Análise dos dados

Esta pesquisa realizou uma triangulação de dois métodos de análise, a saber: a análise de conteúdo — sobre a observação e as entrevistas — e a análise documental — sobre o balanço de atividades do PAC em Pernambuco. Conforme Flick (2013, p. 183), a triangulação contribui para a melhoria da qualidade na pesquisa, de forma que, ao aplicar diferentes métodos de análise nos dados, amplia-se a aquisição de conhecimento. A análise documental já foi abordada no subitem 3.3.1, sendo necessária nesta seção uma maior explicação sobre a análise de conteúdo.

3.4.1 Análise de conteúdo

A análise de conteúdo é "um método empírico para a descrição sistemática e intersubjetivamente transparente das características substanciais e formais das mensagens" (FRÜH, 1991, p. 25, apud FLICK, 2013, p. 134). Constitui-se em uma metodologia clássica, pois está fundamentada no uso de categorias provenientes de modelos teóricos. Possui como objetivo "classificar o conteúdo dos textos alocando as declarações, sentenças ou palavras a um sistema de categorias" (FLICK, 2013, p. 134).

Esta análise procura dar sentido aos dados,

captar-lhes as intenções, comparar, avaliar, descartar o acessório, reconhecer o essencial e selecioná-lo em torno das ideias principais. [...] consiste em desmontar a estrutura e os elementos desse conteúdo para esclarecer suas diferentes características e extrair sua significação (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 214).

Foi realizada nesta pesquisa uma análise de conteúdo clássica amparada em categorias, na qual se privilegiou a repetição de frequência dos temas no conjunto de dados, permitindo, dessa forma, maior fidelidade, distanciamento e relativização da análise. Entretanto, a fim de enriquecer a pesquisa, não se excluíram alegações originais e contextuais que não estavam dentre as maiores repetições verbalizadas e/ou observadas, trazendo significações importantes e específicas para o processo de investigação (BARDIN, 2014, p. 91).

Cada uma das entrevistas possuiu uma lógica, dinâmica e estruturação própria, o que requereu que cada nova interlocução possuísse um distanciamento de si mesmo e dos diálogos passados, procurando-se registrar os temas e a forma de mostrá-los ou ocultá-los (BARDIN, 2014, p. 92-93).

Antes do início das análises foram realizadas a transcrição das entrevistas e a compilação de todas as anotações referentes às observações sobre o campo. Ao discorrer sobre a análise dos dados, teve-se em mente questionamentos como: "O que poderia estar esta pessoa a dizer realmente? Como isso é dito? Que poderia ela ter dito de diferente? O que não diz ela? O que diz sem o dizer? Como é que as frases e as sequências se encadeiam entre si?" (BARDIN, 2014, p. 94). A sua apreciação foi

sintagmática (segue o encadeamento, único e realizado numa entrevista, de um pensamento que se manifesta por uma sucessão de palavras, frases e sequências) e, ao mesmo tempo, paradigmática (tem em mente o universo dos possíveis: isso não foi dito, mas poderia tê-lo sido dito, ou foi efectivamente dito noutra entrevista) (Idem).

O processo de análise iniciou-se com a verificação temática, a qual segmentou as transcrições e anotações das observações sobre a comunidade entre as principais categorias analíticas da qualidade de vida (educação, trabalho, infraestrutura urbana, saúde, habitação, abastecimento de energia elétrica e de água, esgotamento sanitário, mobilidade, questões ambientais e participação/organização política). Posteriormente, extraiu-se o significado que os entrevistados possuem sobre cada uma das categorizações. Depois, fez-se uma análise sequencial, destacando-se trechos relacionados às categorias. Por fim, realizou-se uma nova busca por fatos portadores de sentido que não foram contemplados nas principais categorias de análise e/ou que não constaram com maiores frequências de repetição entre os atores estudados (BARDIN, 2014, p. 96-101).

Com relação às entrevistas com representantes da Empresa Suape e do Governo do Estado de Pernambuco, antes de realizar a mesma análise sequencial descrita no último parágrafo, seccionaram-se as transcrições com base nas seguintes categorias: interesse dos

órgãos pela região de Suape, o que entendem por desenvolvimento, a forma como conduzem o desenvolvimento, a relação com os investimentos que vêm do PAC e a relação com as comunidades autóctones.

