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Análise dos parâmetros biométricos e de qualidade das mudas de Acca sellowiana com

3.3 R ESULTADOS E D ISCUSSÃO

3.3.1 Análise dos parâmetros biométricos e de qualidade das mudas de Acca sellowiana com

A análise dos dados dos fertilizantes mostrou que os maiores crescimentos em altura da parte aérea (H) foram observados nas doses 9 e 12 Kg.m-3 do FLL, correspondendo a 41,52 e 41,82 cm respectivamente, e nas doses de 150 e 200 Kg.m-3 do FCO, correspondendo a 41,22 e 41,67 cm, respectivamente, não diferindo estatisticamente entre si conforme apresentado na Tabela 2.

TABELA 2: Valores médios dos parâmetros biométricos e índices de qualidade de mudas para todos os tratamentos nas mudas de Acca sellowiana.

TABLE 2: Mean values of biometric parameters and seedling quality indices for all treatments in Acca sellowiana seedlings.

Em que: H = altura da parte aérea; DC = diâmetro do colo; BFPA = biomassa fresca da parte aérea; BSPA = biomassa seca da parte aérea; BSR = biomassa seca da raiz; BST = biomassa seca total; H/DC = relação altura e diâmetro do colo; IQD = índice de qualidade de Dickson.

Médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste Scott-Knott a 5% de probabilidade.

Os valores obtidos são compatíveis com altura final para mudas destinadas à recuperação ambiental, entre 40 e 70 cm (SEA, 2010). O FBO, na dose de 150 Kg.m-3 apresentou seu melhor resultado, na altura de 19,4 cm, porém se aproximou dos valores da testemunha (9,92 cm) se comparado com a média dos demais fertilizantes. O bokashi, nas doses testadas, não apresentou os valores mínimos sugeridos como recomendação geral para várias espécies nativas (DIAS et al., 2006; GONÇALVES; BENEDETTI, 2000), entre 20 e 35 centímetros e, tampouco o mínimo de 20 cm proposto para o plantio a campo de mudas de A. sellowiana (TONETTO, 2018). Mesmo que com grandes variações entre os fertilizantes, os resultados obtidos, apontam para uma tendência de aumento em altura das plantas submetidas a maiores doses em todas as tecnologias de fertilização testadas.

Dependendo da finalidade, das características da espécie e do contexto de plantio, a altura da muda pode ser de maior ou menor relevância. Numa comunidade de plantas competindo por luz, maiores alturas podem ser estratégicas para a sobrevivência dos indivíduos. Em agroecossistemas manejados com baixa competição interespecífica por luz, ou ainda, para espécies mais tolerantes à sombra, menores alturas podem ser suficientes para o estabelecimento e desenvolvimento inicial das mudas. Lorenzi (2020) classifica a goiaba-serrana como uma planta heliófita e em estudos sobre crescimento em gradientes de sombreamento, Silva et al. (2022) concluíram que a pleno sol e 30% de sombra são as condições de maior crescimento em altura. Nessas condicionantes, é possível que a altura seja um parâmetro importante para as mudas de A. sellowiana quando plantadas em sistemas ou comunidades com alta competitividade por luz. Porém, cabe ressaltar que, em geral, mudas de maior altura não são exatamente as melhores em termos de sobrevivência em campo, especialmente quando estas estão estioladas (REIS et al., 2016). Para Fonseca et al. (2002) maiores alturas podem representar piores valores para a qualidade da muda, acrescido com resultados de Binotto; Lúcio e Lopes (2010), que reforçam que esse parâmetro apresenta menor relação com o IQD que outras variáveis simples. Entretanto, a altura aparece como parâmetro único e mais utilizado na expedição de mudas de espécies nativas destinadas a projetos ambientais (SEA, 2010). Considerando essas limitações do parâmetro altura, Dias et al., 2006) sugere a observação de outros critérios como a

rusticidade, sinais de amadurecimento do colo, aparência lenhosa, textura rígida, principalmente nas mudas mais altas.

Gasparin et al. (2014) apontam o DC como um dos parâmetros que expressam o melhor desempenho das mudas em vasos de 280 cm³, correspondendo ao melhor desenvolvimento posterior no campo. O maior diâmetro de colo (DC) entre os fertilizantes foi obtido com a dose máxima de FLL (12 Kg.m-3) com diâmetro de 6,67 mm (Tabela 2).

Foram obtidos nas doses de 9 Kg.m-3 de FLL um diâmetro de colo de 5,82 mm, sendo que nas doses mais altas de FCO (150 e 200 Kg.m-3) 5,37 e 5,59 mm, respectivamente (Tabela 2).

