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4. FORMAÇÃO VS ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO MÚSICO NO ÂMBITO DAS

4.3 Análise das dissertações de Mestrado

Dissertação 1

Título: Educação musical, marxismo e o conflito entre a reprodução e a superação do

Capital

Autor: Yuri Coutinho Ismael da Costa Ano de defesa: 2012

Programa onde foi defendida: Programa de Pós-Graduação em Música do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – Universidade Federal da Paraíba.

Problema: como a educação musical se insere no contexto do processo de implantação intensiva do Capital e seus determinantes através do aprofundamento da globalização econômica?

Objetivo geral: verificar de que forma a educação musical participa atualmente do movimento dialético entre a reprodução e a superação do capital.

Procedimentos: análise de 21 artigos selecionados a partir de 208 publicados entre 1992 e 2008 da Revista da Associação Brasileira de Educação Musical – ABEM.

Resultados: as pesquisas efetuadas até o presente momento pelo periódico Revista da ABEM, publicado pela Associação Brasileira de Educação Musical, oferecem críticas apenas parciais às relações entre o ensino da música e os determinantes da sociedade capitalista, o que demonstra a necessidade de se retomar a crítica à totalidade social, que é característica essencial da ontologia crítica marxista.

Em meio à comprovada escassez de pesquisas de pós-graduação, no campo da música, construídas sobre os alicerces do materialismo histórico e dialético, tal pesquisa representa, por si só, um salto qualitativo na busca pelo entendimento das relações que se estabelecem entre a atividade musical, no âmbito da formação do profissional, e as determinações resultantes da implantação intensiva do Capital nos últimos trinta anos.

Na introdução da sua dissertação, ao autor, ao traçar um perfil das transformações sócio-político e econômicas ocorridas no século XX e início do século XXI, expõe que

[…] A necessidade de auto-(re)produção do Capital deságua sobre todas as práticas, atividades e valores culturais. A educação, a música e a educação musical não escapam das pressões e dos condicionamentos dessa realidade pois que estão dialeticamente interligadas à totalidade social e, portanto, subjugadas às demandas do capitalismo. (COSTA, 2012, p. 10)

Entretanto, ao mencionar as referidas transformações ocorridas no século XX e início do século XXI, o autor deixa uma lacuna em aberto ao não acrescentar de que maneira a música e a educação musical estão dialeticamente interligadas à totalidade social e às demandas do capitalismo.

Ora, é sabido que, no século XX, a indústria fonográfica passou a ser a conexão direta entre a prática musical e os ditames do modo de produção capitalista. Na cadeia produtiva do mercado fonográfico, músicos, e mesmo os artistas principais, dificilmente atuavam nas

etapas de produção fonográfica, salvo quando realizavam a execução para a gravação do material sonoro.

A formação desses trabalhadores musicais mantinha-se, pelo menos no Brasil, dentro das características do chamado ensino conservatorial, ou seja, da formação musical voltada à performance individual ou em grupo, apenas envolvendo os conhecimentos inerentes apenas ao compo da música. Não há registros de que os futuros profissionais da música, durante o século XX, recebessem qualquer formação acerca da realidade da indústria fonográfica.

Prosseguindo com a análise, no capítulo primeiro de sua dissertação, o autor expõe dimensões epistêmicas e metodológicas da sua pesquisa e procura estabelecer a relação entre o materialismo histórico e dialético e a educação musical. Na primeira parte, sobre aspectos metodológicos gerais, é apontado que “[…] o desenvolvimento da pesquisa em educação musical é notável, mesmo levando-se em consideração apenas o seu aspecto quantitativo. (COSTA, 2012, p. 16).

Como é possível, para um pesquisador que, no decorrer do mesmo capítulo, tratou amplamente sobre o materialismo histórico e dialético, afirmar que o desenvolvimento da pesquisa em educação musical é notável com base apenas no seu aspecto quantitativo? E sobre o aspecto qualitativo, o mais importante, é possível afirmar que a pesquisa em educação musical tem sido notável? O autor deixa mais uma relevante lacuna e, até o final do capítulo, também não estabelece, de fato, a relação entre o materialismo histórico e dialético e a educação musical.