A estratégia da análise de conteúdo adotada é a de emparelhamento, que "consiste em emparelhar ou, mais precisamente, em associar os dados recolhidos a um modelo teórico com a finalidade de compará-los" (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 227). O pesquisador se apoiou na teoria sobre desenvolvimento e qualidade de vida para compreender o objeto de estudo, estabelecendo coerências entre a fundamentação teórica e o contexto observado. Desse modo, a qualidade e a organização da teoria se tornaram essenciais, pois foi sobre elas que se teceu toda a análise e interpretação dos conteúdos (Idem).

No Quadro 05, foram especificadas as categorias constitutivas e operacionais da pesquisa a partir da fundamentação teórica, por intermédio das definições que foram atribuídas aos principais termos utilizados na pesquisa. Em seguida, definiram-se as categorias operacionais da análise, descrevendo como tais termos foram identificados na realidade estudada (VIEIRA; ZOUAIN, 2006, p. 19).

Quadro 05 - Categorias constitutivas e operacionais de análise.

CATEGORIAS CONSTITUTIVAS DEFINIÇÃO VARIÁVEIS OPERACIONAIS DA ANÁLISE Desenvolvimento hegemônico, dominante ou econômico

Surge com "o intuito de aumentar a produtividade e a renda por habitante, mediante acúmulo de capital e incorporação do progresso técnico" (BRESSER- PEREIRA, 2006, p. 01), buscando implantar a modernidade e estabelecer instrumentos de intervenção no intuito de aproximar as sociedades existentes ao parâmetro de uma sociedade ideal (SANTOS, T., 2000, p. 15- 16).

Políticas e ações dos governos Federal, Estadual e Municipal centradas na dinamização econômica da região; priorização da industrialização e de estímulo às cadeias produtivas. Desenvolvimento alternativo, amplo

Possui "base em uma crítica de fundo à estrita racionalidade econômica que inspirou o pensamento e as políticas de desenvolvimento dominantes. Contra a ideia de que a economia é uma esfera independente da vida social, cujo funcionamento requer o sacrifício de bens e valores não econômicos — sociais (v. g., igualdade), políticos (v. g., participação democrática), culturais (v. g., diversidade étnica) e naturais (v. g., meio ambiente) —, o desenvolvimento alternativo sublinha a necessidade de tratar a economia como parte integrante e dependente da sociedade e de subordinar os fins econômicos à proteção destes bens e valores [...], essa linha de

Realidade vivida pelas comunidades autóctones suapenses.

pensamento e ação não rejeita a ideia de crescimento econômico. No lugar dele, propõe impor limites e subordiná-lo a imperativos não econômicos" (SANTOS, B.; RODRÍGUEZ, 2012, p. 46-47).

Políticas Públicas

São os instrumentos de ação do governo, que podem ser compreendidos como uma decisão ou um conjunto de decisões (explícitas ou implícitas) que podem estabelecer o rumo de uma ação presente, orientar decisões futuras e/ou iniciar ou postergar uma atividade (QUEIROZ, 2009, p. 86); guiam programas e ações dos governos a fim de promover transformações no mundo real, também servindo de mecanismos para analisar os impactos desses programas e ações sobre a sociedade e sobre a economia do país (SOUZA, 2006, p. 25- 26).

PAC; Eixos do PAC; direcionamento dos investimentos à região de Suape; efetividade dos objetivos propostos pelo Programa e suas políticas.

Qualidade de vida

Refere-se às reais condições de vida de populações e subgrupos de populações, a partir da observância de dimensões que abranjam "aspectos mais amplos das condições de vida — como o acesso à educação e aos serviços de saúde, a expectativa de vida, a mobilidade e até as oportunidades culturais" (MILES, 1996, p. 635).

Educação, trabalho,

infraestrutura urbana, saúde, habitação, abastecimento de energia elétrica e de água, esgotamento sanitário, mobilidade, questões ambientais e

participação/organização política e social.

Tais categorias serviram de suporte à análise de conteúdo e à posterior interpretação dos dados. Com a explicação de como foi realizada a análise da pesquisa, o desenho metodológico deste projeto — descrito neste capítulo — pode ser sintetizado no Quadro 06:

Quadro 06 - Quadro resumo do desenho metodológico da pesquisa.

Posteriormente, seguem algumas dificuldades encontradas durante a execução do estudo e o quadro resumo da pesquisa.

DESENHO DA PESQUISA

Abordagem Qualitativa

Paradigma Interpretativista

Tipo de Estudo Qualitativo Básico ou Genérico

Procedimentos de Coleta de Dados

Observação participante

Entrevistas semiestruturadas e abertas Documentos oficiais escritos

Métodos de Análise Conteúdo Documental