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Análise dos inventários dos fazendeiros e lavradores que declararam suas terras nos

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35 MACHADO, 2013 36 CASTRO, H., 2009.

2.5 Análise dos inventários dos fazendeiros e lavradores que declararam suas terras nos

Registros Paroquiais de Terras da freguesia do Bananal.

Nossa amostragem se deu da seguinte maneira: após a análise dos Registros Paroquiais de Terras das três freguesias do município de Itaguaí, decidimos utilizar os nomes dos declarantes da freguesia de N.S. da Conceição do Bananal para verificarmos a existência de inventários em que estes aparecessem como uma das partes citadas neste tipo de documento.

A primeira análise que faremos é perceber em que faixa de concentração fundiária estão os declarantes que encontramos seus respectivos inventários. Esta observação será importante para percebermos o perfil econômico dos declarantes que teremos a oportunidade de analisar mais detalhadamente.

Para análise destes inventários seguiremos as indicações de João Fragoso e Renato Rocha Pitzer.134 Os autores não têm, evidentemente, a intenção de definir regras precisas para o tratamento e utilização deste tipo de fonte, mas, sim, o apontamento para algumas

133Almanak Laemmert. Publicação de 1885. Seção Províncias, Pag. 943. Para facilitar a busca deste trecho, basta ir para a pag. 3018, a numeração 943 refere-se apenas a parte das províncias que estão dentro da numeração principal.

67 possibilidades de manuseio e principalmente reforçando a ideia da necessidade do cruzamento com outras fontes, como os registros civis, eclesiásticos, censos, etc.

Foi a partir dessa documentação que extraímos dados como número de escravos, o que era plantado em cada propriedade, o tamanho dessas plantações, enfim, informações que dessem conta das atividades daquelas propriedades, já que entre estes, serão também selecionados alguns dos fazendeiros e lavradores com os maiores plantéis de escravos para uma análise qualitativa. Sem deixar de lado, uma análise qualitativa dos menores fazendeiros e lavradores.

Dos 114 indivíduos que declararam suas terras na freguesia do Bananal, em 29 destes foi possível encontrar inventários onde apareciam na posição de inventariado, aquele que após seu falecimento, dá-se início a abertura do processo, ou inventariante, aquele responsável pela execução processual do inventário, somando um total de 41 processos, já que alguns apareciam em mais de um. Desta forma, encontramos não só o inventário do próprio declarante, mas encontramos estes sendo inventariante de irmãos, conjugues, pais, sogros, e tivemos a chance de entender de onde vinham os seus bens e para onde estavam migrando economicamente, de acordo com possíveis mudanças na cultura das suas propriedades.

Entre todos os declarantes do Registro Paroquial de Terras da freguesia do Bananal, em 27,19% foi possível encontrar inventários que pudessem nos ajudar a entender melhor a realidade a qual estavam inseridos. Quando fomos verificar em qual intervalo eles se encontravam na divisão que fizemos para verificar a distribuição fundiária, percebemos que tínhamos conseguido inventários de foreiros de todos os intervalos.

Tabela 6

Declarantes por faixa

Total por faixa Com inventário %

83 18 21,68

19 3 15,78

11 7 63,63

1 1 100

114 29

68 A primeira faixa compreende aqueles foreiros que tinham suas propriedades com até 50 (ha), muitos possuíam bem menos que isso. Os foreiros que se encontram nesta primeira faixa praticam a policultura, a prestação de alguns serviços e o aluguel de escravos e animais. 135

Ao olhar a tabela acima entendemos, por exemplo, que no primeiro intervalo estão 83 dos 114 declarantes, portanto, a grande maioria. Tinham até 50 hectares de terras, compondo os que menos terras dispunham. Mas quem são esses foreiros? O que significa estar nesse intervalo? Nosso objetivo daqui para frente é mostrar de maneira detalhada quem eram esses foreiros. Mostrar a composição de suas propriedades e ao mesmo tempo verificar se em diferentes períodos houve alguma mudança no que se refere ao valor do prazo, do que era produzido, dos escravos, etc. Vamos, então, aos inventários.

