5.1 Análise do Questionário, Entrevistas e Metatexto
5.1.2 Análise das respostas dos professores sobre a Questão2(Quais as principais dificuldades
Podemos identificar muitas problemáticas, as categorias que emergiram na análise das
unidades de sentido, sendo que estas são mostradas no Quadro 3:
Quadro 3: Categorias emergentes da Questão 2
Dificuldades na adaptação dos conteúdos para trabalhar com o aluno com deficiência intelectual Alunos apresentam muitas dificuldades na aprendizagem
Complexidade dos conteúdos de ensino médio para trabalhar com alunos com deficiência intelectual Falta apoio especializado no atendimento do aluno com deficiência intelectual
Falta de disciplinas que abordem o tema inclusão nas universidades Falta de formação continuada para o atendimento do aluno com deficiência
Falta de professor auxiliar no atendimento do aluno com deficiência em sala de aula Falta de recursos nas escolas para o atendimento de alunos com deficiência
Falta de tempo para o atendimento de alunos com deficiência intelectual Fonte: elaborado pela autora.
Os professores referem considerável dificuldade em adaptar o seu planejamento do
ensino médio para os alunos com DI, uma vez que estes, na maioria das vezes, não são
alfabetizados e tampouco conseguem realizar sozinhos as operações básicas na matemática, o
que dificulta o trabalho do professor da área de ciências da natureza que possui, em média,
uma hora e trinta minutos semanais com cada turma, tendo em torno de 30 alunos na sala de
aula. Também a complexidade dos conteúdos ministrados nas disciplinas de biologia, física,
química e matemática de ensino médio dificulta a adaptação do planejamento desse professor.
Vejamos o que dizem alguns professores dessas disciplinas:
PB [...] Sinceramente é bastante difícil trabalhar o ensino da química por ser muito abstrata já para os alunos sem dificuldades, pior ainda para aqueles que possuem deficiência intelectual.
PK [...] ter que adaptar o teu conteúdo, pra alguém que não consegue ler e interpretar.
PA [...] Alunos com deficiência nem sempre reconhecem símbolos, algumas vezes, reconhecem os números de 1 a 10, nem reconhecem figuras geométricas.
PJ [...] As principais dificuldades é a adaptação dos conteúdos. Devido à complexidade matemática e até mesmo do próprio conteúdo com sua natural abstração.
PK [...] E pro professor é muito difícil, por exemplo, estou ensinando genética é muito complicado, até consigo trabalhar o nascimento, embriologia, algumas partes do corpo, mas a genética não consigo adaptar.
O êxito da atividade docente está subordinado ao sucesso do seu aluno. É esse o
aspecto que coloca o professor em uma posição delicada: obrigação de resultado, ainda que os
recursos para o alcançar sejam menosprezados. Ao estabelecer um parâmetro no sentido de
que educar é uma atividade singela, com meras reproduções de conteúdo e comunicação clara,
se está reduzindo a importância de ter cidadãos bem-educados no futuro (NÓVOA, 2008).
O fato de que na maioria das vezes o aluno com DI não sabe ler e escrever limita o
planejamento do professor, visto ser necessário um acompanhamento mais efetivo e
individual para o aluno, necessitando, inclusive, um professor auxiliar em sala de aula, e este
educador sente-se despreparado ao atender o aluno com DI. Conforme a fala do professor,
PK“[...] mas logo que eles chegam é muito difícil pra ti avaliar, se eles sabem ler,
interpretar, as vezes eles não sabe nada disso, tem que partir do zero”. Também comenta
PL:“[...] tenho dificuldades em conciliar o ensino do aluno com necessidades especiais com
os demais da turma. Antes tínhamos o professor auxiliar, hoje já não temos mais”.
Nesse sentido, torna-se angustiante para o professor esse sentimento de despreparo e
falta de apoio no atendimento ao aluno com DI, devido a esse aluno possuir dificuldades de
raciocínio e dificilmente realizar as atividades sem apoio. O que relatam alguns professores é
que muitas vezes é solicitado aos colegas um auxílio para o aluno com DI. Sobre isso,
comenta o professor PK:
[...]Precisamos preparar os alunos, para aceitar esses colegas com todas as suas limitações, deficiências e particularidades que é bem difícil. As vezes não há uma aceitação por parte dos colegas, alguns aceitam e aprendem como lidar com os colegas e nos ajudam, outros não.
A falta de uma equipe especializada no atendimento dos alunos com DI nas escolas é
algo expressivo na fala dos professores. Estes relatam que, sozinhos, não conseguem atender
individualmente os alunos com DI e, assim, acabam excluindo o aluno por falta de tempo para
acompanhá-lo. Sobre isso, PE admite: “[...] sinto dificuldades com relação à falta de apoio
escolar e de pessoal, e descrença da família”. Também o professor PN relata que“[...] mas
algumas vezes acabamos excluindo por não ter tempo”.
Ainda acerca dessa dificuldade, comenta o professor PA:“[...] não consigo atender
adequadamente todos os alunos, pois possuo em média 30 alunos por classe, quando deveria
ter no máximo 25 alunos em turmas que possuem alunos com deficiência”. Outrossim, o
professor PG contribui dizendo: “[...] mesmo que eu dê uma atividade em uma turma grande,
onde todos querem perguntar, não consigo dar atenção para todos, quando dou uma
atividade para os alunos com dificuldades não tenho tempo de ficar só com eles auxiliando,
por isso não funciona”.
Das cinco escolas participantes da pesquisa, somente duas delas possuíam sala de
recursos para o atendimento de alunos com necessidades educativas especiais, dispondo de
um professor para atender aos alunos, uma hora por semana, no contraturno de aula. Os
alunos das outras três escolas são encaminhados para instituições que possuem o profissional
de AEE. Esse professor faz um atendimento individual, realizando atividades que busquem
desenvolver o intelecto do aluno. Embora o atendimento na sala de recurso seja importante
para o desenvolvimento do aluno, para o docente em sala de aula ainda é pouco. Conforme
diz o professor PK,
[...] em termos de periculosidade é raro o aluno surtar na sala de recursos, pois ele surta, quebra tudo, na sala de aula. Estamos muito mais expostos, podendo ser machucados, do que o professor de AEE que atende uma hora por semana e um por vez, numa atividade planejada só para ele e com todos os recursos na sala de recursos.