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4 MATERIAL E MÉTODOS

5.3 ANÁLISE HISTOMORFOMÉTRICA

A quantidade de ósseointegração foi avaliada pelo contato direto osso- implante (%BIC) e pela quantidade de osso presente entre as roscas dos mini- implantes (Apêndice A). Os valores mínimos e máximos da quantidade de osso variaram entre 3,962 (30 dias) e 14,766 (60 dias) no grupo sem carga e entre 4,897(15 dias) e 14,631(21 dias) no grupo com carga (Tabela 5.6).

0  500  1.000  1.500  2.000  2.500  3.000  0  15  21  30  60  TEMPO  E sp essu ra  d C o rt ic al  Ó sse ea  /  m m   Ponto Médio  Sem Carga  Com Carga 

a

b

c

d

e

No comparativo entre o grupo com e sem carga, quanto à quantidade de osso, houve diferença estatisticamente significativa somente aos 15 dias (p = 0,034), sendo maior a quantidade de osso no grupo com carga (7,97± 1,93) quando comparado ao sem carga (6,59± 1,56). Nos demais tempos (21, 30 e 60 dias), apesar do grupo com carga apresentar valores numéricos maiores da quantidade de osso, a diferença estatística com o grupo sem carga não foi significativa (Tabela 5.6).

Tabela 5.6 - Comparativo entre mini-implantes com e sem carga para quantidade de osso. Para tanto aplicamos testes t-pareados, com nível de significância de 5%. *Estatisticamente significante

TEMPO Estatísticas Sem Carga

Com

Carga Teste t-pareado Resultado

15

Média 6.59 7.97

Mediana 6.65 7.97

Mínimo 4.26 4.90 0.034 * Sem < Com

Máximo 8.98 11.59 Desvio-padrão 1.56 1.93 n 16 16 21 Média 8.89 9.83 Mediana 8.93 9.55

Mínimo 4.46 6.43 0.204 Sem = Com

Máximo 12.36 14.63 Desvio-padrão 2.27 2.11 n 16 16 30 Média 8.80 9.37 Mediana 8.88 9.38 Mínimo 3.96 6.37

Máximo 13.25 12.94 0.485 Sem = Com

Desvio-padrão 2.18 1.84

n 16 16

60

Média 10.32 10.64

Mediana 10.76 10.72

Mínimo 6.29 7.99 0.664 Sem = Com

Máximo 14.77 13.88

Desvio-padrão 2.63 1.57

n 16 16

A quantidade de osso aumentou significativamente ao longo dos tempos de cicatrização, nos grupos sem e com carga, sendo os valores de p<0,001 e p=0,004, respectivamente (Tabela 5.7 e Gráfico 5.2).

Tabela 5.7 - Comparativo entre os tempos do estudo para a quantidade de osso. Para tanto aplicamos testes de Análise de Variância (ANOVA) e comparações múltiplas, com nível de significância de 5%. *Estatisticamente significante

TEMPO teste ANOVA Resultado 0 15 21 30 60 (p) Sem Carga Média 6.86 6.59 8.89 8.80 10.32 Mediana 7.14 6.65 8.93 8.88 10.76 Mínimo 2.97 4.26 4.46 3.96 6.29 <0.001 * 0 = 15 < 21 = 30 < 60 Máximo 11.24 8.98 12.36 13.25 14.77 Desvio-padrão 2.19 1.56 2.27 2.18 2.63 n 16 16 16 16 16 Com Carga Média 7.97 9.83 9.37 10.64 Mediana 7.97 9.55 9.38 10.72 Mínimo 4.90 6.43 6.37 7.99 0.004 * 15 < 21 = 30 < 60 Máximo 11.59 14.63 12.94 13.88 Desvio-padrão 1.93 2.11 1.84 1.57 n 16 16 16 16

Gráfico 5.2 – Gráfico descritivo da quantidade de osso nos tempos do estudo para os grupos com e sem carga

Os valores mínimos e máximos da porcentagem de BIC variaram entre 17,396 (30 dias) e 73,354 (30 dias) no grupo sem carga e 24,271 (15 dias) e 67,065 (60 dias) no grupo com carga. A comparação da porcentagem de BIC entre os grupos com e sem carga não apresentou significância estatística em nenhum dos

tempos do estudo. No entanto, embora não significante, esteve próximo de sê-lo nos tempos 15 e 21 (p= 0,082 e p= 0,061, respectivamente), no sentido de maiores respostas no grupo com carga (média de BIC 35,70 vs 30,65 aos 15 dias e 45,92 vs 39,82 aos 21 dias para os grupos com e sem carga, respectivamente) (Tabela 5.8).