Antonio Joaquim de Freitas possuía 0,02 (ha), uma dimensão que equivalia a 50 braças superficiais quadradas. De todos os declarantes selecionados era o que tinha a menor extensão territorial e mesmo assim ele realizou sua declaração nos Registros Paroquiais de Terras da freguesia do Bananal. 136 Ao analisarmos seu inventário aberto em 1878 podemos descobrir que ele tinha uma casa de negócios na mesma freguesia e que possuía quatro escravos. A escrava Ana com 36 anos e seus três filhos com idades que variavam entre 10 a 2 anos. Portanto, a atividade principal dele não era as suas terras, mas sim, a administração da sua casa de negócios que lhe proporcionou um monte mor no valor de 8:750$890 (Oito contos e setecentos e cinquenta mil oitocentos e noventa réis).

Sua dívida ativa, ou seja, aquela que ele esperava receber dos compradores de sua casa de negócios estava em 847$829 (Oitocentos e quarenta e sete mil oitocentos e vinte nove réis), que correspondia a apenas 9,68% de tudo que ele havia deixado para seus herdeiros. Não era uma dívida alta e não demonstrava aparentemente uma dificuldade dos lavradores de quitar a quantia.

Sua propriedade era um sítio no modesto valor de30$000 (Trinta mil réis) e ainda duas propriedades que não aparecem citadas nos Registros Paroquiais de Terras, provavelmente adquiridas posteriormente: uma com ¼ de prazo e a outra com 1/5, somando um valor de 650$0000 (Seiscentos e cinquenta mil réis). Portanto, Antonio Joaquim de Freitas era uma exceção, frente à maioria dos declarantes que tinham na terra sua maior fonte de renda, o que

135 MOTTA , 1989. p. 128-29.

69 não significava que ele também não tivesse uma modesta plantação de café com 500 pés num valor de 30$000 (Trinta mil réis) na freguesia do Bananal. Quase todos os declarantes mantinham alguma plantação de café, por menor que seja, coexistindo com a cana, mandioca, frutas entre outros. O que demonstra a popularidade do café em Itaguaí mesmo não sendo a principal atividade da unidade produtiva, ele estava lá.

Vamos analisar outro foreiro presente no primeiro intervalo, dos menores proprietários, que compreendia 83 declarações correspondendo a 73% do total e apenas 27,8% de toda a área declarada. Serafim da Costa Soares declara ter 1/2 prazo de terras que correspondia a 21,78 (ha) na localidade de Lagoa de Patioba. Na abertura de seu inventário em 1862. Alguns anos após sua declaração nos Registros Paroquiais de Terras, verificamos que ele não confirma ter meio prazo de terras, mas sim 1/4 de prazo, metade do que consta em sua declaração.

Em seu monte consta uma dívida passiva que compromete a 39,28% da herança deixada. O monte mor do seu inventário estava avaliado em 2:036$000 (Dois contos e trinta e seis mil e duzentos réis) e tinha no momento de sua morte uma dívida passiva de pouco mais de 800$000 (Oitocentos mil réis). Seu 1/4 de prazo estava avaliado em 200$000 (Duzentos mil réis). Possuía apenas dois escravos que valiam 1:400$000 (Um conto e quatrocentos mil réis). Portanto, seus dois escravos representavam 68,75% de todo o seu patrimônio.

Serafim da Costa Soares praticava nos anos de 1860 a policultura. Em suas terras eram cultivados café, mandioca, cana, laranja, milho e outras árvores frutíferas que somavam o montante na avaliação de seu inventário de pouco mais de 260$000 (Duzentos e sessenta mil réis), representando 12,86% do total inventariado. Percebemos que os seus dois escravos eram o seu bem mais valioso. Por isso, em vários inventários encontramos esses foreiros pagando suas dívidas em leilões em praça pública, justamente com o que mais lhes valia, que eram os seus poucos escravos.

