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Fonte: Google Earth – adaptado pela autora, 2016

4.5. ANÁLISE DOS RESULTADOS

As observações evidenciam que os pátios não foram projetados como elemento importante no conjunto escolar, podendo ter sido pensados apenas como uma forma de ocupar os vazios existentes entre a edificação e os limites do lote escolar.

O pátio deve permitir que os usuários possam modificá-lo de acordo com suas necessidades, reinventado um ambiente diferenciado a cada novo uso, incentivando sua permanente apropriação. Segundo Azevedo (2002) as áreas externas devem sempre estar equipadas com bancos para o descanso, bate-papo e pequenos agrupamentos. O MOBILIÁRIO disponibilizado nos pátios assim como suas disposições são fatores importantes no uso e apropriação do espaço.

No I. E. de E. 22 de Maio, existem poucos bancos soltos em áreas com proteção da irradiação solar e com espaço adequado que permita a mobilidade das crianças, sendo um espaço com bastante apropriação pelos alunos. Porém, a E. E. Olavo Bilac possui poucos bancos, sendo estes localizados em espaço arborizado, contudo, com chão batido sem manutenção e limpeza. Já a E. M. Castro Alves não possui mobiliário, sendo um item citado frequentemente pelos alunos no levantamento realizado.

Segundo Azevedo (2002), a SETORIZAÇÃO E

ORGANIZAÇÃO não podem ser muito rigorosas, permitindo que a criança possa controlar e se apropriar desse ambiente. Muitos problemas como o vandalismo e acidentes podem ser evitados quando se planeja uma organização espacial dividida em setores. Tendo como premissa o pátio ser mais do que um espaço para intervalo e correria, mas uma parte integrante e igualmente importante para o conjunto da escola, como por exemplo, as decorações e murais servindo de local complementar ao aprendizado. Assim, procura oferecer transição entre espaços abertos ao ar livre, e cobertos com possibilidades diversas de usos e apropriações.

Ainda, segundo Azevedo (2002), deve-se prover um cuidado especial com o tratamento paisagístico, que inclui não só o aproveitamento da vegetação, mas também os diferentes tipos de recobrimento do solo, como areia, grama, terra e caminhos pavimentados. A partir do levantamento realizado, foi observado nas três escolas de estudo, que há grande parte de vegetação no local e recobrimento com materiais diversos (grama, areia, blocos de paver, pedra brita, entre outros) tendo boa apropriação por parte dos usuários. Porém, como exceção, a E. E. Olavo Bilac possui grande parte de

vegetação e o recobrimento do solo não possui manutenção nestas áreas, sendo em terra e com grande acúmulo de galhos e folhas no local.

Para facilitar o USO E APROPRIAÇÃO das crianças no ambiente do pátio e no conjunto escolar como um todo é importante incentivar a TERRITORIALIDADE no ambiente. Com a maior utilização do ambiente, as crianças tendem a se apropriar dele, de forma a manter uma boa relação com o ambiente. Como relata Macedo, 2011, o pátio ideal deve possuir mais que quadras e parques infantis, que são equipamentos encontrados em outras edificações. “Por outro lado, as DECORAÇÕES E MURAIS comumente encontrados se mostram vazias perante o aluno sonhador e cheio de imaginação...” (MACEDO, 2011).

Ainda segundo Liempd (1999) a apropriação e qualidade do pátio estão intimamente relacionadas com a quantidade de atividade que ele pode gerar. O autor sugere que materiais como bolas, sucata, cordas, podem possibilitar uma multiplicidade de brincadeiras e jogos. Outro aspecto importante é a variedade nos tipos de solo (areia, ladrilhos, grama), o que promove uma modificação da atividade de acordo com o lugar. Observa-se na E. E. E. Olavo Bilac a não apropriação pelos alunos do pátio, sendo um local sem diferentes usos, pavimentação em pedra brita e chão batido, sendo fortemente utilizado o campo de futebol com gramado, realizando brincadeiras ativas. Já o I.E.E. 22 de Maio pode ser considerado aquele que possui o pátio com maior número de setores e com maior equilíbrio entre espaços construídos e livres de construção, sendo o pátio com melhor relação entre uso e apropriação.