Tabela 5.8 - Comparativo entre mini-implantes com e sem carga para BIC. Para tanto aplicamos testes t-pareados, com nível de significância de 5%. *Estatisticamente significante

TEMPO Estatísticas Sem Carga

Com

Carga Teste t-pareado Resultado

15

Média 30.65 35.70

Mediana 31.70 36.07

Mínimo 18.70 24.27 0.082 Sem = Com

Máximo 45.05 50.79 Desvio-padrão 7.93 8.22 n 16 16 21 Média 39.82 45.92 Mediana 39.14 42.77

Mínimo 19.30 27.38 0.061 Sem = Com

Máximo 52.60 65.06 Desvio-padrão 8.97 10.39 n 16 16 30 Média 42.22 43.24 Mediana 41.71 44.18 Mínimo 17.40 29.09

Máximo 73.35 58.00 0.811 Sem = Com

Desvio-padrão 11.95 9.31

n 16 16

60

Média 47.36 49.85

Mediana 48.51 49.37

Mínimo 29.71 39.55 0.454 Sem = Com

Máximo 67.35 67.07

Desvio-padrão 11.15 7.35

n 16 16

Os valores da porcentagem de BIC aumentaram significativamente no decorrer do tempo de cicatrização, independentemente da presença de carga (p= 0,001 no grupo sem carga e p<0,001 no grupo com carga). Na tabela 5.9 estão apresentados os valores de BIC nos diferentes tempos do estudo, em ambos grupos e no gráfico III pode-se ter melhor visualização dos resultados.

Tabela 5.9 - Comparativo entre os tempos para BIC. Para tanto aplicamos testes de Análise de Variância (ANOVA) e comparações múltiplas, com nível de significância de 5%. *Estatisticamente significante TEMPO teste ANOVA Resultado 0 15 21 30 60 (p) Sem Carga Média 33.67 30.65 39.82 42.22 47.36 Mediana 35.16 31.70 39.14 41.71 48.51 Mínimo 13.82 18.70 19.30 17.40 29.71 0.001 * 0 = 15 < 21 = 30 = 60 Máximo 55.45 45.05 52.60 73.35 67.35 Desvio-padrão 11.65 7.93 8.97 11.95 11.15 n 16 16 16 16 16 Com Carga Média 35.70 45.92 43.24 49.85 Mediana 36.07 42.77 44.18 49.37 Mínimo 24.27 27.38 29.09 39.55 <0.001 * 15 < 21 = 30 < 60 Máximo 50.79 65.06 58.00 67.07 Desvio-padrão 8.22 10.39 9.31 7.35 n 16 16 16 16

Gráfico 5.3 – Gráfico descritivo do BIC nos tempos do estudo para os grupos com e sem carga O coeficiente de correlação de Pearson mostrou associação entre a quantidade de osso e o BIC, para cada combinação de tempo (0,15,21,30 e 60) e carga (com e sem) (Tabela 5.10). Todas as correlações nos diferentes tempos e momentos foram consideradas ótimas, exceto no tempo 60 com carga, que foi uma correlação boa. Nos gráficos 5.4 e 5.5 estão ilustradas as correlações nos grupos sem e com carga.

Tabela 5.10 – Coeficiente de correlação de Pearson entre quantidade de osso e BIC Tempos Sem Carga Com Carga

0 0.951 ---

15 0.955 0.962

21 0.953 0.908

30 0.956 0.915

60 0.987 0.788

Gráfico 5.4 – Gráfico descritivo de dispersão do grupo sem carga

Gráfico 5.5 – Gráfico descritivo de dispersão do grupo com carga 0 10 20 30 40 50 60 70 80 0 5 10 15 20 Sem carga C om c a rga T0 T15 T21 T30 T60 0 10 20 30 40 50 60 70 80 0 5 10 15 20 Sem carga C om c a rga T15 T21 T30 T60

A presença de carga mostrou valores aumentados na quantidade de osso e no BIC em todos os tempos, no entanto, a carga pareceu gerar maior estímulo de remodelamento (ou cicatrização) ósseo nos tempos iniciais da cicatrização (dias 15 e 21).