Não podemos afirmar se Serafim da Costa Soares empregava em suas terras a mão de obra familiar, uma característica forte em unidades produtivas com este perfil, mas é muito provável que seus seis filhos estivessem envolvidos nos afazeres de sua propriedade, trabalhando ao lado dos seus dois escravos, Apholinário, crioulo, de roça, 18 anos, que valia 1:200$000 (Um conto e duzentos mil réis) e o escravo José de Moçambique, de roça, 60 anos, valendo 200$000 (Duzentos mil réis), não mais em idade produtiva. Em segundo lugar o que

70 mais lhe valia eram as suas plantações, já suas terras ficavam em terceiro lugar em peso no montante. Serafim da Costa Machado possuía ainda três cavalos, uma casa de vivenda coberta de sapê com varanda coberta de telhas.

Marcia Maria Menezes Motta ao estudar a estrutura fundiária das freguesias de São Gonçalo e Itaipu, que pertenciam ao município de Niterói, na segunda metade do século XIX, encontra um perfil muito parecido com o que descrevemos acima do que ela chama de “minifundista”. 137 Podemos perceber já nos anos 1860 que a policultura era uma realidade para essa camada de lavradores que detinham pequenas propriedades.

Em seus pequenos sítios, produziam afinidade de culturas, o que surpreende em vista da exiguidade de suas terras. Ali, plantavam-se mandioca, laranja, limões, alguns cereais e legumes. Possuíam ao menos, um cavalo ou uma besta e um ou dois porcos ou cabras. Em algumas unidades encontramos criação de galinhas. Suas casas eram pequenas, em geral com um ou dois quartos, uma sala e uma pequena cozinha.138

Marcia Motta verifica ainda que os utensílios utilizados por esta camada de proprietários, em São Gonçalo arrendatários de grandes proprietários, eram de barro ou cobre, em quase todas foram encontrados aparelhos para a produção da farinha de mandioca, quase todos de cobre. Ao analisarmos os utensílios avaliados nos inventários de Serafim da Costa Soares, encontramos, por exemplo, um forno de cobre utilizado para a produção de farinha.

Quando olhamos para a outra ponta, onde se encontram os grandes proprietários. Marcia Motta usa como elemento de enquadramento e definição do grande proprietário fazendeiro, ele ter a partir de 200 (ha). Esse critério é relativo já que elementos como tipo de cultura, diferenças geográficas, podem modificar essa referência.139 Maria Paula Graner, por exemplo, ao estudar a estrutura fundiária de Araruama, diferentemente de Marcia Motta, define os grandes proprietários como aqueles que têm mais de 400 (ha). 140 Esse também foi o

137 MOTTA, 1989, p. 122. 138 Ibidem, p. 122

139 Idem. p. 132

71 mesmo critério utilizado por Jorge Luiz Rocha da Silveira ao estudar a estrutura fundiária do município de Nova Iguaçu na segunda metade do século XIX. 141

Tabela 7

Distribuição fundiária por Município

Município Intervalo (ha) Declarante - Total Declarantes % Área %

Itaguaí < 400 318 94,64 65,36 > 400 18 5,35 34,63 Nova Iguaçu < 400 101 91,8 2,5 > 400 9 8,2 97,5 Valença < 480 86 60,14 46,32 > 480 33 23,08 53,68 Campos < 500 1841 93,22 55,3 > 500 22 1,12 44,7 Capivari < 400 151 84,83 25 > 400 27 15,17 75 Araruama < 400 456 93,28 45,94 > 400 25 5,08 47,47

São Gonçalo /Itaipu < 400 129 96,26 52

> 400 5 3,73 47,7

Paraíba do Sul < 400 279 85,1 32,8

> 400 55 14,9 67,1

Magé < 200 394 93,81 32,45

> 200 26 6,19 76,55

Fontes: Registros Paroquiais de Terras dos respectivos municípios através dos trabalhos de pesquisadores que se debruçaram sobre essas regiões. 142

