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A análise das discussões provenientes dos encontros de grupo focais ocorreu por meio da Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2009), que define o método como

um conjunto de técnicas de análise das comunicações escritas, visando, através de etapas sistemáticas e objetivas de descrição do conteúdo, obter indicadores qualitativos ou não que permitam conhecer e compreender as falas dos participantes. A técnica de análise de conteúdo é do tipo temático, classificado segundo a semântica das comunicações.

A análise segue três etapas distintas:

• A pré-análise — consiste na leitura flutuante do conjunto das comunicações,

através da qual o conteúdo torna-se mais claro. O corpus do estudo, que é o conjunto dos documentos escritos que foram analisados, respeitando a exaustão dos dados, não deixando de lado nenhum elemento desse corpus, a representatividade, a homogeneidade e a pertinência; a formulação de hipóteses e objetivos e a elaboração de indicadores que fundamentem a interpretação final.

As discussões do grupo foram transcritas exatamente como se apresentaram. Após, foi realizada uma leitura flutuante. Em um segundo momento foi retirado do texto o que foi considerado excesso, para dar clareza à comunicação escrita, tendo-se o cuidado de retirar somente palavras que não interferissem no entendimento da unidade de significado, sendo transcrita a comunicação escrita deixando-se uma coluna à direita para codificar a unidade e uma à esquerda para categorizar o próximo passo.

• A segunda fase — a exploração do material — visou alcançar o núcleo de

compreensão do texto. Nesse momento, de acordo com os objetivos do estudo, foram salientados, no texto, trechos significativos, unidades de registro ou significado, a serem codificadas e posteriormente categorizadas. Todo o texto foi demarcado, extraindo-se dele as unidades de significado que o compunham, enumerando e nomeando cada unidade e separando em espaços gráficos. Por exemplo: Grupo focal, unidade 1- G1U1/, e assim sucessivamente.

É relevante pontuar que no segundo grupo focal foi respondida por escrito, pelos participantes, a questão instigadora da discussão: Para você o que significa trabalhar de modo transversal as temáticas transversais consideradas urgentes? Esse questionamento auxiliou a análise do estudo, aplicando-se a técnica de análise de conteúdo. O texto foi demarcado, extraindo-se as unidades de significado e numerando- as, e a grafia da análise ficou assim: Sujeito1, unidade 1 - S1U1.

A codificação das unidades de significados deve indicar o material textual que deu origem à unidade e a localização dentro do texto, permitindo ao leitor maior clareza ao validar os resultados. A divisão do texto em unidades de significado respeitou a

descrição e a interpretação dos sentidos das falas, tendo-se o cuidado para não fragmentá-las excessivamente para não correr o risco de perder a essência do significado dado pelo sujeito ao seu discurso. Para Moraes e Galiazzi (2007, p. 49), “esta desconstrução, mesmo sendo essencial para uma reconstrução posterior, não pode ser levada ao excesso. A fragmentação sempre necessita ter como referência o todo”.

A validação das unidades foi assegurada na relação constante com os objetivos da pesquisa que serviram de referência para recortar o texto, refletindo as intenções do estudo e ajudando a atingi-las. A fragmentação do texto foi realizada pensando-se sempre no passo seguinte que é o de categorização mediante aproximação das unidades por se tratar de um processo que nunca pode perder de vista o todo. Torna-se importante salientar que para a análise deste estudo se optou pela utilização do critério semântico dos textos, direcionando-o aos temas e aos significados que os textos possibilitam construir (MORAES e GALIAZZI, 2007).

Dando seguimento ao rigor da análise, o próximo passo foi colocar na margem direita do texto as categorias a que pertenciam cada unidade, respeitando-se o critério da semântica da comunicação escrita. Foram utilizadas cores diferentes para nomear as categorias e as unidades foram lidas uma a uma, aprofundando-se a compreensão do texto, classificando-as e agregando-as nas categorias iniciais escolhidas conforme o conteúdo que emergiu de cada unidade por semelhança das mensagens. Esse procedimento foi realizado em todas as transcrições dos grupos focais, objetivando buscar novas compreensões para o fenômeno investigado.

Conforme Capra (2002) e Varella, Thompson e Rosch (2000), o processo de categorização é uma das atividades cognitivas fundamentais dos seres humanos, e é por esse processo que vivências individuais ou grupais são transformadas em categorias significativas, apreendidas das falas dos sujeitos. É a aproximação semântica do que é comum e se relaciona sempre com as questões que nortearam o estudo e mais precisamente com o objeto pesquisado.

Categorizar é um movimento de ir e vir que dá início ao processo de teorização do estudo buscando compreender e interpretar as unidades de significado e construir por aproximações semânticas categorias que ilustrem e interpretem os discursos dos sujeitos. Neste estudo, a formulação das categorias baseou-se no contexto em que as linguagens foram produzidas e nos objetivos da pesquisa, o que validou suas construções.

Para Demo (2000), o processo de ordenamento e tomada de consciência implica deixar de lado a teoria já construída e recriar outros textos, outras teorias, em busca da compreensão daquilo que se está investigando. Segundo Moraes e Galiazzi (2007), a categorização é um processo de aprendizagem sobre os fenômenos investigados e sobre as comunicações das aprendizagens feitas. Os autores, dizem, ainda, que seus produtos são as teorias que interpretam e procuram explicar os textos construídos a partir das compreensões ocorridas ao longo da pesquisa.

Com esses procedimentos de leituras aprofundadas, de ir e vir textual, de interpretações das subjetividades, de aproximação das transcrições por semelhança semântica e considerando-se os contextos que os discursos dos sujeitos de pesquisa emergiram foram obtidas as categorias iniciais. Na sequência, essas categorias iniciais foram aproximadas conforme os objetivos da pesquisa, a semelhança semântica, a precisão e a exaustão da mensagem escrita, verificada também pela saturação das informações para formar as categorias intermediárias e, por fim, as finais ou temas.

• A terceira fase compreendeu a análise dos resultados e a interpretação das

informações. Segundo Bardin (2009, p. 101), é nesse momento que “[...] os resultados brutos são analisados de maneira a serem significativos e válidos [...]”, é quando o pesquisador faz inferências e interpretações à luz dos objetivos do estudo e descobertas advindas da análise, e foi nesse momento que os achados foram transcritos de maneira fidedigna, tendo-se o apoio do referencial teórico. Concorda-se com Moraes e Galiazzi (2007) quando dizem que é nesse momento que se passa para a produção escrita fundamentada, agora, pela criteriosa categorização que dará subsídios para teorizar sobre os achados da pesquisa. A produção escrita, dizem os autores, constitui-se em aprendizagem e comunicação.