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5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

5.4 Análise do questionário

Além de ajudar a isolar variáveis indesejáveis, como, por exemplo, indicando alunos que tivessem morado fora do Brasil e que, consequentemente, não poderiam ter seus dados analisados, o questionário também buscou encontrar pistas de aspectos extralinguísticos que pudessem ajudar a explicar os achados de cada grupo ou que pudessem explicar o desempenho de alunos excepcionais.

As tabelas abaixo mostram a quantidade de participantes de cada grupo para cada marcação das perguntas fechadas. Para essas perguntas, os alunos tinham que assinalar um número de um a cinco de acordo com o grau de concordância que eles tinham com relação à afirmação proposta. No caso da última pergunta da tabela, os participantes tinham que marcar uma das quatro opções. O questionário completo está no apêndice C.

É importante para mim soar como um falante nativo de inglês. Concordo completamente 1 2 3 4 5 Discordo completamente Pré 3 6 1 PC 4 6 Pós 2 5 2 1

Eu gostaria de ser confundido com um(a) falante nativo(a) de inglês. Concordo completamente 1 2 3 4 5 Discordo completamente Pré 5 5 PC 3 5 1 1 Pós 5 1 1 2 1

Não me importaria se falantes nativos de inglês me identificassem como brasileiro por causa do meu sotaque.

Concordo completamente 1 2 3 4 5 Discordo completamente Pré 4 2 2 2 PC 3 1 3 1 2 Pós 3 4 2 1

Tabela 5.29: Marcações dos aprendizes nas perguntas fechadas do questionário.

As três primeiras perguntas relatadas tinham por objetivo verificar a vontade dos alunos de soar como falante nativo e não se identificar por sotaque brasileiro, suas crenças de ser necessário ou não soar como falante nativo para dominar a L2, e ainda se é positivo ou negativo carregar um sotaque de brasileiro na sua L2. As respostas foram variadas em todos os grupos e não apresentaram correlação com idade.

É possível aprender inglês de maneira completa no Brasil, sem precisar morar ou fazer cursos em país falante de inglês.

Concordo completamente 1 2 3 4 5 Discordo completamente Pré 3 3 2 1 1 PC 5 2 1 2 Pós 4 1 2 2 1

Avalie a sua motivação atual com relação à aprendizagem de inglês.

Muito motivado 1 2 3 4 5 Muito

desmotivado

Pré 4 3 3

PC 2 5 2 1

Pós 2 4 4

Tabela 5.30: Marcações dos aprendizes nas perguntas fechadas do questionário.

As perguntas da tabela 5.30 tinham dois objetivos. O da primeira era verificar a posição dos alunos com relação à crença de ser ou não possível aprender a L2 de maneira plena no contexto desta pesquisa, i.e. exclusivamente na sala de aula da L2, sem precisar morar em um país falante da L2. A segunda pergunta procurou investigar o nível de motivação geral dos participantes com relação à aprendizagem de L2. Novamente, as repostas foram variadas em todos os grupos e não apresentaram correlação com idade.

Eu me identifico com a cultura, arte (música, filmes, etc.) e modo de viver do(s) país(es) que eu mais associo à língua inglesa.

Concordo

completamente 1 2 3 4 5

Discordo completamente

Pré 7 2 1

PC 5 2 2 1

Pós 1 1 4 4

Estou feliz/satisfeito com a minha pronúncia de inglês. Concordo completamente 1 2 3 4 5 Discordo completamente Pré 2 4 4 PC 1 1 6 2 Pós 1 3 3 3

Como você avalia sua pronúncia de inglês? Eu soo como

nativo.

Eu soo quase como nativo.

Algumas vezes eu soo como nativo, mas na maioria das vezes não.

Eu tenho sotaque de brasileiro no meu inglês. Pré 5 4 1 PC 2 5 3 Pós 3 7

Tabela 5.31: Marcações dos aprendizes nas perguntas fechadas do questionário.

As últimas perguntas relatadas tinham a finalidade de verificar quanto os aprendizes se identificam com a cultura do país que eles normalmente associam à L2 e o nível de satisfação com suas pronúncias do inglês por meio de autoavaliação em duas perguntas diferentes. Essas três perguntas foram as únicas que apresentaram alguma correlação com idade. A identificação com a cultura da L2 apresentou correlação de =0,63 p=0,000; nível de felicidade/satisfação com a própria pronúncia apresentou correlação de = 0,64 p=0,000; e a autoavaliação em quatro categorias apresentou =0,65 p=0,00084.

Com relação às perguntas abertas, nenhuma delas mostrou algum tipo de correlação ou tendência, com a maioria dos alunos demonstrando boa motivação durante o curso e, de maneira geral, demonstrando necessidade do inglês em suas (futuras) carreiras. A lembrança de professores que enfatizaram o ensino da pronúncia em sala de aula, ou o uso de estratégias para prática da pronúncia por parte dos alunos variou bastante a não sistematicamente. Na pergunta sobre a busca de oportunidades de exposição extraclasse ao inglês, apenas dois alunos responderam não procurar maneiras de se expor à L2 fora da sala de aula. Todos os outros mencionaram, de modo geral, o uso de internet, músicas, filmes ou programas de TV como maneiras de buscar maior exposição à L2.