Como as localidades estudadas tem suas especificidades, a própria construção de uma tabela por faixas encontra alguns problemas. Vários autores utilizam a dimensão de 400 (ha) como limite para definir os pequenos e grandes proprietários de terras, mas essa utilização acaba colocando muitos proprietários com realidades muito diferentes em uma mesma categoria, o que não invalida a tabela que consegue demonstrar que em maior ou menor grau,

141 SILVEIRA, 1998, p. 91

142 Paraíba do Sul: FRAGOSO, 2013; Capivari: CASTRO, H., 2009; Magé: SAMPAIO, 1994; São Gonçalo e Itaipu: MOTTA, 1989; Nova Iguaçu: SILVEIRA, 1998; Valença: MUNIZ, 1979; Campos: FARIA, Sheila de Castro, Terra e trabalho em Campos dos Goitacazes (1850- 1920), Dissertação de Mestrado, UFF, 1989.

72 a realidade desses municípios era de muitas terras nas mãos de poucos e pequenas porções de terras nas mãos de muitos.

Se pensarmos na realidade dos foreiros da freguesia do Bananal, 99,1% dos declarantes têm suas propriedades com menos de 400 (ha), apenas um consegue ultrapassar essa dimensão, Manoel Francisco de Oliveira com 462,22 (ha). Portanto, para uma compreensão melhor é preciso desmembrar a faixa dos que têm menos de 400 (ha) em faixas, como faz, por exemplo, Marcia Motta 143 para as freguesias de São Gonçalo e Itaipu. Ela percebe que dos 134 proprietários que declararam suas terras nos Registros Paroquiais de Terras, 101 tinham até 100 (ha), correspondendo a 75, 37 % do total de declarantes, bem abaixo dos 400 (ha).

Tabela 8

Distribuição, em percentuais, das propriedades da freguesia do Bananal.

Fonte: Registro Paroquial de Terras da Freguesia de N.S. da Conceição do Bananal. (1855-1857).

Na freguesia do Bananal o maior grupo concentrava-se em uma faixa ainda mais baixa. Dos 114 declarantes, 102 tem suas propriedades com até 100 (ha), correspondendo a 89,50 do total de declarantes nos Registros Paroquiais de Terras. Ocupavam juntos 52,9% das terras declaradas. Na segunda faixa consideramos aqueles que se encontravam entre 101 e 400 hectares. Encontramos 11 foreiros como médios proprietários, correspondendo a 9,6% dos declarantes. Juntos ocupavam 39% de todo o território declarado. E por fim, apenas um proprietário tinha terras que ultrapassavam os 400 (ha), consideramos ele como o único grande proprietário da freguesia do Bananal.

A grande diferença da freguesia do Bananal com estudos realizados em outras regiões sobre a estrutura fundiária está na relação estabelecida por seus fazendeiros e lavradores com 143 MOTTA, 1989, p. 117. Pequenas 0 à 100 (ha) Médias 101à 400 (ha) Grandes > 400 (há) 89,50% 9,60% 0,90%

73 a terra. Todo o território declarado nos Registros Paroquiais de Terras se refere a prazos de terras foreiras à Fazenda Imperial de Santa Cruz. No livro de Registros de Ofícios da Câmara Municipal de Itaguaí encontramos um ofício de 6 de dezembro de 1854 que confirma esta informação. O ofício era um “Registro de representação ao Presidente da Província em resposta às portarias de 23 de fevereiro e 16 de novembro, sobre terrenos devolutos.” E dizia o seguinte:

Ilustríssimo e excelentíssimo Senhor. A câmara Municipal desta vila, em cumprimento às portarias de V. Exa. de 23 de fevereiro e 16 de novembro do corrente ano, leva ao conhecimento de V.Exa. que neste município não existem terras devolutas. As Freguesias de S. Pedro e S. Paulo do Ribeirão das Lages e N. Senhora da Conceição do Bananal estão em terras da Imperial Fazenda de Santa Cruz, cuja a posse não está sujeita à legitimação e revalidação e as tem aforadas a diversos.144

