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Grupo 5: natureza do objeto

3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Nesta seção, apresentamos a análise e a discussão dos dados obtidos por meio das rodadas no programa GOLDVARB 2001, após o cruzamento da variável dependente e dos grupos de fatores, apresentados na seção anterior. A análise foi apresentada por meio de gráficos e tabelas que auxiliaram no entendimento dos resultados. Segundo Guy e Zilles (2007, p.26)

A vantagem principal de apresentações com gráficos é justamente seu caráter gráfico. Eles podem ser desenhados para salientar as relações encontradas nos dados, para ilustrar tendências, mostrar diferenças entre vários indivíduos, grupos ou variáveis; e para demonstrar co-variação entre diferentes variáveis. Eles apresentam proporções e razões de uma forma analógica que é mais prontamente apreendida pelo olho humano.

Para nossa análise, não descartamos nenhum dos grupos de fatores, mas é importante salientar que alguns são mais relevantes do que outros. Como já discutimos anteriormente, o programa GOLDVARB 2001 nos dá dados quantitativos, que devemos interpretar qualitativamente e, de acordo com Guy e Zilles (2007, p.21),

A fase de interpretação e explicação é aquela em que tentamos responder à questão: o que isso significa? A explicação, obviamente, está além do domínio da metodologia; explicações satisfatórias virão do nosso conhecimento e experiência como linguistas e das teorias que desenvolvemos sobre a natureza da linguagem humana.

Segundo esses autores, em toda pesquisa dialetal, o objetivo não é somente produzir números, mas descrever o uso dos fenômenos linguísticos. Portanto, nosso foco é, por meio das porcentagens obtidas, explicar o porquê dos nossos resultados.

3.1 – Resultado geral

A tabela a seguir nos dá uma visão geral dos resultados do nosso trabalho, os quais explicaremos detalhadamente nos próximos tópicos.

Tabela 10: Total de realizações das variáveis dependentes com relação às variáveis independentes. (Leitura horizontal) GRUPOS DE FATORES SÉCULO XX SÉCULO XXI PESO RELATIVO Grupo 1 ter haver 28 / 30% 65 / 70% 0,30 122 / 59% 85 / 41% 0,59 Grupo 2 [+animado] [-animado] 23 / 47% 26 / 53% 0,40 127 / 51% 124 / 49% 0,52 Grupo 3 Passado Presente Futuro 30 / 45% 36 / 55% 0,44 110 / 51% 102 / 49% 0,51 10 / 45% 12 / 55% 0,52 Grupo 4 Anteposto Posposto 6 / 60% 4 / 40% 0,60 144 / 50% 146 / 50% 0,50 Grupo 5 Concreto Abstrato 104 / 54% 89 / 46% 0,54 46 / 43% 61 / 57% 0,42

Fonte: Elaborado pela autora (2016).

3.1.1 – Variáveis dependentes: séculos XX e XXI

De acordo com a Tabela 10, no grupo 1, temos como grupo de fator os verbos “ter” e “haver”. No século XX, o verbo “ter” ocorreu em menor frequência do que do século XXI (30% e 70%, respectivamente). O verbo “haver”, no século XX, apresentou maior porcentagem do que no século XXI (59% e 41%, respectivamente).

O grupo 2 é composto pelo grupo de fator animacidade do objeto. No século XX, o objeto [+animado] ocorreu em menor frequência do que do século XXI (47% e 53%, respectivamente). O objeto [-animado], no século XX, apresentou maior porcentagem do que no século XXI (51% e 49%, respectivamente).

No grupo 3, temos o grupo de fator tempo verbal. No século XX, o tempo verbal “passado” ocorreu em menor frequência do que do século XXI (45% e 55%, respectivamente). O tempo verbal “presente”, no século XX, apresentou maior porcentagem do que no século XXI (51% e 49%, respectivamente). Já o tempo

verbal “futuro” apresentou porcentagens iguais às do tempo verbal “passado” (45% e 55%, respectivamente), de um século para o outro.