No segundo capítulo, em uma rica abordagem sobre a formação do ser social entre a natureza e a sociedade, a práxis e o trabalho enquanto fundamento ontológico do ser social, foram tratadas as categorias de objetivação, exteriorização e alienação. No mesmo capítulo, o autor caracteriza o ser social através da música:

O ser social, através da música cria legalidades causais que determinarão relações específicas entre determinados sons. Por exemplo: o processo de composição musical requer um planejamento (teleologia) de algo que satisfaça à necessidade social de produção cultural de seus criadores (causalidade); estes precisam objetivar seu projeto de alguma forma (através das performances, grafias, gravações, etc), possibilitando sua transmissão a outros indivíduos, que podem desempenhar tanto o papel de ouvintes quanto de participantes ativos da produção e/ou executantes específicos das obras; nesse momento de concretização do projeto, ocorre concomitantemente a sua exteriorização, ou seja, tanto a obra musical quanto o processo de sua composição, sua lógica estilística, seu conteúdo ideológico, deixam de pertencer à mente do indivíduo para pertencer à produção musical histórica da humanidade; já a alienação se mostra de várias formas, como quando a atividade do criador visa atender tão somente a uma demanda externa, com o primeiro sendo dominado pela sua criação (como é o caso de músicos que vendem sua força de trabalho à indústria fonográfica como meio de sustento, tendo que obedecer

rigorosamente a uma série de determinações mercadológicas). (COSTA, 2012, pp. 40 e 41).

Ao citar como exemplo de alienação o caso de músicos que vendem sua força de trabalho à indústria fonográfica como meio de sustento, tendo que obedecer rigorosamente a uma série de determinações mercadológicas, o autor poderia ter se aprofundado mais nesta questão. No entanto, egui o capítulo abordando detalhadamente a educação na base do ser social, utilizando-se do materialismo histórico e dialético. Entretanto, em uma nova lacuna, o autor não trouxe a educação musical ao seio dessa abordagem.

Na parte final do referido capítulo, o autor realiza uma longa exposição acerca do Capital, tratando sobre o desenvolvimento histórico dos modos de produção; a estrutura do capitalismo e suas contradições internas; a “segunda ordem de mediações do sistema do capital” e os impactos sobre os aspectos singular, particular e universal da humanidade; e sobre Educação e Capital.

Como acréscimo a essa contribuição, teria sido um ótimo momento na exposição da pesquisa, até mesmo como uma introdução ao capítulo final, para estabelecer as relações entre a formação do músico, o mercado fonográfico e o capital. Apesar disso, o autor optou por não estabelecer tais relações.

No terceiro capítulo foram abordadas tendências da educação musical que se formam históricamente desde a virada do século XVIII para o XIX e que ainda hoje estão entre as mais difundidas. Após expôr as tendências, o pesquisador apresenta um determinante aspecto da relação entre a educação musical e o capitalismo:

As aulas de música tornam-se espaço para a discussão de questões que se colocam para além do fenômeno musical em si. [..] Trabalhar apenas de acordo com o gosto do estudante é uma das formas mais seguras de se submeter à força formativa do capital, que, antes de atender a demadas sociais legítimas, precisa formar a sua própria. E utiliza, para tanto, os inúmeros meios de transmissão de conteúdos e a força total da massificação de mercadorias. (COSTA, 2012, p. 85)

E prossegue:

Numa realidade embasada pelo capitalismo e seu imperativo globalizante, pela produção em massa de mercadorias, pelo processo ainda forte, embora cada vez mais velado, de colonização cultural através dos meios de comunicação e demais mídias, há, se não uma praticamente impossível padronização completa dos gostos culturais, pelo menos uma entrada facilitada na vida de todos os produtos culturais pré-fabricados. Os hits estão se tornando cada vez mais difundidos e cada vez mais

efêmeros (Idem, p. 85).

