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Análise dos Diários de Bordo da Investigadora (Anexo III)

Na sequência da análise à categoria referente à capacidade de Improvisação verificamos que

foi a categoria que obteve um maior número de evidências dos diários de bordo referentes a

esta fase de análise. Podemos então constatar que desde o início foi visível uma predisposição

dos participantes para a improvisação de novas situações, introduzindo nas mesmas

comportamentos adequados às situações que estavam a representar, tal como podemos

verificar na seguinte evidência: “Foi tão engraçado! A conversa deles foi bastante simpática,

simples e intuitiva, e para melhorar as coisas o B3 fez um sotaque muito engraçado e a A1 foi

mesmo buscar o cartão multibanco à sua carteira para pagar. Ambos tiveram muito bem.

Mais uma salva de palmas…” (DB3) Apesar de ter sido verificado um pequeno retrocesso por

parte do B1 e do B2 mais precisamente na sessão número quatro,“…o B2 e o B1 (…) não

representaram os colegas de forma nenhuma… ele bloqueava e não conseguia representar a

maneira dele falar, nem de ser…” (DB4), observamos que esse mesmo bloqueio foi

ultrapassado e todos foram evoluindo progressivamente, aumentando a complexidade e

criatividade das suas atuações, assim como demonstram as seguintes evidências: “…notei

uma evolução do seu desempenho desde as ultimas sessões, estando mais criativo nas

respostas, embora desorientando-se momentaneamente. “ (B2 – DB5);“Todos estiveram

muito bem, esforçando-se para se comportar de acordo com a sua personagem.”

(DB6);“…pedi ao B2 que o fizesse. Ele esteve muito bem, disse que era como se estivesse na

discoteca..” (DB7). Podemos também constatar que com a evolução das sessões, alguns

participantes foram aumentando a sua atitude de iniciativa, pedindo para entrar na

improvisação dos colegas para complementar a mesma: “Foi interessante porque mesmo

antes de termos pago os bilhetes, já o NB estava atrás das cadeiras a fingir que rodava uma

daquelas máquinas antigas que passavam os filmes!!” (B3-DB7).

A categoria da Atenção e Concentração surge em seguimento na tabela de análise, pelo que

pode ser observada de uma forma geral uma evolução gradual deste tópico: “…um ou dois

participantes se perdessem um pouco no que era pedido…” (DB1);“…eles conseguiram estar

atentos uns aos outros para que o jogo não parasse.” (DB3);“…os restantes colegas

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realizavam facilmente o exercício, com algum nível de atenção e concentração” (DB5),

embora seja também visível um pequeno retrocesso [“…hoje pareceram-me todos

desorientados, desatentos…” (DB4)], é também aparente uma recuperação posterior na

evidência final “Este foi um jogo que necessitava de bastante capacidade de atenção e

concentração e acredito que resultou bastante bem, apesar de no início terem andado um

pouco desorientados…” (DB6). De uma maneira mais concreta, observamos a existência de

referências constantes alusivas à participante A2, revelando os seus baixos níveis de Atenção

e Concentração frequentes, embora seja possível verificar uma diminuição gradual das

mesmas com o avanço das sessões:

“…a A2 que por estar desatenta jogava constantemente…”

(DB2);

“Pouco tempo depois, a A2 fez mais uma interrupção no jogo, o que distraiu todo o

grupo(…)eles mantiveram-se calmos e a prestar atenção ao colega e aos seus movimentos

basicamente desde o início.” (DB4); “… a A2 foi fazendo as suas intervenções descabidas do

costume…” (DB6).

De seguida, verificamos que relativamente à Criação Dramática é visível uma evolução do

ato de criar, envolvendo de forma gradual maiores níveis de criatividade e de imaginação por

parte de todo o grupo. Podemos observar que inicialmente as criações possuíam referências

mais simples, com ideias e criações mais rotineiras e de índole familiar, como por exemplo

“A A1 começou a divagar sobre os seus filhos que se davam mal… “ (DB2);“As

improvisações continuaram, entre venda de peixe e pintura de unhas…” (DB3), que foram

evoluindo para criações mais espontâneas e criativas: “De repente, ficamos sem gasolina e o

B2 teve a ideia de colocarmos água na gasolina porque ele achava que assim o motor

andava. No fim de contas o carro começou a tremer, explodiu e tivemos de fugir.”

(DB7);“…o B1 esteve muito bem e bastante criativo nas suas respostas, revelando uma maior

liberdade criativa e teatral do que nas sessões anteriores.” (DB6).

Relativamente à Capacidade Reflexiva alusiva às sessões, constatamos que os participantes

conseguiram desde o início do projeto exprimir com sucesso as suas opiniões, ideias e

conclusões, referindo as características dos seus pensamentos sobre os exercícios que

realizaram e quais os seus sentimentos relativamente aos mesmos, evidências verificadas por

exemplo em citações como “Em geral referiram que se divertiram bastante e que

trabalharam o corpo e a mente, realizando o exercício físico durante o jogo e atenção e

concentração. (…) A A2 foi mais além e disse que fizemos a “estimulação da expressão

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corporal, trabalhando os movimentos”. O mais importante foi quando disseram que lhes

melhorava a qualidade de vida e que queriam continuar a realizar estes jogos.” (DB2);“Em

geral todos gostaram, referiram que foi bom e a A1 referiu ainda que era importante estes

jogos porque ajuda a desenvolver a mentalidade dos colegas e a dela, assim como

trabalhamos o corpo, concluindo que “se fosse assim sempre é que era bom”. “ (DB1).

Observamos de seguida que, relativamente à categoria da Participação, os nossos

participantes apresentaram inicialmente uma atitude bastante recetiva ao projeto e foram

participando de forma gradual ao longo das sessões, tal como pode ser verificado em:

“…todos concordaram com o planeamento do projeto e gostaram da ideia de fazer teatro…”

(DB1);“…a sua ansia de participar era tanta que não se conseguia conter.” (DB4);“…a B2

me perguntar todos os dias desde o início da semana se haveria teatro hoje…” (DB6);“A A2

disse “Jogar a bola”, a A1 sugeriu “Dançar”, o B3 disse “Ter um carro” (…) o B2 disse

“Música” (…) várias sugestões difíceis …” (DB7). Por outro lado, também é visível alguma

relutância por parte de alguns participantes na execução de alguns jogos, “…ela se

encontrava com alguma resistência à mudança e à experimentação …” (A1 – DB5);“Por

achar que ela estava bastante motivada…” (A2 – DB5), apesar dessa mesma resistência ter

acabado por se dissipar nas seguintes sessões.

Ao nível da categoria das Emoções / Afetos, verificamos a presença constante de sentimentos

positivos ao longo das sessões. Á medida que os exercícios foram sendo realizados, atitudes

de entusiasmo e de felicidade foram sendo habituais, traduzindo as sessões em múltiplos

sorrisos e palmas, emoções que podem ser observadas nas seguintes transcrições: “…Em

geral todos gostaram.” (DB1);“Muitas palmas, muitos sorrisos …” (DB2);“…o divertimento

foi total.” (DB4);“…estavam todos felizes e sabia que estavam a apreciar o momento com

muita alegria.” (DB7). Por outro lado, sentimentos como o medo, a timidez e a tristeza

também foram visíveis pontualmente, pelo que foram sobrepostos ao longo das sessões por

emoções mais positivas: “…A timidez reinava (…) parecia que tinham medo…” (DB2);“Ele

parecia-me triste, esteve maioritariamente calado durante toda a sessão…” (B2 – DB6).

A Orientação Sequencial foi outra das categorias analisadas neste projeto, pelo que pudemos

constatar que são frequentes as evidências referentes à falta de orientação dos participantes

relativamente à sequência dos jogos que realizavam, desorientando-se diversas vezes no

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decorrer do mesmo, como pode ser constatado nas citações: “…era difícil eles conseguirem

ouvir as instruções que lhes dava e andar ao mesmo tempo…” (DB1);“…com algumas

dificuldades em trabalhar em roda com um lugar abstrato.” (DB2);“…no início nem sequer

conseguiam fazer uma roda com as cadeiras. “ (DB4). Observamos também que à medida

que os jogos foram avançando, os participantes conseguiram recuperar e atingir o propósito

de cada atividade, pelo que também foi verificado um aumento no sentido de orientação no

contínuo da realização das sessões: “Explicava de novo o que tinham de fazer e lá se

decidiam (…) Até ao final conseguiram ir-se orientando e realizar os objetivos do jogo com

algum sucesso.” (DB2);“Como o jogo foi fluído, com firmeza e segurança da parte deles

durou apenas 13 minutos…” (DB3);“Pedi então que formassem uma plateia e deixassem o

palco livre, e fizeram-no sem esforço, o que me deixou feliz, pois pareciam grandes artistas e

sabiam qual o lugar a ocupar.” (DB5);“…apesar de no início terem andado um pouco

desorientados (…)a A3 e o B2 foram os que tiveram dificuldade neste jogo (…)e também na

sua capacidade de estímulo-ação…” (DB6).

É possível também constatar na análise de dados que, relativamente ao Trabalho de Equipa,

os participantes foram criando uma relação mais próxima com a evolução das sessões,

transpondo essa ligação para o nível de interajuda mútua, onde o entendimento e a vontade de

ajudar o próximo esteve presente quase desde o início do projeto. Tal pode ser observado em

citações como “…ajudou a desenvolver as suas atitudes entre eles.” (DB2);“Considerei

bastante importante esta iniciativa de interajuda por parte da A1, principalmente por

respeitar as dificuldades da colega e por ter continuado a arranjar estratégias que

facilitassem a participação da mesma…” (DB6);“…embora os colegas o tenham ajudado

bastante na caracterização (…) Ele repetia o que os colegas diziam e até se saiu bem”

(DB6). Houve apenas uma sessão onde a A1 se demonstrou mais relutante em trabalhar com

os colegas embora tenha sido algo que tenha reconsiderado mais tarde, adotando uma atitude

proactiva de apoio aos colegas nas sessões seguintes: “Desde logo a A1 referiu que apenas

queria contracenar com o B1 (…) lá consegui convencer a A1 a fazer a sua improvisação

com o B3…” (DB5).

Por último, ao nível das Representação de Situações do Quotidiano, são visíveis bastantes

referências a situações familiares dos participantes, como anúncios de televisão ou situações

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da instituição: “A A2 e o B1 continuaram “em palco”, improvisando um anúncio dos iogurtes

que a A2 tinha visto na televisão…” (DB2);“O B3 associou-se logo a uma das suas

atividades prediletas e foi buscar uma vassoura para varrer.” (DB3);“….a A1 e o B3

quiseram representar uma situação habitual na instituição entre uma cliente e uma

monitora.” (DB4). Podemos também verificar que os participantes representaram também

situações de conflito que vivenciam no dia-a-dia, frequentemente entre si, transpondo para a

representação acontecimentos reais fatos constatados em “Ambas recrearam uma situação

que vivem todos os dias por causa de quem anda no baloiço do recreio (…) foi importante

aliviar um pouco a tensão que ambas poderiam estar a sentir devido a esta situação

vivenciada por ambas diariamente. “ (DB2) e “… a A2 se ter queixado que (…) este lhe

chamou peixeira. (…) a A2 insistiu que queria de fazer de peixeira (…) trabalhando assim

algo que a incomodou …” (DB3).

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