Faz parte do grupo 4, a posição do complemento verbal. No século XX, a posição anteposta do objeto com relação ao verbo ocorreu em maior frequência do que do século XXI (60% e 40%, respectivamente). A posição posposta do objeto com relação ao verbo, tanto no século XX quanto século XXI, apresentou a porcentagem de 50%.

No grupo 5, temos como grupo de fator a natureza do objeto. No século XX, o objeto concreto ocorreu em maior frequência do que do século XXI (54% e 46%, respectivamente). O objeto abstrato, no século XX, apresentou menor porcentagem do que no século XXI (43% e 57%, respectivamente).

3.1.2 – Variáveis independentes

3.1.2.1 – Os verbos “ter” e “haver” com sentido de “existir”

Com relação ao peso relativo que, segundo Guy e Zilles (2007), calcula “os efeitos dos fatores de cada grupo em relação ao nível geral de ocorrências das variantes” (p.211), se ele for próximo ou maior do que 0,50, mais relevante é esse fator. Com isso, nesse grupo, com peso relativo de 0,59, o verbo “haver” foi a variável independente mais relevante.

Para uma melhor discussão dos resultados desse grupo de fator, apresentamos no gráfico a seguir uma leitura vertical dos dados.

Gráfico 4: Os verbos “ter” e “haver” com sentido de “existir” no início dos séculos XX e XXI.22 (Leitura vertical) 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Século XX Século XXI

"Ter" "Haver"

Fonte: Elaborado pela autora (2016).

Observamos que, no século XX, houve grande diferença de ocorrência entre os verbos “ter” e “haver” (18,7% e 81,3%, respectivamente), confirmando nossa hipótese de que, nesse século, o verbo “haver” seria mais utilizado.

Vejamos alguns exemplos desses resultados:

(41) Durante o período de maior intensidade tinha escarros de sangue... (LC- 20/01/1906)23

(42) para quem há "sérios indícios" (JM-03/01/2003)24

Nosso resultado coaduna com os de Almeida de Callou (2003) para o Português Europeu e o de Oliveira (2010).

Avelar (2005), faz uma conclusão importante e que é contrária ao resultado da nossa pesquisa, que é a de que, desde séculos passados, já se usava o verbo “ter” com o sentido de “existir”. No trabalho desse pesquisador, vemos que há maior frequência no uso de verbo “ter” no século XIX e decaimento no uso de “haver”, com sentido de “existir”. Também o trabalho de Costa et. al. (2011) contrariou nosso

22 Gráfico referente à Tabela 1, apêndice.

23 Exemplo 41 extraído do jornal LC de 20 de janeiro de 1906. 24 Exemplo 42 extraído do jornal JM de 03 de janeiro de 2003.

resultado para o século XX, uma vez que não se encontrou nenhuma ocorrência de verbos “ter”, com sentido de “existir”, em textos formais. Em Callou e Avelar (2000), também observamos o aumento no uso de “ter” no século XX da década de 70 para 90.

Já no século XXI, observamos uma variação mínima entre os dois verbos, 43,3% de verbo “ter” e 56,7% de “haver”. Na leitura vertical, não confirmamos a nossa hipótese de que no século XXI ocorreria mais verbo “ter”, pois a frequência foi maior de verbo “haver”. O que podemos afirmar é que houve aumento significativo de ocorrências com verbo “ter”, de um século para outro, e o verbo “haver” foi passando a aparecer com menor frequência. Isso mostra uma similaridade com os resultados de Oliveira (2014) e Vitório (2007, 2013).

3.1.2.2 – Animacidade do objeto: [+animado] e [–animado]

Para melhor discussão dos resultados desse grupo de fator, apresentamos no gráfico a seguir, uma leitura vertical dos dados.

