• Nenhum resultado encontrado

3.1 T EMA 1 P ERCEPÇÕES E P RÁTICAS A PRESENTADAS P ELOS P ARTICIPANTES EM

3.1.1 Análise do Processo de Inclusão do Aluno com Deficiência(S) em Classe

Questionadas sobre como percebem o processo de inclusão de alunos com deficiência no ensino regular, na sua escola e na sua sala de aula, duas participantes (P2 e P3) destacaram apenas dificuldades relacionadas à falta de formação do professor, como podemos ver:

Muito complicado, porque nem todos estão preparados para isso, e mesmo tendo a parte teórica, que é uma coisa e a prática é outra. (P2)

É difícil, tenho percebido que algumas professoras ou quase todas as professoras não aceitam, já dizem de cara que não se sentem preparadas, que não estão prontas para atender o aluno. (P3)

Percebemos que estas participantes recortaram apenas um aspecto referente ao processo de inclusão: a formação do professor, ou seja, centraram sua análise nas dificuldades encontradas devido à falta de preparação para atender os alunos com NEE. Destacamos, também no relato de P2, o fato de comentar que mesmo tendo a parte teórica, a prática é outra. Isto nos leva a perceber que nesse relato está embutida a análise de que a preparação teórica do professor não é suficiente para promoção do processo de inclusão dos alunos com NEE.

Carvalho (2003, p. 43), também pontua a falta de formação do professor como uma das principais dificuldades para promover a inclusão de alunos com deficiência. A autora relata que, ao longo dos períodos de assessoramento técnico, em âmbito institucional, em Secretarias Municipais de Educação e escolas brasileiras, pesquisou, com os professores da rede pública de ensino, suas concepções acerca da educação inclusiva. Os resultados indicaram, quase unanimemente, que os professores não se sentem preparados para trabalhar com alunos deficientes em suas turmas comuns. Entre outros aspectos, consideram falta de respeito para com os alunos com deficiência(s), e seus professores, incluí-los no ensino regular sem que as escolas estejam totalmente preparadas para esse trabalho – seja em termos arquitetônicos, profissionais ou atitudinais, e ainda, que apesar de se sentirem inseguros, alguns professores manifestaram o desejo de enfrentar o desafio.

De acordo com Dal Forno (2005, p. 44-45), “para alguns professores a ausência de formação para trabalhar com alunos com NEE é motivo suficiente para não aceitarem esse desafio”. A autora considera que “a rejeição de alguns professores com relação à presença do aluno com NEE na sua sala de aula pode estar relacionada à falta de informação ou, como alguns atribuem, à ausência de formação”, o que significa, segundo Martins (2008, p. 140), que “cada vez mais se reconhece que especial atenção precisa ser atribuída à formação inicial dos professores, de maneira a permitir o desenvolvimento de um trabalho com diferentes tipos de educandos, nos vários níveis de ensino”.

Apenas uma participante (P1) avaliou o processo de forma positiva, uma vez que, apesar das dificuldades, na escola na qual atua, o aluno com

deficiência é bem aceito e que, em sua opinião, o professor pode contribuir para a inclusão acontecer de forma positiva. Ela assim relatou:

Positivo, a inclusão é muito positiva, a gente pensa que todo ser humano merece estar incluído na sociedade, merece estar trabalhando, e a escola prepara para isso ou pelo menos tenta. [...] Olha, na minha escola, eu acho que até é bem aceita, diferente de muitas escolas que a gente vê às vezes, que as pessoas criticam muito, aqui assim, dá impressão que todo mundo acolhe bem, mesmo com as dificuldades que a gente sente. (P1)

O relato de P1 nos remeteu a Duek (2006, p. 78), por considerar que na educação inclusiva “os professores se deparam com um impasse, cuja formação, provavelmente, não lhe deu condições de antever”. No entanto, a autora complementa que, nesse contexto, “o professor terá que aprender a conviver com sentimentos conflitantes e paradoxais, ao mesmo tempo em que deverá estar aberto, disposto a rever suas ideias e modelos educativos tradicionais”. Desse modo, inferimos que, provavelmente, é esse aprendizado de convivência com sentimentos e, ainda, a disposição para revisão das ideias e práticas educativas, que contribui para que na escola onde P1 atua, apesar das dificuldades encontradas, esteja trabalhando, ou pelo menos tentando fazer a inclusão acontecer de forma positiva. Seu relato nos permite observar que a sua percepção do processo de inclusão dos alunos com deficiência no ensino regular, tem o foco nas possibilidades e não, apenas, nas dificuldades relacionadas à falta de formação dos professores.

