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CAPÍTULO 3 – Avaliação do português língua estrangeira no Senegal 3.1 Avaliação das aprendizagens

3.3. Análise da estrutura dos exames de PLE

Os testes são organizados em três grandes partes, designadas “Compreensão da Leitura”, “Competência Linguística” e “Composição”. A parte de Compreensão da Leitura está relacionada com a tarefa de leitura e é geralmente constituída por perguntas de interpretação e/ou de inferência. A parte de Competência Linguística tem a ver com atividades gramaticais. São geralmente exercícios formuladas para testar o conhecimento da língua, em que predominam questões em formatos de tipo respostas limitadas, constituídos por exercícios de substituição, de transformação e de completação. A Composição ou a expressão escrita apresenta normalmente dois temas, deixando a possibilidade ao candidato de escolher um para tratar.

No geral, a parte de Compreensão da Leitura pretende testar a capacidade dos alunos de descodificarem informação de um texto, sendo a organização variável, com tipologias de itens de avaliação diversas de edição para edição. Não apresenta grandes problemas e não se afigura objeto de críticas consideráveis. As partes criticáveis destes testes são sobretudo as da Competência Linguística e a da Composição ou expressão escrita. Com efeito, se na parte da composição é frequente o uso de verbos performativos na formulação dos temas, na parte da competência linguística a preocupação parece ser a manipulação de formas gramaticais ao invés do uso da língua. O que caracteriza esta parte dos testes é o privilégio dado aos exercícios estruturais, que na maior parte das vezes são aplicados fora de um contexto de uso da língua. São, de facto, baseados em atividades de transformação que envolvem o conhecimento das regras gramaticais ou a fixação das estruturas da língua. Desde logo, a avaliação passa a funcionar como uma verificação dos conhecimentos da língua.

No entanto, se conhecer as estruturas é importante para melhorar as aprendizagens de uma língua estrangeira, é ainda mais importante saber adaptá-las às situações concretas de comunicação, visto que aprendemos as línguas para fins comunicativos. Portanto, esta parte dos testes aponta para uma existência de práticas letivas tradicionais, que necessitam ser repensadas numa perspetiva de

serem adequadas aos princípios da metodologia em vigor no sistema do ensino. Quanto à produção escrita, se consideramos o facto de que comunicamos para fins específicos, torna-se pertinente levar o aprendente a produzir textos práticos para resolver situações de uso quotidiano da língua estrangeira. Por exemplo, podemos pedir-lhe para escrever uma carta, um relatório, produzir um texto descritivo, etc. O que se coloca em questão neste estudo é a adequação entre abordagem comunicativa, metodologia usada no ensino aprendizagem do PLE no Senegal, e as práticas avaliativas em vigor no sistema educativo. A partir de um estudo de caso baseado numa análise de testes de português língua estrangeira, tentaremos ver se os instrumentos usados na avaliação são de natureza comunicativa. Portanto, a nossa análise consistirá em determinar o que estes instrumentos revelam sobre a maneira pela qual os professores de PLE percebem a avaliação e quais são as preferências sobre o que testar e como testar.

Contudo, tendo em conta as dificuldades que tivemos em encontrar testes do exame do BFEM, propusemo-nos limitar a análise às provas do exame do BAC a que temos mais facilidades em aceder.

O corpus é constituído por vinte (20) testes escolhidos aleatoriamente de ambas as opções (LV1, LV2) das duas chamadas da época normal, dos dez (10) últimos anos (2006 até 2015), ou seja, dois testes por ano. A distribuição dos testes por época, chamada e opção encontra-se registada no quadro 3.2.:

Época Chamada LV1 LV2 Normal 1ª 6 5 2ª 3 2 Substituição 1ª 4 0 2ª 0 0 Total 13 7

Quadro 3.2. – Testes no corpus

Destes vinte testes, quatro (4) são elaborados com base em textos literários e dezasseis (16) em textos jornalísticos. Nota-se, portanto, a predominância de textos jornalísticos, que se explica por duas razões: a primeira é relativa à facilidade com que se pode aceder a estes materiais através da internet e a segunda tem a ver com o respeito pelo critério de autenticidade, que constitui um princípio de base na abordagem comunicativa, metodologia em vigor no ensino da língua no Senegal. Relativamente ao número de testes por época, dezasseis (16)

são da época normal e quatro (4) da época de substituição. De facto, o fraco número de testes da última época justifica-se pelo facto de que a prova só é lançada quando existem candidatos na disciplina.

