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Partindo das informações de localização da área obtidas no relatório do Projeto Sobradinho de Salvamento Arqueológico e na cartografia da região onde, atualmente, situa-se a represa de Sobradinho, com o auxílio de um guia, foram empreendidas duas campanhas para levantamento de informações gerais sobre o local e dados para a pesquisa.

Na primeira campanha percorreu-se toda a extensão do boqueirão para um primeiro reconhecimento e posicionamento do acervo gráfico da região. Esta primeira coleta de dados objetivava o conhecimento dos vestígios arqueológicos e condições de ocupação da área para que fossem levantados problemas e hipóteses acerca da tipologia gráfica, possíveis locais de assentamento e prováveis autorias.

Foram cadastrados 16 sítios com registros rupestres, essencialmente, de pinturas, havendo a ocorrência de apenas uma gravura. No que tange às pinturas, nota-se a predominância de grafismos não-reconhecidos, basicamente grafismos puros, e a presença de alguns prováveis antropomorfos e zoomorfos.

Numa primeira observação em campo e, posteriormente, em laboratório, através da análise do material fotográfico, notou-se uma certa homogeneidade e a existência de recorrências morfológicas e de composição em determinados grafismos que poderiam refletir uma padronização na forma de apresentação gráfica.

Com base nessas observações, procedeu-se a uma segunda campanha para complementação dos dados, num intervalo de um ano, onde se pôde observar as alterações sofridas no ambiente e, conseqüentemente, os efeitos causados aos grafismos.

Para a segunda campanha optou-se por um levantamento mais restrito, que fornecesse dados mais precisos, referentes aos sítios e painéis, sobre os quais se percebeu as recorrências, e que pudessem contrastar a hipótese levantada, contemplando os objetivos da pesquisa.

3.1.1 – Seleção das amostras

O conjunto gráfico em estudo está contido em 16 sítios. Devido à formação geomorfológica acidentada do boqueirão, os grafismos encontram-se dispersos, por vezes, isolados ao longo das formações rochosas perfazendo um total de 126 painéis de levantamento.

Na seleção das amostras para análise, procurou-se identificar as dominâncias em termos qualitativos. Para tanto, foram selecionados painéis nos quais podem ser encontrados grafismos com recorrência morfológica.

Dentre estes, 13 painéis apresentavam unidades gráficas bem delimitadas e com elementos de composição análogos e recorrentes que possibilitam a identificação de padrões de apresentação gráfica e que permitem a aplicabilidade dos parâmetros estabelecidos para a análise.

No interior destes painéis foram segregadas tais unidades para que fosse feito o estudo do agenciamento interno dos elementos de composição, bem como das relações espaciais a fim de verificar se esta amostra constituiria num perfil gráfico para a região em estudo. Entretanto, fatores tafonômicos foram determinantes para a seleção das amostras.

3.1.2 - Tafonomia

As condições de conservação dos sítios constituem um fator de extrema importância para a análise dos conjuntos gráficos. A preservação da integridade dos grafismos é primordial para a identificação das características técnicas e morfológicas destes.

Contudo, como estão dispostos em suportes rochosos, constantemente sujeitos a diversos tipos de degradação, seja física, química ou biológica, sofridas ao longo dos anos, alguns painéis e grafismos foram excluídos da análise por não apresentarem condições de identificação morfológica e cenográfica.

Os agentes intempéricos agem diretamente sobre as pinturas, podendo ser

ocasionados pela ação de águas pluviais, por processos de diáclase26, desplacamento do

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suporte, crescimento da vegetação, além de depredações antrópicas (queimadas, pixações) nos sítios mais acessíveis à população local.

3.2 – Procedimentos Analíticos

3.2.1 – Registro e tratamento dos dados

O cadastro dos sítios arqueológicos foi realizado com base no modelo de fichas para levantamento de registros rupestres utilizada pelo Núcleo de Estudos Arqueológicos da Universidade Federal de Pernambuco (NEA/UFPE).

Para o registro das informações mais detalhadas dos sítios que possuíam os grafismos selecionados para análise, foi empregada uma adaptação do protocolo de

registros rupestres do estudo realizado com gravuras27 na região do Seridó

potiguar/paraibano, com posicionamento dos pontos, para localização geográfica, realizado com GPS (Garmin) modelo “Etrex Vista” que possibilitou o mapeamento e a transferência de dados para o computador.

O registro fotográfico foi o instrumento adotado como recurso analítico para a recomposição do ambiente e para observação detalhada dos elementos de composição das unidades gráficas. Para tanto, adotou-se como metodologia de trabalho o estabelecimento de planos de aproximação que permitissem a contextualização do sítio em relação ao ambiente e do posicionamento de painéis e grafismos em relação ao suporte. Os planos mais aproximados visavam obter o máximo de informações sobre o agenciamento dos elementos internos dos grafismos analisados.

Como suporte para a captação das imagens trabalhou-se com uma câmera fotográfica Cannon modelo EOS3000N, com lente 35 a 80mm, e uso constante de tripé, exceto na ausência de condições físicas impostas pela ambiente. Foram utilizadas películas negativas em cores Pro Image 100 e 400 asas, que possuem uma granulometria maior, o que melhora a nitidez da imagem. O uso de filmes com diferentes asas possibilitou verificar a variação de luminosidade no ambiente, devido ao tipo de formação e composição mineralógica.

