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1 A COMUNICAÇÃO E O TURISMO SEXUAL – FUNDAMENTOS PARA UM OLHAR

2.1 APRESENTAÇÃO DA ENTREVISTA GRUPAL – OS ARGENTINOS

2.1.2 Análise Formal ou Discursiva

Circundados por expressões e objetos, os campos sociais são construções simbólicas que apresentam estrutura articulada, Thompson (1995) considera que a análise semiológica pode ajudar a compreender a maneira com que as Formas Simbólicas são construídas. Nossa opção pelo termo Semiologia, em detrimento de semiótica, está na concepção de que ele significa estudo dos sinais, por isso manteremos esse termo, conforme Barthes.

Fazendo uso das categorias a priori – Discurso, Estereótipo, Mito, Cultura,

Poder e Imaginário – estudaremos, mediante a técnica metodológica da Semiologia

bathesiana, o corpus das narrativas dos entrevistados.

Por vezes evasivo, o Discurso dos turistas fez uso de expressões comparativas do tipo “são muito diferentes”, ou, ainda, “são mais diretas”, “são predispostas”. Mesmo que buscássemos estimular o desdobramento dessas falas intentando ouvir mais sobre a representação dessas idéias – “Mais diretas em quê?”, perguntamos, obtivemos, apenas: – “Em tudo”. Uma fala que absolutiza, que procura exercer uma dominação ao estabelecer uma relação de força41.

O Discurso, conjunto de palavras superiores à fala, descrição formal, tem as suas formas de organização e de classificação significante. As gírias, as linguagens de grupo, constituem, no sistema discursivo, o que Barthes designa por Socioletos.

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“son muy diferentes” […] “son más directas” […] “Y son muy predispuestas también” […] “Más

Os jovens entrevistados fizeram uso freqüente de gírias, a maioria delas bastante comuns, até em nível internacional, entre países de língua hispânica, por exemplo, “borracho”, para designar a pessoa bêbada, ou “chupa”, para referir que alguém bebe, que “mama” – alusivo ao ato de mamar. Outras expressões como “coqueto” e “coqueta” trazem de volta termos antigos, “coquetes”, com significações similares à língua portuguesa, porém, hoje, no Brasil, têm outros sinônimos, que poderiam ser identificados por “mauricinho” ou “patricinha” – pessoa bem arrumada em sua aparência física.

Algumas gírias são bem marcadas regionalmente, entre Buenos Aires, capital federal e província. Talvez o que mais se destaque e que identifique o portenho seja o uso de “vos”, descontextualizado de uma formação frasal, que concorde com o que seria o tempo verbal correto – como o uso do “tu” pelos gaúchos: tu foi, tu vai... Uma linguagem coloquial, à qual se somam outras expressões regionalizadas, por exemplo, o “re” antes de algum adjetivo, e mais uma vez podemos ancorá-la no falar gaúcho com seu equivalente: “tri”: A expressão re-macanuda seria algo como “tri- legal”.

Também regionalizada, mas com mais fácil compreensão, foi empregado o Socioleto “corta mambo”. Ao considerar que o Mambo é uma dança alegre, agitada, e de conhecimento comum, fica mais claro interpretar que a expressão se refere a alguém que interrompe a diversão ou o clima de alegria.

Na Análise Sociohistórica procuramos contextualizar que a presença de afro- descendentes na Argentina é bem menor em relação ao Brasil, há um Socioleto, talvez possível de considerá-lo Encrático, no Poder, de ordem cultural. Utilizado,

corriqueiramente, e que denota forte carga de preconceito racial, o “quilombo” é usado, para designar o que poderia se chamar de bagunça, desordem. Nenhuma linguagem é inocente.

Um termo nos chamou a atenção, porque o desconhecíamos até aquele momento, é “ratoneo” e sua aplicação na expressão “ratón de café”. Tanto o termo quanto a expressão dificultaram a compreensão de seu significado. Na tentativa de compreendê-los procuramos ajuda junto a pessoas que nasceram no Uruguai e em Córdoba (Argentina), porém, o desconhecimento acerca da expressão se manteve. Um dos entrevistados nos explicou o significado do termo ratoneo:

Ratoneo: é quando te esquentas pensando em alguém em alguma

situação limite que te produza excitação... Ex.: ratoneo contigo que estas me dando aula e no recreio me fazes ficar e temos relações sexuais,... seria uma espécie de ratonear com minha professora... se entende...!!!42

O “ratoneo” seria uma gíria utilizada para designar um devaneio sexual, uma fantasia erótica, algo do campo Imaginário, embora não chegue a produzir uma atitude de fato por parte de quem a idealiza. A aplicação do significado na expressão “ratón de café” designa o que seria um comentário entre amigos, um compartilhar das fantasias, e o sujeito, “ratón de café”, seria aquela pessoa que fica em um lugar de encontro (bar, casa noturna) observando outras pessoas e fantasiando.