Esses resultados corroboram com o preconizado por Gonçalves e Benedetti (2000), que propõem um diâmetro de colo entre 5 a 10 mm para mudas de espécies nativas de qualidade. Este parâmetro é considerado o melhor indicador prático para estimar os valores de IQD em mudas de espécies florestais da Mata Atlântica (AVELINO et al., 2021). Portanto, considerando a facilidade na obtenção de dados, o DC pode ser um parâmetro mais adequado para indicar a qualidade da muda e auxiliar na tomada de decisão em projetos de conservação e uso de espécies florestais.

Para o FBO, os valores tiveram melhores respostas com o aumento das doses, atingindo para 150 e 200 Kg.m-3, o DC de 2,51 e 2,24 mm, respectivamente (Tabela 2). Estes diâmetros quando comparados ao FLL e FCO, são menores e se aproximam dos resultados obtidos na testemunha (1,35 mm). Nogueira e Brancalion (2016) propõem que um DC entre 2 e 3 mm seja o mais adequado para mudas para plantio no campo da família das mirtáceas em geral. Contudo, Tonetto (2018) sugere, a partir de resultados obtidos em estudos com A.

sellowiana cultivada por seis meses em vasos de 180 cm³, que o mais adequado é um DC de 3,6 mm para que as mudas sejam conduzidas a campo.

Ao compararmos os valores de DC de mudas de essências florestais, consideradas adequadas para o plantio a campo, preconizados por Carneiro (1995), Nogueira e Brancalion (2016) e Tonetto (2018), com exceção das plantas que não receberam fertilização, todas as demais apresentaram um DC condizente (1,81 a 6,67 mm), confirmando a importância do uso de fertilização na produção de mudas de A. sellowiana.

Os maiores valores de biomassa foram obtidos nas doses de FLL entre 9 e 12 Kg.m-3, sem diferença estatística entre si. Sendo que valores superiores nos tratamentos com FCO foram observados em doses com 150 e 200 Kg.m-3, semelhante aos valores de biomassa produzida pelas plantas no tratamento com 6 Kg.m-3 de FLL. O FBO apresentou dados de

biomassa que não diferiram dos valores da testemunha. Para FLL e FCO houve uma produção de BST com resposta crescente e positiva, associada a influência das crescentes doses de fertilização em relação à testemunha, divergindo dos trabalhos de Lang et al.

(2011) onde o uso de FLL influenciou as variáveis H e DC, mas não influenciou o acúmulo de massa dos tecidos aéreo e radicular.

Para Almeida et al. (2005), a biomassa radicial proporciona melhor desempenho das plantas quando transferidas para o campo, por apresentarem maior capacidade de sustentação e maior área para absorção de água e nutrientes. O melhor resultado para BSR foi encontrado com as duas maiores doses de FLL (9 e 12 Kg.m-3), que obtiveram os melhores IQD. Resultados subsequentes, sem diferença estatística entre si, foram observados para FLL com 1,77 g.planta-1 em dose de 6 Kg.m-3, e 1,76 e 1,81 g.planta-1 em doses de 150 e 200 Kg.m-3 de FCO, respectivamente (Tabela 2). Apesar de exigir amostragens destrutivas que podem inviabilizar ou dificultar o processo prático em viveiros florestais, Binotto, Lúcio e Lopes (2010) afirmam que as biomassas secas são as variáveis com maiores relações com o índice de qualidade de Dickson (IQD).

Grossnickle e Macdonald (2018) fazem um apanhado histórico de quão relevante se tornaram os indicadores de qualidade de muda, sendo que os estudos iniciaram com coníferas e foram ampliados para as espécies nativas e processos de restauração. Índices mais simples podem ser suficientes para indicar a qualidade das mudas, a exemplo da relação altura e diâmetro do colo (H/DC) (HUNT, 1990; CARNEIRO, 1995), que exprime o equilíbrio de desenvolvimento das mudas, pois conjuga duas importantes características, e quanto menor for seu valor, melhor a qualidade da muda e, consequentemente, maior a capacidade de sobrevivência e estabelecimento no local de plantio definitivo (CARNEIRO, 1995). Outras abordagens úteis para descrever a qualidade de mudas, integram um conjunto mais amplo de parâmetros para sua composição, como o índice de qualidade de Dickson (DICKSON et al., 1960) que considera a robustez e o equilíbrio da distribuição da biomassa, sendo um bom indicador do padrão de qualidade das mudas (FONSECA et al., 2002).

Todos os tratamentos testados apresentaram resultados menores que 10 cm.mm-¹, compatíveis com a referência de H/DC proposta de Hunt (1990) e Carneiro (1995) para mudas de qualidade, entretanto, Gonçalves et al. (2000) sugerem uma relação entre 2 e 7 cm.mm-¹ para espécies nativas da Mata Atlântica. Os valores da relação H/DC obtidos neste estudo variaram entre 6,29 e 7,81 cm.mm-¹ (Tabela 2), compatíveis com 7,89 cm.mm-¹

sugerido por Tonetto (2018) em estudos com mudas de A. sellowiana produzidas em vasos de 180 cm³.

