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Análise regional dos impactes socioeconómicos da caça

A análise regional dos impactes socioeconómicos da caça baseia-se em dois indicadores disponíveis, a produção cinegética bruta calculada neste estudo (ver capítulo 2) e a população empregada na atividade “Caça, repovoamento cinegético e atividades dos serviços relacionados” fornecida pelos censos de 2011 (INE).

A produção cinegética bruta ocorre na sua grande parte (quase 2/3) em ZC incluídas no rural de baixa densidade (no sentido definido por Rolo e Cordovil 2014; ver também Figura 16), as quais representam cerca de 3/4 do número total de ZC (Tabela 15).

71 Tabela 15. Repartição do número de zonas de caça e da produção cinegética bruta por tipo de rural

Tipo de Rural Número, em %, das Zonas de Caça

Produção cinegética bruta

Rural Urbano 11 20

Rural Indústria e Serviços 10 14

Rural Agrícola 4 2

Rural de Baixa Densidade 75 63

Total 100 100

Nota: tipos de rural definidos por Rolo e Cordovil (2014); ver Figura 16.

Mais relevante ainda é o facto de a grande maioria das ZC em que é maior o peso da produção cinegética (produção cinegética bruta) no valor da produção do setor primário (agricultura + caça) estarem situadas no rural de baixa densidade, como se pode observar na Figura 15. Com efeito, este tipo de rural engloba 87% das ZC com valores de PCB/(VPPT+PCB) superiores a 0,5‰ (atingindo este rácio um máximo de 42‰). Este rácio permite ler a disparidade do contributo da caça para a produção do setor primário local entre ZC e entre regiões. Retendo a leitura apenas no rural de baixa densidade, esse contributo é muito mais elevado no SE Alentejano e NE Algarvio, onde a agricultura praticada é muito extensiva e gera pouco emprego, e muito mais baixo no NE Transmontano, onde a produtividade cinegética é substancialmente menor.

72 <1‰ ≥1‰ e <5‰ ≥5‰ e <20‰ ≥20‰

Figura 15. Localização das zonas de caça classificadas segundo o peso da produção cinegética na produção primária (caça + agricultura).

Fonte: o indicador de peso da produção cinegética foi construído com base na informação fornecida pelo INE relativa ao R.G.A. 2009 (Valor da Produção Padrão Total (VPPT/ha) e na estimativa da produtividade cinegética (PCB/ha) realizada neste estudo (ver capítulo 2).

A população empregada na atividade “Caça, repovoamento cinegético e atividades dos serviços relacionados” no Continente português compreende uns escassos 211 indivíduos (censos 2011). Estes são apenas aqueles que declaram ter a caça como atividade principal. Distribuem-se por 92 concelhos dos 267 do continente: 68% em concelhos integrados no rural de baixa densidade

73 e 21% em concelhos do rural urbano. Esta distribuição, assim como o peso que estes ativos têm na população empregada nas atividades ligadas à agricultura, produção animal, caça e floresta e na população empregada total, e ainda a percentagem dos concelhos com população empregada na caça sugerem que a importância relativa desta atividade caça é maior no rural de baixa densidade (Tabela 16), ou seja, nos concelhos com menores alternativas de emprego e menores potencial demográfico e capital humano (Rolo e Cordovil, 2014).

Em qualquer dos tipos de rural, o peso dos empregados na caça é negligenciável, ainda que, ao nível de cada concelho, a sua expressão seja variável. Ainda que em mais de metade dos concelhos do rural de baixa densidade o emprego na caça seja nulo, é neste tipo de rural que o emprego na caça assume valores mais significativos. Com efeito, os 5 concelhos com o maior peso da caça na agricultura, produção animal, caça e floresta (Alcoutim, Mértola, São Brás de Alportel, Barrancos e Portalegre, respetivamente, com 7,2%, 4,1%, 1,6% 1,5% e 1,5%) são todos concelhos do rural de baixa densidade e três deles mantêm a posição de topo quando o peso da caça se exprime em termos de emprego total (entre 0,7% e 0,2%). Estes últimos valores, que não são muito elevados quando comparados por exemplo com áreas de caça do Languedoc-Roussillon e Aquitaine, onde esta atividade representa respetivamente 1,5% e 2,6% do emprego total (Vollet e Bretiere, 2008), expressam certamente a baixa profissionalização sobejamente conhecida no setor da agricultura.

Nestes números contam-se apenas aqueles que realizam a atividade caça a título principal, que, de acordo com a informação recolhida por entrevista junto de entidades gestoras de ZC, representarão a parte menor do emprego gerado pelas ZC. Parte dos que nelas trabalham ter-se-ão declarado como ativos noutras atividades a título principal; outros serão mobilizados no quadro de relações com elevado caráter de informalidade. Estarão neste caso aqueles que não têm uma remuneração monetária, mas sim em natureza (posto ou jornada de caça) e aqueles que prestam um serviço à entidade gestora da ZC, uma associação de caçadores da qual são membros e com os quais caçam ou a cuja direção pertencem amigos ou vizinhos.

74 Tabela 16. Emprego na caça, repovoamento cinegético e atividades dos serviços relacionados

Tipo de Rural

Número, em %, de concelhos

População empregada na caça, repovoamento cinegético e atividades dos serviços

relacionados Total com população empregada na caça, em cada tipo de rural Total % em permilagem (‰) da população empregada na agricultura, produção animal, caça e floresta total Rural urbano 31 30 44 21 2,39 0,03

Rural indústria e serviços 16 21 15 7 4,12 0,13

Rural agrícola 12 21 9 4 2,89 0,22

Rural baixa densidade 41 47 143 68 5,59 0,48

Total 100 34 211 100 4,16 0,12

Fonte: Censos de população de 2011 (INE).

O reconhecimento da contribuição da caça para a criação de emprego e promoção de desenvolvimento económico poderá fundamentar uma política de taxas diferenciadas de acordo com as características do meio rural em que a ZC se insere, nomeadamente o seu grau de dependência do emprego no setor primário.

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4 Taxas e impostos sobre a caça em Espanha e França e

sua comparação com Portugal

Em 2010, a FACE (The European Federation of Associations for Hunting & Conservation) estimou a razão entre o número de caçadores e a população em 35 países da Europa, incluindo a Turquia, verificando-se um máximo de 8,33% na Irlanda e um mínimo de 0,16% na Holanda; a média é de 1,78% e o desvio-padrão 1,84%.

Nesta comparação, Portugal (2,17%), Espanha (2,44%) e França (2,08%) apresentam notáveis semelhanças, as quais se evidenciam também na razão entre o número de caçadores e a superfície do país, nos três casos próxima dos 2 caçadores/Km2

. Nos três casos pode dizer-se que cerca de 80% do território se encontra sob uma qualquer forma de gestão cinegética, pelo que poderão ser feitas comparações tendo em conta a superfície territorial de cada país. Por outro lado, Espanha é uma referência europeia na importância económica do setor da caça, sendo a França uma referência europeia na organização associativa dos caçadores. Ambos os casos foram amplamente estudados e considerados quando da elaboração da Lei 30/1986 de 30 de agosto, que estabeleceu as bases essenciais da organização atual do setor da caça em Portugal. Assim, Espanha e França foram os casos selecionados como termos de comparação com o caso Português.