4 ANÁLISE PRINCIPIOLÓGICA DO LANÇAMENTO E DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO TRIBUTÁRIO
4.2 ANÁLISE DOS PRINCÍPIOS COMUNS AO PROCEDIMENTO CONSTITUTIVO DO
ATO ADMINISTRATIVO DE LANÇAMENTO E PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
TRIBUTÁRIO
Existem princípios comuns e de observância obrigatória, tanto para o lançamento
quanto para o procedimento administrativo tributário. Estão contidos neste rol o princípio da
legalidade objetiva, da vinculação, da verdade material, da oficialidade, do dever de
investigação e do dever de colaboração.
O princípio da legalidade objetiva encontra guarida na Constituição Federal de 1988,
genericamente, no artigo 5º, inciso II, e, especificamente, nos artigos 37, caput - legalidade
administrativa, e 150, inciso I - legalidade tributária, estrita legalidade e tipicidade da Carta
Magna Federal. Na legislação infraconstitucional, encontra-se presente no artigo 3º do Código
Tributário Nacional, tal é o artigo que descreve que a atividade administrativa tributária é
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vinculada. Relativo ao Processo Administrativo Federal é presente o princípio da legalidade
no artigo 1º e no artigo 2º, inciso I, da Lei 9.784/99 - LGPAF.
O princípio da legalidade recebe o adjetivo objetivo quando encarado no intuito de
ressaltar a vinculação do agente administrativo aos termos legais, eliminando-se a
subjetividade na apreciação da discussão administrativa ou na formalização, fiscalização e
lançamento do crédito tributário. É de aplicação alinhada, no âmbito do direito material
tributário, ao princípio da legalidade estrita.
Discorre James Marins139 que “o princípio da legalidade objetiva deve governar, sob
pena de invalidade, toda atividade procedimental e processual tributária que irá se
desenvolver em estrita vinculação com a lei e para a finalidade de preservar a aplicação do
sistema jurídico-tributário.”
Tal princípio decorre da autotutela vinculada da administração, que significa que o
Estado tem todo o direito de tomar todas as providências necessárias à constituição do crédito
tributário, respeitando os limites impostos pela lei que disciplina seu exercício. Noutros
termos, não há espaço para a discricionariedade na formalização dos atos administrativos
tributários (lançamento, fiscalização, julgamento e apuração), pois são atividades vinculadas,
de acordo com o artigo 3º do Código Tributário Nacional - CTN, que devem obediência aos
ditames legais - artigo 2º, inciso I, da LGPAF, empregada no procedimento administrativo
tributário e no lançamento, tudo de acordo com os exatos termos do direito constitucional e
infraconstitucional.
O princípio da vinculação é diretriz agregada ao princípio da legalidade objetiva. A
vinculação encontra respaldo nos artigos 3º e 142 do CTN que prescreve, o primeiro, que o
tributo é prestação pecuniária instituída por lei e cobrada mediante atividade administrativa
plenamente vinculada, e o segundo, que a atividade administrativa de lançamento é vinculada
e obrigatória.
Entende-se por vinculação o enquadro dos atos procedimentais aos exatos termos
legais tipificados, impedindo-se a subjetividade do agente público no exercício de suas
funções. Aqui, exige-se estreita correspondência entre os mandamentos legais e os atos
praticados, a não ser que a própria norma indique, através de reenvio e em razão de sua
abertura, possibilidade diversa a ser seguida pelo agente140.
A atenção pelo agente às disposições da lei e a imposição legal de obediência
consagradas através dos princípios da estrita legalidade e da tipicidade (âmbito material) e da
legalidade objetiva e vinculação (âmbito processual) geram maior garantia de obediência à
segurança jurídica e à justiça previstas, ambas, na Constituição e na legislação
infraconstitucional material e processual.
Pelo princípio da oficialidade, entende-se o dever de impulso oficial, através da
Administração Pública, do procedimento administrativo tributário ou do ato de lançamento.
Em outras palavras, uma vez iniciado o procedimento ou a formalização do lançamento,
independente de quem tenha iniciado, este deverá desenvolver-se e ter andamento,
independente de requerimento das personalidades envolvidas. A prática de tal princípio
recebe a denominação de “ex officio”, que significa promover o prosseguimento dos atos administrativos de ofício.
A procura da aproximação entre a realidade de fato e sua representação legal se trata
da verdade material. Este princípio é observado, principalmente, nas atividades fiscalizatórias
140 Não se trata de princípio da estrita legalidade, pois esta se encontra no âmbito do Direito Tributário material e
sua aplicação ocorre nas normas em que se verificam regras-matrizes de incidência tributária, enquanto que o princípio da vinculação é direcionado ao Direito Processual e procedimental tributário, agindo como limitador aos atos administrativos praticados pelo agente público.
(cuja finalidade é a busca da verdade material) e naquelas referentes ao lançamento e
apuração do crédito tributário (que devem ser realizadas de acordo com a verdade material)141
.
O princípio do dever de investigação impõe à Administração Pública a tarefa de
proceder à averiguação das atividades dos indivíduos/contribuintes no intuito de verificar qual
a que se enquadra nas hipóteses previstas na lei tributária. Aqui, há correspondência para com
os poderes de investigação como, por exemplo, o exame das mercadorias, livros, arquivos,
documentos fiscais, identificação do patrimônio e rendas dos contribuintes, dentre outros.
Encontra respaldo no artigo 145, §1º, da Constituição Federal, artigo 194 a 200 do Código
Tributário Nacional.
Tal princípio encontra limites na própria Constituição Federal, especialmente no artigo
5º, incisos X, XI e XII, que se referem a inviolabilidade da vida privada e intimidade,
inviolabilidade de residência, de sigilo de correspondência e outros meios de comunicação.
O dever de colaboração também é um princípio que imputa comportamento ao
contribuinte e outros indivíduos (terceiros) no sentido de que todos têm de colaborar com a
fiscalização tributária promovida pela Administração Pública. Estas pessoas devem fornecer
os documentos solicitados, responder a questionamentos por parte da autoridade fiscal
referentes ao patrimônio e rendimentos, dentre outros.
James Marins142 recorda que “segundo o Código Tributário Nacional, submetem-se às
regras de fiscalização tributária todas as pessoas naturais ou jurídicas, contribuintes ou não,
inclusive tabeliães, instituições financeiras, empresas de administração de bens, leiloeiros,
exceto quanto aos fatos sobre os quais exista previsão legal de sigilo [...]”.
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Verdade material difere de verdade formal. É que esta última prioriza a formalidade processual da prova que é ônus de cada uma das partes, limitando a atividade do juiz no processo civil. Noutros termos, no processo civil, o juiz julga de acordo com os elementos trazidos a baila pelas partes, não lhe sendo lícito tomar as rédeas do processo e determinar de ofício à produção das provas que entende ser necessárias à solução da demanda. Já a verdade material possibilita, no procedimento administrativo fiscal, que a autoridade administrativa produza as provas e promova as diligências que achar cabíveis nos limites legais para comprovar a legitimidade do lançamento.
A Lei Geral do Processo Administrativo Federal (LGPAF), aplicada ao procedimento
administrativo tributário, dispõe em seu artigo 4º que são deveres do administrado, dentre
outros, os seguintes: expor os fatos conforme a verdade; proceder com lealdade, urbanidade e
boa-fé; não agir de modo temerário; prestar as informações que lhe forem suscitadas e
colaborar para o esclarecimento dos fatos.