Mais adiante, ao expor sobre os diferentes espaços e contextos de ensino de música, o autor estabelece uma relação entre a educação musical e o “Terceiro Setor” e afirma que a

ausência significativa da educação musical nas escolas nas últimas décadas poderia configurar como “uma das causas da enorme quantidade de empreendimentos do chamado “Terceiro Setor” que se apóiam no ensino de música ou em outras práticas musicais” (COSTA, 2012, p. 89). Para tal afirmativa, apóia-se nas palavras de Fonterrada (2007):

Ao mesmo tempo em que a educação musical perdia importantes espaços na area da educação, ganhava outros em lcais alternativos. Referimo-nos a projetos culturais de cunho social, desenvolvidos por setores governamentais de municípios, estados ou da federação, organizados por secretarias de educação e cultura, ou mantidos por organizações não-governamentais, igrejas, empresas e outros tipos de agrupamentos. (FONTERRADA apud COSTA, 2012, p. 89)

Caberia aqui diferenciar Terceiro Setor de terceirização, mas o autor não realizou tal diferenciação em sua exposição. Considerando que o Primeiro Setor diz respeito ao Estado, à esfera pública, e que o Segundo Setor diz respeito à iniciativa privada, o Terceiro Setor compreende organizações sem fins lucrativos e não governamentais, que tem como objetivo gerar serviços de caráter público. Um exemplo são as fundações, instituições que financiam o setor, realizando doações à entidades beneficentes. No Brasil também se fazem presente as fundações mistas, ou seja, as que doam para terceiros e ao mesmo tempo executam seus próprios projetos.

Quanto à terceirização, é o fenômeno através do qual uma empresa contrata um trabalhador para prestar seus serviços a uma segunda empresa – tomadora. A tomadora se beneficia da mão-de-obra, mas não cria vínculo de emprego com o trabalhador, pois a empresa-contratante é colocada entre ambos26. Em uma definição tipicamente capitalista, já mencionada no terceiro capítulo da presente pesquisa, a terceirização tratar-se-ia da seguinte maneira:

A terceirização ocorre quando uma operação interna da organização é transferida para outra organização que consiga fazê-la melhor e mais barato. E representa a transformação dos custos fixos em custos variáveis. Na prática, é uma simplificação da estrutura da organização e uma focalização nos aspectos essenciais do negócio. (SALAZAR, 2010, p. 81)

O fato é que a terceirização substitui trabalhadores contratados diretamente por prestadores de serviços e, ao realizar isso, aumenta a rotatividade e o trabalho eventual e precário. Isso significa também uma perda de direitos trabalhistas e um aumento dos riscos de acidentes de trabalho. De acordo com Paulo Schmidt, presidente da Associação Nacional dos

Magistrados da Justiça do Trabalho – ANAMATRA, “a responsabilidade pela mão de obra vai se diluindo para, ao fim e ao cabo, não haver responsabilidade nenhuma”27.

Retornando à dissertação analisada, é destacado, na continuidade da exposição, uma crítica contundente da autora Vanda Lima Bellard Freire (2007) ao Terceiro Setor e o uso que o mesmo faz da educação musical:

A principal função da música, na maioria dos projetos que buscam verbas de incentivo fiscal, é a de inclusão social, ou seja, mantendo a criança ou o jovem ocupado, ele estará menos vulnerável a influências negativas, ele desenvolverá sua auto-estima e estará mais apto ao aprendizado de outros conteúdos na escola [e, acrescento, a ser inserido socialmente como mão-de-obra musical para o mercado de trabalho]. Pouco ou nada se fala do ensino de música como fim em si, como instância importante na formação do indivíduo. (FREIRE, 2007 apud COSTA, 2012, p. 90)

No quarto capítulo, são avaliadas as várias concepções da categoria “crítica” e, em seguida, analisadas “as perspectivas sociais críticas presentes no universo da Revista da ABEM, buscando apreender como o capitalismo (e vários de seus sintomas) é analisado em artigos publicados nesse periódico” (COSTA, 2012, p. 94).

Após a análise de diversos artigos em 17 números da referida publicação, o autor conclui que as críticas discutidas nos artigos pesquisados “analisam, de modo geral, apenas aspectos parciais do sistema capitalista”. Tais críticas “apresentam limitações para uma compreensão ampla da relação dialética entre sociedade e educação musical e os determinantes impostos pela organização social capitalista, elementos fundamentais para a elaboração de uma práxis verdadeiramente revolucionária” (Idem, p. 111).