É preciso refletir sobre o momento de DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA para organizar as áreas de recreação, de forma a aproveitar da melhor maneira possível o tempo neste espaço. Crianças com idades iniciais necessitam de uma delimitação mais clara do espaço, correndo o risco de se desorganizarem quando este é muito amplo e disperso. À medida que a criança vai crescendo, esses ambientes poderão ir se expandindo, favorecendo a exploração e o desenvolvimento físico-motor. Ainda, segundo Korpela (2002), quanto menor a idade maior a preferência pelo contato direto com áreas externas e ambientes naturais.

A FAIXA ETÁRIA DOS USUÁRIOS também influencia os percursos e ATIVIDADES NO PÁTIO. As crianças entre 7 e 11 anos se concentram mais nas atividades, sobretudo associativas (jogos). Isto reflete no maior tempo de permanência em um mesmo local, de modo que as crianças realizam a mesma atividade por um período maior. Este comportamento reflete a TEORIA DE PIAGET, que identifica que os

alunos desta idade estão na fase das operações concretas. Neste período, a criança mostra capacidade de interiorizar as ações, ou seja, ela começa a desenvolver operações mentalmente e não mais apenas através de ações físicas, que são típicas da inteligência sensório-motor. Nos resultados do mapa comportamental, observou-se que as crianças desta faixa de idade estavam brincando com galhos e subindo em árvores, em atividades no playground e não havia supervisão de adulto ou responsável. Verifica-se que a criança menor está iniciando o contato com novos ambientes e objetos. Faz parte dessas primeiras interações a busca pela exploração dos locais.

Analisando a presença da natureza, nos três estudos de caso há árvores no pátio. No caso da Escola Estadual E. F. Olavo Bilac e da Escola Municipal de Educação Fundamental Castro Alves, a interação das crianças com esses elementos ainda é restrita, elas apenas usufruem da sombra e observam as flores. Já no Instituto Estadual de Educação 22 de Maio, nas observações do mapa comportamental, as crianças utilizam as árvores para sentar e brincar em galhos, estimulando as crianças na interação entre si e com a natureza.

Já para as crianças de 12 anos em diante, segundo os resultados dos mapas comportamentais estas concentravam em atividades mais estáticas e, utilizavam espaços sombreados com bancos para socializar em grupos. Nos resultados dos “Poemas dos Desejos”, a maioria das crianças acima de 12 anos, revelava o desejo que existissem mobiliários no pátio e espaços para atividades desportivas. Estas atividades estão coerentes com a teoria de Piaget, que prevê que os alunos desta faixa de idade estão no período de operações formais. Nesta fase são desenvolvidas aptidões de se pensar em conceitos abstratos e no próprio processo de pensamento. É uma fase em que há a maturação da inteligência do indivíduo e a aptidão de pensar sobre o seu próprio pensamento, ficando cada vez mais consciente das operações mentais que concretiza ou que pode realizar diante do meio que o cerca.

Para o aspecto CAMINHOS DEFINIDOS, no I.E.E. 22 de Maio observam-se conflitos no acesso do pátio escolar, possuindo apenas uma entrada e gerando insegurança por parte dos alunos ao transitar no pátio frontal.

Segundo Fedrizzi (1997), é necessário que o pátio da escola possua certos elementos e ofereça certas OPORTUNIDADES E FACILIDADES. Seriam eles: demonstrar cuidado, possibilitar a aprendizagem, dar oportunidades para brincar, oferecer segurança, possuir uma horta e pomar, ter a presença de vegetação, canchas para esportes, recantos ou esconderijos e abrigo contra intempéries.

A SEGURANÇA é importante quando se trata de edifícios escolares, seja relacionado à segurança do espaço para os alunos, evitando que os mesmos se machuquem ou causem acidentes, seja a segurança do edifício escolar em relação a elementos externos à escola.

