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Capítulo 6 Discussão

6.2. Análise dos resultados bióticos

Com o objetivo de obter uma maior informação sobre os biótopos de foraminíferos na área de estudo foram selecionados todas as espécies com uma abundância relativa superior a 3%. As espécies que não estão representadas em 10% das estações não foram consideradas pois poderiam dissimular os resultados. Elphidium excavatum apesar de estar representado em apenas 5% das amostras foi considerado devido a ter uma distribuição restrita a um setor da área de estudo e pela sua importância ecológica.

A abundância de foraminíferos vivos foi reduzida quando comparada com a abundância de carapaças vazias. A possibilidade de caracterizar a associação viva apenas em 4 amostras explica-se pela época de amostragem, final do Inverno, período do ano em que a produtividade oceânica é mais baixa. A fim de se confirmar a escassez de fauna viva poderiam ter sido recolhidas três réplicas por local. Porém este procedimento apenas foi

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Rita Marques Tentúgal 89 sugerido recentemente por Schönfeld et al. (2012), e por outro lado não estava previsto no plano do projeto ACOSHELF.

Relativamente aos foraminíferos mortos, valores mais elevados de densidade são encontrados em geral em locais mais profundos e/ou onde o sedimento é mais fino e rico em matéria orgânica (Figura 5.4a) como denota a sua correlação positiva com a profundidade, TOM e finos enquanto a diversidade e riqueza específica são mais elevadas em locais em que a fração arenosa é dominante (Figura 5.15). Em locais com altas percentagens de cascalho verifica-se uma densidade e diversidade consideravelmente baixas. O índice de Shannon, usado como indicador da diversidade das associações, variou entre 1,65 e 2,38 (Figura 5.4b). Estes valores são relativamente baixos quando comparados com os obtidos por Mendes et al. (2004) (2,4 a 3,8) e por Redois & Debenay (1999) na plataforma continental do Senegal (1,8 e 3,7).

A distribuição dos foraminíferos bentónicos está dependente de diversos fatores abióticos como por exemplo a quantidade e qualidade de alimento, oxigenação do sedimento, salinidade, granulometria e fatores bióticos como a predação (Murray, 1971).

Os efeitos da granulometria na densidade e diversidade dos foraminíferos são ainda uma questão de debate (Diz et al., 2004). Debenay et al. (2001) revela que uma alta proporção de partículas finas favorece uma maior densidade de foraminíferos bentónicos.

Nos estudos de Du Châtelet et al. (2009) e Magno et al. (2012) os resultados mostram que a granulometria do sedimento representa o principal fator na distribuição dos foraminíferos. Segundo estes autores tanto a densidade como a diversidade são muito baixas em substratos cascalhentos. Du Châtelet et al. (2009) explica os valores baixos de densidade neste tipo de substrato pela elevada hidrodinâmica local, o que não permite a estabilidade de fundo do substrato e a sedimentação de matéria orgânica. Segundo Schönfeld, (2002) os substratos cascalhentos favorecem as formas sesseis e epifaunais de foraminíferos vivos.

A acumulação de carapaças para lá dos 100 m de profundidade pode estar relacionada com o seu comportamento hidráulico (Dias, 1987). As carapaças de foraminíferos são semelhantes a partículas de quartzo, mas de muito menor densidade, o que significa que a energia das correntes da plataforma interna e média será suficiente para provocar a sua

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90 Rita Marques Tentúgal ressuspensão, transporte e deposição na plataforma externa (Dias, 1987). A dinâmica sedimentar e o hidrodinamismo podem contribuir também para este efeito. Outro fator que poderá contribuir para a elevada densidade de foraminíferos no setor mais profundo da área de estudo é a redução da diluição por terrígenos.

A reduzida atividade das correntes nas áreas de acumulação de sedimentos lodosos favorece o acúmulo (não remobilização) das carapaças destes organismos após a sua morte. As altas densidades de foraminíferos bentónicos em sedimentos finos enriquecidos em TOM estão relacionadas com a estratégia de vida de espécies oportunistas (ciclos de vida curtos e alta taxa de reprodução). Em ambientes onde o fluxo de carbono é elevado e o índice de oxigénio é reduzido, altas densidade de foraminíferos podem ocorrer devido à proliferação de espécies oportunistas tolerantes a baixas condições óxicas. Quando a quantidade de matéria orgânica é escassa um ligeiro aumento desta variável favorece tanto a diversidade como a densidade das populações de foraminíferos (Cearreta, 1988; Debenay

et al., 2001). O declínio de muitas espécies pouco tolerantes a ambientes escassos em

oxigénio origina o declínio da riqueza de espécies e/ou diversidade (Heip de 1995, Du Châtelet et al., 2009).

Quando os teores de matéria orgânica são muito elevados e dão lugar ao estabelecimento de anóxia no sedimento a densidade de foraminíferos reduz podendo mesmo ocorrer ausência de fauna se a anóxia se torna permanente. (Setty, 1976; Schafer et al., 1991, 1995). Estudos realizados indicam que mesmo as espécies mais resistentes desaparecem quando sujeitas a exposição prolongada de anóxia.

Os resultados do ACP (Figura 5.16) revelam que algumas espécies estão mais relacionadas com as condições de hidrodinamismo mais elevadas, baixo fluxo de matéria orgânica e boa oxigenação do sedimento como Cibicides/Lobatula spp., Elphidium spp., P.

mediterranensis, Q. seminula e S. sagittula (Grupo I) enquanto que outras espécies tendem

a alcançar maior abundância relativa em áreas com alto fluxo de matéria orgânica, em condições hidrodinâmicas mais calmas associadas a zonas mais profundas ou relacionadas com depósitos lodosos, como Bolivina/Brizalina spp., Bulimina/Globobulimina spp.,

Cassidulina/Globocassidulina spp. e Nonionella spp. (Grupo II). Espécies como A. tepida, A. parkinsoniana e H. germanica (Grupo III) predominam em locais próximos do estuário

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Rita Marques Tentúgal 91 do ano. Estas espécies também são conhecidas por estarem associadas aos sedimentos ricos em matéria orgânica, como os encontrados nessa zona. Cassidulina/Globocassidulina spp. e Nonionella spp. apesar de estarem associados a um elevado fluxo de matéria orgânica parecem estar relacionados a ambientes estáveis e bem oxigenados. Estas condições também favorecem a ocorrência de muitas outras espécies que se revela pela crescente da riqueza de espécies e valores do Índice de Shannon (grupo IV).

6.3. Descrição das associações faunísticas identificadas pela Análise de