6 DISCUSSÃO

Este estudo foi realizado para se observar a resposta de cicatrização tecidual circundante aos mini-implantes ortodônticos autoperfurantes, esterilizados pelos pesquisadores, submetidos ou não à aplicação de carga imediata. A taxa de sucesso deste estudo (100%) associada à ausência de quaisquer sinais ou sintomas de inflamação ou outros desvios da normalidade, durante os períodos de cicatrização avaliados, demonstraram a eficácia de se esterilizar os mini-implantes ortodônticos com os recursos disponíveis nos consultórios odontológicos. Esta possibilidade de esterilização amplia a viabilidade de uso destes mini-implantes comercializados a custo reduzido em relação aos esterilizados pelo fabricante. Na literatura, no entanto, não foram encontrados dados relativos às possibilidades de esterilização diferentes do fabricante.

O protocolo de instalação dos mini-implantes foi definido após realização de estudo piloto, no qual observamos a necessidade de se executar perfuração prévia para reduzir a resistência oferecida pelo osso cortical. Isto foi importante para prevenir fraturas dos implantes e injúrias à porção superficial do osso. Em concordância com Heidemann et al. (1998), é fácil penetrar em osso cortical fino, porém, se for encontrada resistência forte durante a inserção, uma perfuração piloto deve ser feita. A execução da perfuração prévia também foi relatada em outros estudos com modelos animais (Wu et al., 2009; Chen et al., 2010a; Lee N-K et al., 2010; Serra et al., 2010).

A realização ou não da perfuração prévia no protocolo de inserção de mini- implantes ortodônticos não influenciou na porcentagem de BIC nem na taxa de aposição mineral, as quais não apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos após 12 semanas de cicatrização (Prager et al., 2008). No entanto, para Wu et al. (2008), o valor do BIC nos mini-implantes autoperfurantes sem perfuração prévia foi significativamente maior do que nos auto-rosqueáveis após 2 e 4 semanas da inserção; sendo essa diferença não mais evidenciada ao final de 8 semanas.

Quando analisada sob o ponto de vista da estabilidade primária, a realização da perfuração prévia pareceu influenciar, pois os mini-implantes autoperfurantes apresentaram maior estabilidade primária justificada pela presença de maior área de

contato justo com o osso (Wu et al., 2008; Suzuki; Suzuki, 2011). No presente estudo, acreditamos que a realização da perfuração prévia não tenha gerado influências nos dados obtidos, pois avaliamos apenas a quantidade de osso e o BIC.

Não foram evidenciadas áreas de osso queimadas pelo calor da broca, o que confirma a validade do uso de refrigeração da broca com soro fisiológico.

A presença de carga imediata leve (50cN) e contínua neste estudo, em metade da amostra, não afetou negativamente os padrões de cicatrização; fato este em concordância com estudos prévios em animais e humanos (Luzi et al., 2007; Luzi et al., 2009). A aplicação de carga pareceu induzir maior resposta inflamatória reparatória inicial aos 15 dias, sendo neste momento encontrada quantidade de osso significativamente maior para o grupo com carga. O estudo de Luzi et al. (2009), com mini-implantes auto-rosqueáveis evidenciou aumento na formação óssea e redução na reabsorção óssea no grupo com carga após 1 semana de cicatrização, sugerindo papel positivo da carga mecânica no aumento da atividade óssea. Coerente com estudos prévios, a carga imediata não preveniu a nova formação óssea, mas ativou a adaptação fisiológica e estimulou a remodelação do osso circundante pré-existente.

Neste estudo, bem como em outros encontrados na literatura (Melsen; Costa, 2000; Luzi et al., 2009; Morais et al., 2007; Serra et al., 2010; Woods et al., 2009) a carga imediata foi aplicada pela presença de mola de Níquel-Titânio posicionada entre dois parafusos adjacentes, o que gerou força unilateral horizontal, e não alterou a estabilidade primária. No entanto, Cho et al. (2010), observaram que a aplicação de força ortodôntica imediata (1N ou 2N), com momentos de rotação nos sentidos horário ou anti-horário resultaram em baixo valor de BIC e menor estabilidade primária dos mini-implantes autoperfurantes.