Gráfico 5: Os objetos [+animado] e [-animado] no início dos séculos XX e XXI.25 (Leitura vertical)

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Século XX Século XXI

Objeto [+animado] Objeto [- animado]

Fonte: Elaborado pela autora (2016).

Com peso relativo de 0,52, o subfator que se mostrou mais relevante foi o objeto [-animado]. Observamos que o objeto [-animado], nos dois séculos, manteve sua frequência muito mais elevada do que a de objeto [+animado]. No século XX, o

objeto [+animado] apresentou uma frequência de 15,3%, enquanto o objeto [- animado] apresentou 84,7%; no século XXI, o objeto [+animado] se mostrou em 17,3% e o objeto [-animado] em 82,7% de frequência.

Vejamos alguns exemplos desses resultados:

(43) tem uma drogaria n’esta povoação (LC-20/01/1906)26 (44) havia 16 delegados em Uberaba (JM-20/01/2006)27

3.1.2.3 – Tempos verbais: passado, presente e futuro

Para uma melhor discussão dos resultados desse grupo de fator, apresentamos no gráfico a seguir uma leitura vertical dos dados.

Gráfico 6: Os tempos verbais “passado”, “presente” e “futuro” no início dos séculos XX e XXI.28

(Leitura vertical) 0 10 20 30 40 50 60 70 80

Século XX Século XXI

Passado Presente Futuro

Fonte: Elaborado pela autora (2016).

Em relação ao peso relativo, com valores de 0,51 e 0,52, “presente” e “futuro”, se mostraram os subfatores de maior relevância. Por meio da leitura vertical dos dados, percebemos que o tempo verbal “presente” apresentou maior porcentagem no século XX, com 73,3%, enquanto “passado” e “futuro”, seguiram com menores

26 Exemplo 43 extraído do jornal LC de 20 de janeiro de 1906. 27 Exemplo 44 extraído do jornal JM de 20 de janeiro de 2006. 28 Gráfico referente à Tabela 3, apêndice.

porcentagens (20% e 6,7%, respectivamente). No século XXI, a maior frequência também foi do tempo verbal “presente”, com 68%, seguido dos tempos verbais “passado” e “futuro” (24% e 8%, respectivamente).

Vejamos alguns exemplos que ilustram esses resultados:

(45) não tinha um reajuste real tão alto (JM-25/01/2006)29

(46) não ha forças humanas que consigam eliminar o sr. Bulhões (LC- 24/06/1906)30

(47) Terá mais uma serraria (LC-02/12/1906)31

Enquanto o tempo “presente” mostrava-se em maior uso no século XX e decaiu em porcentagem, no século XXI, observamos o contrário com os tempos verbais “passado” e “futuro”, que no século XX apresentaram porcentagens menores e que aumentaram em pequenas quantidades no século XXI.

3.1.2.4 – Posição do objeto: anteposto ou posposto

Quanto ao peso relativo, com o valor de 0,60, o subfator de maior relevância para o nosso trabalho foi a posição anteposta do objeto.

Para uma melhor discussão dos resultados desse grupo de fator, apresentamos no gráfico a seguir uma leitura vertical dos dados.

29 Exemplo 45 extraído do jornal JM de 25 de janeiro de 2006. 30 Exemplo 46 extraído do jornal LC de 24 de junho de 1906. 31 Exemplo 47 extraído do jornal LC de 02 de dezembro de 1906.

Gráfico 7: O objeto anteposto e posposto no início dos séculos XX e XXI.32 (Leitura vertical) 0 20 40 60 80 100

Século XX Século XXI

Objeto anteposto Objeto posposto

Fonte: Elaborado pela autora (2016).

Observando o gráfico resultante da leitura vertical dos dados, concluímos que a posição posposta do objeto é significativamente maior do que a posição anteposta nos dois séculos. No século XX, há uma porcentagem de 4% de objetos antepostos e 96% de pospostos; no século XXI, houve uma pequena porcentagem de objetos antepostos, com 2,7%, e 97,3% de pospostos.

