique no nosso cérebro uma sensação de

prazer, pelo que a utilização do mesmo na aplicação do exercício e tendo em conta os estudos de Guilherme Oliveira (2004), parece poder promover a aquisição de conhecimento específico/imagens mentais associadas ao processo emocional.

De opinião contrária é Nelo Vingada. Para este, a relação estabelecida com o exercício apenas deve decorrer na parte inicial onde são referidos os objectivos e os comportamentos a privilegiar.

Outro ponto de vista tem Castelo (2002), Guilherme Oliveira (2004), Graça (1997) e Mesquita (1998) quando salientam que é necessário uma intervenção no início, durante e no final sendo que nenhuma é mais importante que outra porque ambas decorrem de uma lógica de acção.

4.2.1 - A compreensão da forma de intervenção de Nelo Vingada relativamente ao processo de apreensão do modelo de jogo

Ao optar, intencionalmente, por não intervir no desenrolar e no final do exercício, sentimo-nos curiosos na tentativa de verificar como se processava o processo de apreensão do modelo do jogo pretendido. E essa curiosidade era ainda mais elevada porque se notava na execução dos exercícios que os jogadores cumpriam, na sua maioria, com os comportamentos que deles se pretendia.

Com efeito, começamos a entender adequadamente o ponto de vista de Nelo Vingada quando no final de um treino, foi promovida uma conversa com um jogador. Nesta conversa foi-lhe dito que estava a errar e foi-lhe explicado onde estava o erro e o que fazer para o corrigir. Foi a partir deste momento que começámos a entender a lógica do processo de intervenção de Nelo Vingada e procurámos entender os pressupostos. É a estes que nos referimos a seguir.

4.2.1.1 - O conhecimento táctico - técnico do jogador

Para Nelo Vingada, o jogador de alta competição possuirá, por si, um conhecimento táctico - técnico do jogo suficiente que lhe permite, com alguma facilidade, compreender no plano teórico os comportamentos tácticos específicos que devem ser aplicados no jogo da equipa. Garganta (2002) tem a mesma

opinião quando aponta o conhecimento do jogador como aspecto central no que diz respeito à evolução do modelo de jogo da equipa. Também Queiróz (2003) salienta a importância de um jogador de futebol culto. Segundo este autor (Queiróz, 2003), um jogador culto, além de saber o que fazer, sabe e entende porque faz.

Neste sentido, para Frade (2004) e Queirós (2003), deverá promover-se a adaptação desse conhecimento do jogador à forma de jogar da equipa. Nelo Vingada possui o mesmo entendimento pois promove desde logo a compreensão do modelo de jogo à chegada do jogador. Com efeito, quando um jogador novo chega à equipa, são-lhe transmitidas declarativamente as ideias relativamente aos aspectos considerados essenciais na organização colectiva da equipa e aos comportamentos tácticos individuais que deve ter desde logo. Este processo engloba igualmente a demonstração visual e constitui-se como um instrumento valioso na adequação da intervenção, além de promover a formação de padrões mentais mais esclarecidos com o jogo. Também Guilherme Oliveira (2004) salienta a necessidade da demonstração visual do modelo de jogo por forma a garantir uma sintonia na intervenção em todo o processo.

Existe, no entanto, uma diferença entre a actuação de Nelo Vingada e a opinião dos autores referidos (Frade, 2004; Queirós, 2003; Guilherme Oliveira, 2004) no alcance que poderá ter o processo referido. Enquanto que Nelo Vingada utiliza o processo no sentido de promover a adaptação do conhecimento táctico – técnico que o jogador já possui à forma de jogar da equipa, os autores referidos (Frade, 2004; Queirós, 2003; Guilherme Oliveira, 2004), além de terem esse objectivo, procuram servir-se dele aquando da intervenção nos exercícios. Frade (2004) e Guilherme Oliveira (2003) reforçam esta ideia ao considerem este último aspecto como fundamental na maximização do desempenho dos jogadores.

4.2.1.2 - A repetição sistemática e a não variabilidade dos exercícios

Transmitidas declarativamente as ideias e elucidadas visualmente, promovem-se exercícios para a execução e exercitação dos comportamentos tácticos pretendidos.

Ao longo do tempo de observação, verificámos que a cada dia da semana correspondia um determinado conjunto definido de exercícios. De facto pudemos constatar, por isso, que Nelo Vingada apostava na repetição desses exercícios ao longo do tempo.

Como exemplo do referido verificamos em três quartas feiras seguidas a aplicação de situação de jogo 5x5 + 2GR num quadrado de 20x20 seguida de uma situação de jogo de 10x10+2GR em meio campo. Outro exemplo que nos poderá elucidar diz respeito à aplicação em quatro quintas feiras seguidas de situação de jogo 10x10 em 2/3 do campo.

De acordo com o observado e depois confirmado, a não variabilidade associada à repetição sistemática dos mesmos exercícios são, para Nelo Vingada, princípios fundamentais para a apreensão dos princípios de jogo da sua equipa.

Queiróz (2003) vai ao encontro desta opinião quando refere que é importante ter uma bateria de base de exercícios que são rotinas fundamentais desenvolvidas ao longo de toda a época. Também Carvalhal (2000) e Frade (2003) salientam que a repetição sistemática e intencional dos mesmos exercícios específicos como um dos factores importantes no alcançar de hábitos. Guilherme Oliveira (2004) é também da mesma opinião mas salienta igualmente que a repetição deve ser direccionada tendo em conta as necessidades da equipa no momento.

Queiróz (2003) refere a este propósito que o direccionamento do exercício é fundamental para correcção de elementos problemáticos que vão surgindo no decorrer da temporada. Por exemplo, se existe a necessidade de se treinar a posse e a circulação de bola, ela não existe por si só. Existe para o atingir de alguma coisa. Assim, em função da situação pode-se, por exemplo, treinar a

posse e a circulação da bola para uma saída hipotética de pressão, ou pode-se treinar a posse e a circulação de bola para uma hipotética tentativa de finalização.

Outro exemplo que podemos referir diz respeito a uma situação de início de época, em que um exercício é realizado porque se denota grandes dificuldades da equipa na primeira fase de construção. No entanto o direccionamento do mesmo noutra circunstância pode ser diferente por se considerar não ser essa a prioridade no momento. Assim, deverá haver uma preocupação central que diz respeito à lógica de existência do exercício porque interessará treinar os princípios, não os exercícios.

Pelo observado verificámos que Nelo Vingada também tinha essa preocupação. Assim e por exemplo, na semana que antecedeu o jogo contra o Sporting foi dada a indicação numa situação de jogo 10x10+2GR para uma preocupação relativamente à transição defesa-ataque. Já na semana que antecedeu o jogo contra o União de Leiria, o feedback inicial foi no sentido de uma preocupação maior em aspectos relativos à organização defensiva, como a necessidade da “pressão colectiva do bloco defensivo com coberturas defensivas sucessivas” e com preocupação acentuada na reacção à transição ataque-defesa. Apesar do exercício ser o mesmo, havia um direccionamento para princípios distintos.

4.2.1.3 - A(s) Descoberta(s) Guiada(s)

Para Nelo Vingada, os princípios de jogo só serão apreendidos convenientemente se o empenhamento do jogador na realização dos exercícios for o adequado. Quer isto dizer que em cada exercício ele terá que se empenhar ao máximo em realizá-lo bem e em perceber por si porque o realiza. Ou seja, o jogador, porque pretende estar apto e corresponder o mais rapidamente possível deve procurar envolver-se e adaptar-se ao processo. Se possível questionar o treinador no que diz respeito aos comportamentos tácticos que adopta. Assim, a apreensão dos princípios de jogo vai ocorrer pelo maior ou menor empenhamento

do jogador, no esforço de perceber o exercício de forma adequada e na procura da sua realização correcta. É um processo pessoal que Nelo Vingada promove que vai no sentido de o jogador se sentir envolvido e descobrir o caminho sozinho. É uma “descoberta guiada” como o mesmo refere.

Se o jogador estiver a errar no comportamento táctico pretendido, Nelo Vingada não promove nem uma paragem individual nem colectiva. Dá tempo que a repetição do exercício, acompanhada de um forte empenhamento, o leve à envolvência e à percepção do erro e se auto - corrija. Se o jogador for persistente no erro, promove-se uma intervenção fora do contexto da sessão de treino. Aí perde-se o tempo que for necessário. Transmite-se por palavras, demonstra-se visualmente o pretendido, arranjam-se formas para que o jogador entenda onde está o erro e o que fazer para o corrigir.

Uma visão diferente tem Frade (2004) que considera a intervenção no momento a melhor forma de corrigir o erro. No entender do mesmo autor (Frade, 2004), a fenomenologia que deve caracterizar todo o processo, tem na operacionalização do exercício uma importância fundamental.

Guilherme Oliveira (2004) também vai ao encontro da ideia de Frade (2004). Segundo o mesmo autor (Guilherme Oliveira, 2004) uma intervenção no momento e Específica, no sentido de corrigir o erro detectado e associar-se a este processo emoções negativas limitará a aquisição de conhecimentos específicos/imagens mentais desajustados, promovendo a aquisição daqueles que são fundamentais para a forma de jogar da equipa. Castelo (2002) e Jesualdo Ferreira (2004) salientam igualmente a necessidade de uma intervenção no preciso momento em que o erro ocorre,

Também Mourinho (2003) parece ter uma opinião divergente de Nelo Vingada. No entender do mesmo (Mourinho 2003), um jogador não aceita naturalmente o que lhe é dito pelo treinador. Ao treinador compete dar provas da sua razão (Mourinho, 2003). Nesse sentido, mais do que explicar no plano teórico o que fazer e criar exercícios para isso ser feito, é fundamental, pela intervenção interactiva no exercício, provar que determinado caminho é o correcto (Mourinho,

2003). De facto, neste caso, também não se aponta o caminho a seguir e opta-se por uma “descoberta guiada” (Mourinho, 2003), levando o jogador a saber e a compreender o que faz.