Resultados de estudos prévios descreveram que os mini-implantes foram efetivos na ancoragem ortodôntica para suportar cargas imediatas de 25 até 300g (Melsen; Costa, 2000; Melsen; Lang, 2001; Deguchi et al., 2003; Cheng et al., 2004; Büchter et al., 2005; Luzi et al., 2009; Woods et al., 2009; Chen et al., 2010a; Serra et al., 2010; Zhang et al., 2010). No entanto, nos estudos com carga imediata acima de 100g, pôde-se observar maior ocorrência de fraturas ou perdas de implantes.

Os mini-implantes com e sem carga não apresentaram nenhum grau de mobilidade, fato que mostra a boa integração mecânica existente entre osso-

implante. Além disso, não foram observados sinais clínicos de inflamação nos tecidos circundantes, sendo boa a cicatrização da ferida cirúrgica.

Tendo em vista que o tamanho e tipo do implante (autoperfurante), o sítio de inserção e o tempo de carga foram diferentes dos estudos prévios, a compreensão da resposta histológica do osso circundante foi necessária para a avaliação completa dos mini-implantes autoperfurantes.

Foi encontrado contato direto osso-implante, na área de osso cortical, nas amostras com e sem carga. Isto está de acordo com os achados de mini-implantes auto-rosqueáveis e autoperfurantes e implantes dentários (Deguchi et al., 2003; Luzi et al., 2009; Prager et al., 2008; Woods et al., 2009; Cha et al., 2010a; Morea, 2008).

Histologicamente, apesar de terem sido feitas perfurações prévias com brocas, observamos no dia 0 áreas de fraturas da borda da cortical na porção superficial do osso cortical, além da marca no osso do trajeto percorrido pela broca. No entanto, estas áreas de trajeto da broca e de fraturas da borda da cortical foram todas reparadas por nova formação óssea, a qual mostrou-se completa após 30 dias, tanto nos grupos com quanto sem carga. Tais áreas de fraturas da borda da cortical foram resultado do desenho anatômico do colo do implante, o qual gerou pontos de esmagamento na área de contato com o osso superficial cortical (figura 6.1).

Figura 6.1 - Imagens ilustrativas, radiográficas, histológicas(aumento 10x) e fotográfica do colo dos mini-implantes ortodônticos autoperfurantes TOMAS® (Dentaurum/ Germany)

Assim como nos demais estudos realizados com mini-implantes autoperfurantes ou auto-rosqueáveis, as características histológicas evidenciaram

remodelação óssea contínua. Apesar de existir certa variação quanto ao modelo animal (cães Beagle ou coelhos Nova Zelândia) e quanto aos intervalos de tempo avaliados nos estudos da literatura prévia, todos estão em concordância com o presente estudo, quanto à sequência de cicatrização (Chen et al., 2010a; Wu et al., 2008; Zhang et al., 2010; Wu et al., 2009; Morea, 2008; Serra et al., 2010). Inicialmente foram observas áreas de crescente atividade de proliferação celular, com osteoblastos ativos e matriz osteoíde em quantidades ascendentes ao longo do tempo; sendo o osso com características imaturas até a quarta semana (30 dias). Decorridas oito semanas (60 dias), foi possível evidenciar osso maduro. Estas características foram semelhantes para os grupos com e sem carga, com pequenas variações, em geral, para resposta mais intensa nas fases iniciais observadas na presença da carga ortodôntica.

Ao final do experimento, observamos que o osso cortical ao redor dos mini- implantes apresentava maior espessura, em função de nova formação óssea nas direções cervical e apical do parafuso (Figura 6.2). Isto permite verificar a excelente biocompatibilidade da liga de titânio grau V com o tecido ósseo.

Figura 6.2 – Imagens histológicas (aumento 2.5x) dos mini-implantes para ilustrar o aumento da espessura da cortical óssea em: a – 0 dias; b- 15 dias; c- 21 dias; d- 30 dias e e- 60 dias

A comparação entre os lados P+ e P- não resultou em diferenças estatisticamente significativas, bem como em estudos que avaliaram o valor BIC e taxa de deposição de osso (Kim et al., 2008; Woods et al., 2009; Serra et al., 2010).

As radiografias mostraram também um aumento significativo na espessura do osso ao longo dos tempos do estudo. Curiosamente, este aumento não ocorreu somente ao redor dos mini-implantes, mas também em regiões ósseas distantes dos parafusos. Ao comparar a quantidade de aumento da espessura óssea entre as diferentes regiões estudadas, foi possível observar valores de espessura cortical significativamente maior nas proximidades da liga de titânio do que nas regiões do ponto médio, sugerindo que a presença do mini-implante tenha induzido maior resposta tecidual.