É informado ainda que:

Dentro da produção geral da Revista da ABEM, em comparação com o total dos textos publicados, há um número significativamente reduzido de artigos que tratam diretamente de temas ligados à crítica da sociedade e da educação musical sob as determinações do capitalismo. Há uma clara predominância de compreensões teóricas afinadas com as perspectivas não críticas da educação, as quais estão em conformidade com a reprodução social do modo de produção capitalista. […] Nos artigos investigados, predominam as análises centradas nos aspectos politicos das relações de poder sociais e educacionais, anunciando, na maioria das vezes, a necessidade de formação de uma consciência “crítica”, tanto por parte dos professores quanto dos alunos de música (COSTA, 2012, p. 112).

Nas considerações finais da dissertação é exposto o seguinte:

“para alcançar a sociedade de produtores livremente associados, de indivíduos essencialmente omnidirecionais (completamente distintos dos indivíduos unidirecionais formados sob a égide do capital), os trabalhadores precisam tomar

27 Encontrado em http://www.redebrasilatual.com.br, ao longo da matéria “A terceirização garante primeiro

para si o controle dos meios de produção (e, por tabela, os de distribuição) ressignificando-os no processo” (COSTA, 2012, pp. 117 e 118).

A essa exposição, deveria ser acrescentado que, em relação ao “trabalhador musical”, o advento dos home studios, ou estúdios caseiros, a partir do início do século XXI, trouxe não apenas uma maior acessibilidade aos meios tecnológicos de produção musical, mas também permitiu ao músico tornar-se o próprio empresário, produtor e distribuidor de sua obra musical, especialmente através do maior veículo de comunicação atual: a internet.

Segundo Rose Marie Santini (2006):

A tecnologia de chips (circuitos integrados baseados em silício) e de MIDI (Musical

Instrument Didital Interface) promoveu mudanças significativas na forma de criar,

arranjar, orquestrar, produzir, gravar e distribuir música. […] Artistas e músicos tornaram-se, cada vez mais, auto-suficientes. […] A gravação digital vem provocando uma grande revolução nos meios de produção fonográfica em virtude de não ser mais necessário que artistas e músicos recorram às grandes companhias discográficas para terem seus trabalhos gravados e reproduzidos (SANTINI, 2006, pp. 46 e 47).

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Concluindo a análise dessa dissertação, é fato que, apesar de algumas lacunas relevantes, o autor trouxe uma importante contribuição quanto à utilização do materialismo histórico e dialético no possível estabelecimento das relações entre a educação musical e a reprodução social do modo de produção capitalista.

Entretanto, justamente pela vasta abordagem acerca do Capital e seus determinantes, presente em boa parte da pesquisa, tornou-se evidente a ausência do estabelecimento das relações entre a educação musical e o mundo do trabalho, onde a realidade do músico na atual conjuntura já indica a necessidade de novos direcionamentos no ensino da música, desde a educação básica às pesquisas em pós-graduação.

Dissertação 2

Título: Formação de nível técnico e atuação profissional do músico egresso do

Conservatório Estadual de Uberlândia

Autor: Beatriz de Macedo Oliveira Ano de defesa: 2012

Programa onde foi defendida: Programa de Pós-Graduação em Artes do Instituto de Artes – Universidade Federal de Uberlândia.

Problema: como músicos egressos do curso de nível técnico de música do Conservatório Estadual de Música Cora Pavan Capparelli constroem relações entre formação e atuação profissional?

Objetivo geral: compreender como os egressos do Curso Técnico de Música do Conservatório Estadual de Música Cora Pavan Capparelli constroem relações entre a formação e atuação profissional.

Procedimentos: A autora optou por um estudo de caso no qual foram entrevistados 4 alunos egressos do curso técnico, do ano de 2008, da instituição já mencionada anteriormente. Isto representou apenas 16% do total de egressos do curso no período estabelecido. Além das entrevistas, foram utilizados, como fonte de análise de dados, documentos oficiais de arquivos públicos estaduais e federais, especificamente de Minas Gerais, e planos e matrizes curriculares do Curso Técnico de Música do Conservatório Estadual de Música Cora Pavan Capparelli.

Resultados: segundo a autora, em suas considerações finais, os dados coletados possibilitaram compreender que a referida instituição respondeu a um tipo de formação caracterizado, em especial, como uma formação técnica, voltada à compreensão intelectual da música, que mostrava mais certezas quanto à formação específica do músico durante o curso do que quanto à atuação dos mesmos na realidade diversificada de campos de trabalho profissional.

