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CAPÍTULO IV – CONSTRUÇÃO DOS RESULTADOS

2.2.3 ANÁLISE DOS SIGNIFICADOS DESVELADOS

Visando à compreensão do fenômeno do significado do processo de trabalho para o enfermeiro que atua em UTI, analisei as categorias e os temas revelados de maneira reflexiva habitando o mundo-vida do sujeito no mundo-instituição em que está inserido.

Nesta etapa, o objetivo foi a análise do geral, sem pretensão de torná-la universal, visto que os significados foram revelados a partir de minhas percepções no contexto específico das experiências dos sujeitos.

Assim, descrevo e analiso as categorias e seus respectivos temas revelando suas convergências, divergências e idiossincrasias.

Conforme expressa o diagrama 2, descrito a seguir, a categoria “O processo de trabalho

assistir/cuidar na UTI” foi desvelada e compões-se dos temas: O processo de cuidado; O processo de Enfermagem; Relacionamento com o paciente da UTI, Relacionamento com a família na UTI e A humanização.

Diagrama 2- Categoria: O processo de trabalho assistir/cuidar na UTI. Botucatu, 2010.

O tema O processo de cuidado revela que as UTIs são unidades com características específicas, compactas e com barreiras físicas destinadas ao tratamento intensivo de pacientes graves. Contemplam uma equipe multiprofissional que durante as 24 horas do dia desempenham seu trabalho. Neste sentido, o processo de cuidado de enfermagem realiza-se completamente porque permite ao enfermeiro acompanhar, de maneira holística, as necessidades dos pacientes. Como pode ser observado nas falas a seguir:

“... eu acho bom... é um dos lugares que a gente mais consegue mostrar o nosso trabalho, a gente tá constantemente próximo do paciente, sabe o que tá acontecendo, consegue ter o processo de cuidado... avaliar como tá sendo assistido, tudo que tem que ser feito... uma unidade que a gente consegue desenvolver um trabalho legal, mais completo, por ser um lugar pequeno..." (II-13)

Nestas falas, posso perceber que o processo de cuidado na UTI se revela completo no sentido de possibilitar o acompanhamento do paciente de forma contínua e atender às necessidades que surgirem. A equipe multiprofissional, que acompanha os pacientes durante as 24 horas do dia, possibilita desenvolver aspectos do processo de cuidado na UTI de modo a proporcionar assistência holística.

O cuidado na perspectiva holística permite considerar o paciente como ser singular e não apenas a sua doença. Desta forma, este cuidar busca compreender as pessoas e seu mundo, opondo- se à tendência fragmentária e reducionista(51).

O processo de cuidado na enfermagem está inserido como parte do processo de trabalho da enfermagem. O processo de trabalho é a transformação de um objeto em produto por meio da intervenção do ser humano que utiliza instrumentos para tal(3).

O processo de trabalho apresenta componentes que o estruturam. O objeto é o produto que será transformado pela ação do ser humano, é aquilo sobre o que se trabalha e tem a finalidade de ser transformado. Agentes são os seres humanos que transformam a natureza, fazem intervenções no processo de trabalho e são capazes de alterá-lo para produzir um artefato ou serviço. Os instrumentos são artefatos físicos, conhecimentos, habilidades e ações necessárias para desempenhar e realizar o trabalho. Finalidade é a razão pela qual a ação é feita, dá significado à existência e sentido do trabalho.

Também se compõe de método que são as ações organizadas para atender a finalidade, executadas pelos agentes sobre os objetos de trabalho, utilizando instrumentos para obter o bem ou serviço e por fim o produto que se constitui dos serviços ou bens produzidos(3).

O processo de trabalho na enfermagem apresenta bases organizadas que o definem, mas acontece na dinâmica do trabalho para somar efetividade, eficiência e eficácia. Na enfermagem, há vários processos de trabalho que podem ou não acontecer concomitantemente, sendo o processo de cuidado parte integrante deste processo de trabalho(3).

O processo de cuidado tem como objeto o cuidado destinado aos pacientes e familiares. Os agentes são a equipe de enfermagem que realiza o cuidado, os instrumentos são ações, conhecimentos e habilidades que compõem o assistir, o método acontece por meio da Sistematização da Assistência de Enfermagem, procedimentos e técnicas e o produto é o resultado do cuidado(3).