A participante P1 demonstra perceber o quanto sua atuação pode favorecer o desenvolvimento de seus alunos. Ela complementou que, atualmente, existe mais abertura e formação, fator que considera muito importante e, no dia-a- dia, as dificuldades vão sendo, aos poucos, superadas.

Hoje, graças a Deus teve uma abertura, e a instrução também que é muito importante para os professores, porque realmente assusta não é? Porque o professor pensa: nossa, vou trabalhar com aluno diferente, aluno com problema, que tenha mais dificuldade. Mas é uma necessidade, porque a gente está vendo, está constatando no dia-a-dia, que está superando, que está ajudando, nem que for um pouquinho, mas a gente sente que, dependendo da dificuldade de cada um, de alguma forma está ajudando, está crescendo, está melhorando e a gente sabe que não é fácil, mas vai aos poucos superando, vencendo uma dificuldade, vencendo outra. (P1)

Compreendemos que a abertura, a instrução para os professores, a que P1 se referiu, diz respeito a cursos de formação continuada, o que é uma necessidade, pois tais cursos proporcionam a ampliação e o contato com novas informações e teorias. Além disso, compactuamos com Duek (2006, p. 85), que considera necessário haver, nas escolas, uma rotina de encontros para estudos e discussão, acerca do fazer pedagógico, uma vez que a ação e a formação docente envolvem “a apropriação e a ressignificação da própria experiência por parte do professor, que influenciarão sobre os seus modos de atuar, junto ao educando com necessidades educacionais especiais”. Para a autora:

Em meio ao debate acirrado acerca da inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais, bem como da necessidade de capacitação do professorado, para atender à demanda dos mesmos, não podem ser esquecidas as especificidades do ser docente, que também tem suas necessidades, suas fragilidades, seus “dramas” pessoais, suas limitações e precisa ser apoiado, amparado e escutado pela instituição em que atua (DUEK, 2006, p. 85).

Outro ponto a ser considerado, segundo Duek (2006, p. 86) é a necessidade de pensar na formação do professor que atua junto ao aluno com NEE, “haja vista que esse tem colocado o professor diante de situações existenciais pouco estudadas e conhecidas”, o que, de fato, constitui-se em uma preocupação, muito embora P1 demonstre, em seus relatos, ter aceitado o desafio.

A participante P1 mencionou, ainda, a necessidade de refletir sobre a prática para melhorá-la constantemente.

A gente precisa fazer uma reflexão mesmo no dia-a-dia do que a gente está fazendo, como está trabalhando, para que a gente possa intervir [...] com esse aluno de inclusão e aí uma necessidade maior da gente estar sempre refletindo sobre o processo ensino- aprendizagem, de como está sendo a nossa prática para poder melhorar, não é? (P1)

Neste aspecto, concordamos com Dal Forno (2005, p. 76), por considerar que esse desejo, do professor, de melhorar constantemente, “conduz a uma reflexão capaz de criar novas significações, um novo pensar em relação ao aluno incluído e, por conseguinte, promover alterações na forma de trabalhar com esse aluno”.

Para Martins (2008, p. 140), “a formação, de acordo com os princípios de atenção à diversidade, deve possibilitar condições para que os docentes reflitam constantemente sobre a sua prática, com vistas à melhor lidar com as diferenças presentes no alunado”. No entanto, as participantes P2 e P3 não mencionaram a presença da reflexão ao avaliarem o processo de inclusão de alunos com deficiência em suas escolas, ou mais especificamente, em suas salas de aula. Nesse sentido, concordamos com Damasceno, que aponta:

[...] o trabalho a ser feito é o despertar pela conscientização da necessidade de se refletir sobre a realidade para nela intervir. Parece-me que isso está posto a poucos, daí podemos entender o discurso da maioria dos professores que se sentem incapazes de participar do processo (DAMASCENO, 2006, p. 23).

Tendo em vista que a qualidade da aprendizagem dos alunos é influenciada pelos “processos educacionais que acontecem na classe” e “pela capacidade do docente analisar e refletir sobre sua prática, a fim de tomar decisões que promovam a aprendizagem e a participação de todos os educandos” (DUK, 2006, p. 172), a seguir, apresentaremos as análises dos relatos e dos dados de observação no que concerne ao desempenho acadêmico dos alunos com deficiência incluídos nas salas de aula das participantes da pesquisa.