Os Socioletos se revelam na preleção dos entrevistados, como um exercício da fala, a exploração da linguagem na significação. A máscara linguageira do Discurso

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Transcrição de um trecho de comunicação instantânea através do programa Messenger. Mantivemos a escrita fiel, sem alterar a ortografia, conforme escreveu o respondente: Ratoneo: es

cuando te calentas pensando en alguien en alguna situaciòn limite que te produzca la excitaciòn... Ej: ratoneo con vos que me estas dando clases y en el recreo me haces quedar y tenemos relaciones sexuales,... seria una especie de ratonear con vos o con mi profesora... se entiende...!!!

cobre o enunciado de que os portenhos, conforme se designa o argentino da capital federal, tem um sentimento de superioridade em relação aos demais de seu próprio país e ao de outros países.

Deste modo, revelam um exercício de força, ao se compararem com os residentes de Córdoba, Mendonça ou Rosário, e por fim sintetizarem: – “isto acontece por que nos invejam”43. A noção de inveja parece ocorrer a partir de uma contraposição, quando se percebe uma perda, privação, em relação ao outro, um sentimento de inferioridade.

O Discurso se constitui pelo retorno de signos idênticos que se repetem continuadamente. Os entrevistados estabeleceram analogias – as diferenças entre as brasileiras e as argentinas – mas, também, reafirmaram o servilismo dos brasileiros, o Carnaval e a idéia de que estão vivendo um momento em suas férias.

O Estereótipo, cristalização de um único sentido da palavra ritualizada pela repetição, pode ser percebido com força nas falas que aludem à imagem da brasileira. Perguntados sobre a imagem que tem da mulher brasileira, os turistas argentinos responderam que essa imagem está mais relacionada ao Carnaval, aos atributos físicos, e à cor da pele, referindo-se à mulata:

D.: Acontece que a imagem da brasileira é do Carnaval, a ‘bunda’ e pernas

M.: Claro!

D.: ‘Bunda’ e pernas, esta é a imagem: de ‘bunda’ e pernas. Depois que estás aqui é que percebes que se pode conversar, que se pode... é muito sociável, muito sociável. [...]

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D.: Igualmente a única coisa que temos são os carnavais! [...]

M: Poderia dizer o mesmo: o lugar, as praias, o clima... e, bom... também viemos com a idéia de que a brasileira, a mulata, a... não sei como descrever...

L.: Claro!

M.: a mulata… chegas aqui e vês que não é assim, porque tem estas garotas, brasileiras com outra textura de pele... iguais... [...]

M.: [rindo] Lá em Buenos Aires, quando sabem que vens ao Brasil te dizem: – Te deita com uma negra! [esta frase foi dita em um tom baixo, como se fosse confidencial]. Entendeu?

D.: Tens que estar com uma mulata, claro!

M.: Eu estive com uma mulata uma vez, e pra mim, a verdade, não... não... pra mim não...

– E de onde vem isso?

L.: Mas claro, pode ser pela Mídia. O ratoneo... M.: Muitos associam: Brasil/mulatas. Entendeu? – Por que motivo?

M.: Não sei porquê Liciane! 44

A noção que parece estar cristalizada centra-se em primeiro lugar, no Carnaval, na nudez e nos atributos físicos específicos: traseiro45 e pernas femininos. As brasileiras são fogosas, dizem os entrevistados. No entanto, nos discursos é

