A INTERVENÇÃO: GESTÃO DE PRODUTOS NUMA EMPRESA DE
Passo 3 Geração e Validação de Idéias de Novos Produtos Construir uma lista de verificação contendo os quesitos indispensáveis e desejáveis a qualquer
6.3. Análise dos resultados obtidos
6.3.1.
Comentários sobre os procedimentos propostos
Apesar da combinação de diferentes métodos e técnicas, a intervenção compilou um processo relativamente simples, ágil e em sintonia com a realidade da empresa que participou da pesquisa.
Acreditase que os procedimentos sejam abrangentes e flexíveis; facilmente adaptáveis para outras organizações e adequados tanto a empresas nascentes quanto a empresas já consolidadas 33 .
6.3.2.
A visão dos participantes (empresa pesquisada)
A despeito de no passado os acertos terem superado os erros no planejamento “intuitivo” do mix anterior de produtos da empresa, os seus diretores consideraram o uso das técnicas de GDP uma forma de (i) planejar melhor suas estratégias de desenvolvimento de novos produtos; (ii) criar melhores condições para explorar as competências e talentos da empresa e (iii) evitar falhas que criem dificuldades para o crescimento do negócio, no presente e no futuro.
Não menos importante foi o fato de a empresa ter considerado que o processo criou uma expectativa maior em termos de comprometimento com o plano de ação gerado, por ter sido elaborado e negociado com envolvimento prévio de todas as áreas da empresa.
Os participantes classificaram a abordagem como de simples execução e assimilação. Os diretores da empresa disseram acreditar ser possível repetir o processo sem a condução do pesquisador. Ou seja, houve efetivamente um processo de aprendizado conjunto, propiciado, sobretudo, pela estratégia de pesquisa adotada, que estabeleceu
33 No caso de empresas nascentes, a proposta pode ajudar empreendedores a conceber estratégias baseadas em múltiplos produtos para múltiplos mercados, a partir de uma única plataforma tecnológica (aumenta o potencial de retorno de uma invenção). Enquanto que para empresas consolidadas, o objetivo pode ser a gestão ativa do seu portfólio de produtos/projetos e a construção de estratégias que viabilizem a renovação freqüente de seu mix de produtos.
um processo de colaboração efetiva entre o pesquisador e os demais participantes (THIOLLENT, 1996).
Em suma, a empresa avaliou muito positivamente a experiência e os resultados obtidos com o processo de intervenção.
6.3.3.
Geração de conhecimento acadêmico
O levantamento bibliográfico identificou trabalhos que ressaltavam o potencial de contribuição das abordagens de GDP para as empresas de desenvolvimento de software, inclusive destacando o crescente interesse da comunidade (acadêmica e empresarial) ligada à Engenharia de Software pelo estudo e adoção de suas técnicas (vide capítulos 3 e 4). Por outro lado, os autores consultados ressaltavam o número reduzido de trabalhos acadêmicos que efetivamente exploravam esta sinergia.
Desta forma, podese dizer que esta pesquisa ajuda a preencher uma lacuna de conhecimento científico situado na interseção entre as áreas de GDP e de Engenharia de Software. Particularmente no que se refere à utilização das abordagens TRM, Gestão de Portfólio e o conceito de Plataforma de Produtos para condução de processos de elaboração de estratégias competitivas baseadas em inovação, em empresas de software orientadas a produtos.
A pesquisa obteve êxito na utilização conjunta de três métodos distintos de GDP, cujo conjunto de técnicas utilizadas e validadas durante a intervenção contém tanto propostas consagradas pela literatura de GDP quanto adaptações presentes na literatura emergente de Gestão de Produtos de Software (GPS). Além de incorporar mudanças sugeridas pelos próprios participantes, ao longo da intervenção.
Principais contribuições da pesquisa:
§ Uma vez que a literatura de Gestão de Produtos de Software era escassa e recente, a pesquisa buscou não se limitar a analisar uma proposta ou autor. Apesar disso, podese dizer que este trabalho representa um caso de aplicação (mesmo que parcial) do framework proposto por Weerd et al (2006a; 2006b) e de certa forma o valida em uma pequena empresa brasileira de desenvolvimento de software.
§ O TRM foi usado como fio condutor do processo de planejamento, em linha com o Technology Roadmapping System sugerido por Phaal, Farrukh e Probert, (2004).
§ O processo de construção do mapa (roadmapping) seguiu uma lógica diferente do processo TPlan, muito citado na literatura, inclusive daquela ligada à comunidade de software (PHAAL et al, 2002; FLEURY et al, 2006, 2007). Seminários temáticos deram lugar a etapas seqüenciais de refinamentos sucessivos – com êxito.
§ Duas propostas de adaptação do roadmap para o contexto de software foram avaliadas. Escolhida inicialmente, a proposta de Vähäniitty, Lassenius & Rautiainen (2002) se mostrou posteriormente inadequada. Num segundo momento, a pesquisa acabou por considerar a proposta de Fleury (2006) mais promissora para representar a realidade da empresa pesquisada, especialmente no que se refere à representação dos requisitos/funções planejadas para cada versão.
§ Se por um lado a proposta limitou o seu escopo ao nível mais estratégico da GDP, por outro os principais tópicos perseguidos por esta dimensão (CHENG, 2000) estão contemplados, em especial: (i) suporte ao posicionamento competitivo frente à inovação; (ii) alinhamento entre a estratégia empresarial e de lançamento de produtos; (iii) cooperação entre áreas técnicas e de marketing; (iv) reposicionamento estratégico de produtos existentes; (v) concepção de novos produtos; (vi) priorização de projetos; (vii) balanceamento do mix de produtos e (viii) alavancagem tecnológica.
Não se pode dizer que os resultados desta pesquisa são generalizáveis, universais, tampouco prescritivos. Todavia, a pesquisa relatou uma experiência concreta e a solução de um problema complexo, apresentando os raciocínios que nortearam o processo de escolha e a própria utilização das técnicas selecionadas. Desta forma, acreditase que a experiência pode ser facilmente replicada em outras empresas, bem como inspirar trabalhos futuros acadêmicos ou práticos.
Por fim, a pesquisa pode ajudar na reflexão sobre o fato de os métodos de GDP não serem ainda tão populares entre os profissionais e pesquisadores do setor de software. Os motivos podem guardar relação com eventuais dificuldades de aplicação dos métodos de GDP em empresas deste setor ou com o fato de serem abordagens pouco conhecidas. A experiência bem sucedida relatada por esta pesquisa ajuda a descartar a primeira hipótese e dá indícios de que a compilação de modelos de referência e estudos de casos bem sucedidos pode servir como instrumento de difusão das abordagens da GDP entre as empresas deste setor.