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4 ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA DE MINERAÇÃO

4.3 ANÁLISE DO IMPACTO DA TRAGÉDIA NAS DEMONSTRAÇÕES

Através das análises vertical e horizontal do balanço patrimonial, dos exercícios de 2017 e 2018, e dos primeiros semestres de 2018 e 2019 foi possível concluir que a maior parte dos recursos constam no longo prazo. No curto prazo, comparando os dois exercícios, o aumento mais expressivo foi na conta “Caixa e equivalentes de caixa”, que cresceu 56,54% em 2018, bem como os estoques que cresceram 32,56%. Contudo, comparando o primeiro semestre de 2018 com o primeiro semestre de 2019, ano em que ocorreu a tragédia, a Vale teve um modesto aumento de 2,26% no ativo circulante. A conta “Caixa e equivalentes de caixa” representa a maior parte dos recursos a curto prazo, porém no primeiro semestre de 2019 caiu R$ 1,3 bilhões e cerca de R$ 366 milhões foram bloqueados nas contas bancárias, segundo a nota explicativa 3(f) das demonstrações do 2º trimestre da Vale. Os estoques cresceram 17,43%. O ativo não circulante cresceu 9,24%, porém

grande parte desse aumento deve-se ao fato da conta “Depósitos judiciais” terem aumentado 186,92%, já que R$ 12,4 bilhões foram convertidos em depósitos até que aconteça a decisão judicial. Tanto o bloqueio das contas bancárias, quanto o aumento nos depósitos judiciais são conseqüência do rompimento da barragem em Brumadinho.

Quanto às obrigações, em uma análise geral do balanço patrimonial dos exercícios de 2017 e 2018, é possível concluir um aumento nos recursos da empresa e uma modesta redução no capital de terceiros, trazendo uma situação favorável à empresa. Já no comparativo dos dois semestres houveram mudanças desfavoráveis, pois a Vale apresentou um número excessivo de obrigações, que cresceu consideravelmente após o acidente, elevando a busca por recursos oriundos de terceiros. O maior volume das obrigações da empresa estão reconhecidos no longo prazo. Alguns fatores contribuíram para o aumento das obrigações em 2019, como o reconhecimento do Programa de Refinanciamento (REFIS) no valor total de R$ 16,3 bilhões. Após o acidente a empresa reconheceu um elevado número de obrigações com o objetivo de reparar os danos causados ao meio ambiente e compensar a sociedade. Cerca de R$ 13,5 bilhões constam na conta “Passivos relacionados a Brumadinho”, as “Provisões” cresceram 22,66% no longo prazo e o processo de descaracterização de barragens aumentou o passivo total em R$ 7,733 bilhões.

Analisando a DRE dos exercícios de 2017 e 2018, ficou evidente a situação favorável da empresa, visto que a receita líquida cresceu 23,91%, isto é, apresentou o valor de R$ 134,4 bilhões em 2018. Já o lucro líquido aumentou 45,86%, foi reconhecido cerca de R$ 25,7 bilhões em 2018, no exercício de 2017 o lucro foi de R$ 17,6 bilhões. Segundo a Exame (2019), a Vale foi o grupo que teve o maior lucro líquido em 2018, e está entre os 200 maiores grupos empresariais privados do Brasil. O resultado da empresa sofreu grande impacto após o acidente, visto que no primeiro semestre de 2019, a conta ”Redução ao valor recuperável e baixa de ativos não circulantes” cresceu 2764,29%, esta perda está relacionada ao acidente de Brumadinho e à descaracterização de barragens pertencentes à Vale. As “Despesas operacionais” aumentaram R$ 24,6 bilhões em 2019, pois foram reconhecidos R$ 23,2 bilhões como “Evento de Brumadinho”, valor que será destinado à recuperação do meio ambiente e compensação à sociedade que foi impactada de forma física, emocional e financeira. Embora as receitas líquidas

tenham aumentado no primeiro semestre de 2019, as “Despesas operacionais” consumiu uma parte relevante da receita líquida, cerca de 40,77%, sendo que esse percentual no primeiro semestre de 2018 era de 4,54%. Além disso, foi reconhecido cerca de R$ 2,1 bilhões referente às paradas de operações da Companhia, devido ao rompimento da barragem, um aumento de 329,90%, fator que também contribui para diminuir o resultado da empresa. Ainda que as receitas tenham crescido 13,17%, o lucro da empresa caiu 226,50%, isto é, a empresa apresentou um elevado prejuízo em 2019, sendo o acidente ocorrido no início desse mesmo o ano, a razão desse impacto no resultado.

Na análise dos indicadores econômicos e financeiros, foi constatado que dos 13 indicadores, 8 deles sofreram impacto do rompimento da barragem em Brumadinho, conforme evidenciado no quadro 4.

Quadro 4 - Resumo do desempenho dos indicadores em função do rompimento da barragem de Brumadinho

Grupo Indicador Teve

influência

Não teve influência

LIQUIDEZ

Índice de Liquidez Geral X

Índice de Liquidez Corrente X

Índice de Liquidez Seca X

ESTRUTURA E ENDIVIDAMENTO

Relação Capital de Terceiros e Total X

Participação de Capital de Terceiros X

Relação entre Exigível de CP e LP X

Imobilização do PL X

Imobilização de Recursos X

Capital Circulante Líquido X

RENTABILIDADE

Rentabilidade sobre o Ativo Total X

Rentabilidade sobre o PL X

Giro do Ativo X

Margem Líquida X

Fonte: Elaborado pela autora

Embora alguns indicadores como Liquidez Corrente, Imobilização de Recursos e Capital Circulante Líquido tenham sofrido influência do acidente, apresentaram índices favoráveis em todos os períodos analisados. Dos três indicadores de liquidez, as análises evidenciaram que a Liquidez Seca foi a que mais sofreu impacto devido ao acidente. O indicador vinha crescendo, porém o rompimento da barragem influenciou o mesmo, elevou as obrigações a curto prazo, que cresceram 38,83%, e causou um decrescimento na capacidade de pagamento,

visto que nesse indicador não são considerados os estoques. Quanto ao endividamento da empresa, o indicador “Participação de Capitais de Terceiros” evidenciou que, a dependência por capitais de terceiros aumentou no decorrer dos anos. O crescimento do passivo total no primeiro semestre de 2019 deve-se ao fato das obrigações aumentarem significativamente devido ao acidente, já o patrimônio líquido não apresentou aumento significativo. A Imobilização do Patrimônio Líquido mostrou situação desfavorável em todos os períodos, visto que a empresa possui um alto grau de imobilização, porém o acidente não influenciou o indicador.

Os indicadores de rentabilidade foram os que mais tiveram o seu desempenho comprometido por conta do acidente. Os indicadores “Rentabilidade sobre o Ativo Total” e “Rentabilidade sobre o Patrimônio Líquido” apresentaram resultados negativos no primeiro semestre de 2019, visto que as elevadas despesas relacionadas ao acidente contribuíram para a empresa ter prejuízo no período. Já a “Margem líquida” foi favorável nos dois exercícios, dado que a margem das vendas permaneceu dentro da média do setor em que a Vale atua, conforme apresentado na Figura 15. No primeiro semestre de 2019, a margem foi negativa, embora a empresa tenha aumentado as suas receitas, as elevadas obrigações com o processo de descaracterização de barragens, indenizações, multas ambientais e reparos ao meio ambiente levaram a Vale ao prejuízo em 2019.