Vejamos alguns exemplos desses resultados:

(48) Imaginamos que juízo não ha (LC-06/12/1906)33

(49) parece illogico haver pessôas que não estejam dispostas (LC- 24/06/1906)34

3.1.2.5 – Natureza do objeto: concreto ou abstrato

Com relação ao peso relativo, com 0,54, o fator de maior relevância para esse grupo de fator foi o objeto concreto.

Para uma melhor discussão dos resultados desse grupo de fator, apresentamos no gráfico a seguir uma leitura vertical dos dados.

32 Gráfico referente à Tabela 4, apêndice.

33 Exemplo 48 extraído do jornal LC de 06 de dezembro de 1906. 34 Exemplo 49 extraído do jornal LC de 24 de junho de 1906.

Gráfico 8: Os objetos concretos e abstratos no início dos séculos XX e XXI.35 (Leitura vertical) 0 10 20 30 40 50 60 70 80

Século XX Século XXI

Objeto concreto Objeto abstrato

Fonte: Elaborado pela autora (2016).

Por meio da leitura vertical dos dados, observamos que, entre os dois subfatores (concreto e abstrato) houve variação nos dois séculos. No século XX, a variação foi maior entre os objetos concretos e abstratos (69,3% e 30,7%, respectivamente); já no século XXI, a variação foi um pouco menor (59,3% e 40,7%, respectivamente). Com esse resultado, podemos concluir que os objetos concretos se mantiveram em maior uso nos dois séculos em estudo, mas do século passado para este, houve um pequeno decréscimo em porcentagem; já de objetos abstratos, que possuíam menor porcentagem no século XX, essa começou a se elevar de um século para outro.

Vejamos alguns exemplos que ilustram esse cruzamento:

(50) Tem gente que liga perguntando sobre os prêmios (JM-11/01/2006)36 (51) no caso de haver discordancia no seio do directorio (LC-02/12/1906)37

3.2 – Cruzamento dos dados

A fim de tornar a nossa análise mais refinada, utilizamos a cross tabulation, do programa GOLDVARB 2001, que permite um cruzamento das variáveis para que

35 Gráfico referente à Tabela 5, apêndice.

36 Exemplo 50 extraído do jornal JM de 11 de janeiro de 2006. 37 Exemplo 51 extraído do jornal LC de 02 de dezembro de 1906.

façamos um acompanhamento comparativo. Com esse trabalho, os dados estatísticos passaram a ser uma “ferramenta valiosíssima, que nos permite resumir, quantificar e manipular grandes massas de dados que, de outra forma, ficariam fora das nossas possibilidades reais de trabalho” (SCHERRE; NARO, 2010, p.176). Segundo os autores, os resultados por meio de estatísticas ampliam horizontes, permitindo a análise linguística.

Sendo nossas variáveis dependentes, os séculos XX e XXI, e as nossas variáveis independentes, estando relacionadas aos verbos “ter” e “haver”, com sentido de “existir”, fizemos os cruzamentos entre o grupo 1 e os demais, e analisamos os resultados, tanto no século XX quanto no XXI. Vejamos nos tópicos a seguir, cada um desses cruzamentos.

3.2.1 – Verbos “ter” e “haver” versus animacidade do objeto

O primeiro cruzamento foi entre os grupos 1 e 2, isto é, entre os verbos “ter” e “haver” e a animacidade do objeto: [+/- animado].

Vejamos alguns exemplos desse cruzamento:

(52) ... aqui não tinha ninguém para reagir (LC – 27/06/1907)38 (53) Não tem explicação a emoção (JM – 03/01/2006)39

(54) deputados vadios ha (LC – 27/06/1907)

(55) os veículos praticamente disputam espaço quando há carros estacionados (JM – 04/01/2006)

A fim de refinar a nossa análise, apresentamos a seguir um gráfico com a leitura vertical dos resultados desse cruzamento.