Compreendo que nos depoimentos os sujeitos se referem a esta dimensão do processo de trabalho considerando que o cuidado realizado na UTI contempla estes componentes que estruturam o processo assistir/cuidar para garantir a assistência completa conforme foi desvelado.

O processo de cuidado, como parte integrante deste complexo universo da enfermagem possibilita ao enfermeiro conhecer as dimensões de cada paciente e acompanhar toda a sua evolução no decorrer da internação, e por esse motivo reconhece a possibilidade de acompanhar intimamente os processos de cuidado a serem realizados.

No entanto, quando assume atividades básicas de assistência direta ao paciente para cobrir a falta de recursos humanos, o enfermeiro encontra muitas dificuldades para realizar outras atividades de sua função. Como pode ser observado na fala que segue.

“... a não ser quando esteja muito corrido, que a gente tem que assumir leito, isso dificulta dar conta de tudo...” (II-13).

Compreendo nestas falas e com minha própria experiência que o déficit de recursos humanos vivenciado atualmente na instituição e nestas UTIs gera a necessidade de reorganização do processo de trabalho, de forma que seja necessário que o enfermeiro assuma atividades de cuidados básicos, que também são necessárias para proporcionar qualidade ao trabalho, mas que neste contexto poderiam ser realizados por outros membros da equipe de enfermagem, se esta estivesse completa. Com isso, o enfermeiro não consegue desempenhar todas as suas funções havendo necessidade de delegar ao técnico de enfermagem algumas atividades que deveria realizar.

A literatura corrobora com o significado atribuído pelos sujeitos do estudo e considera que o processo de cuidado deve ser oferecido segundo o padrão de qualidade e necessidade dos pacientes. A qualidade do cuidado deve ser o objetivo deste processo e para atingi-la a equipe de enfermagem deve ter profissionais em quantidade suficiente, capacitação e habilidade para atender às necessidades dos pacientes, e para tal, desenvolver comunicação efetiva e terapêutica com os pacientes e os membros da equipe(52,53,54).

A quantidade adequada de profissionais para a assistência está diretamente relacionada à melhor qualidade do cuidado e ao cuidado efetivo, que reflete na diminuição do fracasso nos procedimentos e diminuição do índice de mortalidade. A UTI é uma unidade que necessita de quantidade adequada de pessoal de enfermagem para monitorar constantemente a evolução dos pacientes sem perda de tempo, muitas vezes crucial para o bom resultado da assistência(54).

Como os pacientes internados na UTI estão gravemente enfermos e podem desestabilizar a qualquer momento, o cuidado exige do enfermeiro atenção aos sinais clínicos e o desenvolvimento da capacidade de realizar diagnóstico das intercorrências e estratégias para a resolução e enfrentamento dos problemas, o que o capacita para realizar qualquer atividade. O profissional realiza-se quando desenvolve um plano de cuidados ao paciente, atende as suas necessidades e inclui a família como parte deste processo. O cuidado revela-se a essência das atividades do enfermeiro. Conforme revelam as falas:

“... ali é assim, o paciente tá falando hoje, mas daqui a vinte minutos...” (IV-8)

“... aqui eles dependem totalmente da gente, é um olhar e você vê que o paciente não tá bem, que pode acontecer alguma intercorrência, muita responsabilidade...” (IX-10)

“... a assistência é o objeto de prazer do enfermeiro, é o que é mais gostoso fazer. É realmente fazer um plano de cuidados, é assistir o doente, as necessidades da família..." (XII-2)

O cuidado é a essência do trabalho do enfermeiro. Os discursos revelam que o profissional se identifica com o trabalho quando consegue realizar o planejamento do cuidado para atender de forma efetiva às demandas do paciente. O planejamento permite qualidade ao cuidado e segurança ao profissional por tomar condutas baseadas em princípios teóricos para atingir o objetivo deste cuidado. Para tal, o enfermeiro deve desenvolver competência clínica para realizar diagnóstico de cada situação vivenciada e intervir antecipadamente a deflagração do problema do paciente gravemente doente.

Para que o enfermeiro desenvolva competência profissional para realizar um trabalho de qualidade, a instituição deve implementar políticas de incentivo incluindo o aspecto salarial e estratégias que desenvolvam a capacitação e o conhecimento do profissional, e assim, melhorar a qualidade do cuidado(54).