O uso da liga de titânio grau V na fabricação de mini-implantes ortodônticos vêm crescendo devido às suas vantagens em termos de resistência à fratura, corrosão e biocompatibilidade. Análises de imagens histológicas e radiográficas das áreas circunvizinhas aos mini-implantes mostraram aumento significativo na espessura óssea, e não somente o preenchimento da área da perfuração piloto e das áreas de fraturas da borda da cortical. Havia uma projeção de osso cortical em direção cervical e apical do parafuso. Assim, podemos sugerir que a liga de titânio grau V gerou efeito estimulante sobre o crescimento do osso cortical.

No entanto, quando se analisa o grupo do ponto médio, podemos também observar nesta região, um aumento significativo da espessura do osso cortical. Este crescimento, provavelmente, tenha ocorrido devido ao deslocamento do periósteo durante a inserção cirúrgica dos mini-implantes. Dessa forma, o periósteo durante seu processo de cicatrização parece também ter estimulado a formação de nova camada de matriz óssea, o que resultou em aumento da espessura cortical.

Este estudo monitorou o processo de cicatrização e remodelação ao longo de um período de 60 dias. Estudos adicionais são necessários para ver a evolução desse aumento na espessura cortical ao longo do tempo.

Dado interessante de observação histológica foi quando da aproximação de alguns ápices dos mini-implantes na cortical oposta das tíbias dos coelhos, sem que houve inserção bicortical. Acreditamos que essa eventual proximidade ocorreu em função da anatomia óssea do coelho. Em geral, nestes casos, houve uma proliferação do osso cortical no sentido de envolver o ápice do parafuso (Figura 6.3). Isto também reforçou a visualização de que o tecido ósseo se relaciona bem com a presença da liga de Titânio de grau V.

Figura 6.3 - Imagens histológicas (aumento 10x) do crescimento ósseo próximo ao ápice dos mini- implantes ortodônticos. Em a) imagem de 15 dias de cicatrização; b) 21 dias; c) 30 dias e d) 60 dias

Como neste estudo foi utilizada a coloração de Azul de Stevenels com alizarina red S em campo claro, não foi possível observarmos fibras colágenas.

A histomorfometria foi a análise que utilizamos para quantificar a ósseointegração e foi realizada pelo cálculo do valor de BIC (contato osso-implante). Neste estudo o valor médio de BIC foi 41,5% para o grupo sem carga e 43,6% com carga, com variação de 17,4% até 73,35% no grupo sem carga e de 24,2% até 67% no grupo com carga. Apesar de não apresentarem diferenças estatisticamente significativas, os valores numéricos do BIC do grupo com carga foram maiores para todos os tempos do estudo, assim como nos resultados de Wu et al. (2009). Além disso, a porcentagem de BIC apresentou aumento estatisticamente significativo ao longo do tempo, confirmando dados de estudos prévios, de que a quantidade de ósseointegração é tempo dependente (Chen et al., 2010a; Wu et al., 2008; Zhang et al., 2010; Wu et al., 2009; Serra et al., 2010).

Zhang et al. (2010) encontraram BIC médio de 43,7% após 8 semanas de inserção de mini-implantes autoperfurantes com carga imediata de 100g em cães, valor semelhante ao deste estudo no mesmo intervalo de tempo, no qual o BIC foi de 49,85%. No estudo de Chen et al. (2010a) as diferenças de valores de BIC encontrados entre os mini-implantes da mandíbula com e sem carga foram estatisticamente significativos, sendo 40,63% e 27,89%, respectivamente. Chen et al. (2010a) encontraram que o BIC na maxila foi maior do que na mandíbula e dos mini-implantes com carga maior do que sem carga, sugerindo que os AP quando utilizados sem perfuração prévia na maxila e com carga apresentam maior ósseointegração.

Os valores do BIC do presente estudo são semelhantes aos de estudos prévios com mini-implantes autoperfurantes e auto-rosqueáveis, indicando que se o valor total de BIC for maior do que o menor valor de BIC que encontramos ao 0 dias, de 13,8%, o mini-implante terá estabilidade suficiente para suportar carga de 50g.

Na comparação dos valores de BIC deste estudo com a literatura prévia, utilizamos como parâmetro os dados dos estudos da mandíbula, tendo em vista o modelo animal utilizado.