38 Exemplos 52 e 54 extraídos do jornal LC de 27 de junho de 1907.

Gráfico 9: Cruzamento entre os verbos “ter” e “haver” e a animacidade do objeto.40 (Leitura vertical) 0 10 20 30 40 50 60 70 80

Século XX Século XXI

"ter" x objeto [+animado] "ter" x objeto [-animado] "haver" x objeto [+animado] "haver" x objeto [- animado]

Fonte: Elaborado pela autora (2016).

Quanto à leitura vertical dos dados, no século XX, a maior variação sofrida foi no cruzamento entre “haver” e o objeto [-animado], com 66,7%, de “haver” com objeto [+animado], a porcentagem foi de 14,7%; observemos o quanto uma é bem mais elevada do que a outra. A menor porcentagem foi de “ter” com objeto [+animado], que ocorreu em 0,6%, já de “ter” com objeto [-animado] houve um crescimento e a frequência foi de 18%.

No século XXI, os resultados foram um pouco mais aproximados. Novamente, o verbo “haver” com objeto [-animado] teve frequência significativamente maior nesse século, com 46,7%, e também o verbo “ter” com objeto [-animado] foi o segundo resultado mais alto, com 36%. Observemos que, enquanto o primeiro, mesmo estando com maior frequência nos dois séculos, decresceu do século XX para o XXI, no segundo caso pudemos perceber um acréscimo. “Ter” com objeto [+animado] também teve maior frequência no século XXI, enquanto “haver” com objeto [+animado] sofreu um decréscimo nesse período (7,3% e 10%, respectivamente).

Os dados evidenciam que confirmamos a nossa hipótese de que o objeto [- animado] favoreceria o uso do verbo “haver”, mas não comprovamos nossa hipótese com relação ao verbo “ter”, pois o objeto [-animado] é que favoreceu o uso desse

verbo e não o [+animado], como supusemos. Nossos resultados coadunam com os de Callou e Avelar (2000), Vitório (2007), Costa et. al. (2011) e Oliveira (2014), que também chegaram à conclusão de que o objeto [-animado] favoreceria o uso de “ter” e de “haver”, com sentido de “existir”.

3.2.2 – Verbos “ter” e “haver” versus tempos verbais

O segundo cruzamento foi entre os grupos 1 e 3, isto é, entre os verbos “ter” e “haver” e os tempos verbais “passado”, “presente” e “futuro”.

Vejamos alguns exemplos que ilustram esse cruzamento:

(56) ... aqui não tinha ninguém para reagir (LC – 27/06/1907)41

(57) Tem ainda o PL 90/15, que autoriza o município a receber doação de bens imóveis e assinar convênio com a Codemig. (JM – 07/01/2006)42 (58) Terá a mais uma serraria. (LC – 02/12/1906)

(59) Houve recurso do banco junto ao TJ (JM – 07/01/2006)

(60) muito ha que se fazer antes de serem tentadas culturas novas (LC – 02/12/1906)

(61) Fazemos a chamada pública para complementar a necessidade que

houver na rede e atender à demanda de forma legal (JM – 07/01/2006)

A fim de refinar a nossa análise, apresentamos a seguir um gráfico com a leitura vertical dos resultados desse cruzamento.

41 Exemplos 56, 58 e 60, extraídos do jornal LC de 27 de junho de 1907 e 02 de dezembro de 1906. 42 Exemplos 57, 59 e 61, extraídos do jornal JM de 07 de janeiro de 2006.

Gráfico 10: Cruzamento entre os verbos “ter” e “haver” e os tempos verbais “passado”, “presente” e “futuro”, no início dos séculos XX e XXI.43 (Leitura vertical)

0 10 20 30 40 50 60 70

Século XX Século XXI

"ter" x passado "ter" x presente "ter" x futuro "haver" x passado "haver" x presente "haver" x futuro

Fonte: Elaborado pela autora (2016).