Os melhores índices de H/DC para A. sellowiana foram obtidos nas dosagens de 12 Kg.m-3 de FLL e 100 Kg.m-3 de FBO (6,29 e 6,81 cm.mm-¹, respectivamente) (Tabela 2) e não diferiram estatisticamente entre si. Para o FLL ficou evidenciado que plantas submetidas a máxima dose apresentaram melhor qualidade H/DC, divergindo dos resultados obtidos em mudas de A. angustifolia e O. odorifera produzidas com dosagens semelhantes de FLL (ROSSA et al., 2011). Contudo, os dados obtidos para 100 Kg.m-3 de FBO são pouco intuitivos, pois as diferenças entre esses tratamentos são bastante acentuadas em todas as demais variáveis testadas. Por exemplo, no parâmetro H as mudas tratadas com 100 Kg.m-3 de FBO representam apenas, 29,34% da altura obtida em 12 Kg.m-3 de FLL, para o parâmetro diâmetro de colo o percentual foi ainda menor, de 27%. Portanto, é relevante considerar outros parâmetros para indicar se a muda está apta para a implantação em campo, visto que mesmo com bons índices H/DC as mudas fertilizadas com FBO não atingiram a altura e diâmetro mínimos recomendados por Tonetto (2018); Dias et al. (2006) e Gonçalves e Benedetti, (2000).

Outro índice de qualidade de mudas testado, o IQD, tem como valor mínimo sugerido 0,20 (HUNT, 1990; CARNEIRO, 1995). Os valores encontrados neste estudo variaram de 0,03 para a testemunha a 0,81 para dose máxima de FLL (Tabela 2). Marques et al. (2018) em trabalhos com mudas de Eugenia uniflora produzidas com resíduo orgânico de lodo de esgoto encontraram valores máximos de 0,72 para o IQD. Em trabalhos com mudas de teca produzidas em substrato fertilizado com cama de aves e esterco de codorna, Trazzi et al.

(2013) encontraram IQD superiores a 1.

Os dados demonstram que com o aumento das doses dos fertilizantes FLL e FCO, os resultados do IQD foram crescentes, suficientes para obtenção de mudas de qualidade, chegando aos valores máximos de 0,71 e 0,81 sem diferença estatística entre si, para dose de 9 e 12 Kg.m-3 FLL, respectivamente (Tabela 2). Para FCO os melhores resultados foram

0,12 na dose de 150 Kg.m-3. Isso demonstra que as mudas não são adequadas para implantação a campo, assim como indicado pelos valores obtidos para altura e diâmetro (TONETTO, 2018; NOGUEIRA; BRANCALION, 2016), contrário ao que indica o índice H/DC para as mudas produzidas com 100 Kg.m-3 de FBO. A divergência entre os resultados obtidos para os dois índices de qualidade de mudas confrontados com os dados de H e DC indicam que o IQD é mais adequado para a avaliação de mudas de A. sellowiana.

De maneira geral, maiores doses de FLL proporcionaram um aumento nos valores de todos os parâmetros biométricos e apontaram melhores padrões de qualidade de mudas, corroborando com dados de Rossa et al. (2011, 2013, 2015b) em estudos com espécies florestais nativas da Mata Atlântica e Gomes et al. (2020) em pesquisa com nespereira.

Resultados semelhantes foram obtidos com dosagens crescentes de FCO em todos os parâmetros biométricos. Para ambas as tecnologias de fertilização as plantas que receberam maiores doses de fertilização obtiveram melhores resultados, com exceção do índice H/DC, possivelmente em decorrência das melhores condições nutricionais básicas de macronutrientes como os teores de nitrogênio e fósforo (Tabela 1).

Ao observar os dados de FBO, verificamos uma diferença entre os tratamentos que receberam a fertilização e a testemunha nos parâmetros H e DC. Os parâmetros BFPA, BSPA, BSR, BST e IQD não diferiram estatisticamente da testemunha. Vicente et al. (2020) apresentam o bokashi como um fertilizante concentrado em N, P e K, indicado para substituição dos fertilizantes químicos tradicionais, ainda que existam lacunas no conhecimento científico sobre este adubo orgânico. É possível que em maiores concentrações de nutrientes, as respostas de desenvolvimento sejam diferentes, dialogando com trabalhos de Marco et al. (2019) e Ramires et al. (2021), que mostram a importância da composição do material orgânico utilizado como fonte de nutrientes para a obtenção de resultados positivos na produção de mudas.

3.3.2  Análise das Doses de Máxima Eficiência Técnica (DMET) das diferentes

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