A literatura sugere cinco variáveis necessárias para o enfermeiro assistir com qualidade os pacientes. A primeira refere-se ao profissional ter tempo suficiente para desenvolver suas atividades, com atenção totalmente voltada ao trabalho a ser realizado e garantir sua qualidade. A segunda explicita que o enfermeiro deve ter disponibilidade para auxiliar a equipe médica e colaborar com toda a equipe multiprofissional. Na terceira variável o enfermeiro deve cumprir as atividades com qualidade no tempo disponível e necessário para que sejam finalizadas. A quarta propõe que a equipe deve ter equipamentos e tecnologia em boas condições e disponíveis para que o cuidado seja realizado com qualidade e finalmente na quinta variável, o enfermeiro deve garantir a qualidade da assistência aos pacientes(52).

Para desenvolver o processo de cuidado com qualidade, o enfermeiro da UTI deve estar totalmente envolvido e elaborar o planejamento visando garantir sua continuidade. O estudo já referido revela que o índice da qualidade do cuidado na UTI é mais elevado do que em unidades de internação. Isto pode ser explicado pela necessidade de constante acompanhamento dos pacientes gravemente doentes(52).

Também se compreende que o enfermeiro deve desenvolver a capacidade de processar e resolver os problemas com tomada de decisão ética.

Assim, o profissional precisa desenvolver habilidade para atender às necessidades dos pacientes e proporcionar assistência com qualidade e também considerar as necessidades da instituição(55).

Identificar os sinais clínicos dos pacientes e as alterações apresentadas em tempo de intervenção adequada possibilita melhor evolução dos casos. O enfermeiro precisa desenvolver esta habilidade e pode utilizar a sensibilidade como auxílio para identificar as necessidades dos pacientes. O desenvolvimento da sensibilidade exige consciência e interpretação verbal e não

verbal. Os valores pessoais, religiosos, idade e costumes influenciam no desenvolvimento da sensibilidade(55).

Prover cuidado com qualidade confere satisfação ao enfermeiro, que também satisfaz os pacientes por possibilitar o cuidado efetivo, com atenção e dedicação.

O tema O Processo de enfermagem desvela que a realização desta metodologia assistencial

apresenta o impresso com todas as informações clínicas do paciente e local destinado às anotações, prescrição e evolução de enfermagem. Este impresso deve ser preparado pelo enfermeiro previamente a ser utilizado nas próximas 24 horas. Segundo explicita-se nas falas:

“... abre as folhas da SAE, anota o nome do paciente, dia de internação, diagnóstico, o que o enfermeiro tem que dar mais atenção baseado no levantamento dos problemas... anota as datas de cateteres, prescrição de enfermagem, a anotação de todos os sinais e controles, evolução. O noturno ficou com a função de abrir as folhas da Sistematização pra durar 24 horas..." (XI-6)

Como parte do processo de trabalho do enfermeiro destas UTIs, insere-se a Sistematização da Assistência de Enfermagem. Há um impresso próprio nas unidades que identifica todas as informações relacionadas à assistência e dados clínicos dos pacientes, anotação, prescrição e evolução de enfermagem. Este impresso é previamente preenchido com dados de identificação do paciente, como diagnóstico médico, data de internação, culturas microbiológicas, medicamentos administrados, escala de Braden e exame físico. O enfermeiro do plantão noturno preenche este impresso que será iniciado às 7 horas da manhã de cada dia.

A Sistematização da Assistência nas UTIs inicia-se com a realização do histórico de enfermagem na internação do paciente na unidade. O histórico de enfermagem permite ao enfermeiro realizar o levantamento dos problemas e propor as intervenções mais adequadas a serem realizadas. O histórico é realizado por meio do questionamento de familiares e pesquisa no prontuário do paciente com o intuito de colher informações referentes aos aspectos relacionados a sua saúde.

Posteriormente, o enfermeiro deve realizar o diagnóstico de enfermagem e acompanhar alguns procedimentos de cuidado de higiene, como o banho no leito para que seja realizado um exame físico abrangente. A partir do exame físico, são realizadas as propostas de intervenção para a abordagem das necessidades apresentadas e a descrição diária da evolução do estado de saúde e doença de cada paciente.

De acordo com a literatura, os componentes do processo de enfermagem incluem histórico, diagnóstico de enfermagem, planejamento, implementação e avaliação.

O histórico é o processo de coleta de dados sobre os clientes para identificar seus problemas e necessidades e assim, a melhor maneira para elaborar o planejamento. O método de coleta de dados contempla observação, entrevista, consulta e exame.