Em todos os estudos de caso, observou-se que a figura do inspetor se tornou rara e, em alguns casos, até mesmo não existe. Desta forma, as crianças sentem que estão em um local onde não há regras de comportamento, o que pode gerar ações de vandalismo. Esse fato pode ser descrito por meio de situações como a relatada na E. E. Olavo Bilac, como brigas entre os alunos no intervalo e rasgos no fechamento do playground para utilização de alguns alunos no intervalo. Ainda é bom ressaltar que se o ambiente é um lugar significativo para os estudantes, o risco de vandalismo e negligência provavelmente será reduzido.

Segundo Lima (1995), é através da BRINCADEIRA que a criança se desenvolve, aprende e se concentra, observa e estabelece relações com objetos, pessoas e natureza. Sem uma estrutura física adequada, nas três escolas em estudo, como brinquedos e equipamentos, os alunos buscam meios de adaptar-se ao espaço e às suas necessidades. Desta forma, observa-se a apropriação feita pelos alunos, pois transformam garrafas pet em bola para futebol, estruturas de metal em local para escalar, como vista no I.E.E. 22 de Maio, os canteiros servem como bancos para descanso e/ou integração, observada na E.M.E.F. Castro Alves, com o propósito de brincar, sendo uma necessidade da criança.

Devem ser lembrados os possíveis prejuízos causados pela adaptação das crianças às situações negativas, como questões de oportunidade para brincar, pela falta de espaços adequados, como pelo conforto, pela falta de condições físicas para realizar as atividades.

Em cada uma das três escolas, a DENSIDADE ESPACIAL observada foi:

 Instituto Estadual de Educação 22 de Maio: 13,00 m²/aluno.

 Escola Estadual de Educação Fundamental Olavo Bilac: 69,00m²/aluno.

 Escola Municipal de Educação Fundamental Castro Alves: 46,00m²/aluno.

Para Moore (1986), existem três tipos de pátios: mínimo (7,5m²/criança), recomendado (10m²/criança) e generoso (20m²/criança). Conforme observado, a E.E.E.F. Olavo Bilac e a E.M.E.F. Castro Alves, ambas localizadas no perímetro rural, possuem

área livre por aluno bem acima do que é classificado como generoso pelo autor. Podendo assim, justificar a desapropriação de grande parte do pátio pelos educandos, como demonstrado pelo Mapa Comportamental. Desta forma, Fedrizzi (2002) afirma que áreas muito extensas pedem uma divisão em partes menores, especialmente no caso de crianças pequenas. Essa divisão torna o ambiente mais aconchegante e evita o desuso de grandes espaços.

Muitas vezes é a prioridade estética e econômica que falam mais alto no planejamento do ambiente e que tomam a frente no projeto das edificações, sendo que a opinião do usuário muitas vezes não é ouvida. Para desenvolver edificações educacionais fundamentadas nas diversidades de contexto urbano, cultural e econômico, uma recomendação para a melhoria dos futuros projetos seria a PARTICIPAÇÃO de alunos, professores, funcionários, familiares e de uma equipe de profissionais como arquitetos, engenheiros, pedagogos, psicólogos, administradores e outros afins.

O ideal é que, antes de qualquer reforma de edifício já existente, seja realizado um ESTUDO DE APO considerando não apenas o ambiente a ser alterado, mas também o conjunto da escola, para que a modificação seja adequada e desejada pelos usuários.

Ambientes variados favorecem diferentes formas de interação entre pessoa/ambiente e estimulam o uso e apropriação do espaço pelos usuários. De certa forma, eleger dimensões para os pátios pode auxiliar na sua qualidade, porém, a qualificação desse espaço não se restringe ao seu tamanho, sendo sua organização espacial um elemento importante.

4.6. ORIENTAÇÕES PROJETUAIS PARA PÁTIOS ESCOLARES