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D: Pasa que el imagen de la brasilera es del Carnaval, el culo y piernas. M: Claro¡! D: Culo y piernas, esta es la imagen: de culo y piernas. Después que estas acá es que te das cuenta que se pode hablar, que se puede… es muy sociable, muy sociable.[…] D: igualmente lo único que lo tenemos son los carnavales¡! […]M: podría decir lo mismo: el lugar, las playas, el clima… y dale… también se viene con la idea de que la brasilera, la mulata, la… no sé como describir… L: Claro! M.: se dice mulata ¿? – Si. M: la mulata… llegas acá y ves que no es así, por que hay estas chicas, brasilera con otra textura de piel… igual… […] - Hablaste acerca de las mulatas, de donde viene esto? M: [riendo] Allá en Buenos Aires cuando saben que venís a Brasil te dicen: – Acostarte con una negra! [este comentario fue en voz más baja] Entendéis¿? D: Tienes que estar con una mulata, claro¡! M: Yo estibe con una mulata una vez, y a mí, la verdad, no… no… a mí no…- y de donde viene esto ¿? L: Pero claro, puede ser por los medios. El ratoneo…/ M: Muchos asemejan: Brasil/mulatas, entiendes ¿? – por [por que motivo] ¿? M: No sé porque Liciane ¡!

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Na língua portuguesa o termo referido pelos entrevistados, “bunda”, poderia ser traduzido por traseiro, mas se amenizado, pois o sentido em que foi empregado é mais pejorativo. Nossa opção pela Semiologia nos remete a estudar as significações. Entendemos que a alteração do termo pode alterar também o sentido, por isso manteremos, nas transcrições dos diálogos, o termo tal qual foi utilizado.

possível perceber que o interesse deles pela mulata é mais sexual, enquanto com as outras (loiras) é possível ter, também, um bom momento – quem sabe, conversar ou dançar. A referência em relação à negra, à mulata, é clara: – “Te deita com uma negra”! A recomendação dos compatriotas argentinos é explícita. Uma reafirmação da sensualidade da brasileira e do ato sexual na condição de Atrativo Turístico.

A palavra “fogosa” revela o Estereótipo, ritualizado pela repetição, que aparece continuamente: “As brasileiras são muito fogosas!”; “Muito fogosa, e que por aí... eu, a verdade é essa, meu ponto de vista!”; “Muito fogosa... muito fogosa”. E a noção de que também “Os latinos são muito fogosos” é uma cristalização de um único sentido da palavra.

Na visão dos entrevistados, as brasileiras são diferentes das argentinas, são mais “diretas”, e essa idéia evasiva é trazida de volta em referência ao tipo de relacionamento: “somente sexo”. Além disso, é diverso das argentinas, pois não conseguem entender que os turistas estão de férias, é só um momento.

Outra comparação é que as garotas do Brasil preferem se apresentar sem muita produção de maquiagem, ao mesmo tempo em que a roupa mais despojada é, também, sensual (mini short jeans) e tamancos de madeira, cabelos longos. Barthes (2004b, p. 62) diz que “a moda só existe através do Discurso que se mantém sobre a moda” – talvez seja esta descrição dos trajes das brasileiras a tentativa de fazer ver, todavia na ordem do inteligível é “heterogênea a qualquer imagística” (BARTHES, 2004b, p. 65).

O Mito é uma fala que não nega as coisas, não esconde nada, mas as torna inocentes. A idéia de que os brasileiros são negros, mulatos, escuros, é explicada

pelos entrevistados pela alusão ao Carnaval e ao futebol. É concebível que existam Mitos muito antigos, e, entre as narrativas, os percebemos:

M: Muitos associam: Brasil/mulatas, entendeu? […] D: Isto vem de tempos atrás, e também pelo futebol.

M: Claro, na seleção brasileira eram todos escuros. E hoje aparece um Kaká, um Ronaldo, entendeu, e estavam mudando, e bom… Sempre é o Brasil das ‘bundas’ e não sei por quê… você chega aqui e corroboras que não é tão assim. Se vais mais ao norte e ali vais ver mais mulatas, vais ver mais…46

Pela sua intencionalidade, o Mito pode ser identificado em algumas figuras principais: a Vacina, a Omissão da história, a Identificação, a Tautologia, o Ninismo, a Quantificação do Real, a Constatação.

No Mito barthesiano, a Vacina consiste em confessar o mal acidental para camuflar: – “como pode querer ser minha namorada se eu moro em Buenos Aires?” A pergunta, lógica pela distância entre Buenos Aires e Florianópolis, justifica a atitude descomprometida do turista e transfere para a garota toda a responsabilidade pela fugacidade da relação.