O diagnóstico de enfermagem é a definição dos problemas de saúde vivenciados ou em potencial. O enfermeiro, em virtude da sua experiência e treinamento, é capaz de diagnosticar e propor intervenção. Os problemas de saúde vivenciados são identificados a partir da avaliação inicial e os problemas de saúde em potencial são identificados nas complicações em processo de doença e quais medidas preventivas são necessárias para manter e proteger a saúde.

O planejamento determina o que será feito, considerando o curso das ações tomadas e envolve o estabelecimento de prioridades, critérios de resultados, elaborar um plano de ação e desenvolver um plano de cuidados.

A implementação (intervenção de enfermagem) é o processo que resolve o problema. O enfermeiro co-orienta as atividades da equipe de enfermagem, que envolvem providenciar o cuidado ao paciente e família. O cuidado deve ser adaptado de acordo com as necessidades e situação dos pacientes.

Por fim, a avaliação envolve julgar e descrever o acompanhamento do paciente.

O processo de enfermagem contempla o cuidado holístico ao paciente e família, além de permitir maior resolubilidade na assistência de enfermagem, visando restabelecer a saúde e recuperação do paciente(56).

O processo de enfermagem, quando realizado totalmente, garante assistência integral ao paciente, pois possibilita o levantamento das necessidades destes pacientes e permite a elaboração de um plano de cuidados individualizado. Considera-se também a importância deste instrumento de trabalho do enfermeiro, que viabiliza a realização de sua prática profissional. Conforme relatam as falas:

“... lugares onde o processo de enfermagem é completo, os benefícios que traz não só pro paciente, mas também para o próprio profissional, tem uma elaboração mais completa do quadro do paciente...” (III-3)

O cuidado integral pode ser entendido como a prática da realização de todos os cuidados de um paciente por uma pessoa em específico. No entanto, também pode ser entendido como a realização do cuidado de forma a considerar todas as necessidades de um paciente. E é neste sentido que o contexto da fala considera a ideia do cuidado integral.

Com o intuito de atender a todas as necessidades dos pacientes, a Sistematização da Assistência de Enfermagem possibilita ao enfermeiro desenvolver o planejamento do cuidado ao paciente, com embasamento teórico e científico para propor as ações.

Este planejamento confere a possibilidade de intervenções específicas da equipe de enfermagem, organizando o processo de cuidado e conferindo qualidade à assistência e melhor resolução dos problemas, pois as necessidades dos pacientes são discutidas e trabalhadas. Deste modo, o planejamento das ações também confere satisfação ao paciente que recebe mais atenção por parte da equipe.

Corroborando com a literatura, observamos que o processo de enfermagem é a prática sistemática das etapas a serem seguidas para determinar ações efetivas do cuidado baseadas em conhecimento científico para encontrar as necessidades dos pacientes e propor intervenções específicas, e posteriormente avaliá-las.

A sistematização também auxilia e apóia a equipe de enfermagem porque organiza e estrutura sua prática, consistindo em importante ferramenta para enfrentar os desafios da prática de enfermagem(56).

No entanto, o processo de enfermagem é realizado parcialmente nas UTIs. Os enfermeiros são capacitados para a sua prática, mas somente algumas fases são realizadas. Uma delas apresenta o histórico de enfermagem na internação do paciente na unidade, e as outras somente o exame físico, a prescrição e evolução de enfermagem, que são realizadas diariamente. Como mostra a fala:

“... pelo nível de enfermeiro que nós temos, era para as UTIs terem a Sistematização da Assistência de Enfermagem por completo, desde o histórico a evolução de enfermagem.. .não saiu do papel ainda, só uma das UTIs tem o histórico de enfermagem..." (IV-11)

Dentre as UTIs do estudo, somente uma delas apresenta a fase de histórico de enfermagem e a fase de diagnóstico encontra-se em fase de discussão e elaboração para a sua aplicabilidade. Porém, os enfermeiros realizam as outras fases deste processo para organizar o seu trabalho e melhorar a qualidade da assistência.

Neste sentido, é necessário desenvolver a capacitação e consciência da importância da realização deste processo para que seja incorporado pelos profissionais da equipe. Os enfermeiros devem desenvolver competência clínica e prática para embasar a prática sistematizada.