Neste ofício de representação ao Presidente da Província sobre a existência de terrenos devolutos no município temos a confirmação que tanto a freguesia de S. Pedro e S. Paulo do Ribeirão das Lages, quanto à freguesia do Bananal, se encontravam em terras da Fazenda Imperial de Santa Cruz, o que já tinha sido demonstrado pelos Registros Paroquiais de Terras destas freguesias. Apenas a freguesia da vila possuía parte de suas terras não pertencentes à Fazenda Santa Cruz. 145 Portanto a freguesia do Bananal possuía uma especificidade na relação estabelecida com a terra por seus fazendeiros e lavradores foreiros diferente de outras localidades já estudadas.

Em regiões como São Gonçalo não existiam foros, o que foi possível verificar foi a presença de arrendatários em terras de proprietários que na segunda metade do XIX com dificuldade de manter seus plantéis de escravos optaram por parcelar suas terras a outros. Podemos fazer uma correlação entre os arrendatários de São Gonçalo e Itaipu, com os foreiros de Bananal. Primeiro eles aproximavam-se nas dimensões de suas terras que eram parcelas de

144APERJ – Livro de Registro de Ofícios da Câmara Municipal de Itaguaí. Ano: 1854

145 Verificamos nos Registros Paroquiais de Terras que se tratavam de terras foreiras e também de terras desmembradas do Engenho de Itaguaí, além das que foram doadas aos índios. O mesmo ofício de representação ao presidente da província sobre terras devolutas detalha a origem das terras da freguesia da Vila em acordo com o que nos mostrou os Registros Paroquiais de Terras.

74 algo maior. Se em Bananal as terras da Fazenda Santa Cruz foram parceladas em centenas de pequenas propriedades aforadas aos seus proprietários foreiros, em São Gonçalo e em Itaipu o grande fazendeiro encontrou como uma das possibilidades de diminuir o impacto do fim da escravidão deixar arrendada sua terra a outros que ali cultivariam e ainda o dariam a chance de tentar controlar o mercado.

No momento de crise os fazendeiros podiam explorar ainda mais a mão de obra escrava, ou podiam arrendar suas terras em várias parcelas. A exploração maior da mão de obra escrava se dava pelo aumento da quantidade de hectares que um escravo deveria trabalhar. Já os arrendamentos, uma situação um pouco melhor, deixava que terceiros cuidassem das terras, com alguma mão de obra escrava e depois com mão de obra familiar.146

Devido à natureza de nossa amostragem, dispomos de um número limitado de inventários, mas acreditamos que eles cumprem sua função de nos permitir analisar as condições das propriedades ao longo da segunda metade do século XIX na freguesia do Bananal. Verificamos algumas variações sobre o montante das fortunas, as plantações, dívidas entre os anos de 1850 e 1900, o que veremos a seguir.

Para os anos de 1850 analisamos 10 inventários. 147 Neste período o valor do prazo foreiro, para fins de inventário, na fazenda Imperial de Santa Cruz variava de 700$000 (Setecentos mil réis) a 2:000$000 (Dois contos). Para entendermos melhor a condição socioeconômica desses foreiros vamos recorrer à divisão por intervalos que utilizamos para compreender a estrutura fundiária de Itaguaí e o seu nível de concentração fundiária.

146 MOTTA, 1989, p. 135-37.

147 MTJRJ – Inventários post mortem, comarca de Itaguaí: Custódio Gonçalves Maia, ano 1850; Hygino Gomes de Noronha, ano 1852; João José Borges, ano 1852; Maria Angélica Benedita, ano 1852; Manoel Joaquim Pereira Pinto Sayão, ano 1854; Serafim da Costa Soares (inventariante), ano 1854; Luiz Manoel da Silva Leal, ano 1855; Antonio Soares da Silva, ano 1857; José Antonio Nunes, ano 1858; Julião Rangel de Azevedo Coutinho, ano 1858.

