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III.1. Introdução

Nesta seção pretende-se analisar o mercado de trabalho dos Aglomerados Produtivos Locais brasileiros sob a paisagem econômico, regional e urbano a qual fazem parte, abordando os efeitos gerados pelos condicionantes territoriais – nacional, regional e local – no mercado de trabalho local e no bem estar do trabalhador.

As condicionantes territoriais atuam no mercado de trabalho e no bem estar do trabalhador através dos ganhos de produtividade das firmas geradas pelas externalidades territoriais que são repassadas em algum grau para os trabalhadores (Galinari, Crocco, Lemos e Basques, 2003).

Como os ganhos dos trabalhadores advindos do aumento da produtividade são corroborados com a associação dos maiores níveis de produtividade com os maiores níveis salariais, de formalidade e menores de precariedade no perfil “via-superior” e o inverso, no perfil “via-inferior”. Este Capítulo se limita a analisar os efeitos das externalidades na produtividade do trabalho local.

Cabe ressaltar, também, que este trabalho não tem a pretensão de explicar todo o desempenho do mercado de trabalho local através das condicionantes territoriais. Visto que, parte do desempenho é conseqüência de outros fatores alheios a condição urbano- regional, tais como a transferência de benefícios fiscais pelos Governos Estaduais e Federal e a existência de outras atividades importantes que não sejam as industriais, como, por exemplo, as do setores de serviço e agropecuário.

De forma a alcançar o objetivo estabelecido, este capitulo, então, foi dividido em cinco seções. Com cada uma delas abordando um dos condicionantes territoriais pré-estabelecidos. No plano Nacional, a instabilidade macroeconômica e a fraca capacidade de produção tecnológica. No Regional, o polígono observado por Diniz (1993). E, no local, os efeitos das externalidades Marshallianas de especialização, Jacobianas de urbanização e transacionais.

III.2. Externalidades Territoriais em Escala Nacional

O ambiente de instabilidade macroeconômico brasileiro e as freqüentes mudanças nas regras que governam o funcionamento do mercado, abalam a confiança dos agentes, tornando difícil o desenvolvimento de relações cooperativas, e por sua vez, eleva significativamente os custos de transações locais.

Este ambiente instável e as constantes mudanças nas regras são evidenciadas pelos diversos planos de estabilização monetária implantados no Brasil, no período de 1986 a 1994: Cruzado (1986), Bresser (1987), Verão (1989), Collor I (1990) e Collor II (1991) e Real (1994) (Modenesi, 2005).

Com exceção do Plano Real, nenhum deles lograram êxito no controle inflacionário. Produzindo somente uma redução temporária da taxa de inflação, que voltou para os patamares vigentes anteriormente à implementação dos respectivos planos. Esses mesmos basearam as linhas gerais do seu programa na proposta do choque heterodoxo de Chico Lopes, cujas características gerais eram: (i) congelamento dos preços; (ii) acordos salariais; (ii) administração do câmbio; e, (iv) política monetária e fiscal subordinadas, respectivamente, ao crescimento e às necessidades de investimento público.

Enquanto que o Plano Real se baseou na proposta de Lara-Resende e Arida da moeda indexada e em uma política monetária restritiva aliada a uma abertura comercial, que atraiu divisas e manteve o câmbio sobrevalorizado que serviu de âncora nominal da economia até a maxidesvalorização de 1999 (Modenesi, 2005).

Já, a fraca capacidade de produção tecnológica brasileira, decorrente de um sistema de inovação incompleto, pode ser verificada, na tabela abaixo, na qual são apresentadas as aglomerações por setores industriais divididos pela intensidade tecnológica.

A maior parte das aglomerações industriais está concentrada nos setores industriais de baixa intensidade tecnológica (60,8%), seguidos pelos setores de média- baixa intensidade tecnológica (28,6%), média-alta intensidade tecnológica (10,1%) e, por ultimo, alta intensidade tecnológica (0,5%).