Entretanto, torna-se necessário relatar a necessidade de manter recursos humanos e treinamento para a equipe de enfermagem na conscientização desta prática e sequência do processo, que possibilita assistência de qualidade aos pacientes.

As dificuldades para a sustentabilidade da Sistematização da Assistência de Enfermagem são muitas. A rotatividade de profissionais que são treinados para o trabalho nas UTIs é muito alta e representa uma barreira para a sua continuidade.

“... uma das UTIs somente no momento tem o histórico de enfermagem... precisa bastante conscientização, treinamento desses profissionais... onde o processo de enfermagem é completo, os

benefícios que traz não só para o paciente, mas também para o profissional que tem uma elaboração mais completa do quadro do paciente..."

Para o desenvolvimento eficaz do cuidado de enfermagem, o enfermeiro deve ter claramente definido os conceitos de várias teorias e disciplinas que embasam suas ações com racionalidade e princípios científicos. Estes conceitos e teorias estruturam as ações de enfermagem. (Gbobbo 2008)

O enfermeiro precisa conhecer a estrutura da sistematização e apreender sua essência para tornar possível a prática. Porém, os fatores que dificultam o processo de trabalho, como a diminuição de recursos humanos, também dificultam a prática da realização da Sistematização da Assistência de Enfermagem.

A diminuição dos recursos humanos, causada pela alta rotatividade de profissionais na unidade, exige que o processo de trabalho nas UTIs seja reorganizado de maneira a atender as situações de urgência da falta de profissionais para cumprir uma escala de trabalho diária.

Desta forma, o cuidado era realizado de forma não sistemática conforme as possibilidades da equipe e do trabalho.

No tema Relacionamento com o paciente da UTI foi revelado que este relacionamento

acontece por meio da assistência propriamente dita, pois considera os pacientes gravemente enfermos e muitas vezes impossibilitados da comunicação verbal, estado de inconsciência e ainda submetidos à ventilação mecânica.

“... a maior parte dos pacientes fica em ventilação mecânica. A gente não tem muito contato com o paciente, só esse contato do trabalho..." (I-13)

“... a maioria é paciente sedado, são pacientes que demandam mais de observação de alterações de sinais...” (IX-16)

O enfermeiro vivencia sentimentos contraditórios relacionados ao vínculo com o paciente. O profissional procura não se envolver, separando o que chama de problemas profissionais dos pessoais. Porém, sente tristeza e compaixão pela evolução destes pacientes. Aspectos relacionados ao vínculo com pacientes intubados e relacionamento não verbal devem ser trabalhados para melhor compreender estas relações e melhor cuidar. Como inferem as falas:

“... às vezes eu fico muito triste dependendo da patologia, do tratamento, quando o paciente não tem bom prognóstico... mas eu não levo pra minha casa o que eu vivo aqui... eu saio daqui pra fora, fica aqui... a gente deveria trabalhar essa parte, como lidar com paciente intubado...” (I-13)

Os aspectos do relacionamento não verbal devem ser trabalhados na equipe de enfermagem que cuida do paciente intubado na UTI. Frequentemente a equipe vivencia situações que não sabe como enfrentar ou como trabalhar este vínculo. Os sentimentos vivenciados são contraditórios. Ao mesmo tempo em que o enfermeiro sente compaixão pela gravidade da doença, não compreende e se incomoda com a agitação psicomotora que este paciente geralmente apresenta. Os profissionais de enfermagem procuram o não envolvimento emocional.

A literatura revela que o relacionamento altera as respostas psicológicas nas pessoas e tem efeito importante na saúde e função imune. O bom relacionamento pode agir como regulador imunológico. Assim como o relacionamento estressante pode provocar depressão e emoções negativas que desregulam as funções imune e endócrina(57).

O relacionamento enfermeiro paciente transforma o potencial do cuidado. Este relacionamento que surge através do cuidado é a essência da enfermagem. O enfermeiro deve atender às necessidades dos pacientes e dispensar atenção para conquistar a confiança. Quando o paciente não confia no enfermeiro, o vínculo não se estabelece, pois o paciente o vê como incompetente e descomprometido. O empenho mútuo entre o enfermeiro e o paciente viabiliza a comunicação, o respeito e o vínculo(57).

O enfermeiro precisa desenvolver empatia em relação aos pacientes para apreender seus anseios e demonstrar solidariedade diante de um momento tão difícil que está vivenciando. No

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