Quando o Mito fala sobre um objeto, despoja-o de toda história. A Omissão da História: – “Além disso, na ‘balada’ sempre iam atrás. Por aí te incomoda um

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M: Muchos asemejan: Brasil/mulatas, entiendes ¿? […]D: Esto viene de tiempo atrás, y también por

lo de fútbol. M: Claro, en la selección brasilera eran todos oscuros. Y hoy aparece un Kaká, un Ronaldo, entiendes, y estaban cambiando, y bueno… Siempre es el Brasil de los culos, y no sé porque… vos llegas acá y corroboráis que no es tan así. Te vas más al norte y ahí te vas a ver más mulatas, vas a ver más…

pouco”47. Essa referência foi feita na narrativa antes de contarem que na noite anterior, ao suposto assédio pelas garotas, eles haviam ‘ficado’ no apartamento dos rapazes na pousada.

A Identificação: – “Estão de férias, estão aproveitando. – me parece perfeito, porque a gente contata nossa experiência. Você é daqui, eu sou de lá, sabes que é este momento e acabou. Nunca mais. É para curtir”48. A figura da Identificação, no

Mito, tapa os olhos, é uma reverberação, o outro é reduzido ao mesmo.

Na fala de um entrevistado: – “Muitos associam: Brasil/mulatas. Entende?” quando perguntamos o motivo vem a resposta: – “Não sei porque, Liciane!” Na voz mais exaltada, numa reação à pressão do questionamento, a Tautologia aflora quase que em um sentido de “é assim, porque é assim”. Um refúgio, um procedimento que define o mesmo pelo mesmo (é, porque é), uma recusa à linguagem. A Tautologia também surge no comentário de que: – outra noite é outra noite! O que Barthes (2003b, p. 245) conceberia como “um duplo assassinato: mata- se o racional porque ele nos resiste, e mata-se a linguagem porque ela nos trai”.

O Ninismo é uma figura mitológica que coloca dois opostos para equilibrar um com o outro e depois rejeitar a ambos. Nas comparações entre as brasileiras e as argentinas há compensações em ambos os lados, ao mesmo tempo em que uma e outra são também rejeitadas. Se, por um lado, as brasileiras são mais “diretas”, por

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L: a parte en el boliche siempre iban atrás. Donde iba uno iban… Por ahí al argentino que está de

vacaciones te molesta un poco

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M.: A mi me parece perfecto, por que uno cuenta su experiencia, y también disfruta ¡! Vos sos de

acá y yo soy de allá, sabes que es este momento y se acabó ¡! Nunca más ¡! Es para pasarla bien ¡!

outro lado elas não entendem que a relação termina na mesma noite em que começa. Se as argentinas têm uma atitude de “cara fechada”, são, também, infiéis aos namorados quando estão em férias. Ou seja, brasileiras e argentinas são comparadas, como se fossem dois opostos, e, ao mesmo tempo, ambas são rejeitadas por um ou outro comportamento indesejado pelos entrevistados.

M.: […] eu gosto que a brasileira é muito mais direta, que as argentinas… a argentina é muito... […]

D.: Acho que as brasileiras... quando conhecem alguém... acho que... entende de outra maneira do que a argentina. A argentina sabe que termina aí, e a brasileira é como que... é diferente... é muito apaixonada de... […]

L.: Que são bonitas, que… são muito predispostas... e é o que eu digo, é diferente da argentina. A gente põe as duas na balança... as duas faces, e é muito diferente... para a gente é... por aí é algo novo... e... conhecer brasileiras e... ver de que maneira é seu jeito, muito diferentes das argentinas. [...]

M.: Além do que a mulher argentina é diferente, tem uma careta [cara azeda] – pode-se dizer – , tem uma careta e...

D.: Em troca a brasileira é mais tal e qual, se pode levar de outra maneira, dá para chegar a uma conversação mais rápida. Se não podes ter uma relação, podes ter um bom momento, de dança, de... noite, ou de praia. [...]

L.: De fato a argentina veio para cá e deixou o namorado em Buenos Aires, e aqui rompeu o elo. Mas aqui faz algo com um brasileiro ou com quem seja. Fica aqui.

D.: O que a gente viu é que a argentina, muitas que estavam namorando e...

M.: Muito infiéis! […]

L.: Uma argentina de 30 anos não te segue para todos os lugares, não vai te procurar na praia, não quer que fiques com ela e... é mais... ela, ou seja... tem seu... não se rebaixa tanto! Por aí, a brasileira te segue pela praia, não quer que te mexas, que fiques aqui [junto dela]... por aí, se vais

conversar com outra mulher não gosta... e a argentina não. Se ela não gosta vai procurar outro.49

A Quantificação da Qualidade aparece no momento em que o Mito é econômico, compreende a qualidade do real por uma quantidade: – “Uma argentina de 30 anos não te segue para todos lados, [...] é mais ela [...] não se rebaixa tanto”! A qualidade de uma mulher madura argentina é quantificada aos 30 anos, sinal de maturidade, em contrapartida ao comportamento das brasileiras que, mesmo na idade adulta, têm comportamento de quem se rebaixa, de quem não entende seu lugar ou posição, como se fosse uma atitude infantilizada a de procurar o rapaz com quem esteve no dia anterior.