O Quadro 3.2., a seguir, apresenta os resultados da análise dos formatos das questões usadas na avaliação da competência linguística. Inclui o número de questões analisados e as percentagens das questões em cada categoria e subcategoria. No campo vertical, temos as duas grandes categorias de questões (respostas limitadas e respostas fechadas). São de facto os dois formatos usados na avaliação da competência linguística. São subdivididos em subcategorias ou formatos de tipo: complete sem alternativa, transforme, complete com alternativa e escolha múltipla.

No campo horizontal, temos os conteúdos dos dois componentes da competência linguística. Trata-se da gramática e do vocabulário.

conteúdos Formatos

Gramática Vocabulário Total %

Resp o st as limit ad as ( RL) Complete s/ alternativas 1 20 21 10% Transforme 132 0 132 60% Total RL 133 20 153 70% % RL 61% 9% 70% Respo st as fech ad as (RF) Complete c/ alternativas 18 21 39 18% QCM 6 20 26 12% Total RF 24 41 65 30% % RF 11% 19% 30% Total RL e RF 157 61 218 100% % RL e RF 72% 28% 100%

Quadro 3.2. - Formatos e conteúdos das questões

Os dados apresentados neste quadro revelam que para a subcategoria complete sem alternativa, uma (1) questão é de gramática e vinte (20) de vocabulário. Portanto, no total das duzentas e dezoito (218) questões, vinte e uma (21) são elaboradas com o formato complete sem alternativa, representando a percentagem de 10%. Na subcategoria transforme, cento e trinta e duas (132) são de gramática e nenhuma questão de vocabulário, o que representa 60% das duzentas e dezoito (218) questões. Esta subcategoria concerne essencialmente a questões de tipo passe para a voz ativa ou passiva, para o discurso direto ou

indireto, use a forma correta do verbo no tempo correto, substitua o sublinhado pelo pronome complemento, etc.

Na categoria das questões fechadas, temos, para a subcategoria complete com alternativa e QCM, vinte e quatro (24) questões de gramática e quarenta e uma (41) de vocabulário. O total, que é de trinta e nove (39) questões, representa uma percentagem de dezoito por cento (18%). Para o formato escolha múltipla, seis (6) questões são de gramática e vinte (20) de vocabulário. O total, que faz vinte e seis (26) questões, representa a percentagem de 12%.

No total das duzentos e dezoito (218) questões, a categoria respostas limitadas representa 70% e a das repostas fechadas 30%.

No que concerne os conteúdos, 72% das questões analisadas são de gramática e 28% de vocabulário.

Na análise das questões da produção escrita, que não são incluídas no quadro, revela-se a predominância de questões de inferência. Com efeito, das quarenta (40) questões presentes nos vinte testes, há só uma (1) em que é pedido ao aluno para escrever uma carta (2,5%) e nove (9) em que tem de escrever um texto sobre causas, consequências e soluções (22,5%). Portanto, 75% das questões são de inferência. Nestas últimas, são frequentes as formulações: dê a sua opinião, o que pensas de, e o uso dos verbos dissertar, argumentar, explicar, justificar, definir, etc.

Síntese

Ao longo deste capitulo, tentámos definir o conceito de avaliação, frisando que apresenta diferentes formas. Interessámo-nos sobretudo pela avaliação sumativa, que constitui o objeto principal da nossa reflexão. O capítulo permitiu abordar a questão crucial da avaliação no sistema educativo senegalês. Partindo dos testes recolhidos, tentámos analisar os formatos de questões usados para testar os componentes da competência linguística e a produção escrita dos aprendentes, que aos nossos olhos constituem partes problemáticas. Esta análise revelou uma predominância de formatos de questões com respostas limitadas, usadas geralmente para controlar os conhecimentos que os aprendentes têm da língua.

CAPÍTULO 4: