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A análise apresentada abaixo se refere à quantidade, a concomitância com a produção verbal, e a tipologia verbal produzida pelo infante no momento em que executa gestos pantomímicos.

Em seguida, apresentamos a frequência e a diversidade de gestos pantomímicos produzidos pela criança da díade I ao longo de cada sessão. Apresentamos, ainda, a relação desses gestos com a produção verbal infantil no intuito de observarmos a proposta da multimodalidade existente na língua.

Para mapear a ocorrência das pantomimas nos meses iniciais e finais das filmagens, as sessões analisadas estão divididas em dois blocos o primeiro compreende os meses iniciais das gravações, o bloco A, e o segundo, o bloco B, abarca mais três sessões da díade I.

3.1 Gestos pantomímicos, tipologia verbal e Presença da produção verbal

Sessão Idade Quantidade de

pantomimas

Tipologia vocal Presença da

produção vocal

1 10 meses e 17 dias 1 Balbucio 1

2 14 meses e 8 dias 1 Holófrase 1

3 15 meses 3 Holófrase 1

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Sessão Idade Quantidade de

pantomimas

Tipologia vocal Presença da

produção vocal

1 24meses e 10 dias 9 Balbucio 1

2 26 meses e 23 dias 3 Holófrases 1

3 28 e 13 dias meses 12 Blocos de

enunciados e Jargões

12

Tabela 2- Quantidade de pantomimas e tipologia vocal do bloco B.

Os dados quantitativos revelam que no bloco A o bebê produz no total de cinco pantomimas. A maioria das pantomimas ocorrem atreladas à produção vocal, no total de 4, neste período de 10 a 15 meses as pantomimas estão acompanhadas de balbucio e holófrases, produções vocais que estiveram mais presentes nos primeiros meses de vida da criança da díade I.

No bloco B, observamos que dos 24 meses aos 28 meses o infante produz um número considerável de pantomimas, totalizando 23. Desses gestos, 15 estão atrelados à produção vocal, em 8 ocorrências as pantomimas não acompanham a produção vocal .

No período em que a criança produz um maior número de pantomimas, aos 28 meses e 13 dias, sua produção verbal é composta pela alternância de enunciados completos e holófrases, denominada de blocos de enunciados, o que nos mostra a simultaneidade entre gesto pantomímico e a produção verbal. Na terceira sessão do bloco B, a produção vocal infantil e os gestos executados pela criança estão mais maduros, mesmo assim, a mãe ainda desempenha um importante papel na construção desses gestos, uma vez que na interação as pantomimas geralmente são produzidas tanto pelo bebê, quanto pela mãe. Vale ressaltar que há um avanço na produção de gestos pantomímicos atrelados à produção vocal, no momento em que se comparam as sessões do bloco A com as sessões do bloco B. Essas pantomimas não apenas são elevadas em quantidade, como apontam os dados, esses gestos tornam-se mais definidos e maduros, assim como a produção vocal.

Logo, veremos a variedade de gestos pantomímicos desempenhados pelo infante durante as sessões, entretanto, vale salientar que tais gestos são estimulados pela mãe no contexto interativo, em que a mesma não só incentiva a produção gestual e verbal, como

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também produz gestos pantomímicos, desempenhando, dessa forma, um papel significativo na Aquisição da Linguagem.

3.2 Diversidade e frequência de gestos pantomímicos por sessão

Nas tabelas que serão apresentadas estão expostos os vaiados tipos de pantomimas presente nas interações-mãe bebê, as quantidade e frequência das ocorrências.