No século XX, destacamos a alta frequência, de verbo “haver” no “presente”, com 62%, e explicamos que isso se dá devido a esse verbo ter sido o mais usado desde então em nossos dados analisados; já a explicação para esse tempo verbal, é que ele também foi o mais utilizado. O verbo “haver” com o “passado”, mostrou-se em segunda maior porcentagem, seguido de “ter” no “presente” (15,3% e 11,3%, respectivamente). Com valores mais baixos e mostrando-se em menor variação, “ter” no “passado”, com 4,7%, o verbo “haver” e o “futuro”, com 4%, e o verbo “ter” e o futuro, com 2,7%.

Podemos, com tais resultados, confirmar a nossa hipótese de que o tempo verbal “presente” favoreceria o uso do verbo “ter”, com sentido de “existir”, igualando o nosso resultado com o de Callou e Avelar (2000), Oliveira (2014) e Vitório (2007), mas não confirmamos o nosso pressuposto de que os tempos verbais “passado” e “futuro” favoreceriam o uso do verbo “haver”, pois, como percebemos, o tempo verbal “presente” favoreceu o uso dos dois verbos. Sendo o “haver” favorecido pelo tempo “presente”, esse resultado coaduna com o de Costa et. al. (2011).

Não podemos deixar de comentar alguns resultados que foram diferentes dos nossos, como Callou e Avelar (2000), Almeida e Callou (2003) e Vitório (2007), que obtiveram o tempo “passado” favorecendo o uso do verbo “haver”, com sentido de “existir”.

3.2.3 – Verbos “ter” e “haver” versus posição do objeto

O terceiro cruzamento foi entre os grupos 1 e 4, isto é, entre os verbos “ter” e “haver” e a posição do objeto/complemento desses verbos, posposto ou anteposto a eles.

O verbo “ter”, com o objeto anteposto a ele, não foi encontrado no século XX, o que não consideramos como um fator nocaute44, já que 100% das ocorrências foram encontradas no século XXI. É importante que ressaltemos a nossa hipótese de que o objeto anteposto seria mais utilizado com o verbo “ter”, consequentemente, já relatamos que esse verbo passou a ser mais usado no século XXI, portanto, essa seria a justificativa de termos encontrado 100% das ocorrências de “ter” com objeto anteposto somente no século XXI. Os exemplos a seguir mostram as duas únicas ocorrências encontradas.

(62) A intenção é zerar o afloramento que ainda tem. (JM-07/01/2006)45 (63) Esse número corresponde ao dobro do que tem. (JM-20/01/2006)

Já o mesmo verbo com o objeto posposto teve uma porcentagem relativamente alta, com um aumento significativo, do século XX para o século XXI (31% e 69%, respectivamente), resultando em 30% do total das sentenças.

Vejamos alguns exemplos desse cruzamento:

(64) Acompanhadas de enorme massa popular, no meio da qual Uberaba

tinha tudo quanto constitue a sua fina flor (LC – 04/01/1906)46 (65) Nem xérox tem (JM – 20/01/2006)

44 Segundo Guy e Ziles (2007, p. 158) nocaute é um fator que em dado momento corresponde a uma

frequência de 0% ou de 100% para um dos valores da variável dependente.

45 Exemplo 62, 63 e 65 extraídos do jornal JM de 07 de janeiro de 2006 e 20 de janeiro de 2006. 46 Exemplo 64 e 66 extraídos do jornal LC de 04 de janeiro de 1906.

(66) Aos manifestantes foi gentilmente offerecido um copo d’água, havendo sempre a maior harmonia e vivo contentamento. (LC – 04/01/1906)

A fim de refinar a nossa análise, apresentamos a seguir um gráfico com a leitura vertical dos resultados desse cruzamento.