5.4.1 Análise qualitativa de alunos excepcionais

O quadro 5.4 apresenta os alunos que se destacaram nas análises conduzidas, com desempenho superior ao da média de seus grupos e, em algum dos casos, com desempenhos como de falantes nativos.

Duração e F1/F2 de [] e [] Duração e F1/F2 de [] e [] Julgamento do painel de juízes

preH04 Sim Sim Sim

preM01 Sim Sim Sim

preM02 Sim Sim

preH03 Sim preM03 Sim pcH05 Sim Sim pcH02 Sim pcM02 Sim pcM04 Sim pcM05 Sim pcH05 Sim posH01 Sim posM05 Sim

Quadro 5.5: Alunos que se destacaram nas análises conduzidas.

Um destaque já mencionado neste capítulo e que não consta no quadro acima é a de preM02 na soma das distâncias euclidianas entre a vogal X dos participantes e a vogal X do grupo controle. Com isso, os alunos preH04, preM01 e preM02 tiveram desempenho superior ao da média de seus grupos em três quesitos, o aprendiz pcH05 em dois quesitos, e os outros registrados no quadro 5.4 em um quesito. É impressionante que, entre os aprendizes excepcionais, haja dois do grupo pós-período crítico.

As respostas desses alunos excepcionais ao questionário não apresentam nenhum fator que, isoladamente, possa explicar seus desempenhos superiores. Todos eles têm respostas que apontam para um alto grau de motivação e envolvimento na aprendizagem da L2, mas muitos alunos que não foram destaque, ou até mesmo alguns que tiveram desempenho abaixo da média, também demonstram alto nível de motivação e envolvimento na aprendizagem da L2.

Por exemplo, o aluno preH04, que foi um dos que mais se destacou, diz, por meio de suas marcações e respostas abertas ao questionário, que é altamente motivado, que gostaria de soar como falante nativo, que gostaria de ser confundido com um falante nativo, que se identifica com a cultura que ele associa à L2, que procura se expor à L2 por meio de mídias eletrônicas e que acredita ser possível aprender a L2 no Brasil.

Essas são ótimas características em um aprendiz de línguas que professores de línguas possivelmente gostariam de passar para todos seus alunos. É até mesmo possível que essas

sejam características comuns a todos os aprendizes de língua bem sucedidos. Contudo, vários participantes desta pesquisa que tiveram desempenho mediano, ou até mesmo abaixo da média de seus grupo, tiveram respostas iguais às de preH04.

Esse resultado condiz com uma das conclusões a que Piske, MacKay e Flege (2001) chegaram ao analisarem 30 anos de estudos fonológicos, que a maioria dos estudos que relacionam motivação e sotaque estrangeiro aponta para uma influência da motivação na fala do aprendiz, mas que a motivação não necessariamente livra o aprendiz do sotaque estrangeiro.

Desempenhos atípicos também podem ser vistos negativamente. A figura 5.38 mostra um vale no grupo pré-período crítico e outro no grupo período crítico, que fogem do padrão. Esses dois pontos se referem aos participantes preH02 e pcM01, respectivamente, que foram os únicos participantes dos grupos pré-período crítico e período crítico que obtiveram notas acumuladas menores que a média do grupo pós-período crítico.

Entretanto, semelhante à investigação dos questionários dos alunos excepcionais, não foi encontrado nenhum traço nos questionários desses alunos com desempenho inferior que isoladamente explique seus desempenhos. Muito pelo contrário, o aluno preH02, que teve desempenho inferior, por exemplo, se mostra tão motivado e envolvido na L2 quanto o aluno preH04, que foi o que mais se destacou no julgamento dos juízes.

Um último exemplo de como uma análise individual dos questionários não revelou padrões no resultado do julgamento dos juízes é o do participante pcH03. Esse aluno aparenta ser o mais desmotivado entre os participantes da pesquisa. Ele se diz desmotivado, não se identifica com a cultura que ele associa à L2, não acredita ser possível aprender a L2 morando no Brasil, não gostaria de ser confundido com um falante nativo, e, mesmo assim, obteve nota máxima em inteligibilidade duas vezes.

Com essa busca por alunos excepcionais, não deixa de ser interessante, todavia, encontrar aprendizes de inglês-L2 que, aprendendo inglês exclusivamente na sala de aula do Brasil, tenham obtido ótimos desempenhos na análise da qualidade de suas vogais e notas máximas no julgamento do painel de juízes, inclusive com alguns deles ―se passando‖ por falantes nativos para os ouvidos de certos juízes, mesmo que poucas vezes e com uma amostra limitada de fala. Afinal, o objetivo dos cursos de inglês não deve ser formar falantes nativos, e sim bilíngues proficientes, fluentes e eficientes.

6 CONCLUSÃO

O capítulo final desta tese retoma as perguntas, os objetivos e as hipóteses do capítulo introdutório, faz sugestões de estudos futuros com base nas limitações desta pesquisa, e destaca a relevância e a aplicação deste estudo.