Sessão Idade Quantidade

de pantomimas

Tipologia gestual pantomímica

Frequência

1 10 meses e 17 dias 1 Simula um avião

com uma fita na mão (esboço)

1

2 14 meses e 8 dias 1 Simula falar ao

telefone

1

3 15 meses 3 Simula escrever 3

Tabela 3- Tipologia e frequência dos gestos pantomímicos do bloco A

Sessão Idade Quantidade

de pantomimas Tipologia gestual pantomímica Frequência 1 24 meses e 10 dias 9 Simula quebrar

objeto com martelo

3 Simula brincar de

esconde-esconde

6

2 26 meses e 23 dias 3 Simula calçar sapato 3

3 28 meses e 13 dias 12 Simula fazer pizza 3

Simula falar ao telefone

7 Simula uma situação

na qual a vaquinha de pelúcia deve falar

ao telefone

2

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Ao observarmos a Tipologia gestual pantomímica do bloco A, fazendo uma comparação aos tipos do bloco B, verificamos que as pantomimas do bloco A são pouco repetitivas, pois nesse bloco as pantomimas mais frequentes foram as simulações de escrever por três vezes. Como vimos, na tabela que expõe a quantidade, há poucas pantomimas executadas pela criança nesse período, enquanto isso, as pantomimas presentes no bloco B são repetitivas e há uma maior diversidade, neste bloco, destacam-se as pantomimas que envolvem o telefonema.

3.3 A pantomima do telefonema

O ato de simular fala ao telefone esteve presente nas interações mãe-bebê nas sessões dos dois blocos analisados neste trabalho. No bloco A o bebê simula falar ao telefone apenas uma vez, aos 14 meses e oito dias. Nesta ocorrência, observamos que a mãe cria todo um contexto no qual o diálogo ao telefone deve acontecer. Antes de a criança falar ao telefone a mãe diz “Vitu,vem pra casa, vem pra casa que tá na hora”, parecendo mostrar a criança como deve dialogar ao telefone com o outro assim que ele tiver com o objeto. Após o incentivo materno, a criança mexe no telefone e diz “aô”, produzindo a pantomima do telefonema de forma conjunta com uma holófrase.

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Na terceira sessão do bloco B, aos 28 meses e 13 dias número de ocorrência de pantomimas do telefonema é elevado, no total de 10 ocorrências. A criança que estava simulando fazer pizzas com os brinquedos, simula um telefonema usando essa pantomima como assunto do diálogo, como aponta o fragmento “vó tu qué de têju vó qué?” Notamos que após fazer uma pergunta ao telefone, a criança espera durante cinco segundos a resposta do “outro”, parece estar demonstrando que no diálogo há um “outro” que também tem voz. Nesta Sessão, além de simular conversar utilizando o telefone por mais tempo, pois observamos que a criança simulou falar ao telefone durante quatro minutos, ela ainda pega o objeto e juntamente com a mãe criam uma situação em que seu bichinho de pelúcia deve falar ao telefone, dando vida ao objeto inanimado.

As pantomimas do telefonema destacam-se pelo diálogo no momento de sua produção. Segundo Cavalcante (2008), esta pantomima envolve a conversa, está presente na esfera familiar, é, portanto, um gênero discursivo oral, pois “[Os] gêneros do discurso nos são dados quase como nos é dada a língua materna, que dominamos com facilidade antes mesmo que lhe estudemos a gramática. [...] Aprender a falar é aprender a estruturar enunciados[...]”.

(BAKHTIN, 1979, p. 301, apud CAVALCANTE, 2008, p. 14).

Considerando a língua enquanto prática discursiva, o funcionamento do gesto pantomímico telefonema atrelado à produção verbal, “garante o reconhecimento sócio- histórico do gênero discursivo” (CAVALCANTE, 2008, p.14).

Portanto, diante do que foi exposto neste trabalho, podemos considerar que o gesto de simular falar ao telefone destaca-se, visto que é o único gesto pantomímico produzido pela criança no bloco A que tem a mesma ocorrência no bloco B, porém, observa-se que no segundo bloco o número dessa pantomima é elevado e a produção vocal infantil compreende tanto as holófrases quanto os blocos de enunciados, revelando a multimodalidade existente na língua.

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