A escolha do coelho como modelo experimental em estudos com implantes se justifica pela correlação fisiológica conhecida entre humanos e coelhos (Roberts, 1984). O ciclo de remodelação ósseo nos humanos é de aproximadamente 18 semanas, enquanto nos coelhos, esta é de 6 semanas (Torezan, 1998). Dessa forma, sugere que uma proporção de 1:3 seja boa para a extrapolação dos dados de estudos com coelhos para situações clínicas de humanos (Hollinger et al., 1999).

Os mini-implantes utilizados neste estudo foram inseridos na tíbia de coelhos machos, a qual, anatomicamente é constituída por uma camada espessa de osso cortical que envolve a medula óssea. A espessura da cortical óssea da tíbia dos coelhos machos com mesmo peso e idade do nosso estudo, na área adjacente aos mini-implantes é de aproximadamente 0,7 ± 0,17 mm (Lee et al., 2010). Esta medida é ligeiramente menor do que a presente na maxila humana de indivíduo adulto, de 0,85 ± 0,21 mm na região paramediana e de 1,04 ± 0,21 mm na região posterior (entre segundo premolar e primeiro molar permanente). Para a mandíbula humana, os valores variam de 0,93 ± 0,14 mm até 1,74 ± 0,51 mm nas regiões anterior e posterior, respectivamente (Baumgaertel; Hans, 2009). Farnsworth et al. (2011) demonstraram que a espessura média da cortical óssea maxilar em adolescentes na região posterior (entre dentes 5-6) era de 1,01 ± 0,19 mm e nos adultos de 1,45 ± 0,28 mm e para a mandíbula de 1,4 ± 0,36 mm e 1,91 ± 0,35 mm em adolescentes e adultos, respectivamente. Estes dados de estudos humanos são de mensurações feitas 4mm apical à crista alveolar, que é aproximadamente o nível da junção mucogengival.

Devido à anatomia da tíbia do coelho, ou seja, pela ausência de osso esponjoso, o modelo animal utilizado restringiu os resultados à aplicabilidade em ossos com camadas corticais mais densas e espessas, tais como a mandíbula.

A densidade óssea mineral pode ser outro fator a ser considerado, quando analisamos as diferenças entre as características humanas e do coelho. Batista (tese) encontrou valor médio de densidade óssea mineral da tíbia de coelhos machos Nova Zelândia com peso e idade semelhantes ao deste estudo de 0,264 ± 0,027 g/cm2. Para a mandíbula humana, a densitometria óssea revelou valor médio de 0,983 ± 0,334 g/cm2 para pacientes adultos do sexo feminino (Scheibel et al., 2009).

Dentre os possíveis testes invasivos da estabilidade dos miniparafusos está a histomorfometria. A histomorfometria é um método quantitativo para estabelecer a porcentagem de contato ósseo e a área de contato ósseo de secções de área do implante. Parâmetros típicos mensurados incluem a porcentagem de contato ósseo e a área de osso dentro das roscas (Meredith, 1998). A microscopia óptica permite uma visão qualitativa do tecido ósseo, enquanto a histomorfometria permite entender a cinética do turnover ósseo e quantificar as mudanças na estrutura óssea a nível celular. No entanto, a histomorfometria tem como limitação o fato de permitir a

visualização restrita de apenas uma “fatia” ou face de determinada amostra. Estudos atuais estão indicando a microtomografia computadorizada como um método mais eficiente para a avaliação do contato osso-implante, pois este permite uma reconstrução 3D das imagens para a visualização global do osso circundante aos mini-implantes. Além de ser um teste não invasivo, a microtomografia pode reduzir o número de animais utilizados para os experimentos pré-clínicos, e permitir uma avaliação 3D qualitativa e quantitativa mais detalhada (Zhao et al., 2011). Ikeda et al. (2011) concluíram que o uso da μCT para a avaliação do osso próximo aos mini- implantes mostrou grande potencial, com a capacidade de detectar sutis mudanças de densidade óssea, que outros testes não poderiam. Lee N-K et al. (2010) observaram que a micro-CT pode mensurar a espessura da cortical óssea com precisão sem danificar o osso e os mini-implantes.

7 CONCLUSÕES

-A ausência de complicações no processo de cicatrização indica que os mini- implantes ortodônticos podem ser esterilizados com recursos da clínica odontológica;

-A presença de carga imediata leve (50 cN) não afetou o processo de remodelação óssea;

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