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ANÁLISE DOS RESULTADOS DA ELASTICIDADE DE SUBSTITUIÇÃO DO

No documento marciliozanellipereira (páginas 121-131)

Este capítulo traz os resultados encontrados da elasticidade de substituição dos trabalhadores brasileiros de diferentes faixas etárias para três níveis de escolaridade. Esses resultados serão utilizados para a calibragem do modelo, já que este apresenta uma estrutura na qual há substituição entre os trabalhadores de diferentes faixas etárias conforme a função de elasticidade constante CES, de acordo com o desenvolvimento da subseção 3.2.2.

Com a utilização do software estatístico Stata versão 12.0 e com o banco de dados da RAIS-Migra descrito na seção 4.2, foi possível encontrar os valores das elasticidades de substituição do trabalho brasileiro entre as faixas etárias e as escolaridades para os 62 setores utilizados neste trabalho de acordo com o capítulo 5.

Todavia, algumas elasticidade não foram significativas a 10% de significância. Para que houvesse valores em todos os grupos de trabalhadores e em todos os setores, foi aplicado o mesmo procedimento adotado para os grupos em separados, contudo, neste caso utilizou dados dos trabalhadores agregados encontrando-se 12 elasticidades. Seguindo os testes de Breush Pagan, no qual indicou a existência de variáveis não observadas e o teste de Hausman, que indicou que os efeitos são aleatórios, foi possível calcular as elasticidades dos trabalhadores brasileiros.

A Tabela 5 traz o resultado da elasticidade de substituição do trabalho das três escolaridades dos trabalhadores da economia divididos por suas respectivas faixas etárias.

Tabela 5 _ Elasticidade de substituição do trabalho brasileiro por escolaridade

Fonte: Elaboração própria.

Esses resultados encontrados na Tabela 5 serviram como base para completar os quadros 1, 2 e 3. Para os setores que se mostraram não significativos a 10% de significância nos quadros mencionados, optou-se por preencher com os resultados obtidos na Tabela 5 levando-se em consideração a escolaridade e a faixa etária que o setor da economia se enquadra. O Quadro 1 traz o resultado da elasticidade de substituição (σ) dos trabalhadores de baixa qualificação.

A análise da elasticidade de substituição do trabalho deve ser feita setorialmente, sendo que quanto mais alto o valor encontrado, os trabalhadores desse grupo são mais susceptíveis a substituição por trabalhadores de outras faixas etárias. Da mesma forma, quando o valor da elasticidade for baixo, os trabalhadores do grupo são menos susceptíveis a substituição. Por exemplo, no setor agrícola, para os trabalhadores de baixa qualificação, o grupo mais sensível a substituição é o da faixa etária maduro, pois o valor encontrado é o mais alto, enquanto o grupo dos adultos, o valor da elasticidade é o mais baixo, portanto, é o grupo menos susceptível a substituição. Esse resultado foi encontrado para Pecuária e Produção florestal, portanto, para os setores primários, houve convergência dos resultados da elasticidade.

Quadro 1 _ Elasticidade de substituição de trabalhadores de baixa qualificação para 62 setores

Em relação aos 33 setores secundários, 21 registraram o grupo maduro entre os mais elásticos. Entre eles, setores como Fabricação de Calçados, Fabricação de produtos Farmoquímicos e Construção. Dos 26 setores de serviços, 18 apresentaram maior elasticidade de substituição do grupo maduro. Entre eles estão setores como Educação, Saúde, Atividades jurídicas, contábeis, sedes de empresas entre outros.

Portanto, pode-se concluir que o grupo maduro possui menor “poder de barganha” no mercado de trabalho, pois quando há aumentos salariais relativos para esse grupo de trabalhadores, o mercado tem maior possibilidade de substituí-los por trabalhadores de outras faixas etárias. Dessa forma, trabalhadores de baixa qualificação pertencentes a esse grupo possuem dificuldade de inserção no mercado de trabalho, já que são mais vulneráveis a serem substituídos por trabalhadores de outras faixas etárias.

Em relação ao grupo de trabalhadores com menores valores da elasticidade de substituição, não houve um padrão como ocorreu com os mais elásticos. Excetuando o grupo maduro, as outras três faixas etárias tiveram um grande número de setores com essas características. Nos setores primários, porém, houve uma convergência. O grupo adulto foi mais inelástico nos três setores analisados.