Gráfico 11: Cruzamento entre os verbos “ter” e “haver” e a posição do objeto no início dos séculos XX e XXI.47 (Leitura vertical)

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Século XX Século XXI

"ter" x objeto anteposto "ter" x objeto posposto "haver" x objeto anteposto "haver" x objeto posposto

Fonte: Elaborado pela autora (2016).

Por meio da leitura vertical, observamos que o cruzamento que se mostrou mais relevante no século XX foi do verbo “haver” com objeto posposto, que apresentou porcentagem de 77,3%; a segunda maior relevância foi de “ter” com objeto posposto, com porcentagem de 18,7%, nesse século; o verbo “haver” com objeto anteposto ocorreu em apenas 4% das ocorrências.

No século XXI, as porcentagens mais significativas foram dos verbos “haver” e “ter” com objeto posposto (55,4% e 42%, respectivamente), apresentando uma variação relevante para o nosso trabalho. “Ter” e “haver”, com objeto anteposto, apresentaram a mesma porcentagem (1,3%).

Diante desses resultados, confirmamos a nossa hipótese de que o verbo “haver” seria mais utilizado com o objeto posposto a ele, mas não confirmamos o

nosso pressuposto de que o verbo “ter” seria mais utilizado com o objeto anteposto, pois, também foi mais usado com o objeto posposto a ele.

3.2.4 – Verbos “ter” e “haver” versus natureza do objeto

O quarto cruzamento foi entre os grupos 1 e 5, isto é, entre os verbos “ter” e “haver” e a natureza do objeto, sendo ele, concreto ou abstrato.

Vejamos alguns exemplos que ilustram esse cruzamento:

(67) ... parado em frente à Maison Modern onde devia ter lugar o banquete offerecido pela commissão dos festejos. (LC-04/01/1906)48

(68) Hoje terá mais uma oportunidade de se aproximar dos mil gols na carreira (JM-25/01/2006)49

(69) ... não foi possível haver eleição para presidente (LC-03/06/1906) (70) Há uma hipótese que está sendo descartada (JM-28/01/2006)

A fim de refinar a nossa análise, apresentamos a seguir um gráfico com a leitura vertical dos resultados desse cruzamento.

Gráfico 12: Cruzamento entre os verbos “ter” e “haver” e a natureza do objeto, no início dos séculos XX e XXI.50 (Leitura vertical)

0 10 20 30 40 50 60

Século XX Século XXI

"ter" x objeto concreto "ter" x objeto abstrato "haver" x objeto concreto "haver" x objeto abstrato

Fonte: Elaborado pela autora (2016).

48 Exemplos 67 e 69 extraídos do jornal LC de 04 de janeiro de 1906 e 03 de junho de 1906. 49 Exemplos 68 e 70 extraídos do jornal JM de 25 e 28 de janeiro de 2006.

Por meio da leitura vertical dos dados, no século XX, observamos que a porcentagem do cruzamento entre o verbo “haver” e o objeto concreto foi significativamente maior, com 56%; outro resultado relevante foi de “haver” com objeto abstrato, apresentando 25,4% das ocorrências. Podemos concluir que os cruzamentos entre o verbo “haver” e os objetos concreto e abstrato, no século XX, apresentaram variação relevante para o nosso trabalho. Nesse século, os cruzamentos entre o verbo “ter” e os objetos concreto e abstrato não apresentaram porcentagens significativas (13,3% e 5,3%, respectivamente).

No século XXI, o cruzamento que se mostrou mais relevante foi do verbo “haver” com objeto concreto, que teve um percentual de 36,7%. Já os cruzamentos do verbo “ter” com os objetos concreto e abstrato, e de “haver” com abstrato (22,6%, 20,7% e 20%, respectivamente), apresentaram porcentagens aproximadas, isto é, são fatores que não estão sofrendo uma variação significativa.

Diante dos resultados, concluímos que os objetos concretos favoreceram o uso do verbo “haver”, como havíamos previsto na nossa hipótese. Já com relação ao

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