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Análise do Profissional Tils na Lei Nº 12.319, de 1º de setembro 2010

4. PROFISSÃO TILS NA EDUCAÇÃO: O QUE VERSAM AS LEGISLAÇÕES?

4.2. Análise do Profissional Tils na Lei Nº 12.319, de 1º de setembro 2010

A profissão do Tradutor e Intérprete de Libras é reconhecida, por meio da Lei Nº 12.319/10 (BRASIL, 2010) chamada de Lei de Intérpretes de Libras, que se consolida, dentre outros, por meio das lutas do Movimento Surdo.

Em seu Artigo 1º regulamenta o exercício da profissão e em seu Artigo 2º destaca que “O tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das 2 (duas) línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua Portuguesa” (BRASIL, 2010).

Dessa forma,

É possível considerar que o tradutor e intérprete são profissionais ponte, ou seja, favorecem que uma mensagem cruze a “barreira linguística” entre duas comunidades. Desse modo, tradução e interpretação têm muito em comum, pois são dois modos de alcançar esse mesmo objetivo. Outro aspecto comum é que em ambas as atividades é fundamental dominar os idiomas envolvidos, sendo que o tradutor precisa ter domínio da forma escrita e o intérprete da forma oral. (LACERDA, 2009, p. 17).

O profissional TILS deverá transitar entre os falantes de línguas distintas, sendo capaz de traduzir e interpretar o discurso deles; porém, tradução e interpretação possuem especificidades, uma vez que a conversão desses discursos deverá ser considerada para que os objetivos comunicacionais se concretizem. Por ser uma atividade recente do ponto de vista histórico-temporal, a tradução e a interpretação em língua de sinais é ainda um grande desafio no que diz respeito aos aspectos técnico e profissional, principalmente, no âmbito da educação.

A Lei trouxe regulamentação para o exercício da função de Tils; contudo, não oferece subsídios no trato das questões linguístico-culturais envolvidas em seu exercício (FERNANDES, 2014). Além disso, não é incomum constatar que muitas instituições de

ensino, sobretudo na Educação Básica, não contam com a presença desse profissional para o suporte e acompanhamento ao aluno Surdo durante as aulas, conforme determina o Decreto5.626/2005, analisado anteriormente.

A preocupação em garantir qualidade ao atendimento na prestação de serviços dos Tils é uma política pública que deverá ser traduzida em ações afirmativas para a práxis do profissional considerando a linguística da Libras.

A formação específica em nível de graduação também passou a ser ofertada, e é fundamental que se amplie, de modo a habilitar o tradutor e intérprete de Libras “para atuar em diversas áreas e situações que vão desde interpretações em eventos e salas de aula até acompanhamentos em consultas médicas, entre outros espaços, que se façam necessária à presença deste profissional” (SANTOS; MARTINS, 2015, p. 4).

As demandas de serviços de interpretação e tradução se tornam cada vez mais solicitadas e fazem com que o Tils permeie diversos espaços. Portanto, sua formação deverá ser contínua, considerando que apenas a formação inicial não será suficiente para sua atuação em outros contextos e, por isso, torna-se necessário propiciar cursos de pós-graduação. Além disso, o profissional Tils deve ter uma relação teórico-prática na sua formação e domínio linguístico e discursivo, já que seu campo de trabalho é bastante amplo e está em constante transformação.

Esse olhar sobre a legislação possibilita compreender que para o Tils desenvolver seu trabalho com excelência, deverá comprometer-se com sua formação, advinda também da troca de experiências entre profissionais mais experientes e com o público alvo, a pessoa com surdez.

O Artigo 6º da referida Lei destaca as atribuições do TILS:

I - efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdos- cegos, surdos-cegos e ouvintes, por meio da Libras para a língua oral e vice- versa;

II - interpretar, em Língua Brasileira de Sinais - Língua Portuguesa, as atividades didático-pedagógicas e culturais desenvolvidas nas instituições de ensino nos níveis fundamental, médio e superior, de forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares;

III - atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino e nos concursos públicos;

IV - atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim das instituições de ensino e repartições públicas; e

V - prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos administrativos ou policiais. (BRASIL, 2010).

Para que o Tils atenda às atribuições desse Artigo, deverá ser um profissional proficiente no uso das línguas fonte e alvo, conhecendo as especificidades da pessoa Surda, especialmente sua cultura, além de vocabulário abrangente. Sobre fluência e proficiência, Albres (2015, p. 30) destaca:

A fluência está relacionada à capacidade de comunicar-se e interagir de forma adequada em uma língua sem interrupções, sem perder o ritmo desencadeando adequadamente as palavras. Por sua vez, a proficiência linguística é mais abrangente e envolve outras habilidades como, usar apropriadamente o vocabulário e discursos. [...] A fluência de intérpretes é apenas um dos aspectos ligados à proficiência linguística. Facilmente se julga que não somente a fluência, mas também a proficiência na área escolar deve ser almejada por aqueles que atuam como intérpretes educacionais em sala de aula.

A legislação não trata de forma clara sobre a formação acadêmica para o Tils, deixando claro que deverá ser em nível médio e não faz referência à formação em curso de graduação. Porém, caberá a cada profissional atentar-se para sua atuação, buscando capacitação por meio de cursos de extensão, cursos de graduação voltadas para áreas afins, certificação de proficiência que convalidam sua qualificação, dentre outros.

Art. 7.º O intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico, zelando pelos valores éticos a ela inerentes, pelo respeito à pessoa humana e à cultura do surdo e, em especial:

I - pela honestidade e discrição, protegendo o direito de sigilo da informação recebida;- pela atuação livre de preconceito de origem, raça, credo religioso, idade, sexo ou orientação sexual ou gênero;

II - pela imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber traduzir; III - pela postura e conduta adequadas aos ambientes que frequentar por causa do exercício profissional;

IV - pela solidariedade e consciência de que o direito de expressão é um direito social, independentemente da condição social e econômica daqueles que dele necessitem;

V - pelo conhecimento das especificidades da comunidade surda. (BRASIL, 2010).

No artigo supracitado, ressaltamos o rigor técnico, a ética que deverá nortear a profissão do Tils, além dos valores morais como honestidade, discrição, imparcialidade, fidelidade, posturas e condutas adequadas, solidariedade e respeito ao direito de expressão, além de ter conhecimentos das especificidades da comunidade Surda. Desse modo, requer um olhar técnico ao mesmo tempo que enseja valores alinhados à profissão, que perpasse o conhecimento da língua indo de encontro aos propósitos de inclusão, que refuta qualquer tipo de preconceito ou discriminação.

Todas essas considerações também são reafirmadas no Código de Conduta e Ética da Federação Brasileira das Associações dos Profissionais Tradutores e Intérpretes e Guia

Intérpretes de Língua de Sinais – FEBRAPILS que, em 13 de abril de 2014, durante Assembleia Geral Ordinária, e em consonância com a Lei ora tratada, deliberou aprovando o documento supracitado.

Outra observação é que a Lei Nº 12.319/2010, teve três vetos ( Arts. 3º , 8º e 9º) que poderiam influenciar a tomada de outros rumo na educação dos Surdos, sendo estes importantes para atender à crescente demanda de inclusão. Os vetos geram polêmica entre profissionais, estudiosos da área, os próprios Surdos e seus familiares e, especialmente, entre os Tils, pois são estes grupos que defendem e apoiam os interesses dos Surdos, apoiando-se no discurso das diferenças.