No caso dos setores secundários e de serviços houve maior distribuição. Por exemplo, entre os setores terciários houve 10 setores com o menor valor da elasticidade de substituição de trabalhadores jovens, 9 do grupo de idosos, 6 no de adulto e apenas o setor de Serviços domésticos obteve o grupo de maduro com os trabalhadores mais inelásticos. Destaca-se que este último setor é muito díspar dos demais setores de serviços, pois concentra grande parte da mão de obra de baixa escolaridade.

Essa diferença entre as elasticidades dos grupos nos setores mostra a importância de desagregar o fator trabalho em diferentes grupos de faixa etária e grau de instrução, já que este não é caracterizado por ser substituto perfeito. Na literatura internacional há uma gama de trabalhos que estimam elasticidade de substituição entre trabalhadores como os de Katz e Murphy (2002), Berman e Machin (2000), Santamaria (2004), Gallego (2006) entre outros. Esses autores encontram valores de elasticidades de substituição para distintas qualificações em diferentes países e, em todos estes trabalhos,

há substituição imperfeita entre os trabalhadores estudados. Card e Lemieux (2001) calculam a elasticidade de substituição para trabalhadores com mesma escolaridade, mas diferentes faixas etárias. Flaig et al. (2011) analisa o mercado de trabalho israelense através da substituição imperfeita de trabalhadores de diferentes nacionalidades.

A mesma análise realizada com os trabalhadores de baixa qualificação é feita para os demais níveis de escolaridade. O Quadro 2 traz os valores para elasticidade de substituição dos trabalhadores de média qualificação, enquanto que o Quadro 3 apresenta os valores da elasticidade de substituição para trabalhadores de alta qualificação.

Em relação aos trabalhadores de média escolaridade, o grupo de maduro permaneceu sendo o mais elástico em grande parte dos setores. Todavia, o grupo de idosos registrou um aumento de setores com maior elasticidade, como no caso dos setores primários. Dos três setores, dois registraram maiores valores da elasticidade no grupo maduro, mas em Agricultura o grupo idoso foi mais elástico.

Para os setores secundários e terciários, o grupo maduro manteve sendo o mais elástico. Nos secundários, 26 dos 33 setores o grupo maduro foi o mais elástico, enquanto nos de serviços isso ocorreu em 20 dos 26 setores. Como salientado, o maior valor para elasticidade de substituição significa que trabalhadores desse grupo têm maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho, pois são mais vulneráveis a serem substituídos por outras faixas etárias.

Quando se analisa os trabalhadores mais inelásticos, observa-se que a distribuição dos setores concentrou-se nas faixas etárias jovens e adulto. Nos setores primários não houve convergência. No setor Agricultura, o mais inelástico foi o da faixa etária jovem, na Pecuária foi a de adulto e no de Produção florestal foi o da faixa etária de idoso o menos elástico.

Para os secundários, 12 setores registraram menores valores de elasticidade para o grupo adulto e 10 para o grupo de jovens. Entre eles estão setores como Fabricação de Máquinas e Equipamentos Elétricos e Metalurgia, nos quais o grupo jovem é mais inelástico. Para o grupo adulto, trabalhadores do setor de Construção, que é o segundo

maior empregador na economia brasileira, são menos substituíveis por trabalhadores de outra faixa etária.

Entre os de serviços, dos 26 setores, 12 pertencem ao grupo jovem e 11 no adulto. Da mesma forma que aconteceu com os trabalhadores de baixa escolaridade, Serviços domésticos foi uma exceção entre os terciários, apresentando o grupo de idoso como o de menor elasticidade. Outra exceção foi Armazenamento, atividades auxiliares dos transportes e correio, no qual o grupo maduro foi mais inelástico.

Para o grupo de trabalhadores de alta qualificação, a elasticidade de substituição entre as faixas etárias pode ser acompanhada no Quadro 3. Neste, o grupo de maduro apresentou maiores valores em dois setores primários, enquanto em Pecuária o maior valor foi o grupo de trabalhadores idosos.

Esses resultados seguiram para os demais setores, ou seja, o grupo maduro foi o de maior elasticidade em grande parcela dos setores. Todavia, diferentemente das faixas etárias estudadas anteriormente, o grupo idoso registrou maior elasticidade em 16 setores do total.