75

Tabela 9

Foreiros por faixa em hectares. Intervalo (ha) Declarantes

1 à 50 83

50 à 100 19

100 à 400 11

400 à 800 1

Totais 114

Fonte: Registros Paroquiais de Terras - Freguesia de N.S. da Conceição do Bananal. (1855-1857).

João José Borges declara nos Registros Paroquiais de Terras possuir meio prazo de terras avaliado em seu inventário post mortem em 600$000 (Seiscentos mil réis), que correspondiam a 10,89 hectares. Em suas terras existiam quatro cafezais que juntos somavam 1:354$000 (Um conto trezentos e cinquenta e quatro mil réis), correspondiam a 30% do total dos seus bens avaliados que somavam 4:394$650 (Quatro contos trezentos e noventa e quatro mil e seiscentos e cinquenta réis). Todos os seus cafezais estão plantados em “morros”, nos sugerindo uma forma de tentar evitar que as enchentes constantes da região atrapalhassem seu cultivo. Ainda encontramos plantado em suas terras laranjeiras, bananeiras, jabuticabeiras e mangueiras. Suas dívidas alcançavam 34% de seus bens, portanto, estava endividado no momento de sua morte. Seus dois escravos, Antonio e Izidoro avaliados em 1:400$000 (Um conto e quatrocentos mil réis), são arrematados em praça pública para o pagamento de suas dívidas. 148

Outro foreiro, Francisco Pereira de Farias, está no intervalo de 51 a 100 hectares que tem um total de 19 declarantes. 149 Seu monte mor foi avaliado em 46:036$558 (Quarenta e seis contos e trinta e seis mil quinhentos e cinquenta oito réis). Sua dívida passiva não chega aos dois contos, portanto não era um homem endividado a ponto de comprometer sua herança, estava dentro de um padrão de dívidas que podemos chamar de “naturais”. Possuía um prazo e meio de terras foreiras a Fazenda Imperial de Santa Cruz no lugar denominado Vala do Piloto que valiam, em 1858, ano da abertura do seu inventário, 2:000$000 (Dois contos). O prazo e meio representava em hectares 65,34. 150

148 MTJRJ – Inventário post mortem de João José Borges. Comarca de Itaguaí, ano 1852.

149 APERJ - Registro Paroquial de Terras de Francisco Pereira de Farias. Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Bananal, registro 108, livro 38 (1854 até 1856).

76 Possuía nove plantações de café que somavam o valor de 3:061$000 (Três contos e sessenta e um mil réis) correspondendo a um total de 31.700 pés. Cada pé podia valer de sessenta a cento e vinte réis. Portanto, o café era sua maior produção, apesar de corresponder menos de 7% do valor total de seu inventário. Apesar de o café ser majoritário em suas terras, ele plantava também milho, mandioca, arroz, laranja e cana que não chegavam a representar 1% do montante inventariado. Portanto, podemos presumir que esta plantação deveria ser para o consumo da própria fazenda. Seus 27 escravos foram avaliados em 23:090$000 (Vinte três contos). Aproximadamente equivaliam a 50% de toda a sua fortuna, portanto a sua escravaria era o seu maior bem. 151

Já na década de 1860 há uma ligeira diminuição no valor médio do prazo que fica em 968$708 (Novecentos e sessenta e oito mil setecentos e oito réis), uma queda de 19%. Os valores variaram de 600$000 (Seiscentos mil réis) até 2:000$000 (Dois contos). Na década de 1850 o prazo mais barato que encontramos listado nos inventários custava 700$000 (Setecentos mil réis). 152

O café por sua vez tinha uma média que ficava em $125 (Cento e vinte e cinco réis) cada pé. Os preços variaram $240 réis a $40 réis o pé. O preço mais comum era $100 réis o

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