A autora apresentou como tema da sua pesquisa a formação e atuação profissional de músicos de nível técnico sob a óptica da reforma da Educação Profissional, afirmando que a mesma “apontou como uma de suas metas oferecer ao ensino profissionalizante no Brasil uma relação mais aproximada com os avanços tecnológicos e demandas atualizadas do mercado de trabalho” (OLIVEIRA, 2012, resumo).

Sobre a Educação Profissional, no primeiro capítulo, é afirmado que “nos últimos anos, o MEC tem se preocupado com a ampliação e melhoria dos cursos técnicos em diversas areas, por estarem certos do valor estratégico28 da educação profissional técnica e tecnológica para a manutenção do crescimento sócioeconômico do país”. (Idem, p. 21)

Qual seria o valor estratégico da educação profissional para a manutenção do crescimento sócioeconômico do país? Apesar de a autora não ter se preocupado em esclarescer tal questão, esta resposta poderia muito bem ser encontrada a partir do ano de

28 O grifo é nosso

2003, mandato do então presidente Lula, quando iniciou-se um período de “construção da política de educação profissional e do ensino médio” (ANTONIAZZI & NETO, 2010, p. 253)

No governo do presidente Lula, foi possível constatar que as mudanças propostas para o desenvolvimento da educação profissional estavam diretamente conectadas ao processo de flexibilização das forças produtivas e “às opções político-econômicas da classe dominante, condicionadas por interesses corporativos do capital e pela subordinação do Brasil ao quadro hegemônico internacional”. (ANTONIAZZI & NETO, 2010, p. 258)

Prosseguindo com a análise da dissertação, quanto às orientações norteadoras no âmbito da criação do Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos pelo MEC, foi afirmado que tais orientações “permitem a organização de currículos adequados à realidade do mercado de trabalho e, consequentemente, o atendimento às necessidades do profissional e da sociedade” (Idem, p. 23). A autora demonstra concordar com todas as questões referentes à Educação Profissional sob a ótica do MEC abordadas em sua pesquisa, visto que em nenhum momento do capítulo é estabelecida qualquer discussão sobre o assunto.

Mais adiante, foram utilizadas como categorias de análise as noções de competência, flexibilidade, relação teoria/prática e mercado de trabalho, as quais foram selecionadas para “compreender algumas mudanças curriculares no Conservatório Estadual de Música Cora Pavan Capparelli e a relação entre formação e atuação profissional desveladas pelos músicos selecionados para este estudo”. (OLIVEIRA, 2012, resumo)

Segundo a autora:

[…] a particularidade da compreensão do presente objeto de estudo foi orientada em princípios de que a relação entre formação e atuação é feita por sujeitos contextualizados em espaço e tempo históricos determinados29 e por meio de conhecimentos pedagógicos advindos da vida social, da cultura, da escola especializada, bem como de conhecimentos sensíveis, éticos, de gestão e produção musical desses sujeitos (OLIVEIRA, 2012, p. 18).

Neste ponto, destaco certo equívoco na colocação, pois a relação entre formação e atuação no campo da música vem sendo construída, não por sujeitos contextualizados em espaço e tempo históricos determinados, mas sim por aspectos conjunturais ao longo de séculos de percurso, envolvendo o desenvolvimento das forças produtivas, as determinações do modo de produção capitalista desde suas origens e, no campo da música, o advento do mercado fonográfico.

É possível que a intenção da autora tenha sido a de afirmar que seu objeto de estudo foi norteado pela relação entre formação e atuação estabelecida por sujeitos contextualizados

no âmbito do Conservatório Estadual de Música Cora Pavan Capparelli durante o período em que cursaram o Curso Técnico de Música.

No capítulo quarto, em uma abordagem superficial sobre o que vem a ser “mercado de trabalho”, a autora, ao relacionar o conceito com o campo da música, afirma que “o mercado musical pode ser entendido como o relacionamento entre aqueles que oferecem o trabalho como músicos e aqueles que procuram o produto musical ou serviços ligados à música em épocas e lugares determinados” (OLIVEIRA, 2012, p. 50).

E prossegue:

Também é compreendido como um contexto que se renova a cada dia, pela ampliação dos mercados do mundo globalizado, pelo surgimento de novas

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