Destaca-se, ainda, cinco setores industriais com maior participação (67,3 %) na matriz produtiva brasileira, dos quais três deles: alimentícios e bebidas (19,8%), fabricação de produtos de madeira (15,7%), confecção de artigo do vestuário e

acessórios (10,6%), encontram-se no grupo com baixa intensidade tecnológica, e os outros dois: minerais não metálicos (11,3%), e fabricação de móveis e indústrias diversas (9,9%), no grupo com média-baixa intensidade tecnológica.

Tabela III.1 - Distribuição das Aglomerações Produtivas por Setores Industriais e Intensidade Tecnológica

Frequência

IT* Setores Absoluta Relativa Total Extr. Carvão Mineral 2 0,2% Extr. Petróleo, Gás Natural e Serv. Relac. 1 0,1% Extr. Minerais Metálicos 1 0,1% Extr. Minerais Não-Metálicos 47 4,3% Fabric. Produtos Alimentícios e Bebidas 216 19,8% Fabric. Produtos do Fumo 2 0,2% Fabric. Produtos Têxteis 48 4,4% Confec. Art. Do vestuário e Acess. 116 10,6% Couros, Artef. Couro, art. Viag. e Calçados 55 5,0% Fabric. Produtos de Madeira 172 15,7%

Baixa

Edição, Impressão e Gravações 5 0,5% 60,8%

Fabric. Celulose, Papel e Prod. de Papel 4 0,4% Fabric. Produtos de Minerais Não-Metálicos 124 11,3% Metalurgia Básica 17 1,6% Fabric. Produtos de Metal 60 5,5%

Médi

a-Baix

a

Fabric. Móveis e Indústrias Diversas 108 9,9% 28,6%

Fabric. Produtos Químicos 26 2,4% Fabric. Art. De Borracha e Plástico 26 2,4% Fabric. Máq. E Equip. 32 2,9% Fabric. Máq., Apar. e Mat. Elétricos 5 0,5% Veículos Automotores, Reboques e Carrocerias 17 1,6%

Médi

a-Alta

Fabric. Outros Equip. de Transporte 4 0,4% 10,1%

Fabric. Máq. Escritório e Equip. Informática 1 0,1%

Alta Equi. Instr. Méd-Hosp., Instr. Precisão/Ópticos 4 0,4% 0,5%

FONTE: elaboração própria.

A distribuição regional dos aglomerados produtivos pelos quatros níveis de intensidade tecnológica definidas neste trabalho, pode ser claramente vista nos quatro mapas a seguir.

No primeiro, que se refere aos setores de baixa intensidade tecnológica, percebe-se uma distribuição dos aglomerados produtivos por todo o território nacional. Porém, ao se analisar em conjunto com os outros mapas, verifica-se que, conforme aumenta o nível de intensidade tecnológica dos setores, além da diminuição na quantidade de aglomerados produtivos, eles, também, apresentam uma concentração no polígono definido por Diniz (1993).

Esta distribuição geográfica pode ser explicada pelo processo histórico-regional da indústria brasileira analisado na seção I.3.7 deste trabalho. Na qual, Crocco e Diniz

(1996) relatam dois marcos históricos relevantes para essa distribuição. O primeiro, a desconcentração industrial relativa, ocorrida na década de 1970, articulada com a expansão da fronteira agrícola, predominantemente, no Centro-Oeste, e mineral no Norte, além dos incentivos fiscais para as Regiões Norte e Nordeste, na qual, se baseava em setores de atividades econômicas mais intensivas no uso de mão-de-obra. E, o segundo, a reconcentração da atividade industrial, na década de 1980, sustentada na ciência e na técnica no polígono identificado por Diniz (1993), cujo ambiente local contém os requisitos necessários para o seu desenvolvimento.

Mapa III.1 - Distribuição Regional das Aglomerações Industriais com Baixa