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Análise do leitor crítico em O problema do realismo de Machado de

3. RECEPÇÕES CRÍTICAS CONTEMPORÂNEAS

3.1. ANTIRREALISMO MACHADIANO: perspectiva de Gustavo Bernardo

3.1.1. Análise do leitor crítico em O problema do realismo de Machado de

lugares onde se proliferam pesquisas acadêmicas ou são os pesquisadores acadêmicos que podemos chamar de intelectuais da contemporaneidade?

Gustavo Bernardo pertence ao grupo de críticos que faz parte dos espaços de produção acadêmica. Logo, evidentemente, também é influenciado por eles. A escrita textual dele, por exemplo, segue um padrão típico dos textos acadêmicos.

Demarcando a academia como um lugar onde são geradas discussões importantes para as ciências humanas, sociais e artísticas (LOSANO, 2013), atribuímos- lhe o seu papel de relevância na formação desses leitores que, usando o espaço da crítica literária para desenvolver suas habilidades analítico-textuais, o fazem a partir das metodologias que o ambiente acadêmico nos ditou como certas.

Identificar, portanto, o lugar onde nasce grande parte das produções críticas contemporâneas nos ajuda na construção dos nossos critérios de análise do trabalho produzido por Gustavo Bernardo. Ele, enquanto professor universitário e pesquisador, recebe as influências do seu meio, constrói o seu trabalho crítico tendo como base o método e o estilo com os quais são produzidas as pesquisas científicas. Para os estudos da linguagem, por exemplo, sabe-se que já estão estabelecidos os principais eixos temáticos que visam a categorizar essa área de pesquisa: linguística, estudos do texto, estudos literários, análise do discurso, são exemplos, bem genéricos, de como se dividem, academicamente, as possibilidades de estudo sobre a linguagem.

Esse tipo de divisão, bem conhecido por estudantes e professores que participam dos eventos acadêmicos, demonstra que há padrões bem definidos de como as pesquisas devem ser conduzidas. Referimo-nos a isso para afirmar que se trata de um espaço que, direta ou indiretamente, condiciona a forma como as produções acadêmicas são feitas. A partir das instituições de fomento e mesmo pelo formato como são organizados os eventos científicos, aprendemos a nos relacionar com a pesquisa acadêmica por meio de uma forma, seguindo convenções pré-fixadas.

A crítica literária produzida dentro dos padrões da pesquisa acadêmica, portanto, traz consigo as características inerentes ao formato dessas pesquisas. Afirmamos isso, pois nesse texto produzido por Gustavo Bernardo, que discute a colocação da obra machadiana dentro da estética literária realista, vemos que há consonância com a forma como os textos resultados de pesquisas acadêmico-científicas são escritos.

Apesar disso, o que queremos pontuar como relevante desse trabalho crítico, para nossa análise, é que Gustavo Bernardo imprime a esse padrão textual seu

posicionamento de ordem intelectual. É uma produção textual acadêmica, crítica, escrita seguindo os modelos padrões de pesquisas de cunho bibliográfico, mas que teoricamente é conduzida de um jeito que expõe leitura subjetiva do autor. Pontuar essa característica presente em O problema do realismo de Machado de Assis se faz importante não para demarcar o tipo de escrita do autor, mas sim porque percebemos que isso indica certa desconstrução na forma como essa produção crítica é composta.

O que há de desconstrução diz respeito ao fato de que Machado de Assis não é realista dificilmente se sustentável dentro dos padrões teóricos já consagrados por sua fortuna crítica, se não estivesse bem pautada teoricamente. E com isso queremos dizer que a metodologia utilizada pelo crítico contemporâneo, a saber, construir uma crítica em cima de padrões textuais científico-acadêmicos, pode ser encarada como uma estratégia que deu à visão do crítico o respaldo necessário, visto que o argumento principal de seu trabalho se constitui de uma polêmica desconstrução teórica.

Sendo assim, essa produção crítica pode ser encarada como um redirecionamento, principalmente porque, no que concerne ao conteúdo analisado, ou seja, Machado de Assis, e considerando seus críticos, já bem determinados pela história da crítica brasileira e que, de alguma forma, a seus modos, contribuíram para que Machado de Assis fosse considerado o pai do Realismo brasileiro.

Retornando à Marta de Senna, e admitindo Gustavo Bernardo como um leitor volúvel da obra de Machado de Assis, afirmamos que esse texto crítico da literatura machadiana, por ser bastante próximo ao nosso tempo, apresenta-nos outra possibilidade de recepção do conjunto da obra do autor carioca.

Considerando que a crítica convencional seguia o sentido de enquadramento de Machado nas duas escolas literárias, Romantismo e Realismo, Bernardo traz à tona o problema que, como já afirmamos, não é novo, dando-lhe, contudo, outra direção: demonstrar, com sua tese, que Machado de Assis foi adverso ao Realismo.

Acreditamos que esse redirecionamento teórico não pode ser considerado um acinte ao acumulado de trabalhos que, em toda a história da nossa literatura, forjaram o Machado de Assis realista que conhecemos no Ensino Médio. Trata-se, porém, de uma liberdade interpretativa concedida ao crítico literário que, enquanto leitor de Machado, se pensarmos só em Brás Cubas, pode se permitir interpretar conforme alguma volubilidade: “o leitor de Machado [...] se habilita à mais fecunda das interpretações de sua obra: aquela que lhe diz que interpretar é inesgotável” (SENNA, 2013, p. 262). Sendo inesgotáveis as

possibilidades interpretativas do texto machadiano, nos perguntamos, novamente, se essa produção crítica pode ser inserida na estante das críticas literárias machadianas.

Gustavo Bernardo Krause, com seu ensaio teórico-crítico, nos apresenta uma recepção crítica que, para além das discussões concernentes à abordagem desenvolvida, ou seja, o questionamento sobre a categorização da literatura de Machado de Assis, nos faz incluí-lo nesta pesquisa porque vimos que se trata de uma produção permeada por características que a tornam uma leitura de redirecionamento dos estudos machadianos, pois ao questionar o realismo do autor de Esaú e Jacó, o crítico, de alguma forma, quebra a linha de pensamento que se tinha construído, até então.

3.2. A POÉTICA DA EMULAÇÃO: perspectiva de João Cezar de Castro