Nos secundários, os 13 maiores valores de elasticidade dos trabalhadores de alta escolaridade foram do grupo maduro e 6 de idosos. Entre os setores que o grupo de idosos mostrou ser mais vulnerável a ser substituído está o setor de Fabricação de automóveis e caminhões e Fabricação de peças para veículos automotores. O setor Energia elétrica, gás natural e outras utilidades registrou o grupo de jovens a maior elasticidade. Este setor foi uma exceção, pois em todas as escolaridades o grupo jovem foi mais elástico.

Quadro 2 _ Elasticidade de substituição de trabalhadores de média qualificação para 62 setores

Nos setores de serviços, 14 obtiveram maiores valores de elasticidade do grupo maduro e 9 do grupo idoso. Entre o grupo de idoso está o setor Desenvolvimento de sistemas e outros serviços de informação, Alojamento e o setor de Alimentação. Para os do grupo maduro são exemplos os setores Aluguéis não-imobiliários etc, e os três setores relacionados ao transporte (Transporte aéreo, Transporte aquaviário e Transporte terrestre). A única exceção dos setores de serviços em que o grupo jovem foi mais elástico foi Telecomunicações. Serviços domésticos também se diferenciou dos demais, registrando o grupo adulto a maior elasticidade.

Em relação aos grupos que apresentaram menor elasticidade dos trabalhadores de alta escolaridade houve uma concentração no grupo jovem. Uma das respostas para esse resultado pode ser a necessidade que esses setores possuem em ter uma mão de obra mais jovem para a execução das atividades.

Esse fato pode ser agravado com o decorrer dos anos, pois como discutido no capítulo 2, a transição demográfica brasileira está fazendo com que diminua o número da população com esta faixa etária, podendo deixar o mercado de trabalho brasileiro com uma estrutura mais rígida com a falta de profissionais em alguns setores.

Nos setores primários, apenas os trabalhadores de Produção florestal obtiveram os menores valores da elasticidade no grupo idoso, enquanto nos demais o grupo jovem foi o mais inelástico. Nos secundários, 13 setores, entre eles, Metalurgia, Fabricação de farmoquímicos e farmacêuticos obtiveram os menores valores de elasticidade no grupo jovem. Apenas um setor (Impressão e reprodução de gravações) teve o grupo maduro com menor elasticidade.

Para os setores de serviços, 19 dos 26 setores foram os trabalhadores jovens os de menor elasticidade. Entre eles estão Educação, Saúde, Atividades jurídicas, contábeis, sedes de empresas entre outros. Da faixa etária adulto foram 4 setores como, por exemplo, o de Administração. O grupo maduro registrou 2 setores (Edição e edição integrada à impressão e Desenvolvimento de sistemas e outros serviços de informação) mais inelásticos, enquanto o grupo de idoso houve apenas uma exceção (Desenvolvimento de sistemas e outros serviços de informação).

Quadro 3 _ Elasticidade de substituição de trabalhadores de alta qualificação para 62 setores

Assim, como discutido no capítulo 2, a mudança na estrutura etária tende a influenciar a economia. O mercado de trabalho também será impactado, seja com variações de demanda por trabalhadores com escolaridade ou faixas etárias especificas, seja pela oferta de mão de obra. Assim, pôde ser analisado que com a substitutividade imperfeita entre os trabalhadores, os impactos causados com a mudança etária serão sentidos diferentemente em cada setor da economia.

De uma forma geral, os jovens se mostraram menos elásticos, portanto, menos substituíveis por outras faixas etárias. Esse resultado pode indicar o efeito da transição demográfica na economia brasileira, pois a queda de mão de obra jovem e o aumento de trabalhadores idosos proporcionou diferentes efeitos de substitubilidade entre as faixas etárias. A mão de obra madura se mostrou mais vulnerável de ser substituída no mercado de trabalho. A tendência desse efeito é aprofundar com o decorrer dos anos, pois como foi discutido no capitulo 2, além do crescimento proporcional das faixas etárias madura e idosa na economia, há a possibilidade dos idosos permanecerem por mais tempo no mercado de trabalho.

No documento marciliozanellipereira (páginas 121-131)