4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4.5 ANÁLISE DOS DADOS
Para a análise dos dados, foi utilizada a análise de conteúdo, que segundo Laville e Dionne (1999) permite abordar uma diversidade de objetivos de investigação, como atitudes, valores, representações, mentalidades, ideologias. Também abarca estudos sobre embates políticos, estratégia para esclarecer fenômenos sociais - como no caso do presente estudo que visou esclarecer qual tipo da inovação está presente nas iniciativas de bancos comunitários criados a partir da organização comunitária dos moradores de uma determinada localidade – além dos desafios presentes na realização da gestão de serviços de finanças solidárias como modalidade de um bem comum.
Segundo Caregnato e Mutti (2006), a análise de conteúdo pode ser quantitativa e qualitativa; na primeira, quando o interesse é a frequência e incidência de características no conteúdo do texto e a segunda o interesse é dirigido para a presença ou ausência de determinadas características no conteúdo do texto. As referidas autoras também sinalizam para a existência de “dois tipos de textos que podem ser trabalhados pela AC: os textos produzidos em pesquisa, através das transcrições de entrevista e dos protocolos de observação, e os textos já existentes, produzidos para outros fins, como textos de jornais” (CAREGNATO E MUTTI, 2006, p. 683).
O recorte para a realização de análise de conteúdo foi feito em forma de temas, as quais estão ligadas as categorias extraídas das questões operacionais que buscam responder ao objetivo deste estudo. De acordo Laville e Dionne (1999), o recorte do conteúdo para análise em forma de temas só o torna mais rico, como
por exemplo, o recorte em fragmentos que possui um caráter de análise superficial. Ainda segundo os autores, a separação por temas permite uma melhor aproximação do pesquisador com o sentido do conteúdo a ser analisado, visto que ele se vê obrigado a construir suas unidades de análise a partir da sua compreensão do conteúdo estudado.
Em relação à estratégia para análise de conteúdo foi adotada aquela na qual o pesquisador apoia-se na teoria para analisar o modelo do fenômeno ou a situação do estudo, e em seguida verificar se existe correspondência entre essa construção teórica e a situação observada (LAVILLE e DIONNE, 1999).
Assim, os conteúdos dos dados coletados nas entrevistas, na observação e nos documentos, foram organizados de forma complementar, de acordo com os temas (categorias e elementos de análise, quadro 4) e, após sua análise, foram comparados à construção teórica elaborada para verificar se há verdadeiramente correspondência entre a construção teórica e a situação observada.
O quadro abaixo apresenta as categorias e elementos de análise utilizados como base para a pesquisa:
Quadro 4.- Categorias e elementos de análise da pesquisa
Objetivos Específicos Categorias de Análise Elementos de Análise
Caracterizar a prática de gestão dos BCDs como gestão coletiva de bens
comuns;
Usuários dos recursos
Perfil dos Usuários: econômico, sexo, idade, ocupação e local de moradia. Tipos de recursos Monetários, Não-Monetários e
Não-concorrências Regras de uso do recurso Regras Monitoramento do uso do recurso Monitoramento Penalidades para quem descumpre
as regras Penalidades
Esclarecer a natureza da inovação presente na
prática dos BCDs; .
Finalidade /Orientação Dimensão Social ou Econômica Estratégia Cooperação ou Vantagem
Competitiva
Fatores Ênfase no Capital Intelectual ou Financeiro
Modo de Acesso
Mecanismo Público via Sociedade ou Estado ou Mecanismo de Mercado Complexidade/Modo de Uso/Apropriação Crescimento Relacional/ Apropriação Social ou Crescimento a Nível Tecnológico/Apropriação Técnica
Continuação Objetivos Específicos Categorias de Análise Elementos de Análise
Esclarecer a natureza da inovação presente na
prática dos BCDs; .
Lócus da Inovação Ações Comunitárias ou Voltadas para Empresas
Processo de Inovação/Proveniência
Agentes Internos/ Agentes Internos e Agentes Externos ou Agentes Externos Difusão e apropriação do
conhecimento
Baixa Proteção e Difusão da Inovação ou Alta Proteção e Monopólio
Identificar e descrever os desafios que se impõem na gestão de serviços financeiros como gestão
de um bem comum.
Desafios/Conflitos
Gestão Democrática Estabelecimento das regras entre
usuários
Mobilização e incorporação de valores (cooperação, confiança e solidariedade)
Responder demandas financeiras nos territórios
Falhas de comunicação Descumprimentos das regras
Aplicação de punições Fonte: Elaborado pelo autor (2017).
Na sequência, no quadro 5, são apresentadas as definições constitutivas que fazem parte deste estudo.
Quadro 5 -. Definições constitutivas
Termos Definições constitutivas
Gestão Coletiva de Bens Comuns
Com vistas a contrapor a ideia vigente que recursos de diversas ordens só poderiam ser administrados ou pelo Estado ou pela iniciativa privada, Ostrom (2000) buscou estudar sob quais condições as instituições de propriedade coletiva desempenham a gestão de recursos de forma a satisfazer as necessidades de todos os utilizadores. Como resultado de seus estudos a autora demonstrou que os indivíduos envolvidos com a utilização de recursos são capazes de auto- organizar e de criar iniciativas de cooperação para solucionar problemas de oferta e escassez de recursos.
Para isso Ostrom (2000) identificou questões fundamentais para a sobrevivência em longo prazo e sucesso dessas organizações, tais como: a comunicação entre os usuários que usam um recurso; regras de uso entre usuários que estão próximos e utilizam o mesmo recurso; e oportunidade para usuários discutirem e estabelecerem acordos sobre seus próprios níveis ou valores de utilização e seus próprios sistemas de penalidade.
Inovação Social
Uma nova resposta ou solução de efeito duradouro (em termos de convenções, regulações, relações, processos, práticas e/ou produtos e serviços) que procura uma resposta para uma aspiração. Ao atendimento de uma necessidade, a criação de uma solução ou aproveitamento de uma oportunidade de ação. Tendo como objetivo a modificação de relações sociais, a transformação de um quadro de ação ou a proposta de novas orientações culturais. A inovação social emerge então da iniciativa de indivíduos ou grupos que focalizam o interesse público (ADION, 2014 p. 100).
Finanças Solidárias
Finanças solidárias e uma manifestação da sociedade e, mais particularmente, elas representam uma emanação de formas próprias de auto-organização coletiva, encontradas por diferentes populações e/ou grupos organizados nos seus respectivos territórios ou comunidades para fazer a gestão dos seus próprios recursos econômicos com base em princípios de solidariedade, confiança e ajuda mútua (FRANÇA FILHO, 2013, p.41).
Continuação
Termos Definições constitutivas
Bancos Comunitários
De acordo com Melo Neto e Magalhães (2006, p.7) os bancos comunitários são “serviços financeiros solidários, em rede, de natureza associativa e comunitária, voltados para geração de trabalho e renda, tendo por base os princípios da Economia Solidária”.
Fonte: elaborada pelo autor com base na literatura (2017).
No item seguinte, são detalhados os procedimentos para condução da pesquisa baseados em critérios éticos.