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Análise do nível de compreensão e satisfação

7. INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO NO CONTEXTO SOCIAL

8.3 O nível de transparência, a compreensão e a satisfação com as informações

8.3.2 Análise do nível de compreensão e satisfação

Na pesquisa de satisfação (realizada de dezembro de 2012 a setembro de 2014 pela Con- troladoria Geral da União através do sistema e-SIC), foram respondidas 19.707 avaliações, montante que corresponde a aproximadamente 12% do total de pedidos formulados no período. O conteúdo desta pesquisa buscou respostas quanto aos níveis de compreensão e de satisfação aos demandantes, classificando as respostas em dois grupos, nos termos sintetizados na Tabela 14.

Tabela 14. Níveis de Compreensão e de Satisfação

Tipo de Resposta Descrição Pergunta

Concordo Total- mente ou Con- cordo Discordo ou Discordo Total- mente

Acesso Concedido A resposta é de fácil compreensão. 83,82% 16,18%

A resposta atende às minhas expectativas. 62,11% 37,89%

Acesso Negado

A justificativa para a negativa do acesso é

de fácil compreensão. 45,53% 54,47%

A justificativa para a negativa do acesso

foi satisfatória. 27,10% 72,90%

Fonte: Elaborada pela autora (2015) com base em Pesquisa da pela Controladoria Geral da União.

Dos demandantes que tiverem o acesso concedido, 62,11% responderam que a resposta atendeu às expectativas e 83,82% consideraram a resposta de fácil compreensão. No entanto, observou-se que, para 37,89% dos demandantes que tiveram o acesso concedido e responderam à avaliação, a resposta recebida não atendeu às suas expectativas, apesar de a grande maioria (83,82%) reconhecer que a resposta foi de fácil compreensão. Assim, concluiu-se que, no as- pecto cognitivo da recuperação da informação, a maioria das pessoas têm conseguido acessar a informação, mas o nível e a precisão da informação necessitam ser aperfeiçoados.

Dos demandantes que tiverem o acesso negado, 45,53% responderam que a justificativa para a negativa de acesso é de fácil compreensão, ao passo que 72,90% responderam que a justificativa foi insatisfatória.

Neste grupo, o nível de insatisfação é bem maior, e mais da metade (54,47%) não con- segue compreender a justificativa da rejeição ao acesso. Estes dois últimos percentuais indicam que não está havendo consenso entre a administração pública federal e os demandantes quanto aos critérios de sigilo. Tais indicadores levam a crer uma permanência da cultura do segredo apontado na seção do contexto de criação da LAI. Assim, conforme a própria administração entende (BRASIL, 2011b, p. 4) “ (...) urge uma transformação da cultura do segredo para a cultura do acesso, da lógica da informação como um favor para a lógica da informação como um bem público”.

A percepção da falta de compreensão dos usuários do sistema (concedidos -16,18% e negados - 54,47%) corrobora com o entendimento de Talja (1997) de que as estruturas de co- nhecimento não são nem objetivas nem subjetivas, mas intersubjetivas, produzidas dentro de um sistema compartilhado de significados. O paradigma cognitivo entende que o significado ou efeito da mensagem pode variar de acordo com o destinatário. Taylor (1986, apud PRES- SER, SANTOS, 2011) já dizia que o valor não é inerente nem encontra-se implícito na infor- mação, pois a informação só tem valor em um contexto, não obstante, é o usuário quem atribui valor à informação. i

Conforme Barreto (1994),a Ciência da Informação tem estudado o fenômeno da infor- mação como a adequação de um processo de comunicação que se efetiva entre emissor e recep- tor da mensagem. É uma condição da informação: ela só se explica se é aceita como tal e o conhecimento só se realiza na consciência dos receptores da informação. Seguindo a lógica desse autor, a informação é qualificada como instrumento modificador da consciência do ho- mem, portanto, caso não seja adequadamente apropriada, não produzirá conhecimento e assim não propiciará benefícios para seu desenvolvimento e para o bem-estar da sociedade em que ele vive.

Para Talja (1997), conhecimento consiste de uma mistura de conhecimentos de uma cul- tura específica. Em certos contextos sociais e dentro de certos interesses sociais esses pressu- postos aparecem como factuais ou válidos, enquanto que em outros contextos sociais são ques- tionáveis. No contexto brasileiro, essa pesquisa demonstra que está havendo uma rejeição re- presentativa da população quanto aos critérios de restrição de acesso às informações públicas. Platt Neto et al (2004),por sua vez, entende que no quesito de compreensibilidade a res- ponsabilidade é tanto da administração (em buscar simplicidade, mediante uma linguagem aces- sível e orientada ao perfil dos usuários), como dos usuários (em construir um conhecimento mínimo necessário, isto é, ter de formar uma base educacional).

Quanto aos níveis de insatisfação, observou-se que são altos nos dois grupos, no de acesso concedido, 37,89%, e também no de acesso negado, 72,90%. No entanto, considerando o nú- mero de recursos impetrados na primeira instância administrativa recursal, do total de pedidos interpostos (161.459), apenas 7,33% (11.840) do total de pedidos respondidos geraram recursos ao chefe hierárquico. Este pequeno percentual pode ser considerado um indicador da subservi- ência do cidadão, perante as decisões da administração pública federal, ou, ainda, pode denotar a desmotivação dos brasileiros em relação ao governo, a ponto de não insistir por não acreditar no sucesso de suas reivindicações.

A proposição de recursos deveria refletir o nível de participação responsável dos cidadãos na formação do regime de transparência previsto na LAI. Como afirmou Platt Neto et al(2004), os cidadãos devem verificar e criticar a confiabilidade das informações, a fim de que elas sejam úteis para suas decisões. Segundo Calland e Neuman (2004), durante a fase de implementação de um regime de informação, a participação da sociedade civil precisa ser enérgica e compro- metida. O governo tem a responsabilidade de colocar os sistemas e processos necessários, mas os cidadãos devem se preparar para usar a lei e monitorar os esforços do governo.

Os recursos examinados, como mostra a Tabela 15, tiveram como principais motivos de interposição: “a concessão da informação de maneira incompleta” (38,28 %) e “a concessão sem correspondência com a solicitada” (25,74%), seguidos de “Outros” (19,76%) e de “insa- tisfação quanto à justificativa para o sigilo” (8,91%).

Tabela 15. Distribuição de Recursos por Motivação

Motivos para interposição de recursos

Motivo Quantidade %

Informação incompleta 4532 38,28%

Informação recebida não corresponde à solicitada 3048 25,74%

Outros 2339 19,76%

Justificativa para o sigilo insatisfatória/não informada 1055 8,91%

Ausência de justificativa legal para classificação 478 4,04%

Informação recebida por meio diferente do solicitado 133 1,12%

Informação classificada por autoridade sem competência 98 0,83%

Grau de sigilo não informado 48 0,41%

Grau de classificação inexistente 44 0,37%

Autoridade classificadora não informada 37 0,31%

Prazo de classificação inadequado para o grau de sigilo 16 0,14%

Data da classificação (de início ou fim) não informada 12 0,1%

Total 11840

Fonte: Elaborada pela autora (2015) com base no Relatório de Recursos (e-SIC) de junho/2012 a maio/2015

Observou-se que o principal motivo de insatisfação constante dos recursos foi a concessão de informação incompleta, o que demonstrou mais uma vez um baixo nível de exaustividade quanto à recuperação das informações.

O segundo motivo de insatisfação foi erros de conteúdo na concessão de informação, o que demonstra um alto nível de imprecisão e a dificuldade de diálogo entre os cidadãos e a administração pública.

Verificou-se também que o percentual de insatisfação com relação à justificativa para a negativa do acesso (72,9 %) não foi refletido no percentual de recursos impetrados pelo mesmo motivo (8,91%). No entanto, considerando o total de pedidos desde junho de 2012 até maio de 2015, observou-se que a quantidade de recursos tem incrementado nos últimos 2 anos. Do pri- meiro para o segundo, houve um incremento de 5,88%, no segundo, um incremento de 10,06% (ver Tabela 16).

Tabela 16. Evolução do Percentual de Recursos de Primeiro Grau

2012 2013 2014

Recursos de 1º. grau 5792 6154 6842

Total pedidos 86236 86815 95688

Indicador de Revocação/ Insatisfação 6,72% 7,09% 7,15%

5,88% 10,06%

Fonte: Elaborada pela autora (2015) com base no Relatório de Recursos (e-SIC) de junho/2012 a maio/2015

Apesar do pequeno número de recursos propostos, frente ao nível de insatisfação, tal evo- lução de demanda a nível recursal demonstra que existe uma tendência de que o cidadão pro- voque mais a administração pública, não permanecendo com a atitude passiva de aceitação das respostas insatisfatórias. Nesse sentido, vale a consideração de Calland (2004), de que para fazer cumprir o direito de acesso à informação é preciso que a sociedade civil reconheça a sua responsabilidade de desenvolver o lado das demandas, aperfeiçoando o nível de oferta de in- formações de responsabilidade dos titulares da informação (governo ou do setor privado). Para ele, a implementação efetiva de uma lei de acesso à informação decorre de uma parceria entre aqueles que ofertam (titulares da informação) e os que solicitam a informação (cidadãos, orga- nizações da sociedade civil, meios de comunicação, etc.).

Com efeito, a partir da análise dos dados colhidos, observou-se que o exercício da trans- parência passiva vem sendo efetuado satisfatoriamente em determinados aspectos, principal- mente quanto à disponibilização de informações, porém as respostas precisam ser consideradas mais compreensíveis e satisfatórias, mesmo porque quem tem o poder de legitimar esse sistema público de informação é a sociedade.