Outra presença da figura mitológica de Quantificação do Real, na fala dos entrevistados, que reafirma esta impressão de imaturidade das mulheres, foi a observação de que: – “No outro dia, apareceram na praia, e tinham como que mais 50 amigas!”. 50

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[…] a mi me gusta que la brasilera es mucho más directa, que las argentinas… la argentina es mucho… […] D: Creo que las brasileras … cuando conocen alguien… creo que… lo toma de otra manera que la argentina. La argentina sabe que se termina ahí, y la brasilera es como qué… es distinto… es muy enamorada de… […]L: Que son lindas, que… son muy predispuestas… y es lo que digo yo, es distinta a la argentina. Uno pone en la balanza las dos… las dos facetas, y es muy distinta… para nosotros es… por ahí algo nuevo… e… conocer brasileras y… ver de que manera se mueven ellas, muy distintas alas argentinas. […]M: A parte es que la mujer argentina es distinta, tiene una careta – se puede dicer -, tiene una careta y… D: al cambio las brasileras es más tal cuales, se puede llevar de otra manera, se puede llegar a una conversación, más rápida. Si no puedes tener una relación, puedes tener un buen momento, de baile, de… noche o de playa. […]L: Por hecho la argentina viene acá y dejo el novio en Buenos Aires, y acá rompió el hielo. Pero acá hace algo con un brasilero, con lo que sea. Queda acá. D: Lo que nosotros vimos es que la argentina, muchas que estaban de novia y… M: muy infieles ¡! […]L: Una argentina de 30 años no te sigue para todos lados, no te va buscar a la playa, no quiere que te quedes con ella y… es más… ella, o sea… tiene su… no se rebaja tanto! Por ahí la brasilera te sigue por la playa, no quiere que te mueva, que te quedes acá… por ahí si vas hablar con otra mujer, por ahí no le gusta… y la argentina no. Si no le gusta, por ahí busca otro.

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A sétima figura mitológica, concebida por Barthes (2003b), é a Constatação, quando o Mito tende para o provérbio, na recusa de uma explicação. Conforme sustenta o autor (2003b, p. 247), “uma reflexão diminuída, reduzida a uma constatação, [...] ligada ao máximo ao empirismo. [...] prevê muito mais do que afirma”: – “Não pensaria em estar com uma brasileira como namorada quando aconteceu algo na primeira vez que subiu ao quarto, meia hora depois que nos conhecemos. Eu digo não, essa guria como faz comigo... não...”51.

O termo Mito é usado pelos entrevistados. Em um primeiro momento, para designar a idéia que têm da mulher brasileira: a mulata, e isto se explica por “estes mitos que se formam”52, simplesmente se formam sem explicação, como um tribalismo, conforme conceituaram, existente entre portenhos e cordobeses na rixa por suas mulheres – algo que remete ao primitivo da disputa sexual. Uma noção de

Mito também é referida a esta relação de contenda entre os portenhos e os demais

argentinos das outras províncias, e chegam a dizer que, talvez, não seja tanto um Mito, mas uma realidade – de fato existem diferenças.

O que é Mito e o que é realidade não parece claro para os entrevistados, é um modo de significação, que se define pela maneira como proferem a mensagem. Parece ser, aqui, uma oportunidade de situação. Da mesma forma quando os entrevistados fazem referência à imagem de negritude da brasileira, e que deixa de

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D.: No pensaría a estar con una brasilera de novia cuando algo se dio en la primera vez que subió

en la pieza a la media hora que nos conocimos. Yo digo no, a esta piba como lo hace conmigo, no…

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ser Mito no momento em que, a partir do Rio de Janeiro, em direção ao Nordeste, são “mais negras do que brancas” – conforme delimitaram os entrevistados.

A Cultura é um campo de dispersão das linguagens, em que há sempre uma porção que o outro não compreende, está em toda parte, é a escuta das diferenças. Os entrevistados fizeram referência à Cultura, a começar pelo modo de vestir dos homens brasileiros, que usam meias atoalhadas, bermuda, camiseta. Um dos

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