Todas as informações sobre as condições de fotografia foram registradas em fichas fotográficas a fim de que, em análise, pudesse ter o controle de: horários de incidência de 27

luz nos painéis ao longo do dia, variação na abertura de diafragma e definição de velocidade, além de posicionar corretamente os objetos em relação ao negativo.

O material fílmico foi disposto em papel colorido e digitalizado com uso de scanner. As nuances de tonalidade e densidade do pigmento foram observadas e tratadas por meio de recursos dos programas de computação gráfica Adobe Photoshop 7.0 e CorelDraw 11 que permitem melhor visibilidade, ampliação e contraste das imagens, com uso obrigatório da escala padrão IFRAO que auxilia na calibração das cores originais.

3.3 – Fichas de Levantamento 3.3.1 – FICHA 01

LOCALIZAÇÃO

a) Nome: Paredão da Malícia b) Código: BOBD – 02 (Fig. 07) c) Município: Sento Sé, BA

d) Acesso: saindo do povoado em direção ao olho d’água, seguindo pelo leito do riacho do incaibro até as últimas formações rochosas

e) Coordenadas: S 09º 35’ 01,7” e WO 41º 02’ 52,2” f) Orientação: noroeste-sudeste

g) Abertura: nordeste

h) Vegetação: caatinga xerófila arbustiva e arbórea com predominância de malícia, cansanção, faxeiro, macambira, favela, xique-xique.

GEOMORFOLOGIA

a) Situação do entorno: vale em L estreito, com escarpas acentuadas, com altitudes que variam entre 500 a 400 metros. Formado por erosão fluvial e pluvial com amontoados de blocos e matacões de formas arredondadas, denominado como caos de blocos.

b) Situação do sítio: paredão em V, a médio vale, de frente para a cuesta, localizado a uma altura relativa de alta vertente. Situa-se na Serra dos Caboclos.

c) Altimetria: 469 metros

d) Marcas paleo-hidrológicas: morfogênese condicionada pela erosão hídrica de origem fluvial, demonstrada pela morfologia lisa e arredondada dos blocos, principalmente os mais próximos ao riacho, caracterizando que em tempos pretéritos o volume de água era de maior competência (característica observada em todo o vale, principalmente, no leito atual do riacho).

SÍTIO

a) Tipo de sítio: Paredão

b) Dimensões: 9 metros de comprimento, 8,40 metros de largura e 12 metros de altura

c) Estado de conservação do suporte: regular, com marcas de pátina por corrimento de água, desgaste com desplacamento e presença de diáclase

d) Tipos de vestígios: pinturas rupestres e) Refugo arqueológico: não há

f) Tipo e composição do suporte rochoso: rocha metamórfica de quartzito PINTURAS

a) Dimensão do espaço gráfico: compõe-se de dois painéis com uma unidade gráfica em cada. Situa-se a uma altura de 2,20 metros e medem entre 70cm a 1 metro de comprimento por 35 a 76cm de largura.

b) Estado de conservação: incidência direta do sol sobre os painéis no período da manhã, corrimento de águas pluviais, pouca nitidez e acentuado desplacamento em um dos grafismos.

c) Técnica de execução: pintura feita com dedo, com forma retangular, traços com espessura de 3cm. Pigmento vermelho e amarelo intercalando-se.

d) Cenografia:

Painel 01 – constitui-se em uma unidade gráfica, limitada (velada) em si mesma. Encontra-se isolada e centralizada no painel e está disposta de frente para o painel 2. O formato externo é retangular com as extremidades arredondadas, com contornos espessos em pigmento vermelho. Devido ao desgaste natural do suporte o agenciamento interno está bastante danificado, mas com possibilidade de verificar que o agenciamento interno das linhas é semelhante ao painel 2. Na extremidade direita ocorrem linhas verticais com pigmento em vermelho, onde os centros formam losangos arredondados. Neste grafismo o preenchimento entre as linhas e os losangos confunde-se com o amarelo do suporte (Fig. 08a).

Painel 02 – constitui-se em uma unidade gráfica, limitada (velada) em si mesma. Encontra-se isolada e centralizada no painel e está disposta de frente para o painel

1. O formato externo é retangular com as extremidades arredondadas, contornos espessos com pigmento em vermelho e internamente é composto por linhas espessas em zigue-zague triangulares simetricamente em espelho, tanto os triângulos maiores situados nas extremidades quanto os menores ao centro, com preenchimento em pigmento vermelho e, entre as linhas, realizado com pigmento amarelo. Os centros em oposição unem-se de modo a formarem losangos um pouco arredondados. Nota-se que há o cuidado em realizar os contornos das linhas para depois proceder ao preenchimento interno (Fig. 8b).

Em ambos grafismos, se percebe o aproveitamento de partes mais planas e lisas, bem como a limitação das fraturas existentes no suporte. Devido a sua dimensão e a sua localização são de fácil visualização.

3.3.2 – FICHA 02

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