Como exemplo de uma situação ocorrida no processo de treino observado podemos referir um exercício ocorrido de 5x5 com dois guarda redes num espaço de 30x30 cujos objectivos centrais diziam respeito a rápidas acções de ataque e contra ataque para a equipa em posse de bola e à pressão intensa sobre o portador da bola da equipa que defendia. Os apoios (um em cada lado lateral do campo) podiam e deviam ser pressionados e essa pressão devia acentuar-se quando os apoios laterais procuravam centrar a partir duma zona próxima de uma das áreas. Era um comportamento importante, segundo o treinador, que pretendia que ocorresse sempre. Durante a execução do exercício verificámos que um dos apoios cruzava sem oposição e este comportamento repetia-se frequentemente por falha repetida de um jogador.

Tendo em conta o referido anteriormente, para Castelo (2002), Frade (2004), Guilherme Oliveira (2004), Jesualdo Ferreira (2004) e Mourinho (2004), teria sido pertinente uma intervenção no momento afim de corrigir essa falha comportamental. Com base neste raciocínio, o facto de não haver intervenção perante um comportamento repetidamente desajustado e baseando-nos nos estudos de Guilherme Oliveira (2004), poderá haver a aquisição de hábitos indesejados para o modelo de jogo. Por outro lado e tendo em conta os mesmos estudos (Guilherme Oliveira, 2004), havia que estar atento quando o jogador realizasse o comportamento pretendido, afim de lhe associar emoções positivas. A intervenção vista desta forma no decorrer do exercício, promove, segundo Guilherme Oliveira (2004) a aquisição de conhecimentos específicos/imagens mentais por processos conscientes e não conscientes.

Nelo Vingada tem outra opinião e opta por um procedimento diferente. Neste caso particular e tal como atrás já foi evidenciado, esperou que a repetição do erro e o empenhamento do jogador na compreensão e execução do exercício o levasse à percepção do comportamento incorrecto. De facto isso não ocorreu,

mas o erro deixou de aparecer na parte final do exercício. Isto porque o jogador que estava como apoio pediu que o pressionasse, pois era uma exigência do treinador na execução do exercício. Este facto poderá comprovar, também, a envolvência que existe no processo e o entendimento colectivo subjacente ao mesmo.

4.3 - Que Especificidade no processo de treino observado?

Pelo exposto parece-nos pertinente procurar entender até que ponto o princípio da Especificidade é levado em linha de consideração no processo de treino observado.

Efectivamente, pareceu-nos uma evidência que o modelo de jogo do treinador constituía a única e grande referência em relação a tudo o que era feito. Esta ideia vem ao encontro de muitos autores entre eles Faria (1999), Carvalhal (2000), Castelo (2002), Guilherme Oliveira (2003), Queirós (2003), Frade (2004), Mourinho (2005) que evidenciam a importância do modelo de jogo como farol essencial de todo o processo e a Especificidade como representativa do mesmo.

Por outro lado existia uma forma muito particular de operacionalizar esse modelo de jogo de que resultou numa forma muito própria de intervenção no processo de treino. Frade (2004) a este respeito refere que cada treinador deve procurar operacionalizar o seu modelo de jogo de uma forma muito própria. Dessa operacionalização, segundo o mesmo autor (Frade, 2004), resulta uma Especificidade também ela muito particular porque a ela é inerente um modelo de jogo único.

Parece-nos que Nelo Vingada, tendo a sua forma particular de operacionalizar o seu modelo de jogo, resultava daí a expressão de uma Especificidade que lhe era própria. Esta ideia, no entanto, não é partilhada por alguns autores (Faria, 1999; Carvalhal, 2000; Castelo, 2002; Guilherme Oliveira, 2003; Queirós, 2003; Frade, 2004; Mourinho, 2005; Jesualdo Ferreira, 2003; Vaan Gaal, 1997) já que referem que o processo para ser efectivamente Específico, a

Especificidade terá que ser levada ao limite de uma intervenção Específica no exercício.

Tendo em consideração a opinião dos autores referidos (Faria, 1999; Carvalhal, 2000; Castelo, 2002; Guilherme Oliveira, 2003; Queirós, 2003; Frade, 2004; Mourinho, 2005; Jesualdo Ferreira, 2003; Vaan Gaal, 1997) parece que essa aproximação poderia ser maior e mais eficaz, no caso de se considerar a elevação da Especificidade à importância de uma intervenção nos exercícios

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